quarta-feira, 29 de junho de 2022

Novo aeroporto - hipótese de uma fase zero com o aeroporto de Beja

 


1 - Artigo sobre o aeroporto de Beja como apoio ao AHD , a fase zero

 

O recente episódio em junho de 2022 das filas de espera nas chegadas poderá não ser um fator de desencadeamento (expressão utilizada no contrato de concessão à ANA/Vinci de dezembro de 2012), uma vez que problemas de gestão poderão não ser evitados num aeroporto novo, mas aparentemente a retoma turística e as perspetivas de crescimento do turismo sugerem que se deverá acelerar a solução do aeroporto novo ou de um complementar, sem que a avaliação estratégica ambiental perturbe o desenrolar do processo.

Parece, nesse sentido, que o XXIII governo quer terminar "tant bien que mal", com ou sem acordo da Assembleia da Republica, como exigirá o art.165º.z (competência exclusiva da AR para o ordenamento do território) a discussão sobre a necessidade de um novo aeroporto, de raíz ou como complementar do aeroporto Humberto Delgado (AHD). Ver despacho do MIH   e  revogação pelo 1ºministro.  O despacho revogado falava nas possíveis localizações e datas de entrada em serviço (Montijo 2026, CTA Alcochete 2035).  Observo que parece afastado o aumento de capacidade do AHD dos atuais 38 para 48 movimentos por hora (taxiway Norte/Nascente e sistema de controle Topsky) .

Sobre a problemática do novo aeroporto poderá o leitor documentar-se com proveito consultando o site do Parlamento e assistindo aos vídeos com as audições na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação (CEOPPH):

https://canal.parlamento.pt/?cid=5989&title=audicao-da-plataforma-civica-aeroporto-ba6-montijo-nao

https://canal.parlamento.pt/?cid=5990&title=audicao-da-ordem-dos-engenheiros

https://canal.parlamento.pt/?cid=5988&title=audicao-do-laboratorio-nacional-de-engenharia-civil

https://canal.parlamento.pt/?cid=5991&title=audicao-da-ordem-dos-economistas

 

Neste artigo limitar-me-ei, a propósito da moção aprovada por unanimidade na Assembleia Municipal de Beja, a imaginar uma fase zero como complemento, ou melhor, apoio esporádico ao AHD em caso de dificuldades nas chegadas a Lisboa, enquanto não se executarem as obras do novo aeroporto. 

Supondo que nas 10 horas mais carregadas se pretende aterrar em Lisboa 15 aviões por hora que desembarquem 3000 passageiros por hora, admitamos que desviamos 10% do tráfego para o aeroporto de Beja, isto é, 300 passageiros por hora durante 10 horas. 

Atualmente, nesta imaginada fase zero, a viagem por comboio de Beja a Lisboa-Entrecampos demora cerca de 2h05, com transbordo em Casa Branca porque a linha desta para Beja não está eletrificada, o que obriga os passageiros a mudar para o Intercidades Évora-Lisboa. Teríamos ainda de contar com 25 minutos para a viagem de autocarro entre o aeroporto de Beja e a estação de Beja (cerca de 10 km), o que dá para a viagem aeroporto de Beja- Lisboa Entrecampos 2h30.

Não é famoso, mas as companhias "low cost" saberiam compensar os seus passageiros com descontos atrativos e a ANA/Vinci saberia aplicar taxas também atrativas (considerar o potencial turístico do Alqueva e da zona envolvente). 

Considerando composições para 300 passageiros, com 4 carruagens, teríamos 1 composição por hora durante as 10 horas referidas. Admitindo uma ida e volta em 6 horas (para este cálculo em vez dos dois comboios e do transbordo pode considerar-se um comboio único) e um intervalo de partidas de 1 hora necessitaríamos de 6 composições funcionando 10 horas. E aqui reside o principal problema da fase zero, não sabemos se a CP poderá disponibilizar esse material circulante nem as respetivas tripulações.

Uma alternativa seria o autocarro, 45 minutos até às portagens de Grândola da A2 mais 1h30m até Lisboa, ou 2h15m. Teriam de ser 300/50=6 autocarros por hora ou 36 autocarros no total durante 10 horas. O prolongamento da autoestrada para Beja, executada até 11 km das portagens de Grândola, faltando 37 km até ao aeroporto  antes de Beja (100 milhões de euros?) reduziria para 2h05m e 33 autocarros, mas não deveremos esquecer as respetivas emissões e o congestionamento rodoviário A alternativa para Faro seria 1h até à A2 mais 1h40m até Faro. 

Em resumo, se a CP e as rodoviárias dispuserem de material circulante e da respetiva tripulação, poderão absorver-se excessos de afluência no AHD da ordem dos 10% através do aeroporto de Beja.

 

Se entretanto as obras do novo aeroporto ou do aeroporto complementar também se atrasarem, até porque terão de ser complementadas com as acessibilidades ferroviárias e rodoviárias, poderá pensar-se numa fase 1 de apoio pelo aeroporto de Beja: construção de um troço de 12 km de linha nova em via única entre a estação de Beja e o aeroporto de Beja e entre este e um ponto mais a norte da linha existente para Casa Branca: estimativa 60 milhões de euros, tempo de construção 1 ano, o que permitiria reduzir a ligação a Lisboa a 2h10m  .

 

Mantendo-se a falta de novo aeroporto ou complementar, a fase 2 consistiria da construção  de 60 km de linha nova em via dupla eletrificada de Beja-Aeroporto-Casa Branca: estimativa 500 milhões de euros, tempo de construção 2 anos e redução para 1h40m (a ligação atual de 110 km entre Casa Branca e Entrecampos, pela linha eletrificada de Évora, faz-se em 1h10m).

