domingo, 14 de dezembro de 2025

Aluimento de terras e muro na estação de Santarém em janeiro de 2024

 

A fotografia da edição de 10 de dezembro de 2025 do Notícias do Sorraia diz respeito a um aluimento de terras e muro junto da linha do Norte na estação de Santarém que ocorreu em 19 de janeiro de 2024. Em agosto de 2025 o jornal O Mirante informou que o concurso para reforço das barreiras e contenção dos taludes (e, espero eu, para drenagem de águas sob os terrenos e sob as barreiras sem o que novos aluimentos acontecerão) será lançado em janeiro de 2026, dois anos depois do aluimento, seguindo-se o tempo do concurso, adjudicação e obra.  As notícias de aluimentos por essa Europa fora vão aparecendo, mais ou menos elacionadas com alterações climáticas. De modo que, nós por cá, todos bem.


https://omirante.pt/sociedade/2024-06-22-aluimentos-de-terras-condicionam-vias-ha-meses-em-pernes-e-santarem-eb773110



imagem de junho de 2024

imagem de agosto de 2025 indicando-se o local do aluimento; estimo o declive so talude à esquerda em 70%

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Apresentação da proposta do Consórcio para a Alta Velocidade na Área Metropolitana do Porto na Ordem dos Engenheiros da Região Norte, 5 de dezembro de 2025

 

video da apresentação  :

https://www.youtube.com/watch?v=g4K1D7kEUgI


Felicito a Ordem dos Engenheiros, Região Norte pela realização deste webinar. O tema é de um assunto público com elevado impacto na economia nacional e como tal deve ser atempadamente discutido e resolvido. A participação no webinar, quer presencial quer on line confirma o interesse público.
Contudo, como aliás dito no webinar, atualmente estaremos mais numa fase explicativa das soluções possíveis, tendo-se ultrapassado a fase de definição de traçados e de requisitos mínimos.
Como também referido  por um assistente presencial, houve uma altura em que se pensava a estação de Alta Velocidade em Devesas, com correspondência com o metro e partilha com este da nova ponte a nascente da ponte da Arrábida e seguimento em túnel para o Aeroporto, hipótese que mereceu a concordancia de princípio do então presidente de Câmara. O traçado pela nova ponte a nascente da ponte da Arrábida economizaria cerca de 3 km relativamente ao percurso por Campanhã, o que, considerando a necessidade de túneis na zona urbana até ao aeroporto, não será de desprezar. Prevaleceu porém a ideia de juntar a reurbanização, incluindo a demolição dos edifícios da moagem, do lado nascente da estação de Campanhã e fazer desta uma estação de AV, ficando assim uma extensão de menos de 20 km com 3 estações de AV, o que não parecerá correto embora não inédito.
Provavelmente com elevada probabilidade, neste momento não será possível fugir a esta situação, consequência da estrutura de decisão, que veio a ser consagrada na RCM77/2025 enquanto atribuição à IP da decisão de soluções de traçado, e enquanto prioridade dos critérios ambientais da APA. Como inscrito nos relatórios finais das consultas públicas, os fatores técnicos específicos dos modos de transporte são considerados irrelevantes perante a relevância dos fatores ambientais. Isto é, as melhores soluções técnicas podem vir a ser desprezadas, não só por razões financeiras, mas também por considerada irrelevância perante as questões ambientais. Como consequência, a sucessão de investimentos poderá ser um conjunto de elementos pouco compatíveis funcionalmente entre si, ou por outras palavras, após a escolha e execução do traçado de um troço poderá ser difícil encontrar uma boa solução técnica de expansão por falta de uma visão integrada no início das tomadas de decisão. Permito-me, pois, sustentar que a solução 3 estações de AV numa curta extensão releva a inconformidade de não se estudar um plano integrado abrangendo, no caso nacional, todas as componentes das redes transeuropeias interoperáveis TEN-T no território nacional e sua interligação com a rede espanhola de Alta Velocidade, incluindo os planos de mobilidade das áreas metropolitanas e as ligações aos portos, tudo conforme o regulamento 2024/1679 (evoco a natureza jurídica vinculativa dos regulamentos cujo incumprimento pode provocar uma decisão de execução ou implementing decision pela Comissão Europeia). Por outras palavras, o tema exigiria que, em caso de insuficiência de recursos humanos, como referido pelo colega vice-presidente da IP ("o Estado não tem gente nem tempo"), fosse promovido um concurso público internacional, e nunca por ajuste direto, para seleção de consultores de referência internacional para elaboração do mencionado plano integrado em coordenação com a DG-MOVE/coordenador do corredor atlântico, com o coordenador do governo espanhol do corredor atlântico e com a entidade francesa do corredor. Dado o período crítico vivido internacionalmente, será indispensável obter apoio não só financeiro mas também técnico, precisamente para melhorar as candidaturas a fundos comunitários compatibilizando as especificações com os requisitos do regulamento citado (recordo que não foram aprovadas candidaturas de Portugal ao CEF de julho de 2025). Igualmente seria provável que o plano integrado recomendasse a redução do número de lotes e revisse com o compardor público o esquema financeiro das PPP a 30 anos.
É verdade que a aplicação estrita dos princípios constitucionais arrastaria a discussão no tempo com o consequente aumento de custos. Mas esses princípios existem, nomeadamente inscritos no artigo 48 (direito à participação e à informação), e no art.165.1.z (competência exclusiva legislativa da Assembleia da República, não do Governo, a menos de autorização explícita no seguimento). E não será respeito por esses princípios o deixar as explicações para uma altura em que já não será razoável introduzir alterações de fundo.

