antiga secretaria de Estado da Cultura |
placa abandonada, metáfora do abandono da Cultura |
E também fronteiro ao palácio negreiro que agora abriga o refinado Grémio Literário.
O edifício do número 34 é ainda propriedade, ao que julgo, que o secretismo é a tragédia do negócio, permito-me assim contestar o aforismo do segredo do negócio, do metropolitano de Lisboa.
Nos idos dos anos 90, quando o rating da empresa era de vários AA, incluiu-se no projeto da estação Baixa Chiado uma ligação por elevadores da rua Ivens para o mezanino da estação, precisamente no interior do edificio do número 34.
Assim se cumpriria a diretiva europeia que obriga, melhor dizendo, obrigaria, os edifícios públicos a estarem adaptados a pessoas com mobilidade reduzida.
Porém, as atribulações e a complexidade da construção da estação e da linha fatigaram os decisores do metro, não por serem eles a resolver os problemas, mas porque sofriam a pressão dos prazos que os senhores ministros queriam ver cumpridos para poderem vangloriar-se junto dos eleitores, e ainda a pressão dos sobrecustos sucessivos.
Por isso, já no fim da obra, como que naufragando a ideia à vista da praia, e porque o arquiteto contratado sem concurso publico (porque o brilho do seu nome era para quem o convidava, isto é, os representantes na administração da empresa do partido ganhador das eleições, incompatível com o concurso) apresentou uma solução de um milhão de contos, dir-se-á agora de cinco milhões de euros, foi decidido economizar e não se fizeram os elevadores no prédio do número 34.
Soluções alternativas mais económicas foram-se estudando, que sempre foi havendo no metropolitano técnicos capazes de as estudar e sempre foram mantidos contactos com o INR e associações como a ACAPO e a APD. Desde instalar o elevador na rua da Vitória, ou ocupando o espaço do restaurante Vitaminas, ou da antiga agência da casa da sorte na rua Garrett, ou até junto do largo do S.Carlos.
Ainda se conseguiu instalar, nas escadas do lado da rua do Crucifixo, uma plataforma elevatória. Não seria a solução ideal porque a sua utilização requereria o apoio de um agente da estação e,portanto, não garantiria a autonomia que se deseja à pessoa com mobilidade reduzida. Mas nem isso funcionou, ao que consta por dificuldades de software detetados na altura dos ensaios de colocação em serviço...
Agora, que tão contentes andam os senhores governantes e os economistas que os sustentam com as estatísticas do turismo e do fluxo de entrada de dinheiros com os vistos gold por compra de imobiliário, ocorre-me à passagem pelo número 34 da rua Ivens esta sugestão ao metropolitano: que a venda do prédio seja feita a um preço mais favorável, mas com a condição imperativa da construção pelo comprador de 2 elevadores para ligação ao mezanino da estação. Por informação do segurança que costuma estar na porta do número 32, um antigo restaurante chinês, todo o prédio, até à esquina da rua Capelo, pertence ao banco de Portugal. Também podia ser um potencial interessado...o conjunto daria um grande hostel para turistas, ou gabinetes de start ups...
Seria mais uma parceria, uma espécie de negócio win-win.
Mas tenho pouca esperança, com a fama das parcerias...
PS em 24 de dezembro de 2014 - a referência ao palácio negreiro da rua Ivens onde se encontra o Grémio Literário fundamenta-se no livro Escravos e traficantes no império português, de Arlindo Manuel Caldeira, ed. esfera dos livros. O palacete foi mandado construir por Angelo Francisco Carneiro, primeiro visconde de Loures, cujo título foi outorgado por D.Maria II, e que ganhara fortuna no tráfico de escravos de Angola para o Brasil. Este complemento fica para mais uma vez se verificar a promiscuidade entre o poder político, que concede títulos, e o financeiro, em ações de branqueamento de dinheiro subsidiando partidos políticos.
PS em abril de 2017 - o prédio da rua Ivens já foi vendido pelo metropolitano. A plataforma elevatória foi inaugurada, ignorando a sua taxa de utilização. Está em construção um prédio na rua do Crucifixo, mesmo ao lado das escadinhas de S.Francisco sem considerar a ligação á estação para cadeiras de rodas, perdendo-se assim mais uma oportunidade e dando muito jeito a que continue a utilizar-se o argumento "não há dinheiro"
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