terça-feira, 30 de novembro de 2021

Consulta pública sobre o acordo de parceria PT2030, PRR, etc. em nov2021

 https://www.consultalex.gov.pt/ConsultaPublica_Detail.aspx


Contributo enviado à ConsultaLex em 30nov2021:


Sem pôr em causa a generalidade das propostas nestes planos, observo que, apesar de no domínio dos transportes ferroviários (internacionais, regionais, suburbanos, urbanos) já se encontrarem previstas várias ações, algumas delas do ponto de vista técnico parece não serem consistentes com as boas práticas de planeamento nem, no caso das ligações internacionais, com os regulamentos comunitários 1315/2013 e 1316/2013 de natureza vinculativa.

Nestas condições, proponho o acrescento de uma verba, eventualmente da ordem de 50 milhões de euros, para o lançamento de um concurso público internacional a gabinetes de engenharia de mobilidade e do território para a revisão e atualização do plano ferroviário nacional e do plano de mobilidade das áreas metropolitanas de Lisboa, Porto e Coimbra. O facto de ser um concurso internacional justifica o acrescento da verba referida, a ter cobertura ao abrigo do princípio da subsidiariedade previsto no TFUE e nos regulamentos comunitários para as circunstâncias em que o Estado membro, por si só, não consegue executar os planos previstos nos referidos regulamentos. Tem ainda a vantagem de contribuir para a redução do ruído sobre as discussões sobre infraestruturas em que a sociedade portuguesa é fértil.

Ainda no domínio ferroviário, seria desejável que no acordo de parceria nalgum dos planos se previsse o desenvolvimento de material circulante para transporte de camiões e semirreboques  em comboios para ir preparando a transferência de carga rodoviária para o modo ferroviário no contexto do Green Deal e o Fit for 55.

No domínio hidráulico insisto (por já o ter referido em anteriores consultas públicas)  na conveniência de ir estudando a instalação de centrais de dessalinização e de projeto da barragem do Ocreza.

Cumprimentos


segunda-feira, 29 de novembro de 2021

O que diz Adina

Licenciada em Matemática (Univ.Bucuresti); ex secretária geral da Juventude Nacional Liberal

O pertinente artigo da Investigate Europe/ Paulo Pena e Carlos Cipriano/Público

https://www.publico.pt/2021/11/28/economia/investigacao/comboios-descarrilamento-europeu-1986118

descreve circunstanciadamente o estado lamentável do projeto da rede ferroviária única europeia e as suas relações com o não menos lamentável estado da ferrovia portuguesa, nomeadamente as limitações das interligações com a Europa e o consequente estrangulamento das exportações para todo o continente.

Tem interesse ver também este pequeno video da Investigate Europe
https://www.youtube.com/watch?v=kY7vjbPb-SI

e a ligação para o sítio da Investigate Europe
https://www.investigate-europe.eu/en/

Como se pode ver no artigo do Público, Adina Valean, comissária europeia dos Transportes, questionada sobre os atrasos nas interligações ferroviárias da Península Ibérica com a Europa além Pirineus, respondeu, de forma muito liberal, "se algo não for comercialmente viável, não podemos forçá-lo, porque alguém terá de pagar por isso ... não podemos obrigar as empresas a operar algo que não é comercialmente viável"  (volume de exportações por modos terrestres de janeiro a setembro de 2021, de acordo com o INE: 10 milhões de toneladas para Espanha e 7 milhões de toneladas para o resto da Europa). 

Essa afirmação é estranha se acreditarmos nas sucessivas declarações de Adina  no  Parlamento europeu e nos seminários do ano internacional da ferrovia; ou se acreditarmos nos considerandos 5 e 12 do regulamento 1370/2007, no art.93 do TFUE , nos considerandos 37 e 49 do regulamento 1316/2015 que tratam dos serviços públicos nacionais e internacionais e reembolsos em serviços não comercialmente viáveis,  ou simplesmente no art.4 do regulamento 1315/2015 que determina os objetivos da rede única ferroviária europeia e art 50 (projetos transfronteiriços); ou se recordarmos uma das suas responsabilidades segundo o sítio do comissariado dos transportes    https://ec.europa.eu/commission/commissioners/2019-2024/valean_en
  - Swiftly completing missing infrastructure links and the Trans-European Transport Network, underpinned by a fair and functioning internal market for transport.

Essa afirmação não será ainda estranha se recordarmos  anteriores declarações da DG MOVE (da assessora do coordenador do corredor atlântico, de que se esperaria maior empenho na sua implementação    https://manifestoferrovia.blogspot.com/2021/02/troca-de-emails-com-iniciativa-year-of.html)    revelando sintonia com a estratégia do XXII governo português ao declarar que o up grade da rede existente se deve a análises "pobres" de custos benefícios para as linhas novas a integrar nas redes TEN-T.

Tudo ponderado e pondo a questão em termos mais claros, a necessidade de aumentar as exportações pelo modo ferroviário impõe uma radical mudança na política oficial, se necessário recorrendo aos mecanismos de ajuda do princípio da subsidiariedade (apoio da UE quando o Estado membro não consegue, art.5 do TFUE).

Até porque, para não fazer da comissária uma pessoa afastada dos objetivos da Comissão Europeia para o Green Deal e o Fit for 55, recordo anteriores afirmações suas nas seguintes ligações:


https://www.pubaffairsbruxelles.eu/trans-european-transport-network-ten-t-commission-welcomes-provisional-agreement-simplifying-administrative-procedures-eu-commission-press/                                 “The completion of the Trans-European Transport Network (TEN-T) is essential for the functioning of the single market, the digitalisation of transport and the transition to a cleaner mobility. and benefit the transport sector in its recovery.”

 

https://www.eumonitor.eu/9353000/1/j9vvik7m1c3gyxp/vlh1i8er8iv9?ctx=vg9pi5ooqcz3&start_tab1=35                                                                                                        The Connecting Europe Facility is central to completing the Trans-European Transport Network (TEN-T), as well as making it greener and more digital. It will serve to bridge critical cross-border transport connections, shift more traffic towards rail and inland waterways, and boost multimodal integration. We must have a smarter, more sustainable and crisis-proof transport system, and CEF will be key to making that happen.

 

https://www.globalrailwayreview.com/article/116962/adina-valean-rail-europe/

“As a matter of priority, the European Commission (EC) will present an action plan to boost long-distance passenger rail transport, based on an ongoing study on long-distance passenger services. It will build on efforts by Member States

For freight, we will use the upcoming revision of the guidelines of our Trans-European Transport Network (TEN-T) to better align it with the Rail Freight Corridors, improving links to ports and terminals and investment plans. 

