quinta-feira, 21 de abril de 2022

As travessas da companhia das Índias

Este é um texto de memórias que, por razões que pacientes leitores verão se o lerem, só agora posso escrever.

Nos anos "de brasa" como dizem os argelinos dos seus anos, e nós "quentes", de 1974 e 1975, viveram-se no metropolitano de Lisboa os confrontos próprios da época, em movimentações que felizmente sem episódios graves, foram levando quem lá trabalhava a adaptarem-se aos novos tempos.

Apesar da exaltação de uns, libertos da repressão da censura, e de outros, saudosos dos valores do antigo regime, foi possível evitar os "saneamentos", simplesmente alocando os colegas mais ligados a esse antigo regime a funções essenciais mas distantes dos mais exaltados.

Muitos anos depois, apreciei muito a série televisiva "Un village français"), que evocava as histórias mais dramáticas e sangrentas do período da segunda guerra mundial, mas em que predominava a vontade de ultrapassar as diferenças e de poder contar com todos em paz.

Foi o que tentámos e talvez o tenhamos conseguido.

Silveira Cavaleiro tinha tido um cargo importante numa organização do antigo regime e desde sempre demonstrara nas suas funções operacionais no metropolitano a eficácia e a meticulosidade que honravam o serviço público. Foi poupado ao confronto direto com os mais contestatários e aproveitadas as suas qualidades num escalão superior  administrativo da empresa. Sem prejuízo de, nas reuniões de coordenação interdisciplinares (era, na altura havia uma conceção horizontal, de interação entre orgãos de responsabilidades distintas, bem longe do que se evoluiu depois para a conceção atual  vertical e "top-down" que afasta quem trabalha em disciplinas diferentes, não honrando em consequência o serviço público).

Nos breves momentos ditos de aquecimento, antes do começo da reunião de coordenação de objetivos pluridisciplinares, enquanto não chegavam os retardatários, lamentava os avanços revolucionários, enquanto eu tentava tranquilizá-lo, que já tinha saído a Constituição, e que os partidos não estavam a fazer nada de ilegal, até os militantes do partido comunista apelavam aos trabalhadores agrícolas para não ocuparem nada sem o conhecimentos dos parlamentares, e que a Constituição ainda podia ser mudada, mas enquanto não fosse... Mas ele exaltava-se e eu, apesar de mais novo, lá o convencia a  dar início à reunião. 

O facto é que eu me dava muito melhor a trabalhar com ele do que com alguns colegas progressistas, mas de difícil concentração nos objetivos técnicos acordados com a empresa. Num belo dia, com ar desanimado e desesperançoso,  Silveira Cavaleiro confidenciou-me que um familiar tinha ido ao Alentejo, que tinha visto muitas movimentações por essas herdades fora, e que à beira da estrada tinha visto travessas da companhia das Índias a serem vendidas ao desbarato, fruto da pilhagem das casas dos proprietários das herdades ocupadas.

Embora também tivesse dado umas voltas pelo Alentejo e visto algumas movimentações, a verdade é que eu nunca tinha visto travessas da companhia das Índias à venda à beira da estrada, mas também por elementar evocação do método científico não podia dizer que não tinham sido vendidas aqui ou ali, pelo simples facto de eu não ser omnisciente. Por isso aceitei o testemunho e tive o prazer de ainda por muitos anos ter colaborado com Silveira Cavaleiro, esfumadas as ilusões de se poder fazer uma reforma agrária. É possível, e devíamos institucionalizá-lo, trabalhar em conjunto quaisquer que sejam as ideias económico-políticas de cada um.

E eis que, passados 48 anos, leio no meu jornal a entrevista de um jovem militante do MDLP nos anos "quentes" e agora ideólogo de um partido com algum sucesso nas eleições de janeiro de 2022, não necessariamente pelas melhores razões. E eis que, percorrendo algo penosamente os primeiros parágrafos, com protestos do entrevistado de que nunca tinha posto bombas nem sabia de quem o tivesse feito, leio que a entrevistadora recorda a confissão não do entrevistado, mas do comandante Alpoim Galvão , cujas ações me abstenho de classificar. E eis que, leio melhor e vejo esta frase deliciosa de como viviam em Madrid, quando lá exilados nos anos "quentes" para se prepararem para "combater o comunismo": 

"No início, viviam com o apoio de empresários e das receitas das vendas de serviços de loiça da Companhia das Índias e outros bens fáceis de transportar".

