quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Na morte de Mega Ferreira e de Linda de Suza

Esta é uma humilde homenagem deste blogue à elevada categoria intelectual de Mega Ferreira e à qualidade humana de Linda de Suza.

Apreciei o artigo de António Rodrigues no Público de 29dez2022 sobre os dois: https://www.publico.pt/2022/12/28/culturaipsilon/cronica/valises-cartao-portas-olimpo-olympia-2033019


Em 1970, enquanto eu, privilegiado, circulava pela Europa em viagem de curso ou em estágio de 2 meses na Holanda, Linda de Suza emigrava para França, onde, depois de ter sido empregada doméstica,  conseguiu por mérito próprio uma posição interessante no mundo da canção. Infelizmente foi primeiro vítima do sistema de desigualdade de condições sociais que continua a condicionar-nos a todos, por exemplo, quando os filhos dos que têm melhores rendimentos têm acesso ao sistema educativo que os filhos dos outros não têm, tendo como consequência o aumento do desnível entre uns e outros. Emigração significa por isso a reprovação de um país e das suas desigualdades. 

Depois também vítima de um sistema que permite a fraude por colaboradores. Isto é, pode haver liberdade, mas esquece-se a igualdade e a fraternidade. Na mesma edição de 29 de dezembro, na secção Espaço público, lá vem um artigo espoletado por outras inconformidades do triunfo da liberdade mas com a venda tirada à Justiça, "As duas castas", uma a de quem gere, a outra a de quem trabalha e opera. Desigualdades. https://www.publico.pt/2022/12/28/opiniao/opiniao/duas-castas-2033042

Mega Ferreira, escritor, é um exemplo do pensamento livre a que correspondeu uma grande capacidade de trabalho. Fraco leitor que sou, apenas  estou a ler o seu livro "Roteiro afetivo de palavras perdidas" que fui a correr comprar depois de ver a sua última entrevista na televisão. Tive pena de não o conhecer pessoalmente, mesmo não partilhando muitas das suas ideias, mas os escritores mediáticos são assim, quase impossível trocar impressões com ele, nem têm tempo para isso. E ele talvez não se importasse. No seu livro até comenta o que leu de um desconhecido autor de blogue sobre a palavra esquecida "calquinhar". Por discordar, gostaria de ter trocado impressões sobre outra das suas palavras esquecidas, "utopia". Tenho outra perspetiva, partiríamos de Thomas More, discutiríamos as revoluções que como dizia outro autor, sempre acabam mal, mas que nos deixam o tríptico da liberdade, igualdade e fraternidade, ou que nos deixam a "utopia" de dias que mudam o mundo (não, Estaline não, como pode reduzir a ideia à obsessão egocêntrica de um doente?). É um lugar comum, ele devia ter podido escrever mais. Os deuses não gostam verdadeiramente do género humano, quer tenham ou não contribuído para o seu aparecimento. Levam-nos demasiado cedo. E quase apetece dizer, como na ilusão  mitológica, um dia nos veremos lá num dos destinos da Divina Comédia, Dante em conversa com Beatriz, a quem apresentou Mega Ferreira, que talvez então possa de vez em quando discutir a "utopia" comigo.

Um comentário do arquiteto Manuel Salgado, de cuja política discordo radicalmente, e neste caso sem esperança nenhuma de valer a pena trocar impressões com ele, leva-me a comentar mais alguma coisa. Disse Manuel Salgado a propósito de Mega Ferreira: mais do que Expo98, era preciso preparar aquele bocado da cidade para o futuro.

Sem contestar o papel e o mérito de Mega Ferreira e Vasco Graça Moura na realização e direção da Expo 98 (poema de Vasco Graça Moura a propósito da Expo98: https://fcsseratostenes.blogspot.com/2014/05/poema-de-vasco-graca-moura-as-musas-sao.html)  direi que não foi bem preparado para o futuro aquele bocado.