We will also launch work on a rail connectivity index during 2021, to measure the level of integration achieved on the rail network and to show the potential of rail to compete with other modes of transport. We will also explore the option of a Green Label for goods transported by rail, which could promote businesses choosing this clean transport mode to the final consumer.

Our ultimate goal, the creation of a Single European Railway Area, means aligning 25 complex networks and rules. The Fourth Railway Package was recently implemented in full:

Since 13 December 2020, rail operators are also able to offer passenger services in any other Member State. Moreover, competition for public service contracts will become the rule as of 2023.

In terms of infrastructure, a series of new cross-border routes linking major cities and capitals will open and become more attractive within the next decade.”

 

https://www.uic.org/com/enews/article/european-year-of-rail-connecting-europe-express-now-leaving-the-station?page=modal_enews                                                                                                                                                  “Rail has shaped our rich, common history. But, rail is also Europe’s future, our route to mitigating climate change and powering economic recovery from the pandemic, as we build a carbon-neutral transport sector. Over the coming weeks, the Connecting Europe Express will become a rolling conference, laboratory and forum for public debate on how to make rail the transport mode of choice for passengers and businesses alike.

 

https://europa.eu/year-of-rail/news/euyearofrail-kick-speech-adina-valean-european-commissioner-transport-2021-03-29_pt                                                                                                                                                                       

“The continued lack of interoperability between some parts of Europe’s network mean that, in reality, we need three different trains (for the Connecting Europe Express) to fit the different gauges used in Europe. 

This long-standing lack of interoperability, alongside slow progress on digitalisation, is holding back the development of seamless, cross-border freight and passenger services. We need to address both to attract passengers and freight to rail from other transport modes. Moving between Member States by train should be no different than doing so by car or lorry.

 Our key TEN-T goal is to complete the core network by 2030. This means building new lines and sections, modernising existing ones, bridging missing links, and removing bottlenecks. But success is not only counted in how many kilometres of rail track we lay down or modernise. It is equally important to add a digital layer to the physical infrastructure. We aim to have a rapid roll-out of ERTMS and apply automation where it is needed.”

 

 








O centro de inovação do Instituto Superior Técnico e o "magister dixit"

 Imagens dos antigos edifícios e do rojeto do novo centro:

https://www.google.com/search?q=tecnico+innovation+center&sxsrf=AOaemvITASYydCWmLgJSJiiH2H4Dj2hoTg:1638206916751&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=5SNJ_hrMhnoxaM%252C-fc7pepp8rXbjM%252C_%253B_al2lObUP8JTKM%252CYYVIXzbFoeK__M%252C_%253BNlP3KyNi8y0QNM%252CVEltuVAwXUA1gM%252C_%253BFa31Tc35Y3pPYM%252CYYVIXzbFoeK__M%252C_%253B9FV6zwK1YNHt_M%252CtIKl_VEeTVoMOM%252C_%253BwhlBvieCxMZh4M%252Ck1yxezYaHK0JkM%252C_%253BDu8IpJ1-lKMOlM%252Cs_JklAo-WGKEOM%252C_%253BabV-KaNBB0OynM%252CsSvqUF0k6oXt2M%252C_%253BI7-lZ0lS9qg4IM%252CsSvqUF0k6oXt2M%252C_%253Bt2P5L1KH3-vCIM%252Cmn2LgDew6RPOXM%252C_&vet=1&usg=AI4_-kSzjBStBiBo4yCA2wqvZpNTJNwIjQ&sa=X&ved=2ahUKEwj4ld2qjL70AhUV5OAKHQpBCaQQ9QF6BAgrEAE#imgrc=H23LYQOO_dkrWM&imgdii=a_WprOSPIY4GWM


Artigo em novembro de 2021:

https://www.publico.pt/2021/11/29/local/noticia/tecnico-estrutura-antiga-gare-arco-cego-nao-demolida-sim-desmontada-1986532

Sobre o antigo Arco do Cego, recordo que onde está agora o jardim estava um edificio de elevado valor de arqueologia industrial, com o gerador e a comutatriz (máquina rotativa com coletor  de lâminas de cobre que convertia a tensão alternada em tensão contínua, penso que da origem da tração elétrica). Se foi considerado mais importante o jardim do que o exemplo de arqueologia industrial, direi que, se a comutatriz se perdeu, sem transferência para um local museológico, terá sido simplesmente um ato de selvajaria. Mas já estamos habituados, a destruição da linha do Tua foi outro exemplo, e eu próprio não consegui preservar a central telefónica Stronger, a administração do metro não autorizou. 

Vamos ter de aguardar para ver se o edifício da garagem vai ser reconstituido, tant bien que mal, ou se as palavras bonitas do anúncio serão apenas isso, bonitas. De momento, em que paredes e estrutura metálica já foram desmanteladas, a menos de uma das paredes, gostaria de recordar que os "estudos" que justificam as coisas que se vão fazer, devem ser divulgados e sujeitos a análise pública, tal como prevê o TFUE e a Constituição da Republica Portuguesa, ou como os procedimentos do método científico prevêem, "referee", como os senhores do IST sabem, muito melhor do que eu. O "magister dixit" acabou com a Idade Média.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Notícias por estes dias de novembro de 2021

 Confesso que tenho a paciência dos idosos, isto é, não a tenho. E por isso ao desgosto da leitura das notícias sucede a raiva da impotência para corrigir o que poderia ser corrigido, se na sociedade portuguesa não predominasse a imposição aos cidadãos de se concentrarem nos problemas e nas carências das suas vidas (e por isso não pode exigir-se às pessoas que se documentem com rigor) e se não predominasse nas "elites" (normalmente autointituladas elites) uma crónica indisponibilidade para o planeamento informado e realista e uma não menos crónica rejeição dos processos de trabalho coordenado em equipa.

Por isso leio as explicações sábias dos comentadores que a subida dos preços da energia e consequente inflação não tem nada que ver com o excesso de zelo  liberalizador das regras europeias que aceitam o preço máximo do comercializador de energia nos leilões intradiários para todos os comercializadores, esquecendo a experincia da desregulação na California e no Texas (ordenação 888). E dizem os sábios que tem que ver com o congestionamento do transporte marítimo, da falta de contentores, da falta de tripulantes marítimos.

Mas, não foram os mesmos sábios que explicaram aos senhores ministros, não menos sábios depois de absorverem os ensinamentos dos primeiros sábios, que o transporte marítimo resolvia tudo, não era preciso gastar dinheiro com os comboios para a Europa? aliás bastava exportar para Espanha. Mas eu consulto o INE e verifico que o valor das exportações para o resto da Europa supera o valor das exportações para Espanha, embora para Espanha em toneladas o número seja superior. Por outras palavras, para Espanha exporta-se menos valor acrescentado, próprio de qualificações mais baixas de quem produz.