 

Mantendo-se a falta, a fase 3 consistiria na construção de 70 km de linha nova em via dupla eletrificada de Casa Branca a Pinhal Novo: estimativa 600 milhões de euros, tempo de construção 2 anos e redução para 1h10m .

 

Tudo isto são estimativas que serão contrariadas pelas dificuldades financeiras, apesar das verbas comunitárias do PRR e dos planos de apoio à descarbonização, e das dificuldades de planeamento e da falta de hábitos de análise dos problemas e de trabalho em equipa. 

 

Mas ficam, as estimativas.

 

2 - Moção em 22 de junho de 2022 da Assembleia Municipal de Beja

https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/beja-defende-que-o-seu-aeroporto-e-alternativa-aos-sobrelotados-de-lisboa-e-faro

 

3 - hipóteses de localização de novo aeroporto:

https://1drv.ms/w/s!Al9_rthOlbwewA7EEhsKmEdcqYXX?e=JkYxyh

 

4 - O que o contrato de concessão de 14dez2012 determinava sobre o novo aeroporto

http://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/06/carta-um-diretor-de-jornal-proposito-da.html 

 

 



 

 

 


terça-feira, 28 de junho de 2022

Início das obras na av.24 de julho em junho de 2022 depois da aprovação do RECAPE em abril de 2022

 Através do "Lisboa para pessoas" recebi a informação de que arrancaram as obras do lote 2 da linha circular:       https://lisboaparapessoas.pt/2022/06/27/obras-metro-santos-24-de-julho/

Como não tinha tido conhecimento da aprovação em abril de 2022 do sistema de conformidade ambiental (ver  https://siaia.apambiente.pt/RECAPE2.aspx?ID=498 ) tentei sem conseguir ver a documentação no site "participa.pt") e divulguei  a seguinte mensagem, entretanto corrigida graças à participação de amável e atenta leitora.

1 - mensagem com a divulgação do artigo do "Lisboa para pessoas"

Reencaminho esta informação do Lisboa para pessoas, que anuncia o início das obras do metro na avenida 24 de julho com a preparação dos desvios das linhas do elétrico e do comboio de Cascais (lote 2 da linha circular).
Assinalo a rapidez, eventualmente com a justificação de acabar a obra no prazo do PRR e do POSEUR, com que decorrem as obras da linha circular (no Campo Grande estão quase concluídos os pilares dos novos viadutos e a destruição de parte da estação do lado nascente/sul), enquanto não consigo encontrar no site participa.pt o RECAPE (relatório de conformidade ambiental do projeto de execução) deste lote 2. Provavelmente o RECAPE será divulgado em consulta pública em plenas férias, de modo a recolher o parecer dos cidadãos numa altura em que já nada há a fazer que se oponha , mantendo-se assim o desprezo pelo artigo 65º.5 da Constituição da República Portuguesa, que diz: "É garantida a participação dos interessados na elaboração dos instrumentos de planeamento urbanístico e de quaisquer outros instrumentos de planeamento físico do território."
Ligações com informação que interessa, que retirei do artigo do Lisboa para pessoas:

https://lisboaparapessoas.pt/2022/06/27/obras-metro-santos-24-de-julho/?utm_term=Linha+de+Cascais+vai+ser+desviada+para+o+Metro+passar&utm_campaign=Lisboa+Para+Pessoas&utm_source=e-goi&utm_medium=email 

Não encontrei referências ao desvio da Linha de Cascais.
Os melhores cumprimentos

3 - Correção que acrescentei
Muito obrigado pela correção. Efetivamente não conferi a listagem "Conformidade Ambiental do projeto de execução" e que obtive a partir do "Lisboa para pessoas". Tentei agora, mais uma vez, retirá-lo do site "participa.pt" e não consegui. Por outro lado, pela leitura do TUA de 28abr2022 fiquei a saber que a Comissão de Avaliação não deu parecer favorável em janeiro de 2022 por elementos incompletos nos planos de vibração e ruído no seguimento da consulta pública do RECAPE do lote 2 (da qual me tinha esquecido, apesar de ter participado, aliás único como cidadão ao que não será estranho o facto de ter decorrido de 14dez2021 a 4jan2022 - https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/12/parecer-sobre-o-recape-relatorio-de.html). E que o metro entretanto fornecera elementos que permitiram à Comissão de Avaliação aprovar com recomendações. É este facto, juntamente com a inacessibilidade através do "participa.pt", que justifica uma reclamação: houve elementos adicionados no seguimento da consulta pública que não foram submetidos a nova consulta, a qual poderia ser expedita por estarem identificados os participantes. Neste caso das vibrações e da monitorização, com propostas concretas para alteração da monitorização das vibrações e deteção de assentamentos pela junta de freguesia da Estrela e por mim próprio. Com a agravante de desde 28 de abril, data do TUA, até agora, não ter sido publicitado (bastava inserir no "participa.pt") a alteração que permitiu a aprovação do RECAPE.
Quanto aos desvios dos comboios e elétricos, pode ver no vol.VI.3 SAF desvios IP  (alguns desenhos com a particularidade de apontar o Norte para baixo, o que ajuda a complicar) e no vol VI.2 desvios de transito e Carris
Mais uma vez obrigado pela correção