Primeiro, teria sido importante construir uma linha de metro sempre que possível em viaduto ao longo da margem norte do rio, desde Santa Apolónia, mas não foi atendido esse requisito para o futuro na urbanização da Expo, como se pode ver agora com as dificuldades de inserção nas novas urbanizações do LIOS, para usar um termo caro a Manuel Salgado.

Depois, em vez do traçado da linha vermelha, mais valera o prolongamento da linha amarela desde o Campo Grande, servindo o aeroporto, descendo em viaduto a avenida de Berlim até à Expo e prosseguindo para Sacavém, para um interface com a linha suburbana, ao mesmo tempo que se completava a travessia da cidade prolongando do Rato a Alcântara Mar, alcançando aí a linha de Cascais. E a Odivelas se chegaria pela linha verde por Telheiras enquanto Ameixoeira e Lumiar poderiam ser servidos pela linha de metro de superfície pela avenida Santos e Castro.

Mas os decisores assim não o entenderam, como mostrou o artigo acima, das duas castas, porque os que gerem e os que operam, têm visões diferentes, e os que mandam são os que gerem. Os que mandam e os que encravam sucessivamente a construção do futuro, como diria Manuel Salgado, porque acrescentam passo a passo prolongamentos que são obstáculos à harmonia de um conjunto, como já não diria o arquiteto.

O projeto da marina foi um desastre de ignorantes das correntes e ventos do estuário, a ponte Vasco da Gama, a primeira PPP (consta que ficou pelo dobro do preço comparativamente com a administração própria, rapidamente exigiu reparações para recobertura das armaduras dos pilares) viu recusada a valência ferroviária na ponte, provavelmente por nunca terem ouvido falar em transporte metropolitano numa área metropolitana.

O mercado a funcionar livremente ajudou a transferir a vida da Baixa para a Expo, sacrificando o Tribunal da Boa Hora, a sede dos CTT, um ou outro departamento ministerial, o defunto Governo Civil e a esquadra principal da PSP, contribuindo para a desertificação do centro de Lisboa, atrás duma ideia de elegância urbanística que se sobrepôs à ideia corriqueira da funcionalidade (melhor exemplo, o pavilhão de Portugal com a sua pala orgulhosamente distinta e de curta funcionalidade).

Mas claro que isso não retira valor a Mega Ferreira, retira a quem decide sobre a urbanização e, já agora, sobre o PROTAML (plano regional de organização do território da área metropolitana de Lisboa), que nunca mais é revisto como deve ser, de acordo com as regras comunitárias.






segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Aeroporto Humberto Delgado em dezembro de 2022

Local de tomada de vista e som: Hospital Júlio de Matos, junto do pavilhão de internamento compulsivo de Psiquiatria e do Centro de Saúde, onde os médicos têm de interromper a auscultação dos pacientes aquando da passagem dos aviões.

aterragem em 5dez2022

https://youtube.com/shorts/hPdoUtA-BvY?feature=share

 

descolagem em 22dez2022

https://youtube.com/shorts/fkelNiBD7Xs?feature=share

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

O feliz regresso do patrulheiro "Viana do Castelo"

 


https://visao.sapo.pt/atualidade/politica/2022-12-21-ministra-defende-que-construcao-de-seis-navios-patrulha-oceanicos-reforcara-capacidades-nacionais/


Sem fazer juízos de valor sobre as altas personalidades referidas na notícia, para além de felicitações pelo regresso, recordo que nos longínquos anos de 2010 o objetivo era construirem-se nos estaleiros de Viana do Castelo 2 lanchas anti-poluição, 6 navios patrulha e 5 lanchas de fiscalização. Os estaleiros, a Marinha e algumas empresas, nomeadamente de eletrónica,  investiram bastante para a realização do primeiro patrulheiro, mas o governo da altura preferiu desvalorizar os estaleiros, incluindo retardar a autorização para a compra de materiais, e privatizá-los, apesar do TFUE prever explicitamente, no art.107, a possibilidade de isenção para o equipamento de defesa das costas da União:

http://fcsseratostenes.blogspot.com/search?q=estaleiros

A notícia do calmo regresso do "Viana do Castelo" (existe outro patrulheiro, o "Figueira da Foz", já construido após a privatização, embora beneficiando do "know-how" público) e a menção à construção de novos patrulheiros fez-me recordar isso.