Sem talvez reparar nisso, os mesmos sábios disseram ao jornalista do excelente artigo "Governo quer 25 mil novos empregos de I&D até 2030" que sim, há pouca notoriedade dos produtos portugueses no estrangeiro e baixa intensidade de conhecimento nos produtos exportados (espero que os fabricantes de moldes e de componentes para a industria automóvel, para não falar nos softwares para a NASA e outros locais dos USA, não leiam estas declarações do governo que devem ter escapado ao controle semântico dos sábios).

Mas tinham-nos dito, governo e sábios, que as novas gerações eram as mais bem preparadas. Bem, a ocasião agora não é para dizer isso, é para justificar alocar verbas comunitárias para o Portugal 2030. Será que sábios e governo terão lido a crónica do prof Santana Castilho "Dar murro na ponta da faca" chamando "escandalosamente incompetente ao senhor ministro da educação e que a desgraça da Educação começou com Maria de Lurdes Rodrigues e prosseguiu com Nuno Crato (não menor escandalo, a noo fundo expulsão de bons professores, vindo agora os sábios e o governo queixar-se de que não há professores). Arrepiante pergunta a do cronista, "Pode quem trouxe a Educação a este estado continuar a governar?".

Não se lembraram, governo e sábios, de perguntar às pessoas que ainda são do tempo em que as empresas compensavam a baixa escolaridade com formação interna?, no tempo em que a escola de Turismo de Lisboa era uma escola de serralheiros especializados?

Leio atordoado, porque há anos que quem estuda o problema da Educação sabe que as desigualdades sociais são ampliadas pelo sistema escolar, porque os filhos das elites têm acesso a melhor educação dos que os filhos das classes de menores rendimentos. "Entrevista de Daniel Markovits, a meritocracia bloqueia a igualdade".

E como que numa fábrica virtual de powerpoints, sábios e governo encontraram as combinações de palavras, as "keywords" ("inovação de produtos e processos, melhorias na transição entre I&D e inovação, investigação científica e tecnológica, empregos qualificados, digitalização, competitividade") que mobilizam as atenções, fazem acreditar em não menos virtuais milagres produtivos em ações de digitalização e partilha conectada, e, acima de tudo, justificam as verbas dos fundos comunitários do acordo de parceria para 2030 que saiu para breve consulta pública de 15 a 30nov2021, nomeadamente o PT2030  22.995 milhões de euros. São ainda 11.500 milhões do FEDER, 7.500 milhões do Fundo Social Europeu, 3.400 milhões do Fundo de Coesão, 200 milhões do Fundo de Transição Justa e 400 milhões do Fundo de Assuntos Marítimos. Não se critique a Área Metropolitana de Lisboa que neste domínio só beneficiará de 400 milhões.

Que diria António Aleixo (calai-vos que pode o povo querer um mundo novo a sério)? deixem seguir a consulta pública, em que a minha impotência e raiva me impedem de participar, na esperança de que afinal tenha havido gente bem intencionada que estudou a distribuição das verbas e que o seu trabalho não venha a ser vilipendiado por negligencia, incompetência, má vontade, oportunismo, ganancia ou corrupção (há um ex secretário de Estado investigado por ter uma conta em off-shore que atingiu quase 900.000 euros e ligado a um licenciamento dum equipamento social em que mediaram 11 dias entre a emissão do alvará de licenciamento das obras correspondentes à ampliação do edifício de 4 para 6 pisos e a emissão do alvará de licença de utilização !!, são os riscos da descentralização).

Fica a esperança, pequena porque o governo e os seus sábios não gostam de ser contrariados,  de que as verbas do restante acordo de parceria ajudem a melhorar as infraestruturas que facilitam as exportações: PRR 16.644 milhões + PAC 9.769 milhões + REACT 2.139 milhões.

Ou, fora do acordo, o CEF 2021-2027 (quem faz os anteprojetos?) 25.800 milhões. 

Continuo a dizer, precisamos de assistência também técnica para utilizar estas verbas, não apenas financeira. Talvez escreva isso na consulta pública, simples aplicação do artigo 5º do Tratado de Funcionamento da União Europeia, o princípio da subsidiariedade, ajuda da UE quando o Estado membro não consegue.

Leio um texto de Isabel do Carmo com algum sentimento de culpa, porque me vou interessando mais pelo problema das infraestruturas, como se quisesse que fosse mais importante discutir equipamentos sociais do que as dificuldades na saúde de cada um:

https://www.publico.pt/2021/11/27/opiniao/opiniao/comunicacao-dentro-sns-cidadaos-saco-plastico-1986577

O que  a professora pede é o processo digital único para cada cidadão, para que não tenha de levar um saquinho de plásticocom todos os examens , análises e documentos sobre a sua saúde. Como os sábios proclama para a janela única do transporte marítimo, para o bilhete único da rede europeia de transportes, etc, etc.

Deveria surpreender-me com a notícia das manifestações de violencia a propósito do agravamento das restrições da pandemia nos Países Baixos (consta que agora não gostam que lhes chamem Holanda) ? Um país tão civilizado, tão do norte frugal, pleno de lições através do seu sábio ministro das finanças do tempo da troika, Daiselblum, ou do agora não menos sábio primeiro ministro Rutte, sempre com aquele arzinho de desprezo pelos preguiçosos do sul (mas ter-lhe-ão estes fivado a dever algum cupão de juros?), com violencia nas ruas. como na França?

https://www.publico.pt/2021/11/28/mundo/noticia/covid19-desigualdades-cultura-silencio-explica-orgia-violencia-paises-baixos-1986725

Atento às explicações de senhores professores da universidade de Leyden "nãao podem ir a bares e discotecas, não podem estar na rua a divertir-se com amigos", "as desigualdades sociais não são debatidas abertamente", "existe uma inquietação sobre questões como habitação acessível, empregos seguros ...".

Estranho, sempre nos disseram que as forças do mercado liberal resolviam estas coisas. Parece que não, subsitem e agravam-se as desigualdades. Podiam os senhores políticos falarem com mais precisão dos factos sociais e da sua evolução.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Jornadas Mundiais da Juventude - mensagem para o senhor presidente da Câmara Municipal de Lisboa

 


Assunto: Mensagem para o senhor Presidente da CML sobre a segurança nas JMJ

Para Presidente da Câmara Municipal de Lisboa cc da digna vereação e órgãos institucionais 

Assunto: Jornadas Mundiais da Juventude 


Chocado com mais um acidente num evento ao ar livre, em Houston, em 5nov2021 num concerto de musica pop, dirijo-me a V.Exa  depois de ter já enviado uma análise de riscos expedita ao senhor Presidente da Câmara de Loures e à comunicação social manifestando sérias reservas sobre as condições de segurança possíveis para a zona escolhida para a JMJ. 

