quarta-feira, 30 de março de 2011

O filme do Metropolitano com Artur Agostinho

Com a devida vénia ao facebook do Metropolitano de Lisboa











http://videos.sapo.pt/OJCgcyuSWqtN5TTyjQGt



Vejam como Artur Agostinho sabia como funcionava o Metropolitano em todas as suas áreas.
Até nem precisava dos alicates para validar os bilhetes pré-comprados.
Repararam nas velhas máquinas de bilhetes Bell-Punch? o bilhete estava disponível para o passageiro 0,7 segundos depois de se carregar no botão. Já repararam no tempo que se espera numa máquina moderna antes que saia o bilhete (ou o cartão)? O segredo era o tipo de impressão, por tambor rotativo com carimbo de borracha. Como se pode ver no filme, um dos botões produzia um conjunto de 10 bilhetes a preço reduzido, em 7 segundos. Pouco depois do 25 de Abril de 1974, o fabricante inglês suspendeu o fornecimento de peças de reserva. Mas não houve problema. Os bilhetes continuaram a ser produzidos, com peças fabricadas no metro ou em serralharias nacionais.
E Artur Agostinho até descreveu com propriedade o sistema de bloco automático da sinalização, os circuitos de via e o trip cock da travagem automática em caso de ultrapassagem de um sinal proibitivo. Já não existe nenhum trip cock que pudesse figurar no museu do metro (nunca houve grande interesse em ter um museu). O dispositivo foi substituido pelo atual eletromagnético (DTAV)e o ultimo exemplar foi vendido ao fabricante, para o seu próprio museu.
Artur Agostinho (e o realizador Arthur Duarte, que nesse tempo Arthur tambem se podia escrever com "h")tambem descreveu muito bem o sistema de bombagem e o sistema de ventilação pelos subcais e postos de ventilação dos meio-troços, o torneamento das rodas...
E a ingenuidade com que se diz que Lisboa já pode ombrear com as outras capitais por ter um metro moderno?
Na verdade, Artur Agostinho, que acentuou bem que a razão da existencia de um metropolitano é evitar o tráfego automóvel e o desperdício de tempo e de combustível que está associado aos engarrafamentos, permite-nos construir um triste indicador:
em 1959, ano da inauguração, o metro de Lisboa tinha 8 km, o metro de Viena 0 km e o metro de Bucareste 0 km;
em 1975 o metro de Lisboa tinha 13 km, o metro de Viena 20 km e o metro de Bucareste 30 km;
em 2011 o metro de Lisboa tem 40 km, o metro de Viena 90 km e o metro de Bucareste 90 km.
Por outras palavras, os passageiros.km que se transportam em automóvel em vez de metropolitano estão a consumir mais energia por unidade do que os passageiros.km austríacos e romenos.
Juntando a este indicador o congelamento atual dos investimentos (aquilo que o metro produz, o passageiro.km, não é um bem transacionavel? isto é, transportar turistas ou contribuir para a produção de um bem transacionável não são produtos transacionáveis?) é caso para se dizer que já não se fazem agora filmes como se faziam antigamente, especialmente quando se vê aquele filme recente sobre o metro de Lisboa, com a musiquinha dos sete anões da Branca de Neve (não me refiro à forma, evidentemente).

Paul Baran

Com a devida vénia ao DN, transcrevo, da notícia necrológica de Paul Baran, o autor da ideia dos "packet switching" que ajudou ao desenvolvimento da Arpanet e da Internet, algumas das suas palavras:

"A Internet é obra de milhares de pessoas. O processo de desenvolvimento tecnológico é equivalente à construção de uma catedral. Ao longo de centenas de anos, as pessoas sucedem-se e cada uma põe uma pedra em cima das fundações, cada uma delas dizendo 'Construi uma catedral'. No mês seguinte é posta outra pedra em cima da anterior. Até que vem um historiador e pergunta 'Quem é que construiu a catedral? O Pedro pôs umas pedras aqui e o Paulo acrescentou umas tantas. Se não temos cuidado, podemos convencer-nos de que fomos nós que fizemos a parte mais importante. Mas, na realidade, cada contributo está na linha do trabalho feito anteriormente. Tudo está relacionado com tudo."

Pena que na cultura portuguesa atual se privilegiem as personalidades, se premeie o trabalho individual e se desvalorize o trabalho da equipa (continua o mito de D.Sebastião, salvador da Pátria, depois de ele próprio ter ajudado a destruir a dita Pátria).
Será um problema de auto-estima, será a necessidade de auto-gratificação de quem se considera o autor da catedral.
Ora, uma catedral só se constroi com muita gente... prioridade então à dita gente.

Visita ao IST

Tive de me deslocar ao IST.
Achei interessante ver o problema de transportes denunciado pelo estacionamento dos automóveis.
Não parece que o IST esteja mal servido de transportes coletivos, mas o peso do transporte individual é grande entre os futuros engenheiros.
É como na área metropolitana de Lisboa.
Quota do transporte individual superior ao habitual  nos países mais desenvolvidos.
Que poderá fazer-se para dar um jeito?
Aumentar as tarifas de estacionamento?
Talvez sim, aumentar as tarifas de estacionamento e, eventualmente, uma taxa para compensar o defice do ensino.


terça-feira, 29 de março de 2011

Stephane Hessel - Indignez-vous II

Voltando ao livro Indignez-vous , de Stephane Hessel, um dos redatores da Declaração Universal dos DireitosHumanos  (ver
http://fcsseratostenes.blogspot.com/search?q=hessel ):

A edição portuguesa intitula-se "Indignai-vos" (eu preferiria "Indignem-se").
Estrutura do  livrinho e breve resumo:

- elaboração em 1944, pelo Conselho Nacional da Resistencia, do programa para a França libertada, com os principios e os valores base da democracia moderna, incluindo:
           -  a Segurança Social que garanta a subsistencia quando os próprios não o possam assegurar pelo     
              seu trabalho
           -  reformas para os idosos acabarem dignamente os seus dias
           -  fontes de energia e grandes bancos nacionalizados
           -  regresso à nação dos grandes meios de produção monopolizados fruto do trabalho comum
           -  instauração de uma verdadeira democracia económica e social
- o motivo da resistencia é a indignação
           "ousam dizer-nos que o Estado já não consegue suportar os custos das medidas sociais. Como é possível que não haja verbas quando as tecnologias evoluiram e a produção de riqueza aumentou? apenas porque o poder do capital nunca foi tão insolente, com servidores próprios nas altas esferas do Estado; os bancos, agora privatizados não se preocupam com o interesse geral. O fosso entre os mais pobres e os mais ricos nunca foi tão grande. O motivo basilar da Resistência era a indignação "
- duas perspetivas da história:
            - otimista: a liberdade do homem progride
            - pessimista: a competição pode ser um furacão destruidor
-  a indiferença é a pior das atitudes quando se verificam os dois novos grandes desafios:
           - o enorme fosso que existe entre os muito pobres e os muito ricos
           - o incumprimento pelos governos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. 22: toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país"
- a indignação relativamente à situação na Palestina: "o terrorismo é inaceitável, mas é preciso reconhecer que a ocupação militar conduz à reação popular violenta"
- a não-violência é o caminho que devemos aprender a seguir: "a mensagem de Gandhi, de Mandela, de Martin Luther King, ultrapassa o confronto de ideologias ... é uma mensagem de esperança na capacidade das sociedades ultrapassarem os conflitos com compreensão mútua e paciencia vigilante. A violação dos Direitos Humanos deve provocar a nossa indignação"
- para uma insurreição pacifica: "uma verdadeira insurreição pacífica contra os meios de comunicação de massas que só apresentam como horizonte à nossa juventude uma sociedade de consumo, o desprezo pelos mais fracos e pela cultura, a amnésia generalizada e a competição renhida de todos contra todos"

Stephane Hessel não ficou por aqui e, de colaboração com Gilles Vanderpooten, ver

http://www.lexpress.fr/culture/livre/engagez-vous-un-nouveau-hessel-pour-le-10-mars_967474.html

escreveu  "Engagez-vous", título que eu traduziria por "Dediquem-se", a causas, a compromissos, ao trabalho util em função da comunidade, porque, na realidade, a mensagem de Hessel ficaria incompleta, se acabasse em "Indignem-se".
Aguarda-se a tradução.