Extraordinário, finalmente esclarecido o mistério e o encaminhamento das travessas da companhia das Índias, e talvez de outros bens extraviados das mansões alentejanas. Ou de como o melhor acusador é aquele que pratica aquilo de que acusa o outro, porque sabe como funcionam as coisas em causa. Não acusemos nem menosprezemos o outro, não "joguem pedra na Geni".


fonte:  https://www.publico.pt/2022/02/27/politica/perfil/diogo-pacheco-amorim-deputado-traz-fantasmas-ditadura-1996811




quarta-feira, 20 de abril de 2022

Ponto de situação dos contratos da expansão do metropolitano de Lisboa em abril de 2022

 


RESUMO DOS CONTRATOS

  • Lote 1  Rato-santos excl     6mai2020       48,6 M€
  • Lt 2     Santos incl-C.Sodré   22set2020     73,5 M€
  • Lt 3    viadutos e est CG       3nov2020       19,5 M€
  • Lt 4 acabamentos e complementos   4 propostas em 1abr2022 entre 72 e 80 M€ - supor   75M€
  • 14 UTE e CBTC   em 9fev2020               114,5 M€    (supondo 7M€ por UTE, teremos 14UTE<> 98M€; considerando 3 comboios para os 2 km novos Rato-C.Sodré com 3,5min de intervalo anunciados teremos 23M€ para contabilizar na linha circular) + (114,5-98)=16,5 M€ para o CBTC RA-CS e CG, verba que considero insuficiente)

Total para a linha circular:       48,6+73,5+19,5+75+39,5=            256,1 M€

 

Admito agravamento de 30% devido a subestima inicial da complexidade técnica e dos custos mais agravamento de 10% da inflação :        256,1 x 1,4 ~ 350 M€

 

SITES DO METROPOLITANO:

Plano de Expansão e Modernização do Metro (metrolisboa.pt)

 

Financiamento linha circular: POSEUR 01-1407-FC-000054

Fundo coesão/POSEUR 103 M€ + fundo ambiental 137,2M€ = 240,2 M€

Expansão – Plano de Expansão e Modernização do Metro (metrolisboa.pt)

 

  

Lt 4 :   4 propostas de 72 a 80M€    em   1abr2022 (complementos/acabamentos)

Apresentadas quatro propostas para empreitada do lote 4 – Plano de Expansão e Modernização do Metro (metrolisboa.pt)

 

Viadutos CG  23dez2021   19,5M€  consignação 3nov2020   visto TC fev2021

Metropolitano de Lisboa assina Auto de Consignação do Lote 3 – Plano de Expansão e Modernização do Metro (metrolisboa.pt)

 

 

 

 Em 19jun2020 Financiamento linha circular

 210,2 M€ = 83M EU fundo coesão/POSEUR   + fundo ambiental 127,2M€

União Europeia aprovou 83 milhões de euros para a linha circular – Plano de Expansão e Modernização do Metro (metrolisboa.pt)

 

Lt 2 contrato 22set2020  73,5 M€

Tribunal de Contas emite vistos prévios favoráveis aos contratos dos Lotes 2 e 3 – Plano de Expansão e Modernização do Metro (metrolisboa.pt)

 

3 lotes adjudicados 2nov2020

Expansão do Metro de Lisboa já tem 3 concursos adjudicados – Plano de Expansão e Modernização do Metro (metrolisboa.pt)

 

 

 

MATERIAL CIRCULANTE E CBTC

 

Em 9fev2020       114,5 M€    14 UTE + CBTC    (98M€ mat circ + 16,5M€ CBTC? Qual o âmbito?)