Mais duas NUT II no Continente

 De acordo com a notícia seguinte, o Continente terá mais duas NUT II:

https://www.jn.pt/nacional/finalmente-setubal-vai-poder-emancipar-se-de-lisboa-no-acesso-a-fundos-15527124.html

Embora se trate de entidades de vocação estatística, esta decisão para mim revela a dificuldade em desenvolver uma visão integradora dos territórios, isto é, a conhecida dificuldade portuguesa de planear.

Tenho de respeitar a decisão do Parlamento e dos Municípios envolvidos, mas no uso do direito de liberdade de expressão, observo que expressões como “emancipar” e “Setúbal não tinha estatísticas” revelam uma opção de recusa de visões integradas da organização do território com estímulo da competição entre áreas localizadas e sujeitas aos riscos dos caciquismos. Até aqui, havia no Continente 5 NUTII: Norte, Centro, AML, Alentejo e Algarve. Se bem interpretei a notícia, passará a haver 7 NUT II: Norte, Centro, (Oeste+Lezíria+Médio Tejo), AML, Península de Setúbal, Alentejo e Algarve. A possibilidade de aceder a fundos comunitários existe para outro tipo de cofinanciamento, nomeadamente na área dos Transportes e da Energia, e nada impedia o tratamento estatístico das novas áreas se classificadas como NUT III nem a transferência orçamental de verbas de zonas de maior rendimento para as de menor rendimento. É um caso semelhante ao da proliferação de municípios, que deviam ser menos, por exemplo em Lisboa, onde no fim do século passado se agregaram a Lisboa os municípios de Belém e dos Olivais. Agora faz-se ao contrário e há sempre quem agradeça. Mas como disse, tenho de respeitar a decisão dos órgãos eleitos, embora considere um erro.

Sobre as NUT :

https://www.pordata.pt/O+que+sao+NUTS


quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Dúvidas sobre o Plano Geral de Drenagem de Lisboa

 Depois de ler o editorial do diretor do jornal sobre as inundações   https://www.publico.pt/2022/12/10/azul/editorial/capital-prova-agua-2030960

resolvi enviar-lhe a seguinte mensagem com as dúvidas que tenho, por falta de informação, sobre o Plano Geral de Drenagem de Lisboa