Le nouveau livre de Stéphane Hessel, qui est paru le 10 mars, se propose de donner à la jeunesse contemporaine, outre des motifs d'indignation, des moyens d'action. Très classiques.

Engagez-vous!, le nouveau Hessel (éditions de l'Aube), est un recueil d'entretiens réalisés en 2009 avec Gilles Vanderpooten. Abordant les mêmes thèmes que dans Indignez-vous! (2010), Hessel insiste sur le fait que la lutte a changé de forme depuis les temps héroïques de la Résistance. Il met l'accent sur le plus fédérateur des combats contemporains, celui pour l'environnement, réclamant par exemple la création d'une Organisation mondiale de L'Environnement. Et pose également la nécessité d'un gouvernement mondial. La profession de foi, bien oecuménique, d'un diplomate-né. Extraits.

Résister ne suffit pas

"Il faut créer, car résister ne suffit pas. Toute simplification est toujours dangereuse. Il faut nous habituer à penser avec sagesse - cela ne relève pas de l'intelligence ni de la créativité, mais du sens de l'équilibre. On ne peut pas être seulement yin ou seulement yang, il faut un balancement." (p.56)

Socialisme ou écologie?

"Ma génération a contracté une véritable allergie à l'idée de révolution mondiale. [...] J'ai acquis le sentiment, peut-être injuste, que ce n'est pas par des actions violentes, révolutionnaires, renversant les institutions existantes, que l'on peut faire progresser l'histoire." (p. 20)

"Et quand je parle avec des gens de votre génération, je leur dis toujours : 'Un de vos défis les plus importants, c'est la Terre.'" (p. 34)

"Je crois en effet que l'engagement pour l'écologie est aussi fort que l'était pour nous l'engagement dans la Résistance." (p. 23)

"J'ai apporté mon soutien à Europe Écologie lors des élections européennes de juin 2009 [...] Je me considère depuis toujours comme socialiste - c'est-à-dire, selon le sens que je donne à ce terme, conscient de l'injustice sociale. Mais les socialistes doivent être stimulés." (p. 43)

Gouverner le monde

"Oui, il nous manque toujours une Organisation mondiale pour l'environnement, comme nous avons une Organisation mondiale pour le commerce (OMC)." (p. 39)

"Le droit de chacun à sa culture et le droit qu'elle soit considérée par les autres comme une réalité à respecter, c'est ce qui permet à la coexistence des cultures de créer autre chose que la confrontation." (p.47)

"La réforme des institutions à laquelle je tiens le plus, c'est la création d'un Conseil de sécurité économique et social, qui réunirait par élection les 20 à 30 États les plus responsables." (p.49)

"Nous devons [...] apprendre à devenir moins violents, pour franchir pas mal d'obstacles. Rien n'est exclu, nous sommes une espèce jeune mais qui peut se casser la figure demain, disparaître... Nous avons fait déjà beaucoup de bêtises et nous pouvons continuer à en faire - quelques bombes atomiques bien placées, et c'est la fin." (p.67)






-

segunda-feira, 28 de março de 2011

O discurso do presidente II, o Inside Job e Paul Krugman

O presidente não sabia jogar xadrez mas aconteceu-lhe o mesmo que aos jogadores de xadrez demasiado confiantes nas próprias convicções.
Assim que tocam a madeira percebem que a jogada é errada, mas como a regra é implacável, peça tocada,  peça jogada, têm de a concluir.
Assim que acabou o discurso da demissão do governo, o presidente já estava arrependido.
Era nisso que pensava enquanto tomava o café depois do almoço, no sofá em frente da janela de sacada com vistas para o Tejo.
Na verdade, não era o café, era o segundo café, apesar do médico da presidência há muito ter recomendado descafeinados, por causa da hipertensão.
O presidente esteve ainda uns momentos com a cabeça descaída sobre o ombro esquerdo, até que alguém reparou.
No hospital, que era um dos públicos já com cortes, mas mais confiável do que um privado, por ser domingo e não haver a certeza de acesso a todos os meios de apoio, o diagnóstico foi rápido e o tratamento eficaz.
O presidente sofrera um acidente vascular que tinha bloqueado de forma irreversível a irrigação de uma pequena área bem delimitada do cérebro.
Precisamente a área onde tinha processado e armazenado toda a informação da sua formação e experiencia de economista e professor, todas as teorias económicas a que tinha submetido a sua prática.
A recuperação foi rápida e segura, mas tornou-se evidente que o presidente perdera todos os seus conhecimentos de economia, chegando a trocar a curva da procura pela curva da oferta.
No entanto, testes rigorosos confirmaram que se encontrava de posse de todas as suas faculdades intelectuais e físicas.
Não foi por isso necessário que o presidente da Assembleia o substituisse no despacho da dissolução da mesma Assembleia.
Gerou-se porem um certo mal estar porque o presidente, estando o governo em funções de gestão corrente, não manifestava pressa de assinar tal despacho de dissolução.
Todos os partidos lhe faziam chegar as suas preocupações, ansiosos por se lançarem nas campanhas eleitorais, convencidos da sua próxima vitória e dos benefícios daí decorrentes, descurando o estudo dos reais problemas do país e das soluções que esses problemas exigiam, de colaboração entre todos os partidos e com a contribuição dos cidadãos e cidadãs.
O presidente quebrou finalmente o seu silencio e anunciou um novo discurso.
Na sessão do Conselho de Estado comunicou as linhas mestras do discurso: que o bem estar e o emprego das populações e a diminuição das desigualdades entre faixas populacionais eram as prioridades, e que tinha dado muita atenção ao filme premiado com o Oscar de melhor documentário, Inside Job, que tinha recebido com a ultima edição do Expresso.
O Conselho de Estado era composto maioritariamente por personalidades simpatizantes da fé de Adam Smith, que logo ali manifestaram a sua surpresa e grande preocupação pela subita adesão do presidente
à explicação da crise dada no Inside Job que, como se sabe, começa por dizer que a crise da Islandia foi consequencia direta da privatização dos seus três principais bancos e depois acusa as universidades de disseminar o neoliberalismo e o governo do presidente Obama de abrigar quem não cumpriu as suas funções de regulador antes da crise do Lehman Bros.
Mas o presidente, que como acima se explicou, tinha apagado do seu cérebro toda a anterior teoria económica, comunicou que no seu discurso à nação ia anunciar a sua adesão às ideias do prémio Nobel Paul Krugman, que tinha proposto uma politica de investimento em industrias, serviços e infraestruturas produtivos, apesar do endividamento, para combater o desemprego e relançar a economia.
E que, para viabilizar esse programa, já não iria dissolver a Assembleia,  e ia convidar sucessivas personalidades até conseguir um governo de coligação com a colaboração efetiva entre partidos e independentes de todas as cores.
Iria propor à Assembleia que legislasse de modo que as contribuições dos cidadãos para a solução da crise fossem veiculadas pelas juntas de freguesia (por isso iria vetar a proposta de redução do numero de freguesias) e pelas próprias empresas (cujas estruturas teriam de ser abertas a provas concursais para os lugares de articulação), segundo os métodos de reunião geral - divisão em grupos - recolha e sistematização das propostas, tudo dinamizado pelas comissões parlamentares dos deputados da Nação, sem esquecer a preparação dos planos de aplicação das verbas do QREN.
Levasse o tempo que isso levasse, que a Bélgica havia quase um ano que vivia com um governo de gestão.
Desta vez, o discurso do presidente galvanizou a Nação, embora uma minoria, composta pela maioria  dos principais decisores, a todos os níveis, políticos e empresariais, se sentisse desapontada com ele.