Metropolitano de Lisboa assina contrato para a modernização da rede – Plano de Expansão e Modernização do Metro (metrolisboa.pt)

 

Em 5mai2021 visto T C

Metropolitano de Lisboa assina contrato para a modernização da rede – Plano de Expansão e Modernização do Metro (metrolisboa.pt)

 

 

PROLONGAMENTO LINHA VERMELHA

 

3jan2022 Prolongamento linha vermelha   304 M€

Metropolitano de Lisboa submete à APA Estudo de Impacto Ambiental da linha Vermelha até Alcântara – Plano de Expansão e Modernização do Metro (metrolisboa.pt)

 

Financiamento 21set2021   l.vm e lios

Metro de Lisboa celebra contratos de financiamento para concretização de projetos de expansão da rede – Plano de Expansão e Modernização do Metro (metrolisboa.pt)

 

6jul2021

Metro Ligeiro de Superfície Loures/Odivelas: investimento de 250 milhões de euros (previsto no Plano de Recuperação e Resiliência) – Plano de Expansão e Modernização do Metro (metrolisboa.pt)

 

 

 

 

  

ALGUNS COMENTÁRIOS NESTE BLOGUE SOBRE A EXPANSÃO DO METRO

fcsseratostenes: O metropolitano de Lisboa enviou o EIA do prolongamento a Alcantara Terra para a APA

fcsseratostenes: Enquanto a obra da linha circular prossegue, alguns aspetos jurídicos

fcsseratostenes: Parecer sobre o RECAPE (relatório de conformidade ambiental do projeto de execução) do lote 2 - Construção dos toscos da estação Santos (inclusivé, a Cais do Sodré)

fcsseratostenes: Ainda a carta ao Diretor de 18dez2021 sobre a alegada ilegalidade da construção da linha circular do metro

fcsseratostenes: Alternativas ao traçado em construção entre as estações Rato e futura Estrela

fcsseratostenes: Reportagens sobre a linha circular do metro em novembro e dezembro de 2021

fcsseratostenes: Outubro de 2021, que fazer quanto à expansão do metro?

fcsseratostenes: Sobre a ilegalidade da construção da linha circular do metro, comunicação ao TCA

fcsseratostenes: Para a hipótese de uma providencia cautelar suspender a construção da linha circular

fcsseratostenes: RECAPE do lote 3 (viadutos de Campo Grande) da linha circular do metropolitano de Lisboa

fcsseratostenes: História de um processo - a linha circular do metro

fcsseratostenes: Reflexões sobre mobilidade urbana - mensagem enviada aos deputados municipais como contributo para o próximo período eleitoral

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2018/01/ultima-tentativa-ultima-chamada-da.html

 


terça-feira, 19 de abril de 2022

O "metro" do Mondego em abril de 2022

 Recentes notícias na Transportes e Negócios e no Notícias de Coimbra, de que dou conta com a devida vénia, dão março de 2024 como nova data para entrada em serviço do sistema de mobilidade interno de Coimbra e de ligação a Lousã/Serpins com autocarros elétricos no canal da antiga ligação ferroviária.

Ao endereço de cada notícia junto a foto que a ilustra.

https://www.transportesenegocios.pt/metro-do-mondego-derrapa-para-2024/

Esta imagem tem desde há uns anos sido apresentada como um bom exemplo de BRT ou metrobus para preparar a opinião pública para o sistema a implementar em Coimbra. A imagem refere-se a um sistema na Austrália, com guiamento por roletes sujeitos às bermas verticais, diferente do que consta do caderno de encargos de Coimbra (guiamento ótico a partir de marcas no chão); também para Coimbra não está prevista via dupla.

https://www.noticiasdecoimbra.pt/metro-mondego-diz-que-ja-lancou-todos-os-concursos-para-por-sistema-em-servico/

Reconhece-se a dificuldade de implantação de um sistema urbano no acidentado de Coimbra. A solução metro subterrâneo seria muito cara, mas em certas zonas justificar-se-ia. Por exemplo no largo da Portagem deveria ser em túnel para não conflituar com o tráfego rodoviário, mesmo com tratamento preferencial nos semáforos. Na zona da fotografia (é uma boa ideia a aquisição dos prédios para proporcionar a passagem dos veículos, mas espera-se que sejam instaladas guardas para proteção dos peões), considerando a dignidade dos edifícios justificar-se-ia tambem o enterramento da linha entre a avenida Sá da Bandeira e a sul da avenida Fernão de Magalhães.