Caro Diretor
Não resisti, desta vez , perante este seu editorial e a importância do tema, a voltar ao seu contacto.
Há uns tempos, antes da maldita guerra e dos efeitos colaterais da 4ª vacina no idoso que sou, pensei debater consigo os critérios editoriais versus os critérios de utilidade das realizações técnicas para as comunidades. Sem, claro, pretender dar lições numa disciplina, o jornalismo, que não é a minha, mas apenas manifestar e deixar ao critério do jornalista a manifestação do que pode pensar um velho técnico sobre assuntos de interesse público. Manifestação essa que é, juntamente com a participação direta ou indireta do cidadão na resolução desses assuntos públicos, direito explicitamente consignado na Constituição, embora não esteja explicado como são regulados esses direitos. Já me aconteceu pedir diretamente ao orgão representante da Comissão Europeia em Portugal informações sobre que processos de candidatura a fundos comunitários CEF estariam a decorrer em 2023 e ter recebido a amável resposta de que o assunto era reservado. 
Também tenho lido em todas as reportagens sobre o assunto que o PFN está em consulta pública, mas vou aos sites "participa.pt" ou ao "consulta lex" , mas feita a pesquisa ela "nada me diz"  (será que o meu caro Manuel Carvalho poderia pedir aos seus colaboradores para investigar para onde posso mandar o meu contributo nessa consulta pública? isto partindo do princípio que o nosso governo quer mesmo que seja uma consulta pública).
Não sou especialista de hidráulica, apenas um ferroviário reformado contrariado pelas decisões sobre a expansão do metro (já era contra quando estava ao ativo, em 2010, mas as administrações sempre acharam que sabiam mais de engenharia de transportes do que eu) e sobre o PFN (aquela questão das ligações ferroviárias à Europa, não é só o problema da regulação internacional da eletricidade, do gás, da água .. .). 
Mas por deformação profissional, como se costuma dizer, reagi à sua pergunta, "para quando a capital à prova de água" e fui dar uma vista de olhos pelo Plano Geral de Drenagem (PDG). E fiquei um pouco confuso, com aliás já estava, mas encontrei uma pequena referência extremamente positiva, veja:
Um excelente artigo duma sua colaboradora sobre os arranjos no Alto da Ajuda, incluindo uma bacia de retenção, já em 2017, 3 anos depois das inundações de 2014 , 5 anos antes das atuais e 1 ano e 3 meses depois da última versão do Plano Geral de Drenagem que me é dado ter.  Pensei, aleluia, o Público dedica-se a questões técnicas de interesse público, os seus critérios jornalísticos não o impedem de abordar temas insipidamente técnicos. 
E contudo, se é de aplaudir a realização do Parque urbano do rio seco (vale a pena lá ir, passei por lá para ver como compatibilizar com o traçado do LIOS e conclui que o prolongamento correto do metro seria em subterrâneo, não como metro ligeiro de superfície, mas já se sabe que as minhas opiniões não são do agrado dos decisores), já a bacia de retenção do Alto da Ajuda parece pequena para o que uma precipitação de 100 litros por m2 pede, se pensarmos que a bacia hidrográfica que a alimenta pode ter mais de 30 ha.
Mas voltando à reação à sua pergunta, diz o PGD que não bastam os dois tuneis anunciados, 5km de Campolide a Santa Apolónia e 1 km de Chelas ao Beato, e com isso tenho aborrecido o meu colega especialista de hidráulica que defende o PDG quando eu digo que se estiver maré cheia em dia de lua nova  e nos equinócios, vale que pela teoria das probabilidades só coincide com uma chuvada de 20 em 20 anos,  temos que a água do túnel de Santa Apolónia não escoa para o rio, precisava de ter um reservatório de grande capacidade com comporta e uma central de bombagem, coisa para países ricos.
Faz parte do PDG um conjunto de reservatório de capacidade razoável. E parece ter-se querido evitar uma obra asiática, corrigir o caneiro de Alcântara com bacias de retenção, reservatórios e by-passes a descoberto, embora o PDG preveja desvio de caudal de Benfica, através de novo coletor, para o citado tunel de 5 km. E não fazendo a pergunta para quando a capital à prova de água pergunto: está incluida esta ligação nas obras contratadas?
Pergunto também, na bacia de retenção do parque oeste da Alta de Lisboa já há controle de caudal que impeça as inundações na Alameda das Linhas de Torres? é que é muito bonito invocar as maravilhas das bacias naturais, como se diz agora um adorno das cidades-esponja, mas os terrenos de Lisboa têm capacidade de absorção de que percentagem do caudal  de precipitação, 30%? isto é, para uma precipitação de 100 litros/m2/hora, para uma capacidade da bacia de retenção de 25.000 m3 e uma sub-bacia hidrográfica de 30 ha  em pouco mais de uma hora a bacia de retenção já está cheia e a deixar passar o caudal. Não será necessário construir um reservatório enterrado de maior capacidade? 
E no vale da Ameixoeira, junto da estrada do desvio já funciona a bacia de retenção? não consegui obter valores de capacidade, mas tem a opinião pública conhecimento que em pleno leito de cheias se constroem prédios de habitação? e que as águas, juntamente com outras encostas norte de Lisboa, drenam para o vale de Loures?
Vamos à Praça de Espanha, agora Parque urbano Gonçalo Ribeiro Teles. O cruzamento da Av.Berna com a Antonio Augusto de Aguiar é o ponto baixo com a cota 65 m, recebendo caudais de superfície de S.Sebastião, da Av.Calouste Gulbenkian e da Av.dos Combatentes; são poucas e pequenas as grelhas no pavimento; o ponto a sul do arco de S.Bento que era o sumidouro destruido durante as obras com furação do teto da galeria do metro e que agora é o início do declive criado para o escoamento para a vala entre o teatro da Comuna e as traseiras dos prédios da Av.Columbano Bordalo Pinheiro tem a mesma cota, 65 m, existindo pequenos alteamentos no passeio que o isolam do ponto baixo do cruzamento. Nestas condições só pode haver inundação, para mais com tanta folha caída em tão pequenas e poucas grelhas. 
A pequena bacia de retenção criada mais a norte no parque de pouco servirá dada a sua dimensão. Mas o PDG previa um reservatório com 35.000 m3 enterrado na parte nordeste do parque e com a cota da soleira francamente mais baixa, cota 57 m. Dizem-me no Skyscraper/Praça de Espanha que foi construido mas não tem as ligações feitas aos descarregadores de superfície nem aos coletores da Av.Columbano Bordalo Pinheiro. Confirma-se que o reservatório foi construido ? (quando passei por lá durante as obras não vi, mas pode ter sido falha minha) se sim, é visitável, permitindo fazer as ligações em segurança? 
Devo esclarecer porque é tão complicado evitar inundações na Praça de Espanha. Antes dos anos 50, havia a vala do Rego, que descia junto da linha férrea até à zona da Praça de Espanha e depois descia  pelo declive entre o teatro da Comuna e as traseiras da Columbano, até perto da estação da CP de Campolide, ou Quinta do Zé Pinto onde vai iniciar o tunel salvador do PDG, com a cota à superfície 56m (9m abaixo da cota da Praça de Espanha) e com a cota da soleira 40 m. 
Mas fez-se o metro, ainda nos anos 50, com a sua galeria cortando perpendicularmente o arroio da vala, como uma barragem. Ao mesmo tempo foi preciso subir a cota da dita av.Columbano para passar o túnel do metro para o PMOI e os elétricos poderem passar por cima. 
Lembro-me de ouvir um colega senior já falecido lamentar não ter podido baixar a cota da galeria do metro, mas se o fizesse o declive de S.Sebastião para a praça de Espanha (Palhavã , como se chamava) aumentaria. Ora, a cota do teto da galeria do metro é 64 m, portanto com um pequeno declive relativamente ao ponto baixo de 65 o que condiciona o escoamento.