Cingindo-me às explicações fornecidas no webinar,  listo os seguintes comentários adicionais:  




Informação relacionada :

Comunicação apresentada no 11º congresso do CRP em maio de 2025

Carta aberta para o senhor ministro das Infraestruturas em 29 de novenbro de 2025

          Reiterando as felicitações pela realização do webinar e na expetativa da divulgação do respetivo video na totalidade e do regresso ao tema dentro de pouco tempo, nomeadamente para o debate de ideias para as consultas públicas dos restantes troços da LAV Porto-Lisboa, apresento os meus melhores cumprimentos


Fernando Santos e Silva,  O.Eng nº 10973, esp. Transportes e Vias de Comunicação  



PS em 13dez2025 - Comentário ao artigo                            https://www.sabado.pt/opiniao/convidados/joao-paulo-batalha/detalhe/o-tgv-vai-de-mota     

 De facto,a tática usada pela IP e pelo Consórcio (são realmente amigos para as ocasiões contrariamente aquele ditado amigos, amigos, negócios à parte) é sábia, conseguem desiar as atenções para a questão da localização da estação ou em Sto Ovidio ou em Vilar do Paraíso e então eternizar-se-á a discussão qual a versão em que há mais túneis e a versão em que há mais expropriações. Claro que fazer a estação à superfície é mais barato se as expropriações forem pequenas. Mas o desvio é o de um traçado mal amanhado concebido para aumentar as receitas da CMP com a reurbanização de Campanhã quando  o traçado original era o correto Devesas-Aeroporto (menos 3 km de tuneis do que por Campanhã e pelo norte do Porto, ligação pela linha rubi do metro a Campo Alegre, na zona da faculdade de arquitetura a nascente da ponte da Arrábida;  2 estações de AV, Devesas e Aeroporto e não 3).. Tambem o desvio serve para não se falar na inconformidade face ao regulamento 1679 do tráfego exclusivo para passageiros e de bitola ibérica, quando o regulamento diz tráfego misto e bitola europeia.
E assim vamos, a ver se o TdC diz uma coisa muito simples que o BEI já disse, o caderno de encargos dizia uma coisa e o o concurso foi ganho pelo consórcio com base no caderno de encargos logo tem de se perguntar aos concorrentes que perderam o que acham da mudança do local da estação. No caso de Taveiro e Coimbra B o concurso foi anulado embora a versão estação em Taveiro seja superior à estação em Coimbra B (evita a quadruplicação da linha suburbana embora exija uma ligação de metro que agora com a moda do metrobus não existe).
Pobre linha de Alta Velocidade Porto-Lisboa. E quanto à de Lisboa-Madrid, pobre implementing decision.