Segundo o processo de avaliação ambiental, a ideia de substituir a ligação ferroviária por autocarros elétricos foi aprovada em 2017 no seguimento de uma análise de custos benefícios negativa para a ferrovia (proposta com LRT. light rail transit).
Pessoalmente, tenho tido más experiencias com a participação em consulta públicas. 
É verdade que reproduzem nos relatórios as minhas objeções, desde a primeira consulta depois da adesão à UE que obriga a que se façam (foi o túnel do Marquês de Pombal, em que afirmei que devia ser reprovada uma proposta que não apresentasse alternativas para  comparação; o relatório confirmou, não tinham sido estudadas alternativas, mas não reprovou o projeto .
No caso da linha circular do metro de Lisboa, a todas as objeções foi respondido que estavam fora do âmbito do RECAPE (relatório de conformidade do projeto de execução). Dum ponto de vista de engenharia (e existe uma disciplina de engenharia do ambiente de cujo curriculo constam as físicas e as matemáticas que não deviam deixar concretizar o receio de Carl Sagan, de sermos uma geração que dispõe de recursos e de de meios extraordinários, mas que não sabe como funcionam) as questões físicas são relevantes, não podem ser desprezadas por critérios só ambientais numa visão restritiva.
Por exemplo, a opção entre uma solução ferroviária e uma solução rodoviária deve comparar a eficiência energética de uma e outra. É um critério essencial no contexto do combate às alterações climáticas. Ora, devido ao maior coeficiente de resistencia ao rolamento dos pneus em contacto com o asfalto ou cimento, em comparação com o rolamento da roda de ferro em contacto com o carril, existe um diferencial de consumo adicional por passageiro-km em benefício da ferrovia. Isso foi considerado na tal análise de custos benefícios? Não se sabe, e o relatório da comissão de avaliação, embora usando linguagem bem educada, também nada diz sobre esta questão essencial, limitando-se a dizer que a DIA apenas se referia à solução metrobus. O que é extraordinário.  Ao nível do governo escolhe-se, sem critérios técnicos de engenharia,  uma solução, e a avaliação ambiental não compara com alternativas?
Não esperarão que se diga que o procedimento é falacioso?
Também a resposta é omissa à questão, foi feita uma análise de riscos a uma eventual falha do guiamento ótico no percurso acidentado Coimbra-Serpins?
E quanto à desvalorização da estação Coimbra A  (por deixar de ter ferrovia, por deixar de ser possível apanhar nela o comboio para Aveiro, para a Figueira, para as Caldas da Rainha e ter de se apanhar o autocarro elétrico), a piedosa informação de que já é monumento classificado (dir-se-ia justamente por isso)
Ver a partir da página 75 os comentários de quem reclamou contra o projeto do metrobus e o que respondeu a comissão de avaliação:


Junto os sucessivos comentários desde 2008, com destaque para os dois primeiros, de janeiro de 202 e junho de 2017:

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2020/01/comentario-consulta-sobre-linha-do.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2017/06/lamento-pelo-metro-do-mondego-ou-com.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/01/financiamento-de-60-milhoes-aprovado.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2019/09/consulta-publica-sobre-o-metrobus-de.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2018/05/metro-do-mondego-vi.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2017/07/metro-do-mondego-v.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2012/06/what-happen-with-metro-do-mondego.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/08/o-metro-da-lousa.html


PS em 21abr2022 - O encerramento da estação Coimbra A é mis um exemplo da prepotencia dos decisores que repetem ad infinitum que suspender o processo é perder fundos comunitários (não é sempre verdade, se for atempadamente apresentado um projeto alternativo bem fundamentado as verbas são canalizadas para o novo projeto. Só que os decisores não reconhecem as inconformidades do processo decisório, desde ignorar decisões da Assembleia da República até argumentos técnicos como o de que a eficiencia energética do metrobus é inferior à do LRT devido à diferença dos coeficientes de resistencia ao rolamento, coisa que no meu tempo se estudava no liceu, no ano equivalente ao que é hoje o 8º ano. Particularmente dececionante a forma como o senhor presidente se refere ao novo centro intermodal para todos os transportes, uns convergentes e outros divergentes, o que permitiria supor que poderá ser diferente de zero o operador vetorial  "divergência", isto é, que poderiam ser gerados, ou absorvidos, no próprio centro, novos modos de transporte. E aguardemos se o intervalo de 5 minutos do metrobus entre Coimbra A e Coimbra B vai ser cumprido.