Temos aqui um exemplo de que não basta, tal como o PDG diz, fazer os tuneis de 5 e 1 km, é necessário executar reservatórios de boa capacidade (por exemplo, também em Benfica, aliviando o caneiro de Alcântara desviando caudal para o reservatório da Quinta do Zé Pinto) e garantir as ligações dos descarregadores de superfície e dos coletores aos túneis. Só que, como diz o PGD, a maioria da rede dos coletores, especialmente na zona ribeirinha e em Alcântara, está degradada, com coletores partidos (saída águas ou entrada e arrastamento de inertes produzindo depressões no pavimento à superfície) ou assoreados, ou de secção insuficiente, ou misturados com as águas domésticas. 

Situação especialmente grave em Alcântara (onde se antevê o crescimento do imobiliário de luxo, com vistas para o Tejo, em acréscimo à ocupação pela construção do Hospital da CUF) com uma rede de coletores degradada e insuficiente, tal como o caneiro, e onde alguém se lembrou de querer construir a ligação da linha de Cascais à linha de cintura  mesmo ao lado do caneiro. Onde vamos arranjar dinheiro para compor tudo isto? Vão fazer-se os reservatórios de Benfica e Campolide ligados ao novo túnel para aliviar Alcântara? Que partes do que é preciso fazer do PDG estão efetivamente incluidas no contrato de execução assinado? 
Para que possamos ter uma ideia da resistência da capital à prova da água.
Enfim, são as perguntas que assinalei a negrito, pelas dúvidas que me suscita toda esta situação de inundações, e que deixo ao seu critério se merecem ser colocadas a especialistas.
Junto algumas fotografias.
Apresento os melhores cumprimentos e votos de saúde