quinta-feira, 23 de junho de 2022

Carta a um diretor de jornal a propósito da polémica do novo aeroporto

 Caro Diretor

A guerra selvática (e algumas ocupações minhas, ocupações não invasivas, devo esclarecer) tem-me impedido de dar seguimento à ameaça que fiz em anteriores emails de lhe sugerir temas para publicação no seu jornal. 
Na minha perspetiva, a maior parte dos temas que considero importantes para melhorar a economia do país estão relacionados com a engenharia e não são de interesse mediático, até porque pedem que se pense e se façam contas. Perdoe-se-me o tique corporativo das "guildas medievais", mas a ordem dos engenheiros não é só corporativa, devia ser mais ouvida nas questões das energias, das infraestruturas e por aí fora. 
É um bocadinho a síndroma do "não olhem para cima". Estamos tão bem a discutir questõezinhas da moda, tão mediáticas, que não pensamos  no que nos pode vir a afetar. Por exemplo, há dias enviei para a sua secção de cartas ao diretor em comentário lamentando a fecho do terminal rodoferroviário da Bobadela (movimentação de 300.000 contentores por ano, não é um depósito). Os seus colaboradores acharam que não tinha interesse mediático e não publicaram. Mas parece-me que comentar um erro económico do governo tem interesse: quanto custa em termos diretos e indiretos deslocalizar o terminal? para onde? estão estudadas as medidas de segurança para um evento de mais de 1,5 milhões de pessoas como dizem os promotores? não se poderia compatibilizar o uso do terreno para atividades de lazer e para manter algumas valências como terminal rodoferroviário?
Mas este não é o tema que me levou a escrever-lhe, foi um seu editorial.
Tentemos usar a inteligência comum para desvendar alguns mistérios:
1 - bagunça por bagunça, há-a em Heatrow e em Schipol, por exemplo. As coisas e as organizações não puderam readaptar-se por passe de mágica, e como no nosso país o planeamento , mesmo da Vinci/Ana , não é coisa que seja apreciada, corremos o risco de, se se conseguir fazer um novo aeroporto, continuar a bagunça, mesmo com os passaportes eletrónicos, até porque quem lá trabalha dá-lhe tanto jeito ir de carrinho até à Portela, imaginem a chatice de ter de atravessar a ponte
2 - consenso sobre a localização - aqui um pequeno comentário às "décadas de intermináveis discussões". A primeira localização, Rio Frio, ainda no tempo de Marcelo Caetano, estava correta, haveria apenas de analisar bem o trajeto dum corredor primário de aves do estuário do Sado para o do Tejo, mas a coisa podia compor-se. Apoio penso que dos aeroportos franceses. Terrenos em grande parte públicos, poupava-se nas expropriações. Terá sido um erro do 5º governo provisório, por razões de economia financeira, não o ter incluído no relançamento dos grandes investimentos (foi, foi no 5º governo, Alqueva, Sines, a quem a mentalidade portuguesa, sempre avessa a coisas novas que seja preciso "olhar para cima" chamava "elefantes brancos"). A pressão turística também não era muito grande, até o aeroporto de Málaga movimentava mais passageiros do que o de Lisboa. 
Mas enfim, no tempo do senhor primeiro ministro que nunca tinha dúvidas, a Força Aérea, para racionalizar as suas bases, decidiu fechar uma. Os seus engenheiros aeronáuticos analisaram as condições aeronáuticas dos seus aeródromos e concluíram que a base da Ota era a pior e portanto era aquela a abater (realmente com aquele morro, com os ventos do Atlântico encanados pelo Montejunto, não dava jeito). E o senhor primeiro ministro, rápido e sagaz nas suas decisões disse logo, o novo aeroporto vai para a Ota, e uns senhores importantes nas administrações da CP imediatamente corroboraram, ótimo, faz-se uma estação da linha do Norte em pleno aeroporto. Alguns colegas da especialidade fizeram umas contas e concluíram que eram precisos 2 anos para terraplanar aqui, aterrar ali, desviar cursos de água acolá, desbastar o morro, gastar dinheiro em grande. Os colegas da CP  ou tiveram receio de explicar aos administradores que a linha do Norte já estava saturada e teria de se fazer uma linha nova e que deveria ser de bitola europeia, ou então limitaram-se a cumprir as ordens. Muda o governo e é preciso justificar a Ota com a valorização dos terrenos à volta a crescer. Já temos uma senhora ministra do ambiente, que ouvida diz que sim, que em Rio Frio haverá que tomar medidas para resolver problemas ambientais, e um prestigiado senior do partido já então no poder corrobora, não pode fazer-se um aeroporto na margem sul porque podem vir os terroristas e dinamitam a ponte. 
Mas deve conhecer a história melhor do que eu, depois o estudo do LNEC e a proposta do campo de tiro de Alcochete, por acaso com avaliação ambiental aprovada, parece que demasiado próximo da A13 e de Canha, mas com hipótese de ser puxado mais para o meio do CTA, junto da pista de 900m que lá está, onde uma vez o presidente Eanes se deixou ficar sentado enquanto o pessoal se atirava para o chão por ter havido uns percalços nos exercícios de tiro (a propósito, não acredite que a desminagem é complicada, os especialistas com os seus robôs, que devemos acreditar na inteligência artificial, e os seus bulldozers tratam do assunto). Só tem de se compatibilizar com a existência de um corredor secundário de aves (por acaso o mesmo que depois passa a norte da Portela) e são 36 km até à Gare do Oriente, embora os detratores digam que são 70 km (pela volta pela A13 são), esquecendo que da base aéreanº6, no Montijo são, pelas portagens da Vasco da Gama existentes, 30 km . E eis que do alto, mais precisamente do norte, pela voz da sua associação comercial, vem a ideia luminosa de pendurar na exploração da Portela, a exploração da BAnº6, um aeroporto complementar. Tudo se pode fazer, todas as ideias se podem discutir, acredito no "brain storming", mas há regras, nas tais "guildas medievais", que dão pelo nome de normalização. Por exemplo, numa pista com aquele comprimento (mesmo depois de prolongada 300m para sul para cima do braço de rio), em dia de verão com 40ºC, aviões muito usados pelas low cost não estão autorizados a descolar com o peso equivalente a estarem cheios de passageiros, carga e combustível (porque o ar quente é menos denso e oferece menos resistência à deslocação e portanto a sustentação exige uma corrida maior - take-off). 