Declaração de interesse - serve esta declaração para me justificar junto dos meus amigos do Norte que a minha proposta de 2 estações de AV apenas, em Gaia/Devesas e no Aeroporto de Pedras Rubras assenta nos mesmos princípios do que proponho para a Área Metropolitana de Lisboa, a estação central em Sacavém ou no AHD e travessia do Tejo a partir da zona da foz do Trancão para Alcochete Norte, eventualmente com ilha artificial junto da margem esquerda, e outra estação no NAL, em linha com a LAV Madrid-Lisboa.

Carta aberta em 29 de novembro de 2025 para o Exmo Senhor Ministro das Infraestruturas sobre a linha de Alta Velocidade Madrid-Lisboa e a política ferroviária nacional

  

 Carta aberta para o Exmo Senhor Ministro das Infraestruturas sobre a linha de Alta Velocidade Madrid-Lisboa e a política ferroviária nacional



Tomamos a liberdade do envio desta carta aberta na esperança de que a nossa posição, sobre o desenvolvimento da rede de Alta Velocidade em Portugal, seja melhor acolhida pelos decisores governamentais e pelos partidos com representação parlamentar, num contexto em que a inoperância de sucessivos governos vem contribuindo para uma complexidade cada vez maior na problemática da integração da parte portuguesa no corredor atlântico das redes TEN-T e consequentes constrangimentos para a economia nacional através das dificuldades para o crescimento das exportações de bens e para a transferência de passageiros e cargas de outros modos energeticamente menos eficientes para a ferrovia. 

Rede única ou duas redes 

Os recentes acontecimentos de um modo ou outro ligados à Alta Velocidade em Portugal, nomeadamente a "implementing decision" de 30 de outubro de 2025, permitem-nos ter essa expetativa, embora se mantenha a divergência principal entre nós. A IP e o MIH insistem no PFN (à exceção daquela frase no ponto 2.2 "são inegáveis as vantagens da bitola europeia ... para as exportações portuguesas"), uma rede única de bitola ibérica, enquanto nós advogamos, a exemplo de Espanha - ADIF convencional e ADIF AV - a gestão de duas redes, uma de bitola ibérica, existente, e outra de bitola europeia, de Alta Velocidade e de alto desempenho para mercadorias (uma linha de pendentes reduzidas e curvas de raio elevado para mercadorias permite esperar um consumo de 30 Wh/ton-km, cerca de 75% do consumo específico em percursos como o da atual Beira Alta). Também destacamos o exemplo do Rail Baltica em que as ligações em bitola russa entre a capital da Lituania Vilnius e Kaunas coexistirão na primeira fase com o corredor Talin-Polónia em bitola europeia. 

 A definição dos traçados na AML 

 Recordamos a aparente inconformidade do PFN com a legislação sobre a gestão dos instrumentos de ordenamento do território, ignorando por exemplo, na definição de traçados, o PROTAML de 2002, por atualizar em cooperação com a AMT, o IMT, as CCDR, a AML, a academia, inconformidade em que incorre igualmente a RCM 77/2025 ao entregar à IP a decisão de traçados e de localização da TTT, independentemente da já existência de consultorias sobre os traçados das ferrovias na AML, TTT e serviço do NAL. Não existindo legislação que valide um monopólio na gestão de infraestruturas e não sendo a IP operadora, não parecerá que a sua indigitação por aquela RCM deva prevalecer sobre, por exemplo, a constituição de uma comissão técnica independente que estabeleça o programa de um concurso público internacional para seleção de um consultor de referência, de preferência sem ser por ajuste direto (o que nos leva a interrogarmo-nos sobre a evolução da auditoria externa ao Ferrovia 2020 pedida pela AMT). 