ponto baixo av.Berna/av.Antonio Augusto Aguiar - cota 65 m; sarjetas entupidas; o ponto baixo do parque também a 65 m, está à direita           foto retirada do Skyscraper/Praça de Espanha 7dez2022

ponto baixo do parque a 65 m onde se verificou a furação do teto da galeria do metro,  vendo-se o pequeno declive na direção de Campolide por 
motivo do teto da galeria do metro a 64 m;                                                                 foto de 19set2022
acidente mortal na ribeira da Póvoa devido a despiste de automóvel em 11dez2022; foto Google; nota-se ao longe um muro de gabiões construido não para proteger a circulação  à beira da ribeira mas para consolidar a sua margem; prédios à esquerda na Póvoa de Santo Adrião, à direita freguesia de Olival Basto;  Odivelas fica para a esquerda e a A8 para a direita, sentido sul-norte

Alcântara - recanto murado ao fundo das ruas do Alvito e da Cascalheira, a uma cota inferior à da av.Ceuta com grelhas de drenagem que debitam para uma rede de coletores degrada e insuficiente. Uma hipótese seria as obras da estação de metro previstas para o acesso da ponte e que motivam a sua inutilização, incluirem também a demolição e reconstrução destes prédios afetados recorrentemente pelas inundações.






















Comentário a uma notícia sobre os atrasos nas obras da ferrovia

 

https://eco.sapo.pt/2022/12/15/ha-obras-da-ferrovia-que-so-ficarao-prontas-seis-anos-depois-do-prazo/

Comentário
1 - a execução de investimentos ferroviários é um processo complexo e difícil desde a decisão à contratação e à colocação em serviço devido a muitas condicionantes externas e dificuldades internas devido à multidisciplinaridade
2 - tenho a imodéstia de, de 2002 a 2007, ter colaborado na coordenação de empreendimentos no metropolitano que, como se diz coloquialmente, se podem ver, apesar de não ter concordado com muitos traçados
3 -quem viu o voo da Fénix aceita que o que se passa com os investimentos ferroviários de longo curso se passa mutatis mutandis com os investimentos de metro (aliás, a incompreensão dos decisores da IP e da CP ao misturar serviço metropolitano com interurbano, rápido, regional, mercadorias, é uma das razões do descalabro Ovar-Gaia e de o PFN estar pejado de inconformidades)
4 - Em 2014 encontrei num seminário um colega da CP com quem tinha trabalhado na comissão de normalização e que me disse, com um ar muito triste "estão a dar cabo disto tudo". Trata-se dum colega que não é convidado para lugares de decisão
5 - Desde a instrução primária que tenho asco aos meninos que se desculpam ao setôr ou à setôra de que não foram eles, só se foram aqueles meninos.
6 - a coordenação deste tipo de investimentos faz-se por exemplo com o projet (pode fazer-se com o Excel, mas profissionalmente faz-se com  o projet), onde se inscrevem todos os passos necessários com a respetiva barra de tempo; tenho em elevada consideração os colegas (e as colegas) que faziam esses projet; eu marcava as reuniões mensais de controle e muitas vezes os colegas que estavam em falta quando chegavam aos seus gabinetes já lá tinham a lista de tarefas a executar até à próxima reunião; será mais uma vez imodéstia minha, mas quando o senhor administrador comissário político do partido então no poder achou em 2007 que não era preciso fazer reuniões mensais de coordenação, houve inesperadas alterações de projetos de estações (por exemplo, uma alteração que obrigou a mudar o sítio da subestação de tração, já com os componentes alinhados) e mais tarde um processo que conduziu ao despedimento dos dois diretores de obra por comportamento irresponsável da fiscalização
7 - Se não há quem mantenha o projet completo e atualizado ou se não há quem chateie quem está a empatar, o tempo voa
8 - É muito feio desculparem-se com as dificuldades dos projetistas e dos empreiteiros, prevejam as dificuldades, compreendam bem as inconformidades da contratação pública, mas vivam com elas (por exemplo, programem com tempo os concursos de pré-qualificação para depois não se desculparem com as dificuldades dos projetistas e as desistências dos empreiteiros que apresentaram preços baixos, expliquem aos senhores advogados alérgicos aos concursos de conceção construção que há empreendimentos que convém serem assim)
9 - Compreendo a antipatia pelos procedimentos ambientais, mas eles têm prazos bem definidos, é pô-los no projet e, já agora, decidir traçados e procedimentos a seu tempo, com divulgação pública, para não ter de emendar anteprojetos antes do concurso
10 - Degradação do quadro macroeconómico é uma desculpa boa demais devido à situação trágica que se vive, mas como se anunciam sempre os investimentos por preço inferior ao razoável, eis uma inflação com costas largas; despachem-se a fazer os anteprojetos e as análises de custos benefícios e candidatem-se a tempo e horas aos fundos comunitários, cumprindo os regulamentos que não têm cumprido
11 - "espaço de tempo entre empreitadas para minimizar sobreposições"?! quando se programa a execução de um investimento, define-se o quadro de técnicos necessário e suficiente; neste caso, devido ao número de intervenções e à sua multidisciplinaridade tem de haver sobreposições, se necessário recorrer a gabinetes exteriores; recordo-me de ter informado em duas vezes a administração de que não poderiamos aguentar a sobreposição; contratou-se exteriormente para um dos empreendimentos. Possivelmente o problema não estará na falta de técnicos, mas na absoluta surdez dos decisores à experiência dos técnicos e à desmotivação destes pela forma como são tratados
12 - peço desculpa se fui imodesto, mas precisava de desabafar