Por outras palavras, pode fazer-se o Montijo, mas não é uma boa solução técnica, e os custos são muito superiores ao anunciado (necessidade de refazer toda a pista, por exemplo). A bancarrota suspendeu o processo e chegámos a 2012, abrem-se garrafas de champanhe e privatiza-se a ANA (3080 milhões de euros, não terá sido mau negócio para a concessão de um monopólio, mas...)
3 - "de resto a história começou bem" com António Costa a não desfazer a  opção de Passos Coelho pelo Montijo" - peço desculpa, isso não é começar bem. Bem ou mal, a ANA ante privatização preparou laboriosamente um contrato de concessão que foi assinado em 14 de dezembro de 2012 entre M.Luis Albuquerque com Sergio Monteiro e o presidente da ANA post privatização. Neste contrato não há uma palavra sobre a solução Portela+1 nem sobre o Montijo. O que havia era a obrigação do concessionário estudar um novo aeroporto com duas pistas e capacidade para 90 movimentos por hora (previsão para o Montijo: 24 movimentos por hora) e apresentar um plano de financiamento para o Estado. A ideia Portela+1 vem a ser proposta por um "grupo de missão" em 2013, seguindo a referida sugestão da Associação Comercial do Porto de 2007 (esta antes do estudo do LNEC de 2008 propondo a localização do CTA) e novamente proposta pelo"estudo" da Roland Berger de 2016.
Em janeiro de 2019 é assinado um acordo entre o XXI governo e a Vinci consagrando a solução Portela+1 com o aeroporto do Montijo como complementar e anunciando que a adenda ao contrato seria assinada com as autorizações ambientais. Não devem ter lido o contrato. Com a DIA com parecer favorável condicionado e a oposição de duas câmaras e a abstenção de outra em cinco, não terá sido assinada a adenda (pelo menos, o site da ANAC onde estão o contrato e os anexos é omisso).
Então, se for assim, é aplicável a cláusula 75.2 que diz que não são válidos quaisquer documentos ou acordos fora do clausulado do contrato. 
Não tenho formação jurídica, mas parece que o governo de António Costa é useiro e vezeiro em passar olimpicamente por cima da letra da lei (recordo o art.282 da lei 2/2020, lei do orçamento do Estado, que mandava, não recomendava como paternalisticamente opinou o senhor presidente da vichysoise).
Entre as obrigações contratuais do concessionário estava na cláusula 42.3 o estudo de alternativas ao novo aeroporto que fossem mais eficientes do que as especificações mínimas do anexo 16 e menos onerosas ("e", não "ou"). Recordo que a solução Portela+1 consegue 48+24 movimentos por hora, o que compara com os 90 movimentos por hora do anexo 16. Diz o sr bastonário da Ordem dos Engenheiros (ui, uma "guilda medieval") que o contrato tinha alçapões que permitiram à ANA impor a sua vontade para o Montijo. Ver p.f. o video da audição na CEOPPH de 21 de junho de 2022  . Serão alçapões mas vir o Estado dizer que a alternativa que quer é menos eficiente será que é um alçapão ou será um indício de gestão danosa por parte dos seus representantes que promoveram ou assinaram a alteração desfavorável do contrato? Mas evidentemente que o MP tem mais que fazer do que preocupar-se com estes indícios ... foi desrespeitada a lei 2/2020? e então?
https://canal.parlamento.pt/?cid=5991&title=audicao-da-ordem-dos-economistas
Mais estipulava o contrato (cl.51.1) que, caso o concessionário não apresentasse a sua proposta (candidatura) ao novo aeroporto com as especificações contratuais o concedente poderia contratar terceiros para prosseguir o estudo do novo aeroporto mesmo sem rescindir o contrato (que aliás abrange a exploração dos outros aeroportos nacionais).
Nestas circunstancias, se não há adenda o contrato de concessão mantem-se em vigor (o que houve no acordo de janeiro de 2019 foi uma intenção que não prevalecerá sobre o contrato), o concessionário ANA estará em incumprimento por ter arranjado uma alternativa menos onerosa mas menos eficiente, pelo que não parece a Vinci ter direito a indemnização por desistência pelo concedente do Montijo.
4 -"os cortes drásticos no investimento público" - Bem, as obras do Montijo teriam de ser pagas pela Vinci, era o que dizia a adenda frustrada de 2019, para isso cobra as taxas, competindo ao concedente os acessos (que por acaso podem beneficiar de fundos comunitários, CEF, por exemplo, que todos os aeroportos internacionais têm de estar ligados à rede ferroviária, se quisermos cumprir os regulamentos comunitários, e até do PRR) só que desde o principio foi propalada a ideia de que era muito barato construir o aeroporto do Montijo. Estimou a Vinci 500 milhões de euros, a que acrescem 650 milhões para melhorias no aeroporto Humberto Delgado (e que parece não incluirem o taxiway do lado norte/nascente, indispensável para os 48 movimentos por hora com segurança, assim como o novo sistema de controle aéreo, o famoso Topsky de aquisição anunciada pela ANAC ainda em 2022). 
E não se esquece, a Vinci, de falar nos inconvenientes da localização no campo de tiro de Alcochete, mas a renovação completa da pista do Montijo para suportar o movimento e as drenagens e o prolongamento da pista agravam os custos da sua proposta (segundo o mapa topográfico https://pt-br.topographic-map.com/maps/gnf2/Lisboa/,  a atual pista do Montijo, com 2,2 km de comprimento, tem nas extremidades as cotas de 10m e 1 m, ou declive de 0,5%, sabendo-se que a drenagem da sua superfície é essencial para combate ao aqua planning, ora sendo necessário o prolongamento de 300 m para sul, toda a pista terá de ser sobreelevada 5 m, o que encarece a obra, mas é uma medida indispensável) . E então se quiserem fazer a 2ª pista em pleno Tejo, na coroa da Aperta, estamos conversados e os nossos concidadãos ambientalistas terão uma crise a sério.

