sábado, 30 de setembro de 2017

Aeroporto do Montijo - VIII a Ryanair

Não me dá prazer nenhum ver uma companhia aérea em apuros, quer seja a TAP quando há uns tempos teve os seus problemas nos voos de verão, quer agora a Ryanair a cancelar voos.
Parece que tem 400 aviões e 4000 pilotos, que alguns deles sairam e que houve um problema na elaboração das escalas. Parece também que desistiu de comprar uma participação na Alitalia.
 Isto é, o panorama não é tranquilizante. Espera-se que seja uma crise passageira e que não seja um sintoma de ter atingido o patamar dos rendimentos decrescentes.
Porque também não me agrada que seja utilizado o argumento que temos de construir o aeroporto do Montijo porque a Ryanair precisa de estacionar na pista 17/35 e precisa de mais uma pista próximo de Lisboa. Não gosto que seja uma companhia estrangeira a condicionar o plano de infraestruturas aeroportuárias (o argumento utilizado foi: nenhuma companhia quer ir para o NAL de Alcochete).
Mas tenho de confessar, depois da ANA ter pago 3000 milhões de euros pela concessão a 50 anos, e desses 3000 milhões terem desaparecido na voragem da divida, temos pouca capacidade de decisão.

PS em 3 de outubro - a questão agravou-se, a companhia Monarch declarou insolvencia. Os especialistas explicaram que não foi surpresa, que desde 2004, quando optou pelo regime low cost que estava em declínio. Porque os destinos que explorava perderam volume de tráfego por causa do terrorismo, porque a concorrencia nas low cost é muito forte e praticamente só a Ryanair e a Easy Jet conseguem os preços tão baixos. Mas a Ryanair deu mostras de ter crescido mais do que o sustentável (terá sido apenas um erro de escalas?) e a Easy Jet não se mostrou interessada em ir par ao Montijo. Isto é, será que os preços das viagens aéreas são simples dumping? que as companhias não são rentáveis? que andam a acumular dívida ou beneficiam de subsídios disfarçados? Não há certezas, mas duvidas existem, escolher o aeroporto do Montijo porque a ANA e  Ryanair disseram que queriam, parece-me pouco curial. Especialmente quando me lembro do senhor presidente da ANA a dizer que não esperava mais do que 8 movimentos por hora no Montijo.
PS em 4 de outubro - com a devida vénia ao Expresso:
https://www.msn.com/pt-pt/financas/negocios/afinal-o-que-se-passa-com-as-low-cost/ar-AAsSqH2?li=BBoPWjC&ocid=mailsignout

também a Air Berlin declarou a insolvencia.  Outra das causas para a crise da Ryanair é a saída de pilotos para a Norwegian por razões slariais. Porém, consta que esta também está em crise por não ter dinheiro para pagar os aviões encomendados (será também um problema da TAP, mas por enquanto ocultam-se eventuais problemas e o montante da dívida). Talvez possa portanto concluir-se que chusmas de comentadores e especialistas em jornalismo económico nos andaram a enganar sobre as maravilhas da inovação, da competitividade e da capacidade de gestão das low cost. Na realidade, embora tenham aplicado alguma racionalidade na gestão, muitas vezes em prejuízo dos empregados, dos passageiros e da segurança (redução da margem de reserva de combustível, por exemplo) não conseguiram iludir as regras da economia clássica, que um investimento tem de ter retorno e que esse retorno, se não é serviço público a fundo perdido, tem de basear-se em receitas. As low cost parasitaram as companhias "normais" beneficiando das suas infraestruturas de manutenção, beneficiaram dos subsidios escondidos de taxas aeroportuárias reduzidas ou de agencias de turismo. Praticaram preços de dumping e deficitários. Depois protestavam contra as empresas públicas. Não me agrada ver companhias aéreas em dificuldades, até porque isso traduz-se em dificuldades para os seus tripulantes e para o turismo, mas desagrada-me também ver companhias low cost a dizer a um país onde deve ter os seus aeroportos. 

PS em 10 de novembro de 2017 - apesar das dificuldades da Ryanair, parece que ela vai querer montar no Porto um hub para os seus voos de maior curso e reforçar a ponte aérea Lisboa-Porto. Parece estranho, parece imprudente, mas confesso a minha ignorancia nestas coisas. Apenas lamento o desperdício energético em ligações aereas de 300km, em detrimento da pobre linha do norte.

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