PS - desagrada a este blogue pronunciar-se sobre questões políticas; fá-lo fundamentalmente para registo de procedimentos que considera incorretos dum ponto de vista de gestão da coisa pública e na perspetiva da gestão de uma entidade económica restrita. As críticas que ficam registadas não pretendem assim condenar ou apoiar ideologias, mas apenas restringir-se a métodos e procedimentos. Defender um sistema eleitoral é também um problema matemático. Afirmar que é um disparate alterar o sistema atual de Hondt para circulos uninominais não é uma atitude partidária, é um parecer matemático (que viva Jean-Charles Borda e o seu método preferencial; abaixo o método uninominal de Napoleão); afirmar que é um disparate perder tempo com a dissolução de uma Assembleia eleita há menos de 2 anos, mesmo que trocando posições aos atores, não é uma posição ideológica, é a avaliação negativa de um procedimento gestionário contrário aos métodos eficazes de cooperação descritos na Sabedoria das Multidões de James Surowiecky, aliás defensor confesso do jogo das Bolsas (os senhores economistas que andam sempre a massacrar-nos com a necessidade de aumentar a produtividade, deveriam entender que a dissolução da Assembleia é um ato nítido de baixa produtividade). Quer isto dizer que não são as instituições que não estão a funcionar regularmente, são antes os senhores políticos que, dentro dos seus partidos, não estão a funcionar corretamente em função do objetivo ultimo do bem comum e nacional, pelo que o que há que modificar é o modo e o conteudo da atuação e não a forma e o enquadramento dessa atuação.
Assinala-se finalmente a incoerencia, embora não do ponto de vista jurídico-legal, da interpretação de um senhor contitucionalista, ao afirmar que, mesmo depois de dissolvida,  a Assembleia poderá validar o pedido de ajuda externa do governo de gestão, desde que convocada pelo presidente da Republica que antes a dissolvera. Salvo melhor opinião, não é aplicável aos mecanismos de gestão da coisa pública o princípio de incerteza de Heisenberg, qual seja o de uma partícula poder estar e não estar num determinado instante numa determinada posição com uma determinada velocidade porque o que lhe está associado é uma probabilidade e não uma certeza.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Os benefícios do censo

O censo é muito util.
A sua utilidade é válida para todos nós, especialmente na sua versão e-censos.
O censo é uma oportunidade para jovens com dificuldades de emprego ganharem algum dinheiro.
A filha de uma amiga minha distribuiu rapidamente os seus questionários e pôde assim dedicar-se calmamente ao seu emprego numa grande empresa.
Fez depois, aos fins de semana, as voltas necessárias para os últimos contactos, combinando os encontros pelo telemóvel.
A interação entre os recenseadores como ela e a população tem sido uma mais valia para a população.
Cada freguesia tem um centro de censos e é com base nesse centro, recorrendo ao telemóvel e à Internet, que a filha da minha amiga organiza a sua atividade.
Eu tive uma pequena dificuldade.
No dia da distribuição dos questionários não estava em casa e por isso tive de ir ao tal centro de censos da minha freguesia.
Imagino que se a minha freguesia fosse maior, como agora os decisores querem que sejam, fundindo várias numa só, eu teria mais dificuldade em resolver a entrega do meu questionário preenchido.
Porque tive de me deslocar, primeiro, à sede da junta de freguesia, onde um cartaz me informou que os assuntos do censo eram no liceu rainha dona Leonor e onde eu informei a menina funcionária da junta que o numero de telefone 800 que estava no cartaz para tirar duvidas estava errado porque não era o 800 20 20 11 mas sim o 800 22 20 11.
Se as freguesias já tivessem sido fundidas talvez o centro não tivesse ficado sediado no liceu Dona Leonor, quiçá teria ficado no Hospital Julio de Matos, de acesso mais desafogado, ao fim da avenida de Roma.
É conversa de "marketing", essa de que com a reformulação do mapa das freguesias vai haver mais proximidade.
É capaz de não haver, é capaz.
Mas voltemos às minhas deslocações em plena era da teleinformática. Antigamente ia-se para uma fila e ficáva-se lá a manhã inteira a falar com os vizinhos de circunstancia, que forneciam pretexto para amáveis conversações, amigos efémeros, como dizia o Álvaro de Campos do companheiro de 18 horas de viagem de comboio, no seu poema:
 "Saí do comboio,/Disse adeus ao companheiro de viagem/Tínhamos estado dezoito horas juntos.../A conversa agradável/A fraternidade da viagem./Tive pena de sair do comboio, de o deixar./Amigo casual cujo nome nunca soube./Meus olhos, senti-os, marejaram-se de lágrimas.../Toda despedida é uma morte.../Sim toda despedida é uma morte./Nós no comboio a que chamamos a vida/Somos todos casuais uns para os outros,/E temos todos pena quando por fim desembarcamos./Tudo que é humano me comove porque sou homem./Tudo me comove porque tenho,/Não uma semelhança com ideias ou doutrinas,/Mas a vasta fraternidade com a humanidade verdadeira./A criada que saiu com pena/A chorar de saudade/Da casa onde a não tratavam muito bem.../Tudo isso é no meu coração a morte e a tristeza do mundo./Tudo isso vive, porque morre, dentro do meu coração./E o meu coração é um pouco maior que o universo inteiro."

Agora, com tudo organizado em torno da Internet,  fui rapidamente atendido no centro do censo da minha freguesia, mas tive de lá voltar uma hora depois porque a menina que me atendeu deu-me o código do alojamento, mas só a minha recenseadora (repararam  no calor humano e na proximidade desta expressão, a minha recenseadora?) me poderia dar o código de acesso e a palavra chave para eu poder preencher o questionário pela Internet.
E nem a minha recenseadora, com quem falei por telemóvel, tinha à mão os elementos com o código, porque estava no trabalho e só à hora de almoço podia enviá-los para a colega do centro.
E só podia encontrar-se comigo no sábado, mas no sábado não podia eu, e não tinha deixado os elementos na minha caixa do correio porque estava cheia de publicidade não pedida.
Salvo melhor opinião, o sistema é pouco eficiente por ter demasiadas regras desligadas da realidade, como por exemplo aquela ideia de escrever nas instruções que era preferencial responder  pela Internet no próprio dia 21 de março, pelo que não devemos admirar-nos do sistema informático ter ido logo abaixo, como no dia das eleições...
E assim foi, por isso voltei lá uma hora depois para recolher os elementos de acesso às respostas pela Internet.
Aproveitei para admirar as obras de remodelação e expansão do liceu, tão publicitadas há poucos meses, como prova da capacidade do governo em fazer obras urgentes por ajuste direto, que isto do novo código de contratação pública, quando se quer e se tem vontade de achar que uma obra é imprescindivelmente urgente, não obriga nada a fazer concursos públicos, como foi este caso.
As obras ficaram muito bonitas, mas os pobres dos diretores e diretoras estão agora a pagar faturas de iluminação aumentadas de forma exagerada e, nalgumas escolas, o isolamento térmico e a ventilação dos edifícios padecem de grandes deficiencias.
Isto é, os projetos são feitos à pressa e sem grande preocupação pela eficiência energética.
O que quer dizer que se gastou dinheiro no investimento e está a gastar-se  e irá gastar-se dinheiro no desperdício energético que resulta das obras.
Uma pena, como se costuma dizer, porque se dá carta branca aos senhores arquitetos para fazerem obras vistosas e sibaríticas.
Mas bonitas, como se pode ver.
Já não sei onde apontei o custo da obra do liceu Dona Leonor, conforme anunciava o cartaz da ordem, mas talvez tenha sido da ordem de 4 a 5 milhões de euros.

A estética paralelipédica pode ser dicutivel, mas a ligação à arquitetura mediterrânica estimula a adesão de quem vê. A fixação das pedras de revestimento será anti-sísmica?


                                                         Átrio. Alto relevo da rainha Dona Leonor. Reparar que são três andares. O átrio é assim um vazio com cerca de 17 metros de altura cruzado por alguns passadiços. Infelizmente o senhor arquiteto não considerou os riscos de queda a que sujeitou a população adolescente por natureza irrequieta. Também não teve a minima preocupação em facilitar o trabalho e reduzir os riscos de acidente de trabalho a quem tenha de substituir as lampadas e os sensores de incendio no teto
                                                                                   A iluminação zenital é um componente válido, mas como é chocante a falta de consideração por quem tem de fazer a  manutenção das instalações. Isto para não se falar no desperdício energético em termos de aquecimento.





