https://centrotv.sapo.pt/decisao-do-encerramento-da-estacao-nova-esta-tomada-e-nao-ha-volta-atras/





sábado, 16 de abril de 2022

Atlântida, Atlântida, ou melhor, Spitsbergen, Spitsbergen

 

Anteriores textos sobre o Atlantida neste blogue, tentando registar como a sua venda e a dos estaleiros de Viana do Castelo convergiram, eventualmente de encontro aos desejos do governo da altura:

https://fcsseratostenes.blogspot.com/search?q=atlantida

Atualidade jurídica, cancelamento do julgamento de Ana Gomes por queixa de Mario Ferreira:

https://www.msn.com/pt-pt/noticias/sociedade/ana-gomes-e-m%C3%A1rio-ferreira-recusam-acordo-para-acabar-com-julgamento-no-porto/ar-AAVSwb5

Antedentes:

https://www.publico.pt/2017/10/09/economia/noticia/ana-gomes-questiona-centeno-sobre-negocio-do-atlantida-e-apresenta-nova-queixa-contra-mario-ferreira-1788268

https://www.publico.pt/2022/02/16/sociedade/noticia/conflito-mario-ferreira-ana-gomes-resulta-novo-julgamento-porto-1995745


No momento em que escrevo, o Atlantida, perdão o agora Spitsbergen (quem se teria lembrado de pôr o nome de Atlantida, um continente submerso, a um navio? teria sido o governo dos Açores de então? há regras na marinha, não se põem nomes desses) da companhia Hurtigruten, navega a 10 nós com vento de 20 nós pela proa num cruzeiro nas ilhas Hebridas interiores da Escócia (parece que o governo dos Açores o queria a 18 nós depois de escolher um projeto que teve de ser corrigido omitindo o reforço da potencia dos motores e como nem sempre se atingia essa velocidade, recusou-o, contribuindo para a privatização dos estaleiros de Viana do Castelo, juntamente com a recusa de cumprir o tratado de funcionamento da UE na parte de financiamento de material de defesa, no caso o programa dos patrulheiros)  .


trajeto do Spitsbergen das ilhas de Stornoway para Canna (esta indicada pela seta) com a sua posição no momento em que escrevo

imagem retirada dos sites de localização de navios e aviões:

https://www.marinetraffic.com/pt/ais/home/centerx:-7.4/centery:57.9/zoom:8

https://www.localizatodo.com/html5/

É muito interessante, enquanto em Portugal se discute juridicamente se o senhor empresário foi ou não apropriadamente difamado, o Atlantida, perdão, o Spitsbergen, há 5 anos e meio que faz cruzeiros nos mares nórdicos ganhando sucessivos prémios na sua categoria, coisa documentada nas referências acima.

Isto é, o Atlantida tornou-se uma metáfora do que em Portugal se pode fazer bem (a correção dum projeto mal escolhido por quem não tinha competencia para o fazer)  e do que se pode fazer para aviltar quem faz bem (a incapacidade de aceitar um compromisso entre o conforto e a segurança associados a essa correção por um lado e a quebra na velocidade máxima poupando nos custos do aumento da potencia, incapacidade essa caraterística de quem não tem competencia para uma decisão dessas). E tudo isso, como diz o queixoso de Ana Gomes por difamação, feito com a máxima transparencia, induzindo na opinião pública, através da comunicação social, que o Atlântida tinha sido mal construido, que os estaleiros de Viana eram mal geridos por serem públicos (houve encomendas de chapa para construção paradas por falta de visto "das finanças") e tinham de ser privatizados.