A Vinci comparou a solução Portela+1 ( 1150 milhões de euros sem contar as acessibilidades de conta do Estado e a indemnização à Força Aérea) com os 7,5 mil milhões pela boca do presidente da ANA para o aeroporto de Alcochete construido de raiz com 2 pistas, a que se adicionaria o custo da travessia ferroviária do Tejo (1500 milhões ) . O senhor presidente da ANA, para comover os contribuintes, costuma dizer que isso corresponderia a 15 hospitais e que a proposta da ANA é a que melhor serve o interesse público, o que na realidade é comovente pela coincidencia entre interesse público e interesse empresarial.

Passa-se assim ao lado da possibilidade de uma primeira fase do CTA, que com o ex bastonário da OE estimo em 2.000 milhões (o grupo de missão para a coordenação da capacidade aeroportuária estimou em 3.600 milhões), e do facto de que a nova travessia do Tejo é necessária por razões de coesão territorial com ou sem aeroporto (será razoável afetar um terço do seu custo ao novo aeroporto, e os outros dois terços ao transporte suburbano, de mercadorias e de alta velocidade para Madrid e para o Porto. Mas , de facto, o grande inconveniente da solução Alcochete é que a Vinci não quer investir nela, escudando-se no desdém pelas operadoras low cost,  mesmo apenas numa primeira fase e sem pagar a travessia ferroviária. 
E é difícil para o país fazer este investimento sem o contributo da Vinci, se se considerar que ela está a cumprir o contrato de dezembro de 2012, coisa que a minha falta de formação jurídica diz que não está.

Caro Diretor, com as audições da CEOPPH e este arrazoado penso que já tem matéria para uma série de reportagens no seu jornal sobre os mistérios do aeroporto do Montijo e ainda junto mais fontes de ruído no ficheiro que poderá ver na ligação abaixo. Fiz uma série de desenhos com as hipóteses possíveis. É assim que se discutem as coisas em engenharia (ai os corporativismos) mas parece que politicamente e jornalisticamente não é assim. É pena.



Com os melhores cumprimentos e votos de saúde

https://1drv.ms/w/s!Al9_rthOlbwewA7EEhsKmEdcqYXX?e=BGETgI



PS - Um colega meu, mais senior que eu, ao saber que estava a escrever este texto, pediu-me para lhe falar na hipótese de Beja. Está referida no ficheiro da ligação, mas resumo-a aqui. Pode ser que lhe interesse. Como fase 0 podia ser que funcionasse, a pista está feita, tem bom comprimento, há um edifício modesto e as melhorias ferroviárias de ligação podiam beneficiar dos fundos comunitários:

Estimativa de ligação ferroviária Beja-Aeroporto de Beja-Lisboa Entrecampos: 
  • Linha existente 160 km (via única Beja-Poceirão + dupla Poceirão-Entrecampos)+ linha nova via única 10km Beja-Aerop.Beja: 50 M€  - duração da viagem Beja-Entrecampos 2h10m
  • Linha existente 110 km (via única Casa Branca-Poceirão + dupla Poceirão-Entrecampos) + linha nova via dupla AV 60km Beja-Aerop.Beja-Casa Branca: 500 M€   -  duração 1h40m
  • Linha existente 40 km (via dupla Pinhal Novo-Entrecampos) + linha nova via dupla AV 130 km Beja-Aerop.Beja-Pinhal Novo: 1100 M€    -   duração 1h10m


Informação relacionada:



terça-feira, 21 de junho de 2022

Queda de tabuleiros dum viaduto da A6 Galiza-Castela

 

O troço da autoestrada estava fechado desde setembro de 2021 por ter sido detetada corrosão anormal nos cabos de pré tensão que uniam os tabuleiros pré fabricados. na primeira e na segunda semana de junho de 2022 cairam sucessivamente dois tabuleiros. O viaduto é de duas faixas paralelas e foi construido há 21 anos. Desconfia-se de problemas geológicos. Caso muito estranho se o projeto e a construção foram corretos. Pelas fotografias não se percebe o tipo de aparelhos de dilatação que serão de importancia neste caso por haver uma série de curvas e contracurvas.

Aguardemos os resultados da investugação.


https://elpais.com/espana/galicia/2022-06-17/el-ministerio-busca-el-fallo-no-detectado-que-derriba-como-naipes-el-viaducto-de-entrada-a-galicia-en-la-a-6.html




segunda-feira, 20 de junho de 2022

O IRS noutro tempo que não este

 Confesso as minhas limitações em teoria económica e em fiscalidade, mas passo a contar o episódio do meu IRS deste ano (rendimentos de 2021).