E então, uma vez na posse do código e da palavra chave, a coisa correu menos mal com a Internet, passe o susto de às tantas sobrevir o PUFF! Mas o programa vai gravando todos os passos e entrando novamente com o código de acesso tudo se recuperou.
Talvez não devesse haver tantos passos, talvez não fosse precisa tanta lentidão em cada passo, e cada passo podia ser mais compacto, desde que  houvesse menos perguntas, também, embora se compreenda a redundancia de muitas, daquelas para ver se a pessoa está concentrada nas respostas.
Porque com tantos big brothers, estando tanta coisa de cada um nas bases de dados por aí, talvez não valesse a pena fazer tantas perguntas... mas enfim, como ia dizendo, o censo é muito útil, veja-se por exemplo o caso dos transportes:

em 1991:   41%  das pessoas iam a pé para o emprego,         e em 2001:  baixou para 25%
em 1991:   31%  iam de transporte coletivo para o emprego,  e em 2001:  baixou para 25%
em 1991:   27%  iam  de transporte privado para o emprego, e em 2001:  subiu para   49%

Vai ser muito interessante  ver a evolução para 2011; mas por estes números se pode ver a distorção existente nas áreas metropolitanas de Portugal.
O peso do transporte individual é insustentável.
Será indispensável fazer investimentos (parques de estacionamento "park and ride" à chegada das autoestradas às cidades, linhas automatizadas de pequeno gabarit "on demand", por exemplo) que permitam com eficácia subir a quota do transporte coletivo.
Temos duas ameaças: a primeira é a desculpa agora em voga: não existe dinheiro para investimentos (apesar dos milhares de milhões de euros todos os anos comprometidos com a aquisição de veículos ligeiros em Portugal); a segunda é a de se entregar a gestão do problema a concessionários estrangeiros (pode ser que eles façam os investimentos, nunca se deve perder a esperança, quanto mais não seja no velho provérbio: se santos da casa não fazem milagres...o problema será se os concessionários forem especialistas nacionais em cortes e pedidos de subsídios).

Referencias: DN, donde retirei os elementos estatísticos, de que destaco tambem o analfabetismo de 11% -9% -5% (previsão) em 1991-2001-2011 e a população com curso superior 4%-9%-13%(previsão).

PS  - Segundo o DN de 2011-03-28, o censo nos paises escandinavos é feito por cruzamento de dados dos registos atualizados nas bases de dados da administração publica. Passa-se isto desde 1981. Não era assim disparate a sugestão feita neste post. Será que os decisores têm isto como objetivo? Ou a ideia é continuarmos a ser diferentes dos escandinavos? (lembram-se da história do menino do Erasmus que copiou e por isso foi expulso de uma universidade finlandesa e depois o paizinho pediu ao embaixador e o embaixador pediu a reintegração do menino e o reitor disse ao embaixador que tivesse paciencia mas não podia ser? e aquele estagiário duma fábrica que ficou muito admirado porque o colega sueco que lhe tinha dado boleia chegou mais cedo e deixou o carro no lugar mais afastado do parque para deixar os lugares mais próximos da entrada livres para quem chegasse atrasado? e aquele turista que teve de se sujeitar a seguir na fila de Volvos a 60 km/h numa estrada larga e retilínea, porque o limite era esse e todos o cumpriam? - tremos de continuar assim? não podem mesmo mudar-se as mentalidades, como pedia Vitor Alves, capitão de Abril?)

quarta-feira, 23 de março de 2011

Uma espécie evoluida e uma estratégia de combate

Com a devida vénia à RTP2

A RTP2, antes do noticiário das 22:00, faz o seu serviço público.
Passe isso ser entendido como os programas que ninguém vê.
Mas não é bem assim, e alguém vai vendo.
O programa é interessantissimo e chama-se: Freaks of the seas.
Traduzido por: os excentricos dos mares.
Isto para mostrar os animais mais estranhos dos mares.
E enquanto passam as imagens do tubarão martelo, vem a informação: a fêmea pode ter partos virginais.
Isto é, os tubarõezinhos podem ter apenas ADN da mãe.
De dedução em dedução biológica, o autor do programa declara que se trata de uma espécie muito avançada na evolução.
Que afirmação extraordinária, depois de mostrar o cavalo marinho macho a abrigar os ovos até sairem os pequenos cavalos marinhos, depois de exibir o canibalismo das lulas (tal como na espécie humana, o pior inimigo da lula e a lula), a afirmação de que o tubarão martelo é uma espécie evoluida tem algo de perturbador.
Tanto como a hipótese que já os gregos da antiguidade clássica tinham posto, quando criaram Hermafrodite, exemplo do terceiro sexo, um ser capaz de se reproduzir por si próprio.
Imaginemos só um pouco a espécie humana a evoluir neste sentido.
Talvez as feministas apoiassem.
As mulheres não precisarem da parte masculina para as defenderem ou complementar.
Ou, paradoxalmente, como simples manifestação da dialética da natureza, que, pelo contrário, não precisassem de se sujeitar a todos os constrangimentos morais, desde a burka à interdição de utilizarem o tempo como muito bem entenderem.
Sinceramente, acharia mais eficaz discutir isto com os sacerdotes muçulmanos do que mandar-lhes misseis a partir dos navios dos cruzados.

domingo, 20 de março de 2011

The Prize

The Prize.
Filme de Mark Robson, de 1963, com Paul Newman, Elke Sommer e Edward G.Robinson.
Aqui citado não pela história de Irving Wallace, nem pelo suspense próximo de Hitchcock.
Mas apenas pelo contraste entre, dum lado,  a imagem, o conceito percecionado do prémio (neste caso o Nobel) e, do outro, a realidade pouco edificante das fraquezas dos laureados.
Paul Newman representa a personagem de um escritor alcoólico.
Aqui citado porque vem a propósito do caso do prémio de excelencia do "professor do ano".
A anterior senhora ministra da educação lançou este prémio como fator de distinção e de estimulo para os professores.
Pode ser que sim, como alguns dizem, que a senhora ministra tivesse uma ligação direta com uma divindade que lhe permitia ter sempre razão enquanto a multidão de professores estava errada e era oportunista , preguiçosa e relapsa à inovação.
A acreditar nos jornais da época, ligados à divulgação da politica da senhora, era isso, que os professores não queriam a avaliação porque não queriam que lhes mexessem nos privilégios.
O que os jornais eos seus comentadores fizeram na altura foi uma mentira verginhosa.
Não ouviram os professores honestos e experientes que, aliás, já tinham os seus procedimentos de avaliação.
Não ouviram os que já tinham experiencia com os sistemas de avaliação análogos ao que a senhora ex-ministra impôs.
Que o que se ganharia em seleção perdia-se em mais extensão na burocracia e na perda de tempo do sistema.
E o governo impôs mesmo, passando por cima da experiencia de quem estava dentro dos assuntos.
A pobre ex-ministra, contrariamente ao seu slogan, perdeu os professores e perdeu o seu publico.
E agora, há um professor numa direção do ministério da educação que é demitido porque declara que o sitema de avaliação é burocrático e rouba tempo ao trabalho dos professores (a sua superior hierárquica achou que assim, ele não poderia executar as suas funções, ignorando que um jogador do benfica pode desempenhar a sua profissão no sporting; ignorancia simples).
E então, como se diz na toada de Portalegre, ao prémio de professor do ano apenas se candidataram 5 professores, num universo de mais de 100.000.
Esses 5 professores terão sido aqueles meninos e meninas que respondiam pressurosos aos seus professores que já tinham as suas redações prontas, antes dos outros meninos e meninas, e que escondiam as suas respostas para que os outros não espreitassem?
Roberto Carneiro, antigo ministro da educação, que não pode ser acusado de ignorante, como o comentador do DN me acusou quando lhe escrevi a informar que os sistemas de avaliação são, na maior parte das vezes, burocráticos e limitadores do trabalho dos avaliados, teve a caridade de explicar ao jornalista que os professores preferem o trabalho com os alunos a exibirem-se em concursos de prémios ou a exercitarem-se em competições.
Na verdade, há pessoas que não gostam de competir com o vizinho do lado.
Competir consigo próprio é ótimo e faz avançar toda a comunidade.
Mas competir com o próximo pode não ter graça nenhuma para a dita comunidade.
Dificil de entender pelas mentalidades adam smithistas que governa as mentes de quem nos quer governar.
Enfim, segundo informações ainda não confirmadas, a senhora atual ministra resolveu extinguir o competitivo prémio do "professor do ano".
À atenção de quem ainda liga a este tipo de concursos (e a este tipo de sistemas de avaliação).