Votos de bons ventos para o Spitsbergen, já que não somos dignos dele.

fotos do Spitsbergen:

https://www.marinetraffic.com/pt/ais/details/ships/shipid:104744/mmsi:258157000/imo:9434060/vessel:SPITSBERGEN



A parte da popa de bombordo (lado esquerdo) foi toda substituida na transformação da comporta e "deck", para transporte de viaturas, em camarotes e zona de lazer 

quando ainda era o Atlântida, vendo-se a comporta para entrada de veículos; curioso esta comporta não fazer parte do projeto original, foi imposta pelos regulamentos internacionais depois do naufrágio do Estonia, no Báltico; entretanto desmontada para dar origem a camarotes e  terraço com mini piscina

PS em 19de abril - voltando à localização do Spitsbergen, está no dia de hoje ancorado ao largo da marina de Oban, em plenas ilhas interiores da Escócia. Não servia para os Açores, ou melhor, para o governo regional da altura




segunda-feira, 11 de abril de 2022

Terceiro email para uma senhora jornalista sobre a guerra - cada vez mais difícil trocar impressões

 

Boa tarde

Continuo a receber emails seus, por isso, apesar de ser cada vez mais difícil conversar, volto ao seu contacto, esperando que as armas de autodestruição maciça existam tanto no PCP como as outras no Iraque dos 4 falcões dos Açores. Talvez os 100 anos de Domingos Lopes deem uma ajuda para que se extingam as armas de autodestruição maciça.

Sobre o assunto do momento, melhor do que eu escreveram os leitores na edição de dia 11 de abril , António Linhan (“Imagine” by John Lennon) e José A.Rodrigues (que temos “nós” a ver com a luta entre dois “robber barons”, vulgo oligarcas?),  e Carmo Afonso repetindo Santos Silva, “Não há atribuições coletivas de culpa em Portugal” (não? então os comentadores de sofá escandalizados com os “notáveis” pela paz não andam a atribuir a culpa de apoiantes da invasão a quem quer manter a cabeça fria e “contextualizar”  a NATO, enquanto apelam ao envio de armas para os heróis resistentes?), mas pode ser que lhe interesse esta evocação de 2012 das Pussy Riot, que cito por vir a propósito os versos de John Lennon, “nada por que matar ou ser morto”:

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2012/08/free-pussy-riot.html

Gandhi ou Mandela pediriam armas para defender os seus ideais? Não o fizeram.

 

Mas deixe-me dizer porque lhe respondo assim. No fundo, é a experiência própria que condiciona o que cada um pensa. No princípio dos anos 70 fui incorporado no exército, na época ocupando terras que eram de outros povos, numa altura em que o primeiro ministro da altura promoveu eleições sem chapeladas e que deram o apoio maioritário dos eleitores à guerra colonial. Como “há sempre alguém que resiste”, fui participando em sessões de canto livre em que se cantava a injustiça da guerra colonial (enquanto em Londres se representava o Hair, contra a guerra do Vietnam), umas vezes com a assistência da PIDE, e outras não. Nunca acharam por bem prender os meus companheiros e companheiras nem muito menos a mim, limitavam-se a mandar bilhetinhos para os comandantes dos quarteis a dizerem para terem cuidado com os milicianos da incorporação (lá está, uns especialistas da atribuição de culpas coletivas, quem não concorda comigo ou é pacifista ou é comunista). Fui um privilegiado por não ter sido mobilizado para as colónias e ainda hoje não sei o que faria, se “cobarde”, fugiria para o norte da Europa, ou se diria ao senhor comandante pode mandar-me prender, não vou, não disparo armas nem na minha terra nem numa terra que não é a minha (ai o Boris Vian). E é por isso que me entristece ver o entusiasmo com que os comentadores de sofá, nos seus gabinetes longe da guerra, culpabilizam uns quantos coletivos e apelam ao envio de armas para a fogueira (para os heróis se cobrirem de glória como eu ouvia na escola na interpretação patrioteira da História) e apelam a mais sanções económicas que nos prejudicam a todos, ou a economia é uma batata. Lembra-se quando Freitas do Amaral propôs um encontro de futebol com os terroristas do ayatola? Mais uma vez escrevo, arranjem um mediador, pode ser a China, a Turquia, a Índia, Israel, a Áustria, deixem-se de guerras, não deixem a NATO decidir, cumpram o nº2 do artigo 7º da Constituição da República Portuguesa, pensem no que fizeram em Dresden,  Nagasaki, Hiroshima, Vietnam, Afeganistão … vítimas civis … “é guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta, é a guerra aquela tempestade terrestre que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras, é a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades …”, dizia Vieira, a quem a Santa Inquisição culpabilizou coletivamente.