Há uns anos, imaginei uma pequena discronia: que a economia evoluía de modo a que num futuro próximo a pessoa ia ao supermercado e na caixa não pagava, a menina registava os produtos e pagava ao cliente. Este depois no emprego pagava ao seu empregador ao fim do mês em lugar de receber, também para isso tinha sido financiado pelo supermercado. O empregador pegava no dinheiro recebido dos seus empregados e entregava-o aos seus clientes, por exemplo, o metro pagava aos seus passageiros, também para isso tinha sido financiado pelos fornecedores de equipamentos e de energia. E assim se vivia na paz dos Santos.
Lembrei-me disto porque recebi hoje o aviso do IRS. Lá vinha o resultado das contas: 325 euros. Rezava assim a notificação assinada pela senhora diretora geral: "Fica notificado da liquidação de IRS relativa ao ano a que respeitam os rendimentos, em resultado da qual se verifica haver lugar a reembolso no montante apurado, conforme nota demonstrativa supra". Li melhor, era mesmo reembolso, não era para pagar, e já tinha sido feita a transferência. O senhor fisco teve pena de mim e achou que nós cá em casa já tinhamos descontado demais.
E fiquei a pensar, não sei se afetado pelo síndroma  dos multimilionários norte americanos que protestam por pagar insignificâncias de impostos, ou se por me fazer espécie haver impostos regressivos quando deviam ser progressivos, ou por achar demasiada a desigualdade, poucos pagam IRS e os poucos que pagam ainda por cima pagam valores negativos, como se vivessem numa discronia privativa.
Que a gestão dos dinheiros entregues ao Estado, estrutura organizada das comunidades que constituem a nação, composta por pessoas normais, não será a melhor em temos de produtividade e de eficiência, e isso vê-se na saúde, na educação, na habitação, no ordenamento do território e na indústria, porque é uma caraterística nacional a falta de planeamento e de organização, mas não pagar IRS (sim, eu sei, pago outros impostos) enquanto tantos concidadãos nem sequer são julgados dignos de ter um rendimento que justifique pagarem IRS, não posso achar bem.

sábado, 18 de junho de 2022

Sobre a discussão da petição 612 contra o fim da linha amarela do metro

Petição 612/XIII/4ª pedindo a suspensão da construção da linha circular 

Recebido o comunicado"contra o fim da linha amarela" (ver abaixo), enviei aos seus promotores o meu comentário à sessão na AR sobre a petição 612:


Caro(a)s Amigo(a)s
É um excelente texto o deste comunicado e o debate da petição na AR foi uma digna marcação de presença. Vi com apreço as intervenções dos deputado(a)s que mostraram estar dentro dos assuntos. Claro que a intervenção do deputado Anastácio, o porta voz de serviço do partido no poder, não foi digna. Infelizmente ainda não leu o artigo 165.1z) da CRP que determina contrariamente ao que o deputado afirmou, que a competencia legislativa para o ordenamento do território e urbanismo é da AR, não do executivo. Isso foi esclarecido na altura da lei 2/2020, o seu partido já teve tempo de ler esse artigo para nos poupar ao espetáculo que o deputado Anastácio deu. Por outro lado não terá ainda tido oportunidade para aceitar a ideia que a estruturação de um sistema de mobilidade numa área metropolitana não deve ser feita por arranques desintegrados de um planeamento geral (daí a linha circular prejudicar o projeto da ligação a Alcantara), cuja elaboração deve ser feita não por estudos que como muito bem observado, não são divulgados, mas de acordo com o art.65.5 da CRP. que garante a qualquer interessado a participação na elaboração dos instrumentos de planeamento urbanístico e físico do território.
Quanto á exploração em laço, nada impede que venha a fazer-se, desde que não misturem (partilha) a exploração em circulo com a exploração Odivelas-C.Grande-Rato-C.Sodré-Alvalade-Telheiras, isto é, ou fazem uma ou outra para evitar os cruzamentos de nível que por razões de segurança impedem intervalos curtos. Pena foi gastar-se o dinheiro nos novos viadutos inuteis do Campo Grande e na destruição do topo nascente sul da estação inviabilizando a ligação ao PMOII.
Interessante um dos deputados ter lembrado que a escolha da linha circular foi da própria administração do metro sem querer comparar com alternativas, e sobre este assunto deixo mais um episódio anedótico. A ideia da linha circular é uma criação dos anos 2009 da senhora engra Ana Paula Vitorino e do consultor da Trenmó, do Porto, Álvaro Costa, contratado pela CML, que na altura justificou a linha circular com os movimentos pendulares, que a linha circular iria ter uma grande procura durante o dia enquanto a linha de Odivelas só tinha movimento de manhã e ao fim da tarde. Pois vejam o que eu descobri num texto deste senhor, numa revista recente:"a nova procura é mais flexível a vários níveis, o peso da pendularidade reduz-se, bem como ... o número de deslocações será muito mais regular durante o dia".  Isto é, deixou de haver justificação segundo os argumentos dele próprio para a linha circular. Claro que se desculpará com o teletrabalho e nunca reconhecerá que cometeu um erro grave enquanto consultor de transportes ao desvalorizar a ideia de policentrismo e de disseminação da cidade em troca da pendularidade, porque isso equivale a chamar dormitório a partes da cidade e da área metropolitana. Recordo que quando entrei para o metro em 1974 uma das primeiras coisas que o  meu colega senior que me acolheu cheio de paciencia para me ensinar foi que tinhamos de trabalhar para alisar o diagrama de cargas ao longo do dia. Não é "adaptar" a oferta à procura, é assumir que estamos numa área metropolitana em que a mobilidade deve ser repartida pelos vários núcleos (com ou sem imobiliário e com ou sem turismo). Mas é positivo, quase 50 anos depois, o prof Alvaro Costa já concorda que o diagrama de cargas deve ser alisado, nunca é tarde para aprender, pena são os custos de certas aprendizagens. 
E já agora, outra coisa, o projeto original do metro tinha um erro, a curva Restauradores-Rossio, até parecia que queriam fazer, nos anos 50, uma linha a tender para  o circular. Foi corrigido, desfez-se a curva para a linha azul ir para Santa Apolónia e a linha verde ir para o Cais do Sodré. Pode ser que os jovens que ainda não entraram para o metro, daqui por uns anos, façam o mesmo entre Santos e a Estrela, prolongando para Alcantara Mar (esperemos que não façam o disparate de ligar a linha de Cascais à de cintura), reduzindo o comprimento da linha em laço e densificando o serviço de metro no centro da cidade (que na Estrela até podia ter sido feita por uma nova linha de elétrico) depois de assegurarem as ligações às periferias (por exemplo: http://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/05/hipoteses-para-hipotese-remota-de.html). A menos que pensem melhor, já que o RECAPE do lote 2 ainda não foi aprovado, não sei se pelas implicações que vai ter no transito da 24 de julho e nos desvios do comboio de Cascais, dos elétricos e dos autocarros, e desistam da ligação C.Sodré-Estrela, podiam adjudicar ao consórcio respetivo a prolongamento para Alcantara, nada que não tivessem já feito  com as sedes da PJ.