quarta-feira, 16 de março de 2011

O acidente nuclear no Japão

Vamos ter esperança de que os técnicos que estão a tentar conter os danos consigam os seus objetivos sem o sacrificio da sua saude (na verdade, para não estarem sujeitos a demasiada radioatividade, já devem ser poucos os técnicos disponíveis, ou então estarão a expor-se demasiado).
Penso que o respeito pelo seu trabalho merece essa esperança.
Parece que apesar da sucessão dos acidentes o calor ligado à radioatividade residual (7% depois do reator desligado) vai sendo controlado com a refrigeração da água do mar.
As explosões e as destruições que ocorreram ainda não atingiram o revestimento e o nucleo dos reatores.
Embora o projeto desta central pudesse ter sido mais prudente (em termos de resistencia a maremotos dos sistemas de alimentação de energia auxiliares e dos sistemas de arrefecimento, mesmo não havendo registo de intensidade semelhante ao de 11 de Março; mas é muito fácil falar depois das coisas acontecerem e se saber onde falharam as medidas preventivas) o núcleo do combustível fissil tem 4 envólucros de contenção e o primeiro ainda não foi danificado em nenhum dos reatores; os estragos maiores foram no sistema de arrefecimento e na piscina de combustivel usado (3º invólucro)
Se os esforços dos técnicos para a refrigeração tiverem sucesso, dentro de uma semana o calor da radioatividade residual terá baixado para valores controláveis, sem se ter atingido a temida fusão.
Mesmo esta fusão, a ocorrer, espera-se que não rebente com o invólucro do reator e que não liberte radioatividade em niveis exagerados.
Este não é o mesmo caso de Tchernobyl, embora seja a mesma a causa principal, falha de arrefecimento da radioatividade residual. Em Tchernobyl arderam as barras de grafite altamente radioativas (não existem em Fukushima) e o topo do reator não estava fechado, como é ocaso em Fukushima.
Esperemos que o otimismo se confirme, que não impeça o papel que  energia nuclear deve desempenhar na problemática eenrgética (existe um clima de pânico que se espera não vir a ser confirmado)  e que a engenharia japonesa introduza melhoramentos que, em princípio, se traduzirão por melhoria de resistencia a maremotos (os sistemas de proteção contra terramotos funcionaram) e por  melhoria dos agente de refrigeração (substituição da água; curiosamente, a refrigeração dos componentes eletrónicos de tração dos comboios do metropolitano já não é feita por água). Pessoalmente, eu sugereria uma potencia unitária por reator inferior (cada um dos 6 reatores de Fukushima é da ordem de 800 MW) , para mais fácil controle do calor da radioatividade residual.

Informações em:

http://bravenewclimate.com/2011/03/13/fukushima-simple-explanation/

http://en.wikipedia.org/wiki/Fukushima_I_nuclear_accidents



terça-feira, 15 de março de 2011

Discussão publica do novo mapa de freguesias de Lisboa

A Câmara Municipal de Lisboa teve a amabilidade de enviar aos seus municipes um folheto com um questionário pedindo a opinião sobre o novo mapa de freguesias da cidade, até ao dia 22 de março de 2011.
Disponibilizou igualmente o envio da opinião através de:






Tomei a liberdade de enviar o seguinte parecer:


Assunto: opinião sobre o novo mapa de freguesias de Lisboa

Exmos Senhores

Em primeiro lugar agradeço a  consulta pública em curso sobre este tema.

É a seguinte  minha opinião:

1 – A ideia de redução do número de freguesias de Lisboa parece correta. No entanto,  ela não pode ser tomada como panaceia universal, alem de que os seus motivos e objetivos nunca deverão ser o de simples economia, visto que muitas vezes a economia numa área significa aumento de despesas noutra área. Isso verifica-se por exemplo se a concentração de serviços obrigar a maior numero de deslocações por se ter diminuído o fator de proximidade relativamente à sede da junta, ou por se ter aumentado o numero ou a qualificação dos funcionários, ou por se ter aumentado a complexidade e extensão das funções devido à concentração. Julgo que, a verificar-se a atribuição das competências publicitadas, isso induziria um aumento de custos para equipar cada freguesia com os meios necessários para executar essas competências, por exemplo, as de construção, manutenção e gestão.
2 – Julgo que a concentração em menor numero de freguesias, contrariamente ao anunciado, dificultará a proximidade aos habitantes  dos eleitos e funcionários da junta. Terão de conhecer mais casos e, pior, terão de analisar maior diversidade de problemas. Em termos de proximidade ficar-se-á, nesta perspetiva, pior
3 – A motivação da redução do numero de freguesias não deveria nunca ser a redução do numero de habitantes, uma vez que a cidade se encontra em acelerado processo de desertificação e degradação de áreas habitacionais
4 - Considerando o exposto em 1 e 2 , concordo com a redução do número de freguesias na Baixa (nova proposta 10) com a condição de se salvaguardarem as especificidades ou tradições locais (pelo que não parece ser possível grande economia pelo facto de se fundirem as freguesias – as economias globais serão sempre dependentes de uma correta execução de procedimentos, o que só será possível com a chamada mudança de mentalidades ou, mais tecnicamente, mudando os métodos de organizaão e de tomada de decisões).  Concordo com uma redução menos acentuada nas áreas das novas propostas 13 e 16  (idem). Discordo da sua redução na restante cidade.
5 – Considerando o exposto em 3, discordo da apresentação como prioritária da ação de redução do numero de freguesias, quando a prioridade deveria ser dada às medidas de inversão da desertificação da cidade (nomeadamente planos de reabilitação estrutural dos edificios com emparcelamento de números de matriz predial e construção de parques de estacionamento integrados nos novos prédios – chamo a atenção de que os respetivos investimentos podem ser financiados com fundos da EU; o motivo do emparcelamento consiste nas pequenas áreas por sala ou quarto disponíveis em cada fogo a reabilitar e na inexistência de lugares de estacionamento automóvel integrados). Para a elaboração dos planos de reabilitação deveriam ser chamados os alunos e os recem licenciados das universidades de arquitetura e engenharia
6 – Considerando ainda o exposto em 3 e a necessidade de otimizar a dimensão do município para sua rentabilização, pareceria ser prioritário, e com grau elevado de prioridade, o alargamento dos limites do município na zona da Expo, criando-se uma nova freguesia em toda a zona da Expo. Este objetivo deveria ser uma estratégia não só municipal, como nacional.
7 – O alargamento dos limites do município de Lisboa deveria ser uma estratégia nacional e deveria ser prioritário, do ponto de vista da CML, relativamente à redução do numero de freguesias. Uma economia nacional necessita de uma área metropolitana como motor económico e uma área metropolitana necessita de uma gestão integrada em termos de transportes, de localização de industrias manufatureiras, de serviços, de distribuição comercial e de habitação (o movimento de criação de novos municípios é claramente contrário à racionalização do ordenamento do território e favorece o fenómeno do caciquismo urbano e rural; foi correta a fusão dos municípios de Lisboa e de Belém no fim do século XIX; parecerá menos correta a criação do município de Odivelas)
8 – Como complemento do exposto em 7 requer-se uma estratégia de ordenamento do território de ambos os lados do Tejo, que tenda para transformar a cidade num agregado de municípios, a exemplo de Londres, Paris e Budapeste, juntando os primitivos municípios de Lisboa, Almada, Barreiro e restantes da área metropolitana. Nesta perspetiva, considerando a necessidade de conservar a proximidade existente entre freguesias e habitantes, parece-me errada a estratégia de redução “cega” do número de freguesias (isto é, o facto de se justificar a redução do numero de concelhos não significa que o numero de freguesias deva ser reduzido; deverá sim ser incentivada a fixação da população nas freguesias desertificadas ).
9 – Salvo melhor opinião, se a CML sente dificuldades em termos de excesso de centralização, julgo que a solução adequada seria a reunir as competências agora anunciadas para tornar as freguesias mais fortes, em divisões geográficas da própria CML com partilha das sinergias comuns e em rede informática, ou , em alternativa, racionalizar o organigrama dos serviços técnicos e administrativos da CML, ligados também em rede informática. Como já afirmado em  1, dotar as 24 novas freguesias de recursos humanos e materiais ou de capacidade financeira para adjudicar ao exterior, poderá conduzir, com elevada probabilidade, a um aumento de encargos.

