sexta-feira, 17 de julho de 2009

Energis IV – As curvas de Hubbert

Com a devida vénia, comento o que aprendi num livrinho que um amigo me recomendou: O fim do petróleo (J.H.Kunstler – ed.Bizancio).
Eu diria que o livro tende para o pessimismo e para o quase catastrófico. Não tem em consideração alguns progressos nas tecnologias que melhoram a eficiência da conversão de algumas formas de energia de maior utilização no futuro. Mas a visão sobre a necessidade de racionalizar a utilização dos combustíveis fósseis não renováveis é muito lúcida.
Lucidez não é a qualidade mais apreciada pelos eleitores e pelos abstencionistas, mas será um critério para analisar a questão da energia.
O livrinho explica umas curvas curiosas, as curvas de Hubbert, relativas à produção de petróleo, e relaciona-as com as perturbações políticas e militares.
Pormenorizando:
Curva da evolução da descoberta de poços de petróleo nos USA: a descoberta de poços de petróleo no território dos USA começou significativamente no início do século XX, atingiu um máximo nos anos 30 e decaiu desde então até valores insignificantes, exceptuando-se a descoberta no Alasca nos anos 60;
1ª curva de Hubbert ou o pico da produção de petróleo nos USA – a curva da evolução da produção de petróleo nos USA segue a curva da descoberta com uma desfasagem de cerca de 40 anos. Isso quer dizer que o pico da produção do petróleo nos USA ocorreu nos anos 70 (i.é, a produção anual decaiu depois desses anos para cerca de metade), com a agravante do pico ter coincidido com a data a partir da qual a produção de petróleo nos USA é inferior à procura.
Curva da evolução da descoberta de poços de petróleo no exterior dos USA – a descoberta de reservas de petróleo atingiu o seu máximo nos anos 60, com o Alasca e o Mar do Norte, embora actualmente se verifiquem algumas descobertas de poços exploráveis (i.é, em que é possível retirar mais energia do petróleo extraído do que a energia necessária para ao extrair).
2ª curva de Hubbert ou o pico da produção de petróleo no exterior dos USA – extrapolando, com o que isso tem de falível, mas de provável, se a curva do pico acompanhar com uma desfasagem de 40 anos a curva das descobertas, teremos o pico da produção mundial na primeira década do século XXI. (por curiosidade, a Rússia atingiu o pico em 1986, o Mar do Norte em 2004 com as perturbações que suscita na Inglaterra, a Venezuela nos anos 70…)
E, de facto, há indícios de que a produção mundial de petróleo está a decair e é expectável deixar de contar com o petróleo depois do meio do século XXI.
Por outras palavras, a produção anual mundial de petróleo tem tendência a baixar até ao ponto em que o petróleo restante não é rentável (haverá sempre crentes que acreditarão em milagres de melhorias de rendimento de extracção; porém essas melhorias não inverterão as tendências), e esse ponto estará provavelmente a 40 anos de distancia.
Mas os economistas, os políticos e os eleitores comportam-se calmamente reivindicando gasolina mais barata para os seus automóveis.
Interpretam o direito à mobilidade como o direito a desperdiçar petróleo queimando gasolina no transporte individual. Todo o conceito de transporte automóvel individual tem de mudar (por exemplo, na Holanda, a velocidade máxima nas auto-estradas é 90 km/h).
Talvez os economistas já tenham percebido que têm de conter o desenvolvimento económico para evitar o aumento da procura de um bem não renovável que cada vez se produz menos… O que seria demasiado maquiavélico: como o principal combustível deixou de ter capacidade de resposta à procura, vamos arrefecer a economia, baixamos os PIB, aumentamos o desemprego para conter a inflação, com a inflação contida podem fazer-se guerras …
Dir-se-ia que é urgente mudar de combustível. Já mudámos para o gás, temos de voltar ao carvão, renováveis é para continuar, e do nuclear não escapamos.
Tinha razão o professor Ilharco, a energia é o problema fundamental da humanidade.
Se não pudermos contribuir para a resolução dos problemas, ao menos que os compreendamos.
E, por favor, não me interpretem mal. Não estou a dizer que não devemos andar de automóvel nem consumir combustíveis derivados do petróleo. Estou apenas a sugerir que o devemos fazer de modo a prolongar o seu uso, reservando-o cada vez mais para fins específicos (aviação comercial, p.ex) e a poder preparar-se calmamente a transição para outras fontes de energia, provavelmente com critérios de economia de consumo diferentes. De modo a que as novas gerações não tenham o desgosto de ver secar a torneira,

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