domingo, 11 de dezembro de 2022

As inundações na Praça de Espanha em 7dez2022

Meu caro colega da especialidade de hidráulica


Pedia-lhe abusivamente esclarecimentos sobre o afogamento do cruzamento da av Berna com a av Antonio Augusto de Aguiar e suas relações com o novo parque urbano, Gonçalo Ribeiro Teles.

Tem hipóteses de saber se foi construído o reservatório de retenção de 35.000 m3 ?(previsto no plano de drenagem...). Foram feitas as ligações de sumidouros para o alimentar ?(não vi, mas pode ser defeito meu), são visitáveis?  e as ligações ao coletor? qual coletor, o da av Columbano Bordalo Pinheiro? será que os coletores existentes são simplesmente insuficientes? há separação de coletores de águas residuais e pluviais? 
Andam agora os teóricos com muita fé nas pequenas bacias de retenção (existe uma no parque GRT) e nos cobertos vegetais que têm capacidade de infiltração, mas essa infiltração nunca será mais do que 30-40% do total da precipitação, ou não? 
Qual será a área da "bacia" (S.Sebastião, Início da av Calouste Gulbenkian, Av.Santos Dumont/av dos Combatentes) que descarrega para o cruzamento av Berna/av Ant Augusto Aguiar,  10 ha? o que para 100 mm de precipitação por hora dava 10 000 m3. Perfeito, mas o cruzamento ficou cheio de água mais de 24 horas, isto é, o reservatório não foi feito, ou se foi, não está ligado, ou não há coletores.É isso?
Bom, antigamente, antes da urbanização da zona, havia um riacho que ia do Rego para Campolide, zona da estação da CP, ou Quinta do Zé Pinto onde vai iniciar o tunel salvador do plano geral de drenagem. Esse riacho devia vir pelo traçado do caminho de ferro e descia (como ainda desce) pela vala entre o teatro da Comuna e as traseiras dos prédios da Columbano. 
E foi quando se fez o metro, cortando perpendicularmente o riacho, tipo barragem. Ao mesmo tempo foi preciso subir a cota da dita av.Columbano para passar o túnel para o PMOI e os elétricos poderem passar por cima. Lembro-me de ouvir um colega que já cá não está a lamentar não ter podido baixar a cota da galeria do metro, mas se o fizesse o declive de S.Sebastião para a praça de Espanha (Palhavã , como se chamava) ficava mau.
Portanto, se não erro, as inundações da Praça de Espanha devem-se ao metro e à urbanização, para além da falta de reservatório e de coletores de pluviais. A cota do cruzamento da Av Berna com a Antonio Augusto é 65m, é o ponto baixo, 65m é também a cota do sumidouro que a máquina partiu ao mesmo tempo que o teto da galeria do metro, e que neste momento é o ponto baixo da parte oriental do parque GRT. Como o teto da galeria está a 64m, não há declive e a vala que lá está agora não tem escoamento. Solução, um poço e um coletor para passar debaixo do túnel, à cota 57m, mas a cota 57 só se encontra na quinta do Zé Pinto, logo não serve, a menos que o coletor vá enterrado por aí fora até à quinta do Zé Pinto onde entraria no túnel salvador.  Ou então fazer um pequeno (2m de largura) desbaste no teto da galeria para baixar a cota de 64 para 62m, já era capaz de chegar.
Enfim, peço muita desculpa por o incomodar.
Um abraço