E sim, pensando bem, nada a objetar à admissão à União Europeia, apenas com duas pequenas condições, uma, que os países que estão na fila vejam o seu processo acelerado, e outra, válida para qualquer entrada, que o TFUE seja rigorosamente cumprido, com processos de infração efetivos e imunes a desculpas como as que Portugal tem enviado a Bruxelas quando é alvo de processos de infração, isto é, a Comissão Europeia não pode ser cúmplice do incumprimento das suas regras, desde a falta de assistência técnica ou financeira para novas linhas de comboios de ligação à Europa e tantas infraestruturas em falta até à organização dos sistemas educativo e judicial.

Com os melhores cumprimentos, espero que tenha gostado das Riot.

 


terça-feira, 5 de abril de 2022

Mais um exemplo dos cuidados a ter nos eventos com multidões, acidente num passadiço no Japão, em 2001

 

No seguimento da recolha de informação sobre os cuidados a ter na preparação das Jornadas Mundiais da Juventude em 2023, encontrei a descrição do acidente em 2001 em Akshai, pero de Kobe, no Japão, num passadiço sobre a via férrea e a rodovia, onde 6000 pessoas se tinham concentrado num espaço de 103 x 6m depois de assistirem a um fogo de artificio junto de uma praia. Morreram por sufocação 9 crianças e 2 idosos:

https://en.wikipedia.org/wiki/Akashi_pedestrian_bridge_accident





No inquérito subsequente o acidente foi classificado como "avalanche de multidão" (crowd  avalanche, crowd turbulence, crowd quake, não confundir com ataque de pânico ou mass panic ou stampede) resultante da compressão subsequente aos movimentos aleatórios e instáveis da multidão. Ver a análise deste tipo de acidentes a partir do acidente em Duisburg, em 2010, no espetáculo Love Parade:

https://epjdatascience.springeropen.com/articles/10.1140/epjds7

No caso das JMJ, para além da preparação dos planos de emergência, dos corredores de evacuação e do fecho da ferrovia e da A30, sugere-se a utilização de uma sala de vigilancia duma rede de circuitos de televisão fixos e através de drones para deteção de movimentos da multidão que possam entrar em instabilidade e ressonância na sequencia da diminuição da distancia entre pessoas e subsequentes pressões mútuas. 


Informação sobre as JMJ:

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/11/jornadas-mundiais-da-juventude-mensagem.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/11/mensagem-para-o-presidente-da-camara.html

Informação sobre o terminal da Bobadela:

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/04/5-hipoteses-para-deslocalizacao-do.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/01/o-terminal-da-bobadela-e-as-ligacoes.html






segunda-feira, 4 de abril de 2022

As praias de Maresme

 O artigo do Expresso mostrava os efeitos do temporal na zona costeira a norte de Barcelona e punha a hipótese de transferir a linha de caminho de ferro para o interior:

https://www.msn.com/pt-pt/noticias/ultimas/a-linha-de-comboio-mais-antiga-de-espanha-est%C3%A1-a-ser-devorada-pelo-mar/ar-AAVIHNa

Lembrei-me de que a nossa linha de Cascais até é um bom exemplo de obras de manutenção e proteção contra as investidas do mar (discordo da ideia de subir a tensão de alimentação para 25 kV, mas o decisores acham que sou exagerado quando digo que se pode mas não se deve pôr um nível de tensão tão elevado num ambiente salino, o que é assunto para outro tema).

Lembrei-me também do caso da destruição parcial em 2014 da linha de Dawlish, no Devon, sudoeste de Inglatrra, e do carinho com que foi recuperada.