Espera-se que o grupo de projeto nomeado pela RCM 45/2021 pondere os riscos associados, tal como as duas câmaras envolvidas.  

Sobre as condições de segurança requeridas em eventos ao ar livre existe uma interessante tese que inclui a análise de uma série de acidentes com multidões em: 

https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/19418/1/2015.04.016_.pdf 

Além da lista de acidentes incluída nessa tese, há a acrescentar: 

- 21 mortos num túnel inclinado de saída do festival Love Parade em julho de 2010 em Duisburg, Ruhr, capital da cultura,  num recinto por onde passaram de 200 mil a 1,4 milhões de pessoas 

- 45 mortos numa viela inclinada de cerca de 6 m de largura, entre muros, num festival religioso em Israel, Mount Meron, em abril de 2021, num evento com cerca de 100 mil pessoas 

- 8 mortos estimando-se num concerto de musica pop em Houston, por compressão contra o palco, numa assistência de 50.000 pessoas. 

Após 7 anos, a investigação do acidente em Duisburg concluiu que a maior parte destes acidentes não têm origem em ataques de pânico, mas são um fenómeno não determinista a que chamaram “turbulência da multidão”, em que as pessoas em espaços restritos se pressionam em movimentos alternados, podendo aleatoriamente o fenómeno entrar em ressonância aumentando as pressões entre pessoas, provocando quedas e esmagamentos. Pode observar-se este fenómeno, antecedendo o acidente de Israel no vídeo em (instantes 22 a 33 segundos): 

Dozens ‘crushed to death’ in Israel pilgrimage stampede | Religion News | Al Jazeera 

A portaria 135/2020 estabelece as condições mínimas de segurança a respeitar em recintos cobertos e ao ar livre: 

https://www.ordemengenheiros.pt/fotos/editor2/noticias/portaria_135.pdf 

Admitindo, conforme o art.51 da portaria, 3 pessoas por m2 na zona do aterro onde se prevê a missa papal e uma área para a multidão de 28 ha, teremos  3x280.000 = 840.000 pessoas. 

De acordo ainda com a portaria (art.56) por cada 300 pessoas deverá ser garantida para evacuação uma unidade de passagem (1 UP = 0,6m), o que conduz a (840.000/300) x 0,6 = 1680 m de largura livre para evacuação. Este valor é incompatível com os limites do terreno, que são os rios Tejo e Trancão, edifícios, arruamentos e uma ETAR. 

Em entrevista o responsável pela equipa de projeto afirmou que esperava 2,5 milhões de participantes. Considerando a área disponibilizada pelo despejo até 22 de dezembro de 2022 do terminal da Bobadela para realização das restantes atividades do festival, teremos cerca de 40 a 50 ha utilizáveis o que para uma concentração menor poderia dar 1 milhão de pessoas e 2000 m de largura de evacuação. No entanto, essa área consiste em 12 ha de sapal mais uma faixa com cerca de 2 km de comprimento e largura variável de 150 a 350 m, entalada entre a linha férrea e uma via rápida, o IC12. Não sendo aconselháveis túneis pela proximidade do Tejo,  as unidades de passagem teriam de ser construídas em passadiços com a largura requerida sobre a via férrea e a via rápida (o que aliás se verificará quando se quiser transformar o terminal da Bobadela em zona de Lazer). 

Por todo o exposto, faço como cidadão o pedido que se estude outro local para as JMJ em campo aberto sem zonas de risco envolventes. 

Por mais válidos que sejam os argumentos da fruição de um espaço com vista para o Tejo (uma vez que, dado o carater laico da República, não são válidos argumentos que privilegiem uma religião ou justifiquem para ela uma dotação financeira extraordinária), estamos também perante uma desconsideração pelo valor económico da atividade da plataforma logística da Bobadela, que tem desempenhado um papel relevante na economia nacional através da movimentação de 300.000 contentores por ano, servindo o porto de Lisboa e o transporte rodo-ferroviário de mercadorias, sendo muito mais do que um depósito de contentores. 

Não somos um país rico que deva e possa desconsiderar este argumento. Acresce que tendo já sido ordenada a libertação do terminal sul, concessionado à Medway (parque sul, 7,6 ha, 85.000 movimentos por ano), observo que não foi estudada uma alternativa comparativamente vantajosa (Castanheira do Ribatejo encarece o transporte de e para o porto de Lisboa), o que vem confirmar a dificuldade dos decisores políticos em concretizar um planeamento estratégico (primeiro fecha-se um terminal e depois nomeia-se um grupo de estudo). 

Outro exemplo que ilustra a falta de planeamento estratégico diz respeito à atual indefinição sobre o futuro traçado da linha de alta velocidade Lisboa-Porto (se se aproxima de Lisboa pela margem esquerda ou direita), sobre a localização do novo aeroporto para o horizonte 2050, sobre o traçado da nova travessia ferroviária do Tejo para alta velocidade, suburbanos e mercadorias. Justamente a zona da foz do Trancão é uma das que configura hipóteses válidas para a passagem da nova linha Lisboa-Porto e para a amarração do túnel ou ponte de travessia ferroviária do Tejo. 

Compreende-se o interesse da direção da Câmara de Loures em proporcionar vistas de rio e espaço de lazer incluindo a ciclovia marginal, mas observo que no projeto inicialmente divulgado para as jornadas não há ocupação do espaço atualmente ocupado pelo terminal de contentores, mas apenas dos terrenos da GALP (embora a resolução do conselho de ministros 45/2021 diga que o parque sul do terminal é necessário pra preparar o evento). Verifica-se assim que para a Câmara de Loures a desmobilização do terminal é um aproveitamento das jornadas.  

No tema de zonas de lazer, ainda duas observações: 

1 – será sempre possível estudar soluções de redução da área de ocupação por contentores da plataforma logística, sem com isso prejudicar a economia e, ao mesmo tempo, criar ou ampliar algumas zonas de vistas de rio livres 

2 -  se se pretende aproveitar os terrenos do terminal de contentores para lazer, ter em atenção que se trata de uma faixa estreita entalada entre a linha férrea do norte e o IC12 (A30). Isto é, a sua utilização para lazer só poderá fazer-se com rigorosas medidas de isolamento com vedações normalmente intransponíveis (o que por si só constitui contraindicação de segurança) e com passadiços sobre a via férrea e via rápida, sendo certo que as regras da segurança impõem equipamento dissuasor de lançamento de objetos e dimensionamento em função do número de pessoas no recinto (previsão dos canais de evacuação conforme exposto anteriormente). Acresce que do lado do rio relativamente ao IC12 o terreno é de aluvião; seja ou não consolidado, nunca poderá ser considerado caminho de fuga em caso de pânico. Se efetivamente é importante construir uma zona de lazer, o dimensionamento do plano superior  à via férrea e à via rápida terá de ser o correto, o que permitiria, se financeiramente viável, o aproveitamento parcial ou total do mouchão da Póvoa. 