De: contraofimdalinhaamarela@gmail.com <contraofimdalinhaamarela@gmail.com>Enviado: 14 de junho de 2022 13:17Para: santos.silva45@hotmail.com <santos.silva45@hotmail.com>Assunto: Comunicado: Democracia Descarrila e Atropela Cidadania

CONTRA O FIM DA LINHA AMARELA

14/06/2022

Comunicado

Democracia Descarrila e Atropela a Cidadania

 

Estimado Senhor Eng.º Fernando Santos e Silva

santos.silva45@hotmail.com

Amanhã, dia 15 de Junho de 2022, a partir das 15 horas, a Assembleia da República irá em sede plenária finalmente apreciar e pronunciar-se sobre a Petição n.º 612/XIII/4ª.

Esta Petição de origem popular que pretendeu levar o legislador e o executivo a agir "Contra o Fim da Linha Amarela do Metropolitano de Lisboa", deu entrada nos serviços do Parlamento aos 20 de Março de 2019.

Sabendo que:

1.    O plano de a Linha Amarela do Metro de Lisboa passar a ligar apenas Odivelas a Telheiras e que tal alteração está prevista ocorrer quando estiver concluída a ligação entre o Rato e o Cais do Sodré, que transformará a actual Linha Verde numa Linha Circular (ao incluir o percurso que actualmente integra a Linha Amarela entre o Campo Grande e o Rato numa rota circular pelo centro da cidade);

2.    Milhares de passageiros que diariamente apanham o metro no concelho de Odivelas e na parte alta de Lisboa vão ser obrigados a mudar de linha no Campo Grande para chegar a estações como o Rato, o Marquês de Pombal ou o Saldanha, que passarão a ser estações da futura Linha Verde Circular;

3.    A estação de Metro de Odivelas é a terceira mais movimentada da Linha Amarela, ultrapassando mesmo a estação do Marquês de Pombal, ficando só atrás das estações do Campo Grande e de Entre-Campos;

4.    O argumento principal para esta mudança, o aumento das frequências, é falacioso, porque a redução dos tempos de espera não depende do formato da Linha;

5.    Esta solução revelar-se-á uma opção menos atractiva para os passageiros que entram e saem nas estações da Linha Amarela situadas a norte do Campo Grande, pois empurrará muitos destes utentes de novo para os seus automóveis, com consequências no aumento do tráfego automóvel, no aumento da sinistralidade rodoviária, no aumento do stress e, pior, no aumento da poluição;

4.366 cidadãos assinaram a Petição n.º 612/XIII/4ª entregue a 20 de Março de 2019, solicitando a apreciação pelo Plenário da Assembleia da República visando as melhores medidas legislativas que se mostrassem justificadas, nomeadamente a aprovação de Resolução(ões) Parlamentar(es), proposta pela Comissão ou por qualquer Deputado, ou grupo de Deputados, ou Grupo Parlamentar, que eventualmente recomendassem ao Governo não avançar com o Plano de Expansão do Metropolitano em marcha, evitando com isso as alterações e prejuízos aos cidadãos acima descritos, moldando assim os princípios de expansão com os do Plano anterior ou com outro que lhe seja similar quanto aos propósitos, devendo quaisquer soluções a adoptar serem objecto de discussão pública, audição dos órgãos de Poder Local implicados, audição das ordens e organismos de vigilância técnica, bem como das organizações representativas dos trabalhadores do Metropolitano e organizações volvidas à defesa da mobilidade e transporte das populações implicadas.