Comentário final:

Embora mais adequado como comentário ao plano diretor municipal, por envolver planos de ação que não são possíveis neste momento devido aos constrangimentos financeiros (embora algumas ações possam ser desenvolvidas com o apoio de fundos de coesão da EU), junto as as seguintes observações:
1 – não é sustentável em termos de respeito pela lei do ruído e das normas de segurança a manutenção de um aeroporto dentro dos limites da cidade, pelo que o estudo do plano de ordenamento dos terrenos e da sua integração na rede de transportes deveria ser  desde já iniciado
2 – o plano do nó de Alcântara deveria ser reformulado de modo a contemplar:
2.1 - a saída do terminal de contentores para o novo terminal da Trafaria/fecho da Golada,
2.2 - a reformulação da rede de transportes evitando o enterramento das estações suburbanas e do metropolitano,
2.3 - o projeto de um sistema de retenção e prevenção de inundações no vale de Alcantara
3 – não obstante as obras em curso no Terreiro do Paço e nas Ribeira das Naus, a cidade necessita de uma ligação rodoviária que faça o “by-pass” do Terreiro do Paço, conforme contemplado em anteriores planos diretores (incluindo o projeto do túnel rodoviário que motivou a construção mais profunda do túnel de metropolitano) . Seria por isso altamente conveniente o estudo de alternativas possíveis, ainda que contrariando anterior parecer do IGESPAR que se opõs à “conquista de terreno ao rio”, o que viabilizaria esse “by-pass” em termos maias económicos do que um tunel
4 – não é possível ordenar o território de um município ou de uma área metropolitana sem integrar as redes de transporte coletivos. Neste aspeto, Lisboa teria a ganhar em:
4.1 – criar um operador único, a exemplo de Paris, Bruxelas, Barcelona, Milão
4.2 – reformular o plano de expansão da rede de metropolitano, que padece da intenção de uma linha circular de dispendiosa execução no aproveitamento das linhas existentes em vez de construir novos troços com critérios de construção económica, como seja em viaduto
4.3 – incentivar a construção de parques de estacionamento do tipo “park and ride” com ligação a linhas de metro, à entrada da cidade (o exemplo mais evidente será a construção de um parque deste tipo junto das Amoreiras, prolongando a linha vermelha do metro até lá)
4.4 – fiscalizar severamente o estacionamento indevido, especialmente nos passeios e na obstrução aos veículos de transporte coletivo
4.5 – preparar um plano progressivo de taxação da entrada de veículos na cidade, mantendo a coordenação com as alternativas de transporte coletivo


Com os melhores cumprimentos

 
Munícipe ID 231 131


Embora sem esperança da eficácia da participação dos cidadãos numa estrutura municipal que parece padecer de graves carencias, nomeadamente estratégias para inverter a tendencia para a desertificação, sugiro aos leitores que enviem as suas opiniões até ao dia 22.



segunda-feira, 14 de março de 2011

Rodoviarium XXIV - os carros de sonho e o limite de 110 km/h

É muito dificil que as pessoas acreditem, mas é verdade.
A força de resistencia de deslocação de um automóvel aumenta com o quadrado da velocidade.
Circular a uma velocidade máxima de 110 km/h em vez de o fazer a 140 km/h significa uma economia de combustível da ordem de 20% (um consumo de 7 l/100 km passa para 5,6 l/100 km).
É por isso que na California o limite de velocidade nas auto-estradas é de 90 km/h.
Mas à boa maneira portuguesa, os condutores portugueses acham-se superiores a essas ninharias.
Pena aparecer um profissional (Fernando Alonso) a dizer que a essa velocidade adormece.
Pena, porque se fosse verdade estaria a confessar que não tem condições psicotécnicas para conduzir uma máquina em condições adversas.
Tornam-se as viagens para o Algarve um bocadinho aborrecidas, é verdade, em vez de 2 horas e 10 minutos de marcha mais 30 minutos para parar na área de serviço, teremos 2 horas e 50 minutos de marcha mais os 30 minutos da paragem. São mais 40 minutos. Mesmo assim, o transporte ferroviário ainda não é competitivo em termos de tempo. Só em termo de consumo específico e emissão de CO2.
Pede-se portanto compreensão, sugerindo-se que se pense na questão em termos globais, como quem tem de gerir um sistema completo de transportes e precisa de ver onde pode economizar.



Entretanto, em plena crise internacional, os fabricantes continuam a projetar "carros de sonho". A desculpa é a de que as inovações que neles aplicam são depois estendidas aos automóveis de grande série. Mas a verdde é que o desenvolvimento do projeto dum carro de 500 ou 700 cavalos exige investimentos vultuosissimos, quanto mais não seja por uma questão de segurança. Dado  o preço dum automóvel de sonho, o numero de unidades vendidas, a duração efémera do modelo ("marketing oblige") e a concorrencia de outros fabricantes, o projeto não pode ser rentável. Logo, teremos de concluir que os compradores dos automóveis mais baratos estão a subsidiar os compradores dos "carros de sonho". Salvo melhor opinião, claro.

A reciclagem

Fez-me lembrar Fernando Pessa.
Numa loja de vestuário feminino anuncia-se que na compra de um soutien usado se desconta 3 euros no preço do novo e o antigo vai para reciclagem, para utilização em paineis isoladores e de absorção acustica.
E esta hein? como diria Fernando Pessa.
Acusa-se a industria da moda de frivolidade, ligeireza, apelo ao consumismo e excesso de produção só escoável através dos procedimentos do seu marketing e afinal, para alem de exportar (a acreditar na semana da moda no Pátio da Galé) também contribuem para o combate ao desperdício energético.
Aplausos.


domingo, 13 de março de 2011

O discurso do presidente e a manif

O presidente pigarreava baixinho e nervosamente enquanto se dirigia para o estudio da televisão.
Rememoriava todos os truques que a conhecida atriz de teatro, professora de dicção no Conservatório, lhe ensinara.
Mas isso não o tranquilizava, nem a confiança que tinha nos seus conselheiros e no seu redator e a certeza de que aquele discurso tinha sido por eles solidamente fundamentado.
Desdobrou o papel com o discurso, sem conseguir erguer o olhar para a câmara.
Os telespetadores, de que cerca de um quarto o tinha eleito havia poucos meses, aguardavam a comunicação freneticamente anunciada pelos serviços da presidencia.
Quando finalmente olhou a câmara, o discurso saiu frouxo e aos solavancos de uma gaguez contrastante com o brilho intelectual com que habitualmente defendia as suas ideias, com a tranquilidade com que analisava os problemas, com o espírito de tolerancia e de abertura às correntes mais progressistas da sociedade, com a cultura profunda que exibia, desde a literatura inglesa do século XVI à literatura alemã  do século XX.
O presidente acabou como pôde o seu discurso, amarrotou o papel e enfiou-o no bolso.
Os assistentes aplaudiram, mas o presidente sabia que era por simpatia.
Tinha acabado de demitir o governo.
Aos solavancos.
A situação não podia continuar assim.
A maneira de discursar, que a falta de governo não era a primeira preocupação.
Tinha de encontrar um terapeuta da fala para que o discurso de demissão do próximo governo pudesse vir a ser mais assertivo; o discurso, que o governo talvez não viesse a ser assertivo.
Os telespetadores reagiram como habitualmente.
Um quarto aplaudiu, o outro quarto decidiu ou confirmou a sua intenção de participar no dia seguinte na manifestação de protesto, contra tudo e contra todos, que tinha sido marcada em várias cidades do país pelo mesmo motivo por que o presidente tinha demitido o governo, e a outra metade absteve-se, isto é, mudou para os canais de entretenimento.
Mas é capaz de ter muito interesse reparar bem no que foi dito no dia seguinte.
Nos jornais, nos debates televisivos, na tal manifestação multi-cidades.
Vou tentar reproduzir algumas das opiniões que foram expressas.
No editorial de um jornal, o seu diretor chamou ao presidente desonesto (intelectualmente, claro, para evitar um processo por difamação ou insinuação de mais valias apropriadas por informação assimétrica). Que um professor daquela sorte (estou parafraseando o Barbeiro de Sevilha) não podia omitir a importancia que os especuladores financeiros do Lehman Bros e do Merryl Linch, e depois os especuladores das seguradoras e a venda das suas obrigações colaterais,  tiveram na crise internacional e na repercussão no nosso país. Nem podia propagandear soluções de privatização liberalizantes porque metade dos eleitores não costumava votar em programas políticos privatizantes.