Em resumo, a localização das jornadas nos terrenos na foz do Trancão e a norte, basicamente pelas razões expostas, tem os inconvenientes: 

- prejuízo económico para a atividade logística 

- riscos de segurança para um evento deste tipo dadas as caraterísticas do local 

- possível comprometimento de soluções para as novas infraestruturas ferroviárias 

Reiterando o pedido de consideração desta problemática, apresento os meus melhores cumprimentos 

                                                                    Lisboa, 7 de novembro de 2021 


PS (não enviado) -  Dirão os organizadores que é sempre possível dividir o espaço em espaços menores cercados por corredores de evacuação comunicando com saídas de emergência e improvisar passadiços sobre a via rápida e a via férrea. É verdade. Mas é muito difícil manter a multidão afastada desses corredores porque a tendência é acorrerem mais pessoas do que as esperadas e estas ocuparem o espaço livre, saturando-o e, no caso de uma emergência, congestionarem os corredores e passadiços de evacuação. Nesta perspetiva, para além de reservar espaço para os corredores circundantes, deveria interditar-se a circulação ferroviária e a circulação rodoviária na via rápida durante os dias do evento.

Recordo que muitos acidentes não têm origem em momentos de pânico, estes são consequência da turbulência das multidões, um fenómeno físico com analogias com o movimento aleatório de corpos em grande número (imaginem-se os movimentos dos cardumes ou de bandos de aves em espaços restritos) e possibilidade de geração por ressonância de pressões incomportáveis para o organismo humano.

Insisto que o festival deveria realizar-se noutro local, em campo aberto sem elementos de risco na envolvente, ou simplesmente cancelado. O papa Francisco compreenderia.

Mensagens enviadas à Câmara Municipal de Loures:

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/11/mensagem-para-o-presidente-da-camara.html

Acidente no Japão em 2001 e análise do acidente de Duisburg em 2010:

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/04/mais-um-exemplo-dos-cuidados-ter-nos.html

- PS em 29jan2023 - acrescenta-se à lista de fatalidades:

Para além dos acidentes por esmagamento relacionados    em                                                                     https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/11/jornadas-mundiais-da-juventude-mensagem.html    temos, indicando-se o número aproximado de mortes:

- estadio de Yaunde 25jan2022 - 8 ; https://www.aljazeera.com/sports/2022/1/25/at-least-six-football-fans-killed-in-cameroon-stampede

- fronteira de Melilla  24jun2022 - 23 ;  https://en.wikipedia.org/wiki/2022_Melilla_incident

- estadio de Malang, Indonesia 1out2022 - 133 ;   https://www.theguardian.com/world/2022/nov/01/how-do-crowd-crushes-happen-stampede-myth-what-happened-in-the-seoul-itaewon-halloween-crush 

- ponte pedonal de Morbi, India 30out2022 - 135 ;  https://en.wikipedia.org/wiki/2022_Morbi_bridge_collapse

- Seoul, comemorações do Halloween 31out2022 - 150                                                    ;    https://www.theguardian.com/world/2022/nov/01/how-do-crowd-crushes-happen-stampede-myth-what-happened-in-the-seoul-itaewon-halloween-crush


Informação adicional:


A ponte militar sobre o Trancão, o terminal de contentores da Bobadela e os planos de evacuação:
https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/02/jmj-em-17fevereiro2023.html

O palco-altar e o zigurate de UR:
https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/01/jornadas-mundiais-de-juventude-27-de.html

O problema do terminal de contentores da Bobadela:
https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/04/5-hipoteses-para-deslocalizacao-do.html


PS em 21abr2023 .- A juntar à lista de fatalidades em eventos, o esmagamento por compressão de cerca de 90 vítimas contra o edifício de uma escola onde se fazia uma distribuição de apoio à pobreza em Sanaa, Yemen : 

https://www.aljazeera.com/news/2023/4/20/at-least-78-killed-dozens-injured-in-yemen-stampede

Embora possa ter havido pânico em consequência de tiros e da explosão de um gerador, os organizadores dos eventos deviam reconhecer que mesmo sem correrias, a compressão do peito, consequencia dos movimentos de uma multidão ou aglomeração junto de recinto exíguo é suficiente para paralisar a respiração das vítimas. Isso ficou provado em Monte Meron e em Seoul e, provavelmente, agora em Sanaa.


PS m 21abr2023 - Confirma-se  a desistência da ponte militar , segunda ponte sobre o Trancão que tinha sido pensada não para segurança em emergência, mas para a passagem do papamovel para o lado norte do recinto, assim desincentivando os participantes alojados desse lado de tentarem a travessia para o lado sul.  Os decisores disseram que a ponte militar era desnecessária.

Segundo a portaria 135/2020 que regula a segurança em eventos, aos 6 metros de largura da única ponte correspondem 10 unidades de passagem e, considerando 1 U.P. por 300 pessoas, uma capacidade de escoamento em emergência de 3.000 pessoas. Em movimento normal com formação compacta, poderão passar pela ponte a uma velocidade de 1m/s (3,6 km/h) cerca de 36.000 pessoas por hora. Será essencial que a segurança do evento se abstenha de atitudes que possam provocar movimentos de compressão entre pessoas.




quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Para um amigo triste com a reprovação do Orçamento de Estado em outubro de 2021

Querido amigo, penso que compreendo a tua tristeza. Esperavas que a inclusão de medidas ao encontro das necessidades de quem trabalha ou de quem precisa de apoio convencesse os partidos conhecidos como à  esquerda do teu partido, único representado no XXII governo, a aprovar ou, pelo menos, a absterem-se na votação do orçamento.

Não o fizeram, e assim ficaste a pensar que a esquerda perdeu uma oportunidade de se manter unida no poder. São os teus ideais que te fazem pensar assim, mas talvez a realidade esteja um pouco ao lado.

Lembras-te, claro que não, eras muito novo, quando Jean Pierre Chevenement disse que a esquerda não pode falhar quando governa nem trair quando luta pelo poder. Manuel Alegre não gostou de ouvir porque entendeu que era com o seu partido, e saiu da sala, que destemido sempre ele foi.