https://www.skyscrapercity.com/threads/lisboa-plano-de-pormenor-da-pra%C3%A7a-de-espanha-parque-gon%C3%A7alo-ribeiro-telles.165773/page-82#post-181530307


Projeto do Plano de drenagem da Praça de Espanha com reservatório de 35.000 m3; a foto mostra a zona da pequena bacia de retenção/ponto baixo (cota 65) relativamente a S.Sebastião, onde ocorreu o acidente de furação do teto da galeria do metro              (in Plano Geral de Drenagem de Lisboa 2016-2030)


quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

O plano ferroviário e o novo aeroporto (mas na Polónia)

 

Plano ferroviário e novo aeroporto  (mas na Polónia)

 

Julio Dantas escreveu uma peça cujas personagens são 3 cardeais nostálgicos. Chama-se  "A ceia dos cardeais", e dela consta a frase “Como é diferente o amor em Portugal”.

Sem irmos aos fundamentos psicossociais que o justificará, é consistente a hipótese de que não é só o amor que é diferente em Portugal.

Tome-se o caso do plano ferroviário, caseiro, como já lhe chamaram, e fechado à ideia comunitária de integração na rede ferroviária única europeia; e o novo aeroporto, de discussão arrastada e desgarrada da expansão da ferrovia e da terceira travessia do Tejo.

E veja-se o plano ferroviário polaco e as perspetivas do novo aeroporto de Varsóvia. 2000 km de novas linhas, novo aeroporto a 40 km do centro de Varsóvia. Atualmente, o aeroporto principal , Frederic Chopin, está a 10 km e tem uma configuração semelhante à antiga do AHD, uma pista NW-SE de 2800m e uma N-S de 3700m; 19 milhões de passageiros em 2019. Existe ainda um aeroporto low cost com uma pista de 2400 m, orientação W-E, e a 40 km do centro de Varsóvia, Modlin, 3 milhões de passageiro em 2019.

https://railwaydirectiondays.com/#our-speakers

https://airport-world.com/new-airport-in-central-poland-a-step-closer-to-reality/

Não é de admirar. Há uns anos a companhia aérea polaca passou por umas amarguras como as da TAP. Reduziram o seu volume de negócios. Por cá aumentaram-no, surdos como de costume às vozes que pediam humildemente a redução. Como há quem diga, “nós somos os melhores”.

Discordo completamente da submissão na Polónia do poder judicial ao poder executivo, mas reconheço que do ponto de vista técnico deve trabalhar-se assim, de acordo com o projeto do CPK, embora o projeto escusasse de ser tão dispendioso. Votos de sucesso, se possível com economias e sem grandes atrasos (previsão otimista: 2028).