Por isso enviei o seguinte texto à jornalista, que me respondeu agradecendo:

Caso queira voltar ao tema das praias e da linha de comboio ameaçadas pelo mar, sugiro o tema da linha de Devon/Dawlish em Inglaterra:  

https://www.theconstructionindex.co.uk/news/view/dawlish-back-on-track

https://www.newcivilengineer.com/latest/funding-boost-to-protect-vital-dawlish-railway-from-floods-01-04-2022/?utm_source=Bibblio&utm_medium=Recommendation&utm_campaign=Recommended_Articles  

e a bombagem de areia nas praias da Austrália:

https://www.environment.sa.gov.au/topics/coasts/managing-adelaides-beaches/sand-pumping/sand-transfer-locations 

O caso da linha de Cascais é um bom exemplo com os passeios marítimos e a forma do perfil vertical do paredão, desviando a onda para cima.

Em Maresme a solução poderá ser o passeio marítimo como em Dawlish e Cascais. As marinas em Maresme impediram a deposição de alguma areia, mas a orientação das correntes e da costa torna dificil o efeito dos molhes/esporões que até são eficazes mais a sul, em Barceloneta. Para a proteção da linha tambem poderão construir-se molhes paralelos à costa, não em forma de esporão, como no Japão para proteção contra maremotos. É caro, mas mudar a linha para o interior é um ato de lesa património industrial histórico. Quem viaja na linha de Cascais compreende isto.

Com os melhores cumprimentos

domingo, 3 de abril de 2022

5 hipóteses para a deslocalização do terminal da Bobadela e 1 parábola

Segundo a Transportes e Negócios, as instancias oficiais "identificaram" 5 locais possíveis para albergar as funções do terminal da Bobadela, condenado pela estratégia da câmara de Loures e pelas JMJ de agosto de 2023: 

https://www.transportesenegocios.pt/ip-identificou-cinco-alternativas-a-bobadela/

https://www.transportesenegocios.pt/a-nova-bobadela-ainda/

Por técnicos mais dentro do assunto do que eu, já foi explicado quão prejudicial para a economia do país é a deslocalização dum terminal que movimenta 300.000 contentores por ano.

De modo que, parecendo quem decide ser imune aos argumentos técnicos, eis uma pequena parábola, figura retórica que tenta estabelecer analogias, apenas como desabafo.


Há muitos anos, num terreno abandonado junto de um rio, começaram a surgir uns buraquinhos no chão e uns montinhos de terra. Tinham chegado as formigas e instalado uma rede de formigueiros, desenvolvendo uma azáfama coletiva.

Sucedeu porém que toda uma série de bicharada afim foi ocupando as colinas que bordejavam um dos lados daqueles terrenos. A laboração das formigas não impedia o decorrer normal da vida dos outros insetos mas, e há sempre um mas, inconveniente ou não, ou assim assim, a colónia das cigarras começou a dizer que a vista do rio, para o outro lado, ficava prejudicada pela quantidade de raminhos e pequenos detritos que as formigas estavam sempre a empurrar.

Por coincidência um tanto inesperada, ou assim assim inesperada, o Conselho dos louva-a-deus resolveu fazer um congresso alargado para exaltação coletiva da metamorfose regressiva, isto é, a fase que antecede a passagem do estádio de ninfas para o estádio adulto.

Veio então um Conselho de libélulas que achou que sim, que o congresso vinha a propósito para satisfazer a pretensão das cigarras e que portanto as formigas que fossem fazer formigueiros para outros locais, que aqueles terrenos eram vocacionados para atividades de lazer.

Ainda foi pedido o parecer do Conselho das abelhas, conhecido pela sua capacidade de conciliar o aparentemente inconciliável e pela produtividade do seu trabalho, e que ainda propuseram, salomonicamente, que se fizesse uma partilha ao meio, metade para as formigas, e metade para  as cigarras.

Porém, o Conselho das libélulas já tinha decidido e surdo ficou à proposta salomónica.

E as formigas, coitadas, lá foram para mais longe sempre empurrando o objeto do seu trabalho.

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/01/o-terminal-da-bobadela-e-as-ligacoes.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/11/mensagem-para-o-presidente-da-camara.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/10/a-entrevista-de-jose-sa-fernandes-e.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/11/jornadas-mundiais-da-juventude-mensagem.html