Na manifestação do Porto, a senhora disse para a entrevistadora: estou a assistir ao desmoronar da educação depois de ter sido professora durante 33 anos, só posso apoiar o protesto dos jovens. E logo a seguir uma jovem disse que somos capazes, se fomos capazes de fazer o 25 de Abril, ela não, que ainda não tinha nascido, tambem seremos capazes de trabalhar todos num programa coletivo, com maior equilibrio na distribuição dos esforços e dos rendimentos, para aumentar a produção e sair da crise  (talvez de destacar este fenómeno: o movimento das forças armadas começou por protestar ao nivel de condições de trabalho e, de repente, Melo Antunes redige um programa de democratização e reorganização social e politica, de coexistencia de um setor publico e um setor privado, que poderá ter sido uma das principais razões do triunfo do movimento) .


Nota: manifestação de professores no Campo Pequeno; o cartaz significa que as aulas de EVT (fusão da Educação visual e trabalhos manuais) só são produtivas se tiverem dois professores

Um manifestante de Coimbra, licenciado em história da ciência portuguesa e mestrando em história do ensino da Física na Universidade de Coimbra no ultimo quartel do século XIX, declarou que o presidente, com aquele discurso a querer colar-se à juventude com um programa de privatizações, era como a universidade de Coimbra antes de ter aberto a sua faculdade de Engenharia, que não era uma tradição, era uma infeção. Mas, para que não ficasse a ideia de que a manifestação elegia bodes expiatórios, logo o manifestante do lado glosou as palavras do primeiro ministro demitido, que tambem o compreendia, às suas mentiras e aos seus movimentos telecomandados da praça de Potsdam.
Na manifestação de Lisboa, um jovem de bigode e pera, escondido num hábito franciscano, opinava que basta de professores de economia a pregarem a insustentabilidade do estado social, que na escandinavia está provado que é sustentável, e terminava com um refrão que repetia incessantemente em alta grita, para desespero da reporter, que o que é preciso é liberdade, pá, liberdade, pá.

Um comentador televisivo, provavelmente por ter sido vitima de acidente neuronal, mudou bruscamente de opinião a meio da entrevista, perante o espanto da entrevistadora que nunca tal tinha visto, e afirmou que, se a União Europeia não fornecesse imediatamente um gabinete de economistas para gerir a nossa crise e se o BCE não fornecesse empréstimos a juros baixos, o país devia sair imediatamente da união monetária e desvalorizar o novo escudo. Questionado sobre a impossibilidade do país sobreviver isolado, o comentador deu a solução: equipas técnicas escandinavas, alemãs ou holandesas de apoio nas fábricas e empresas, a exemplo do gabinete de economistas para orientar o governo, venda da fábrica da Auto Europa aos indianos da Tata,  nacionalização das minas de lítio na Beira Baixa para venda do lítio aos fabricantes de baterias para automóveis elétricos, telemóveis e ipads, a entrada pela mão do Brasil no Mercosul, a negociação de uma parceria com Moçambique para cultivo da jojofa para produção de combustível alternativo ao petróleo, e, se Angola tivesse finalmente um governo saído de eleições fiscalizadas internacionalmente, a negociação de uma parceria para construção de blocos habitacionais e de uma rede de metropolitano em Luanda. Toda a mão de obra atualmente ocupada a vender e manter os Mercedes, os Volkswagen, os Audi, os Opel e os BMW deveria ser reconvertida em mecânicos de manutenção de automóveis antigos, de modo que os automóveis dessas marcas, que para não aumentar o endividamento nunca mais podiam ser vendidos em Portugal,  pudessem circular ainda durante mais 50 anos, como se vê por exemplo em Cuba com os Chevrolet dos anos 50 do século XX.
O destacado jurista, que costumava explicar ao presidente por onde passava a ténue fronteira, entre a constitucionalidade e a inconstitucionalidade dum decreto, atormentou-se com a dialetica do presidente, por não gostar da ideia dialetica, capaz, o presidente, de simultaneamente pregar a estabilidade governativa e a instabilidade governativa; talvez aflito por a realidade dos juros não se render à sua própria condição de presidente estável conforme tinha insinuado na sua campanha eleitoral.
A cidadã anónima, apanhada pela entrevistadora numa rua da capital, respondeu que a saída para a crise era a solução à islandesa, em que o primeiro ministro é uma mulher (o que está de acordo com os resultados do PISA por esse mundo fora, em que as raparigas ficaram sempre à frente dos rapazes na capacidade de interpretação dos factos e na gestão dos recursos) e em que se acabou com  a moda das privatizações, depois de todos os cidadãos e cidadãs terem sido informados do papel relevante que a privatização dos três principais bancos islandeses em 2000 teve na falencia de 2008, e do papel que a privatização das empresas de energia e mineiras teve na desertificação das zonas interiores (sem acabar com o setor privado, evidentemente, que para cada caso há uma solução; não há teoremas universais).
O sociólogo chamado a pronunciar-se sobre o fenómeno no fim do noticiário da hora do jantar, citou:
- o prémio Nobel James Buchanan e as suas teorias da escolha pública, a propósito da opção de uns pela votação em partidos políticos, e de outros pela abstenção, e de outros por movimentos cívicos, a que o presidente chamou "sobressaltos cívicos", como se fosse uma perturbação não reprodutível;
- Mark Kelman e o seu "Skeptical look at the Theoretical and empirical practice of the public choice movement";
- a experiencia da "Convenção das questões nacionais" de Fishkin, descrita em "The voice of the people; Public opinion and democracy", ed.Universidade de Yale, em que uns dias antes das eleições, nos USA, são realizadas reuniões por todo o país entre uma amostragem de eleitores, divididos em grupos que apresentam as suas conclusões aos coordenadores, que as sistematizam; as sessões finais são transmitidas pela televisão.
Pode ser que seja o caminho a seguir, acabando com o secretismo dos governantes, dos empresários, dos partidos politicos, dos presidentes de câmaras, dos gestores das empresas públicas, das direções gerais... pelo menos de alguns ou algumas.
Aguardam-se as sugestões pedidas e a apresentar pela organização da manifestação da geração à rasca.
Nunca se sabe.



Referencias:
- O discurso do rei, filme de Tom Hooper
- Reportagens da SIC Noticias e da TVI 24
- Editoriais, comentários e entrevistas do DN
- Citações bibliográficas do último capítulo da Sabedoria das Multidões, de James Surowiecky

Goya e Jorge de Sena - Carta aos meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya

sábado, 12 de março de 2011

O sismo no Japão de 11 de Março de 2011

A impotencia perante o desastre que atingiu os japoneses leva-nos a sentir-nos solidários com eles.
Devemos à engenharia japonesa o conhecimento avançado sobre as técnicas de construção anti-sísmica de tuneis em terrenos adversos, as técnicas contra a "liquefação" dos solos.
Embora não tivessem estado diretamente presentes nas obras de reforço do tunel acidentado do Terreiro do Paço, os técnicos portugueses do IST e do LNEC que estudaram e executaram o tratamento dos solos beneficiaram da experiencia japonesa.
Ente as ilhas do Japão existem tuneis. O método construtivo de cada um deles dependeu da natureza dos solos, que varia de um para outro. Por exemplo, a percentagem de areia num terreno é um dos indicadores utilizados para a escolha do método.
Há uns anos, um sismo no Japão derrubou viadutos e uma estação de metro colapsou; a liquefação dos solos derrubou edifícios intactos. Os técnicos estudaram as causas e as circunstancias e executaram as soluções.
No desastre de dia 11 de Março as construções de betão armado aguentaram os sismos (infelizmente, a central nuclear afetada não beneficiou dos progressos técnicos porque foi construida há cerca de 40 anos), mas o maremoto foi superior às defesas construidas.
O epicentro foi a cerca de 120 km e à profundidade de 24 km.
A onda atingiu a costa provavelmente em 10 minutos, sem tempo para as pessoas serem avisadas.
Junto algumas imagens em que se podem ver molhes de proteção de zonas habitadas junto da costa.