Sentindo a lentidão do processo legislativo o Movimento de Cidadãos “Contra o Fim da Linha Amarela”, em conjunto com cidadãos quer de Telheiras, quer da Estrela, quer do Lumiar e em estreita parceria com todos os partidos que estavam de acordo com a necessidade de parar este processo (exceptuou-se aqui o PS), desdobrou-se num sem número de iniciativas próprias e impulsionando outras das quais se destacam as seguintes:

    2019, Março: Entrega de Abaixo-Assinado popular e Reuniões com os Grupos Parlamentares;

    2019, Março e Abril: Participação em Encontros em Telheiras e na Estrela;

    2019, Abril: Intervenções em Sessões da Assembleia Municipal de Odivelas;

    2019, Maio: Intervenção em Sessão da Assembleia Municipal de Loures;

    2019, Julho: Acção de contacto com os utilizadores da Linha Amarela do Metropolitano de Lisboa;

    2019, Julho: Aprovação pela Assembleia da República da Resolução n.º 167/2019, de 10 de Setembro recomendando ao Governo a suspensão da linha circular e o estudo de um plano de mobilidade da AML;

    2019, Setembro: Acção de Informação à População na saída da Estação do Metropolitano de Odivelas, com a Participação do BE, do CDS/PP, do PAN, do PCP e do PPD/PSD e do Grupo da Estrela;

    2020, Março: Audição Pública Parlamentar n.º 15-CEIOPH-XIV, dos proponentes da Petição n.º 612/XIII/4ª, por deputados da Assembleia da República, ocorrida em Odivelas;

    2020, Março: Aprovação pela Assembleia da República da Lei n.º 2/2020, de 31 de Março (Lei do Orçamento do Estado de 2020), que nos artigos 282.º e 283.º manda suspender a construção da linha circular, estudar o prolongamento para Alcântara, estudar um plano de mobilidade para a AML e dotar as estações com meios de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida;

    2021, Fevereiro: Pedido ao Tribunal de Contas informação sobre a compatibilização dos vistos para os contratos dos 3 lotes de construção da linha circular, o primeiro ainda em 2020, face à Lei n.º 2/2020, de 31 de Março;

    2021, Maio: Exposição à Senhora Provedora de Justiça das diversas incongruências e ilegalidades do processo.

 

projeto do governo


Num país onde a crise da cidadania é proclamada e até estranhada por muitos agentes políticos, ao vermos como este processo correu facilmente poderemos entender o desapego dos cidadãos à coisa pública. Neste longo caminho, que começou bem antes da Petição, um grupo de cidadãos, estudou dossiers, procurou técnicos e sustentação científica, verificou não-conformidades, formulou alternativas, organizou eventos públicos informativos, co-organizou até uma manifestação, apresentou-se perante os órgãos autárquicos de Loures e Odivelas, solicitou audiências ao Sr. Presidente da República, ao Sr. Primeiro Ministro e ao Sr. Ministro do Ambiente e da Acção Climática, pressionou os partidos políticos e colaborou com eles levando à apresentação de Propostas de Resolução e à aprovação de Resoluções da Assembleia da República, tendo tal culminado na introdução dos artigos 282.º e 283.º na Lei n.º 2/2020, de 31 de Março (Lei do Orçamento do Estado de 2020).



Este Movimento tudo fez respeitando a legalidade democrática e os Princípios e Preceitos do Estado de Direito para evitar que esta má obra avançasse. Até conseguiu ver isso consagrado na Lei. Todavia, claramente não lutou com as mesmas armas do poder executivo, as armas do desrespeito pelo Parlamento e pela Lei. Entretanto, o Governo e a empresa Metropolitano de Lisboa avançaram com a obra, que está em curso, com o beneplácito presidencial que em Comunicado contra toda a doutrina atribuiu aos artigos 282.º e 283.º da Lei n.º 2/2020, de 31 de Março, imagine-se, o valor de Recomendações, numa afirmação impossível de antever a um professor constitucionalista, que formou muitos dos nossos juristas. A este juntou-se a incompreensível emissão do Visto pelo Tribunal de Contas a esta obra quando não tinha em sua posse o documento que garantia a existência de dotação financeira para o efeito. Juntaram-se ainda os silêncios das restantes instâncias judiciais que apesar de conhecedoras nada promoveram.

Tudo isto faz-nos recordar Guerra Junqueiro que no longínquo ano de 1896 ao analisar o então quadro político afirmou a bizarria de «um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.»

A todos estes comportamentos à margem das regras do Estado de Direito, ainda tínhamos de juntar este número de teatro, 3 anos depois de apresentada a Petição n.º 612/XIII/4ª vem agora o Parlamento apreciá-la e pronunciar-se. Note-se que o Relatório Final, sobre esta foi apresentado em Abril do ano passado.

Pronunciarem-se agora? Agora, quando o Governo pôs e dispôs afrontando até o Parlamento que em total catalepsia nada operou? Agora, quando a obra já arrancou?

Se algum dia perguntarem como nascem os “ismos”, fundamentalismos, os nacionalismos exacerbados e outros que tais, pensemos no quão activa foi esta sociedade em que tal propósito de consumasse. Esta carapuça servirá a quem tiver de servir, garantidamente não terá de servir a todos, pois é com orgulho que o Movimento de Cidadãos “Contra o Fim a Linha Amarela” sabe haver gente boa em todos os quadrantes, disponíveis, para sem despir as suas camisolas partidárias, surgirem junto com os seus adversários a defenderem o que é certo e tal viu-se em Odivelas (vide foto seguinte).


Amanhã, este Movimento, que não desiste, estará presente nas galerias do Parlamento.

Estranha-se que nem sequer a solução em laço / loop, fosse considerada. Algo que ainda poderia acontecer.


 

Pelo Movimento de Cidadãos "Contra o Fim da Linha Amarela",

Vítor Peixoto

Ilda Tojal

Jorge Mendes

Paulo Bernardo e Sousa

 

PS: Para qualquer esclarecimento adicional contacte contraofimdalinhaamarela@gmail.com.