Ora, deixemos as análises políticas e falemos de coisas concretas, com algumas honrosas exceções, a maior parte dos ministros e secretários de Estado do XXII governo são incompetentes nas áreas que tutelam. Dirás que não é assim, mas à luz de critérios técnicos não há grandes dúvidas, pelo menos na área dos transportes, são incompetentes, dão ouvidos a técnicos que não trocam impressões com quem discorda. São mesmo incompetentes. Disparatam com as ampliações das redes de metropolitano, com a estratégia de ligação ferroviária à Europa (para eles apenas há Espanha). Enchem a garganta com as modas da mobilidade conectada, partilhada, suave no raio de 15 minutos, já ninguém vai querer comprar carro e 40% das deslocações vão ser de bicicleta. Acham-se exemplos a seguir por toda a Europa e pelo mundo na descarbonização dos transportes. Apregoam vitórias incomensuráveis nos seus planos de investimentos para 2020, para 2030, para recuperação. E consideram-se titãs que derrotarão os preços elevados da energia, mesmo continuando a acreditar como a senhora chanceler, que o que faz falta é mais mercado, mesmo ignorando o exemplo da Enron e da California no principio do século XXI. 

Como pois, queres que se sustente  um governo em que as decisões cruciais são definidas em conluio discreto e divulgadas como factos consumados, em que fiquem por debater e fixar as estratégias de desenvolvimento que "agarrem" todos, as empresas, os trabalhadores, as universidades, os cidadãos interessados no crescimento da economia? Que através das estratégias debatidas abertamente se construa o eixo estruturante da industria e da economia produtiva, da agricultura e silvicultura às exportações de bens para  todo o mundo. Em vez de nos dividirmos em trincheiras opostas, o meu grupo é o melhor, o teu grupo faz mal ao país. 

A esquerda não pode falhar ... agora que até os decisores dos USA propõem o IRC mínimo de 15% e os da UE a contenção das taxas de juro. Falta ainda aceitar a taxa Tobin, o que será preciso para isso?

Longe que estamos das boas intenções da Constituição, promover a democracia participativa, quando alguns se acham donos de certezas.

Em vão procuro no texto da Constituição motivos para a dissolução da Assembleia. Não encontro, apenas para a demissão do governo (art.195, rejeição do seu programa, reprovação de uma moção de confiança, aprovação de uma moção de censura, por exemplo). Para a dissolução, apenas que o Conselho de Estado e os partidos serão ouvidos (nada escrito que esses pareceres sejam vinculativos, só consultivos). Isto é, a dissolução depende do poder discricionário do Presidente, de ele achar que o país está ingovernável, enquanto paradoxalmente, o governo continua em funções, como aliás prevê a lei. Será isto respeito pela separação dos poderes e participação, não apenas representação, dos cidadãos? Dissolvo a Assembleia porque não quero esta, apesar de haver uma lei recente de enquadramento orçamental que diz o que fazer quando se fica sem orçamento. Aplicam-se os duodécimos do orçamento anterior, que até tinha medidas extraordinárias contra a pandemia. Tempo para os senhores deputados despacharem as suas leis atrasadas e entenderem-se fora da lógica dos grupos irredutíveis (facilitadores de governos de salvação nacional, não é assim que se diz?). Tempo para os deputados do teu partido se deixarem de certezas e humildemente ouvirem  os outros.

Já que a maioria das instituições aceita então novas eleições, aguardemos o seu resultado. Perdemos tempo, mas se é a vontade de maioria dos representantes ... esperemos pela expressão (ou abstenção dela) da maioria dos cidadãos.



quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Mensagem para o presidente da câmara municipal de Loures

Assunto: o metropolitano em Loures, o terminal da Bobadela  



Caro Presidente

Antes de mais, queira aceitar as minhas felicitações pela sua eleição.

Provavelmente recordar-se-á de mim num debate em Odivelas onde apresentei a minha análise da expansão do metro e a crítica à linha circular decidida pelo XXII governo apesar da consulta pública ter registado uma significativa maioria de oposição, nomeadamente por grupos representativos de moradores em Telheiras, Lumiar , Odivelas ou Loures.

Será inoportuno da minha parte vir neste momento colocar-lhe aspetos de várias problemáticas associadas à sua câmara pedindo a sua atenção para eles, numa altura em que naturalmente estará assoberbado com as suas funções. No entanto, reconhecendo que a habitação e a saúde serão os temas mais importantes, considero ainda importantes os temas que exporei a seguir, solicitando que peça aos seus assessores para os terem em conta.


1 - metropolitano

No momento presente decorrem já as obras dos lotes 1 e 2 da linha circular e em vias de começarem no lote 3 (viadutos de Campo Grande), embora ainda não tenha sido instalado o estaleiro e no lugar da obra estejam bilheteiras provisórias das rodoviárias. 

Se a discussão técnica sobre a linha circular e o troço do 1º lote, Rato-Cais do Sodré, pode aceitar-se, apesar do escusado enfrentamento das dificuldades construtivas na colina da Estrela e na Avenida 24 de julho, já o lote 3 constitui uma agressão paisagística e um atentado à arquitetura da estação que, só por si, justificariam a anulação do respetivo contrato. Este aliás, será legalmente um nulo jurídico por o respetivo contrato ter sido assinado em 2020, um ano em que a lei 2/2020, do orçamento, mandava o metropolitano suspender a construção da linha circular. 

Por essas razões, é válida a proposta de transformar a linha circular em linha em laço (que aliás foi o que aconteceu em Londres, em 2009), cabendo aos juristas o encontro de soluções para negociar a resolução do contrato, de valor inferior a 20 milhões de euros.

Tomo a liberdade de propor ao senhor presidente que apoie esta proposta, no interesse dos seus munícipes, que manteriam o acesso direto ao centro de Lisboa ( a solução "partilha" da linha de Odivelas com a linha circular tem os inconvenientes de aumentar o intervalo entre comboios na própria linha circular , agravar ainda mais o intervalo na linha de Odivelas  e criar pontos de interseção dos comboios das duas linhas)