Junto do aeroporto atingido, uma duna continua, do tipo da nossa ria Formosa, pareceria assegurar a proteção.


É altamente provável que a engenharia japonesa reanalise as defesas contra maremotos e disso todos nós beneficiaremos.
Existe ainda a esperança de que seja possivel detetar as condições de ocorrencia de sismos através do controle dos deslocamento das placas tectónicas.
Continuo a achar que o sistema de boias é muito util para grandes distancias. Neste caso, dada a proximidade, parecerá que qualquer sistema de alarme não será totalmente eficaz. Dados os custos elevados do sistema de boias e a exposição ao vandalismo, continuo a pensar que uma ligação direta à polícia marítima do sistema meteorológico detetor de sismos será a solução imediata a adotar em Portugal.
Depois, haveria que divulgar os estudos já executados pelos investigadores que se dedicam a estes assuntos (e que já estudaram, por exemplo, o risco do desmoronamneto de encostas nas ilhas Canárias).
Também era importante que os estudos de vulnerabilidade a sismos e maremotos e a definição das zonas de inundação fossem divulgados, aprofundados e executadas as recomendações.
Uma das principais é a dificuldade portuguesa de coordenação e de organização das equipas de trabalho (na verdade, são envolvidas muitas organizações, como as camaras municipais, as administrações das bacias hidrográficas,os seviços da proteção civil, a Marinha e o Instituto Hidrográfico, os bombeiros...mas se não se conseguiu ainda a cobertura por radar da costa portuguesa, não podemos admirar-nos de existir esta flaha nos planos de vulnerbilidade das zonas ribeirinhas).
Igualmente seria interessante saber como está em Portugal a aplicação da resolução do parlamento europeu sobre prevenção de catástrofes naturais. Ver
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/09/analise-e-prevencao-de-riscos-de.html

Um problema concreto, já aqui falado neste blogue, é até que ponto o fecho da Golada poderia proteger contra um maremoto com origem na faixa de Gorringue. Ver
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/04/lamentando-aborrecer-os-leitores-e.html

Enfim, temos sempre a desculpa de não termos dinheiro.
Mas como diz o cronista do DN de hoje, dia 12 de Março, a verdade é que os portugueses não tratam do seu jardim como deve ser, para tentar ao menos minimizar as consequencias dos desastre naturais.

Metade, por Oswaldo Montenegro

De repente, a seguir a um noticiário e antes de mais uma transmissão em direto da manifestação de protesto das gerações à rasca, o canal de televisão passou a Metade, de Oswaldo Montenegro.
Existe ainda esperança, quando a Poesia se espalha.




Metade

Oswaldo Montenegro
Composição: Oswaldo Montenegro


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Ver em:



quinta-feira, 10 de março de 2011

O tunel irreversivel

Mais um filme de terror.
Felizmente sem vitimas mas a fazer lembrar o filme Irreversivel, com Monica Belluci.
Trata-se do tunel pedonal sob a Av.Gulbenkian, ligando a zona da estação de Campolide ao
bairro de Campolide.
Exemplo de infraestrutura corretamente projetada do ponto de vista topológico, junto da paragem de autocarros (estranho, não haver uma estação de metro em Campolide) mas um erro irreversivel enquanto fonte de criminalidade, como demonstra o filme com Monica Belluci.
Mais acima, na mesma avenida, está a solução correta, uma passagem aérea pedonal,pré-fabricada.
Até existe capacidade em Portugal para o seu fabrico em condições de vantagem e como bem transacionável (que se pode vender ao exterior ou que substitui importações).
Mas as irreversabilidades à portuguesa são um problema grave.
Profundo e persistente.

Mini ensaio em forma de hipérbole - as desigualdades

Não tem de haver uma explicação lógica.
Pode ser que a lógica seja uma abstração que distorce a realidade e as relações entre causas e efeitos e se enrede sem solução nas circunstancias dos eventos.
O caso é que o coeficiente de Gini continua a crescer, aqui e além.
A desigualdade de circunstancias e de resultados é grande.
Por exemplo, na guerra da Bósnia acontecia, em simultaneidade, um concerto sinfónico em Serajevo e  o bombardeamento da ponte de Mostar.
Enquanto Napoleão agredia os povos da Europa (embora paradoxalmente lhes oferecesse o código civil libertador), Beethoven apresentava as suas sinfonias no Musicverein, por baixo do qual passam agora composições do metropolitano em leito de via especialmente tratado, enquanto de forma diversa vizinhos de outros metropolitanos se queixam das vibrações induzidas.
Nos países escandinavos vive-se em paz (com alguns sobressaltos, mas predominando o conceito de paz e de segurança social, nos termos do artigo 22 da declaração universal dos direitos humanos, pelo menos por enquanto), e em paises mediterrânicos não.
Nós por cá, nem todos bem.
Há uns de nós recebendo razoáveis rendimentos e outros não, sem que a qualidade ou a quantidade do que cada um produziu tenha obrigatoriamente que ver com a quantidade de rendimento recebida.
Já se fazem manifestações por causa disso.
Dizem os que gostam de se ver na televisão ou de se ler nos jornais, que são as coisas a funcionar a duas velocidades e que isso não pode ser.
Mais uma metáfora.
Ninguém ligou a quem avisou quando foram tomadas as medidas de desregulamentação da economia.
Que se vivia melhor em economia de mercado, foi a proposta de quem agora volta a propor o mesmo (valha a verdade que legitimamente, porque se os manifestantes que se manifestam agora, a 12 de março, tivessem votado nas ultimas eleições presidenciais para sufragar os mecanismos de garantia de cumprimento do artigo 23 da declaração universal dos direitos humanos, o do direito ao trabalho, duvido muito que o senhor presidente da republica portuguesa tivesse recolhido o numero de votos suficiente para a sua eleição, mas não devemos fazer ficção histórica).

Então a explicação, ou a hipótese, apenas isso, uma entre entre infinitas hipóteses, é que vivemos na beira enlameada de uma poça de água estagnada e um deus criança entretem-se acocorado a vergastar as formigas que nós somos, a jogar-lhes em cima a água suja, a pisá-las, e sendo muitas as formigas, há sempre algumas que estão bem.
O deus criança açula uns contra os outros, pôs-lhes cérebros supostamente racionais apenas para que uns possam deduzir raciocínios lógicos de que a culpa é dos outros, mas estes outros também têm os mesmos cérebros de ilusão e também culpam precisamente do mesmo aqueles uns.
Ou nem sequer pôs cérebros ou cortexes novos, foi por estouvadice e desatenção que deixou perder genes aos organismos antecessores dos homens-formigas na escala da evolução, por exemplo os genes inibidores do crescimento das células e como consequencia os neurónios desenvolveram-se para além do razoável, e divertiu-se ainda a limitar os comportamentos poligâmicos.
De vez em quando, a mãe deus, ou o pai deus, que dedução por dedução, se não pode haver relógio sem relojoeiro, também não pode haver relojoeiro sem pai nem mãe, chama o deus criança e repreende-o, não faças isso às criaturas, coitadas, elas têm sensibilidade como qualquer bicho, mas daí a pouco lá está outra vez o deus criança nas suas sádicas atividades.
E assim sem fim, pelo menos por enquanto.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Compramos ouro

Compra-se ouro, pratas, joias, cautelas de penhor.
Compra-se dívida, como se diz agora.
A taxa de aparecimento destas lojas parece a dos cogumelos.
Parece que os valores pagos não são  melhores do que nas ourivesarias, o que está de acordo com a tradição dos usurários clandestinos.
É o mercado a funcionar entregue a si próprio e alimentando-se de tudo o que pode.
Interessante ver esta proliferação, essencial para minimizar os riscos de assalto. Em caso de assalto, os prejuízos são pequenos. E os encargos de mão de obra são pequenos enquanto a taxa de desemprego for grande.
Parafraseando Fernando Pessoa, quanto do teu ouro é ouro do Brasil?


Quase primavera, em Lisboa

Nem tudo é mau em Lisboa.
Os prunus ajudam a compensar.


Azulejos de Lisboa I - Campolide

Exemplos de azulejos em prédios antigos em Lisboa, em Campolide