2 - metro ligeiro Odivelas-Hospital Beatriz Angelo e Odivelas-Infantado

Como V.Exa disse na entrevista ao Público de 20 de outubro de 2021, o mérito do prolongamento do metropolitano até Loures deverá ser creditado a Antonio Costa.
Não há dúvida nenhuma de que o mérito da extensão a Odivelas é de Antonio Costa, com a corrida de burro ganha ao Ferrari, mas lamento ter de contestar a sua afirmação. 
O metropolitano não é prolongado a Loures, é antes construida uma linha de elétrico ("tramway"), a que pomposamente chamam LRT (light rail transit, ou metropolitano ligeiro). Que nalguns troços o será, mas não na totalidade. 
Segundo as definições internacionais, que não se compadecem com localismos, para levar a classificação de metropolitano ligeiro necessitaria que as suas vias não sejam pisadas, no sentido longitudinal, por qualquer outro veículo (isto é, deverão ser vias segregadas), que só poderá cruzar as vias em cruzamentos semaforizados que dêem a prioridade ao LRT. Não consta que seja isso que vai construir-se em Loures, apesar de, por exemplo, na ligação Odivelas-Hospital Beatriz Angelo haver um troço em túnel, sob a A40, de 1,8 km. Eu diria que o correto seria fazer todo o percurso de 5 km desde a estação de metro de Odivelas em túnel, como prolongamento efetivo desta linha de metro. Os custos adicionais seriam compensados pelos ganhos de tempo no percurso (velocidade comercial mais elevada no modo metro no que no modo LRT devido a não ter constrangimentos de transito) se valorizarmos a hora dos passageiros.
Relativamente ao percurso estação de metro de Odivelas-Infantado, deverá ser projetado de modo a poder integrar-se no futuro na linha circular externa de LRT prevista no PROTAML de 2002 (cujo processo de revisão parou),Algés-Loures-Sacavém.
São duas sugestões que deixo, o túnel Odivelas-Hospital e a integração na linha circular externa.

3 - modos complementares

A quem quiser assistir aos seminários sobre mobilidade, enchem-lhes os ouvidos com as virtudes dos modos suaves complementares (bicicletas e marcha a pé) e com as potencialidades da informática (conetividade, mobility as a service). Na verdade, o metro e o LRT não podem, havendo limitações financeiras que impeçam o apertar da malha das redes de transporte estruturais, assegurar o transporte das pessoas de e até próximo das suas habitações. No concelho de Loures isso é crítico, dada a anarquia das urbanizações de génese ilegal, sem artérias suscetíveis de utilização pelo LRT e de topografia acidentada. Os eixos principais ou estruturais deverão ser servidos por modos auxiliares, como miniautocarros que liguem eixos radiais e frotas partilhadas de aluguer de autos ou bicicletas, com parques integrados nas estações. Dado o acidentado da topografia do concelho, poderá pensar-se também em funiculares e em teleféricos.

Tomei a liberdade de enviar ao seu antecessor um pequeno estudo com hipóteses de um outro modo auxiliar, o transporte autónomo a pedido, em cabinas em percursos segregados com 4m de largura (em inglêd PRT - personal rapid transit).
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/05/mensagem-enviada-ao-presidente-da.html

Trata-se de uma solução de forte componente informática (requisição por internet ou por consola nas estações ou locais definidos, sensores para marcha autónoma, via segregada). Embora já existam em número  significativo linhas de PRT, com um exemplo em Cascais/Universidade de Carcavelos, a sua implementação na AML exigirá rigoroso estudo e colaboração com os fabricantes. Deixo a sugestão das câmaras da AML se interessarem pelo assunto.

4 - Prolongamento do metropolitano a Sacavém

Desde 2009 que o governo central promete à câmara de Loures a extensão do metro a Sacavém (o célebre mapa com a linha circular e prolongamentos às periferias). O que lá se propunha era uma bifurcação na estação de Moscavide da linha vermelha, um ramal para o Aeroporto, outro ramal para Sacavém:


Promessas mais recentes, conceito do LIOS, propõem outra solução, linhas de "tramway" à superfície, como aliás é do conhecimento dos serviços técnicos da câmara de Loures:


Pessoalmente, reconheço que os 3 km de prolongamento de uma linha de metro a sério até Sacavém é um investimento elevado, da ordem de 200 milhões de euros, incluindo uma solução de desconexão da linha do aeroporto (a seguir para o Parque das Nações)  e da linha vermelha da Gare do Oriente para Sacavém, conforme o ponto 1.2 desta mensagem que enviei ao seu antecessor:

 http://fcsseratostenes.blogspot.com/2020/05/sugestoes-para-expansao-do.html

Sobre esse prolongamento se rebateriam os modos complementares anteriormente referidos, que poderiam incluir linhas de "tramway" onde os elétricos não fossem demasiado perturbadas pelo transito.

É outra sugestão que deixo, comparar com a solução do LIOS, considerando a diferença de velocidades comerciais.


5 - Futuro do terminal da Bobadela e terrenos da foz do Trancão previstos para a Jornada Mundial da Juventude

Na entrevista ao Público de 20 de outubro mostra preocupação com as JMJ e tem razão para isso. Uma análise de riscos feita de acordo com a lei conclui que prever 2,5 milhões de pessoas para a zona da foz do Trancão e para os terrenos atualmente ocupados pelo terminal da Bobadela, entre a linha férrea e o IC12 corresponde a um risco intolerável (por cada milhão de pessoas concentradas, deverão ser deixadas livres passagens de fuga com 2.000 metros de largura, com a agravante de no caso da Bobadela essas passagens terem de ser em passadiços sobre a linha férrea e o IC12). Ver, p.f.:

http://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/10/a-entrevista-de-jose-sa-fernandes-e.html

A prudencia aconselharia procurar outro sítio para a realização das JMJ.

Adicionalmente, o despejo já determinado pelo governo dos operadores de contentores na Bobadela, vai causar uma perturbação na economia do porto de Lisboa. A deslocalização para Castanheira do Ribatejo é viável evidentemente, mas os custos de operação serão maiores (maior distancia ao porto de Lisboa) e a perturbação nas cadeias de abastecimento e na economia dos operadores muito grande.


A prudencia aconselharia também neste caso o estudo do aproveitamento de algumas áreas do terminal para continuarem a funcionar como tal, passando as restantes a desempenhar funções de lazer, como a câmara de Loures há muito pretende. Mas eliminar uma atividade económica eficiente não deveria ser objetivo da câmara.

É a sugestão que deixo, ponderar os riscos para a JMJ e a conservação de parte do terminal.


Termino formulando votos de felicidades pessoais e de realização nas suas funções.


Com os melhores cumprimentos


Fernando Santos e Silva


Referências:

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/07/arranque-do-metro-ligeiro-pelo-senhor.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/05/mensagem-enviada-ao-presidente-da.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2020/10/mais-um-protocolo-das-camaras-de-loures.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2020/08/tres-camaras-da-aml-anunciaram-uma-nova.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2020/05/sugestoes-para-expansao-do.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2020/02/planeamento-estrategico-na-area.html


https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/10/a-entrevista-de-jose-sa-fernandes-e.html


PS em 25 de fevereiro de 2022 - No seguimento de comunicação pela câmara de Loures propondo uma reunião, fomos recebidos, Paulo Bernardo de Sousa e eu próprio, em 23 de fevereiro, pelos senhores Adjunto da Presidência João Pedro Dinis e vereador do Planeamento Nuno Dias, tendo eu enviado o seguinte email no seguimento dessa reunião:



Caros Senhores

Cumpre-me agradecer o acolhimento na concessão da entrevista  com Paulo Bernardo de Sousa (movimento "contra o fim da linha amarela") e comigo próprio, sobre a expansão do metro de Lisboa e o sobre o terminal da Bobadela e as JMJ.

Embora não seja já possível alterar o facto consumado da construção da linha circular, nem, previsivelmente, a adoção de um sistema de tramway entre a estação de Odivelas do metro e o Hospital Beatriz Angelo (privando assim Loures dum meio pesado ferroviário que asseguraria a correspondência com quem se desloca de automóvel da região oeste) a entrevista e a documentação entregue serviram para, no exercício do direito constitucional  de livre  expressão e participação nos assuntos públicos, evidenciar as deficiências técnicas do plano de expansão de 2009 , o prejuízo para os moradores de Odivelas e Loures (privados da ligação direta à zona central de Lisboa) e as incorreções processuais na aprovação da construção da linha circular que motivaram a queixa junto da Provedoria da Justiça e do departamento de Contencioso do Estado.

Agradecemos na verdade a troca franca de argumentos, nomeadamente o reconhecimento de que tanto a linha circular como a  linha chamada de metro de superfície   não são a melhor solução, antes um mal menor do que a ausência de ação.  Foi mostrada a comparação entre as linhas circulares de Madrid e de Lisboa e aventadas hipóteses de correção pós construção da linha circular.
Infelizmente, apesar das disposições constitucionais já citadas de direito à participação nos assuntos públicos e de reserva exclusiva do ordenamento do território para a Assembleia da República, continua a verificar-se secretismo no estudo do prolongamento da linha vermelha a Alcântara (ainda não enviado o EIA à APA, se bem que a experiência anterior diga que as objeções relevantes serão consideradas como "fora do contexto") e na pormenorização dos traçados do chamado metro de superfície estação de metro Odivelas-Hospital B.Angelo e Infantado. Sobre este assunto chamei a atenção para que já estando previsto um túnel de quase 2 km no primeiro traçado, os ganhos de tempo para os passageiros e de poupança de combustível do transporte  individual (se parque dissuasor junto da CREL e do Hospital) justificariam o traçado completo em metro subterrâneo (economia adicional de energia reduzindo o desnível por ser um percurso subterrâneo). Igualmente se deve referir que a ligação estação de metro de Odivelas a Infantado deverá evitar o mais possível as interferências com o tráfego rodoviário recorrendo a viadutos e ao desvio do tráfego rodoviário.

Julgo ter deixado claro que a minha intervenção se cinge à colaboração e apoio aos cidadãos que justamente se consideram prejudicados, como técnico da especialidade em manutenção e planeamento de linhas de metro, em oposição às opções técnicas adotadas, independentemente de quaisquer motivações políticas.

Agradeço ainda a oportunidade de insistir nos riscos da realização das JMJ nos terrenos confinados pela via férrea e via rápida (agradeço a informação que será suspenso o transito nestas vias durante o evento, parcialmente no caso da via férrea, o que o encarecerá e criará um precedente que dificultará a recusa de colaboração com outras confissões religiosas, apesar da separação constitucional do Estado e das religiões),  pelo Tejo e o Trancão, por uma ETAR e por ruas de pequena capacidade. 
A necessidade de executar análises rigorosas de segurança conforme os limites da portaria 135/2020 é essencial (esperada  uma afluência de 1,5 milhões de pessoas, uma unidade de passagem de evacuação por cada 300 pessoas requer 3000m de largura para as saídas de emergência), considerando as tragédias ocorridas em eventos como os de Duisburg festival Love Parade(2010), peregrinação a Meca (2015), Mount Meron em Israel (abr2021) e Houston festival Astroworld (nov2021) que tiveram origem não em ataques de pânico mas na movimentação aleatória das multidões que pode criar (pode, não é deterministas, a probabilidade de ocorrência não é determinada fora da experiencia histórica) compressões incomportáveis entre os seus membros  e é esse acidente que depois gera e amplia o pânico.
Dado o envolvimento da própria presidência da República e das presidências das câmaras de Lisboa e  de Loures e de um aparente excesso de confiança no mesmo dia 23 de fevereiro, conforme a reportagem da visita ao local, propõe-se uma ampla divulgação das medidas de segurança a garantir, sabendo-se que neste eventos é muito difícil evitar o excesso de afluência.
A considerar ainda o prejuízo económico da deslocalização do terminal de contentores (300.000 movimentações por ano) que, a ser executada na totalidade, sem partilha de espaços entre o terminal de contentores e a desejada zona de lazer, poderá conduzir a um triunfo das cigarras sobre as formigas, em vez da proveitosa convivência entre elas.

Formulando votos de sucessos na Câmara de Loures, apresento os melhores cumprimentos

Documentação entregue:


Nova mensagem referindo o acidente de Yaundée em janeiro de 2022:

Caros Senhores

 

No seguimento ainda da nossa conversa de 24 de fevereiro sobre as JMJ, reconheço que a vossa câmara está a dar devida atenção aos aspetos de segurança na preparação das JMJ. São do domínio público as intenções de suspensão da circulação ferroviária e rodoviária na A30 durante o evento e da utilização de drones para deteção precoce de movimentos potenciadores de turbulência/ressonância de multidões. Não posso deixar de referir no entanto, até porque desconheço o projeto, que o passadiço de 7 km e a ponte sobre o Trancão serão em princípio locais de risco em função da afluência esperada. 

Reporto ainda mais um acidente em eventos desta categoria, no estádio de Yaundé, num desafio do campeonato de futebol de África em 24jan2022. O estádio, de lotação para 60.000  pessoas nem sequer tinha a lotação máxima, mas um dos portões de acesso (para borlas?) que estava fechado no início do jogo foi aberto e nas movimentações subsequentes ocorreu o esmagamento de pessoas caídas com 8 mortes. Em resumo, o acidente terá acontecido por falta de preparação do acesso ao estádio, falta de deteção precoce do risco e falta de pessoal para supervisão contínua e de intervenção.

Junto ligação e duas fotos do local do acidente.

 

Com os melhores cumprimentos

                    

https://www.ndtv.com/world-news/africa-cup-of-nations-cameroon-stadium-reckless-opening-of-gate-blamed-for-deadly-stampede-at-africa-stadium-2736244 







PS em 5abr2022 - Acidente no Japão em 2001 e análise do acidente de Duisburg em 2010:

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/04/mais-um-exemplo-dos-cuidados-ter-nos.html