 O caso do troço Lisboa-NAL-Évora 

A seleção dos traçados é uma questão crítica, numa altura em que ainda se discute a ligação da LAV Porto-Lisboa a Lisboa pela margem direita ou pela margem esquerda e a localização da TTT em função do serviço ao NAL de passageiros e de mercadorias. Sublinha-se que o traçado por Chelas Barreiro se traduz num percurso Lisboa-NAL de mais de 10km relativamente aos traçados Beato Montijo ou Foz do Trancão-Alcochete com o consequente consumo de energia superior. Embora se possa considerar como um problema jurídico delicado e com contra-indicações, poderia negociar-se com o consórcio ELOS a eliminação da indemnização devida pelo Estado por desistência do contrato, integrando-o na revisão do projeto da ligação Lisboa-NAL-Évora. 

 Disposições constitucionais 

 Recordamos que a informação sobre a evolução de todo o processo não deve limitar-se a uma consulta pública do EIA quando já nada se pode alterar por ser dada maior relevância aos fatores ambientais aprovados, antes deve cumprir o artigo 48 da Constituição (direito à participação em assuntos públicos e à informação sobre eles ). Igualmente lembramos que a competência legislativa sobre as bases do ordenamento do território, de que a mobilidade é fundamental, é exclusiva da Assembleia da República, não do Governo (a menos de autorização deste, obrigatoriamente expressa, art.165.1.z). 

 Normalização. O regulamento 2024/1679 

 Sublinhamos ainda o nosso acordo com as palavras do senhor ministro num dos seus "tens um minuto?". Graças à sua formação de engenheiro, afirma que a normalização é essencial para a interoperabilidade, mas depois reduz a interoperabilidade à relação com a rede ibérica de Espanha, que de facto se atrasou no desenvolvimento da rede de mercadorias, apesar do regulamento 2024/1679 referir o objetivo 2050 (rede "comprehensive") e repetir a prioridade da integração em interoperabilidade plena das linhas de mercadorias nos corredores internacionais segundo o considerando 31 e os artigos 12.1.a, 13.a, 13.b, 20.a, 44.a, 44.c e 44.e do regulamento. Daí a crítica ao projeto do troço da linha de AV Porto-Oiã com pendentes de 2% e curvas de raio inferior a 3000 m. 

  As vantagens da bitola europeia para as exportações 

 A questão da rede de mercadorias interoperável com a Europa é essencial para planear o futuro da economia nacional. Já na atualidade exportámos em 2024 para a Europa além Pirineus, por modos terrestres (por modo ferroviário 1% em valor e por modo rodoviário 99% em valor das exportações por modos terrestres) 6 milhões de toneladas no valor de 26855 milhões de euros e para Espanha 11 milhões de toneladas no valor de 17295 milhões de euros (dados do INE). É a interoperabilidade com a Europa que deve ter prioridade, sem menosprezo pelos nossos parceiros ibéricos, sendo para mais imperativa a transferência de carga rodoviária para a ferrovia por razões ambientais e de congestionamento das estradas (o camião elétrico terá um consumo específico por ton-km 4 vezes superior ao do comboio). 

 O alinhamento dos planos nacionais com a política de transportes da União 

E chegados aqui não podemos deixar de recordar outra afirmação do senhor ministro numa entrevista na TV: "não podemos contrariar os regulamentos europeus" ... o que nos leva ainda para além da discussão sobre os componentes essenciais da interoperabilidade e seus prazos, a bitola, o ERTMS, o FRMCS sucessor do GSM-R, os 25 kVAC, os 740 m de comprimento do comboio de mercadorias e sua desejável duplicação ... e que também nos remete para o art.60 do sistematicamente citado regulamento 1679, "Os Estados membros assegurarão o alinhamento dos planos nacionais com a política de transportes da União e as prioridades e os prazos do regulamento". 

 Os eixos variáveis 

Longe vão os tempos em que os defensores da continuidade da bitola ibérica diziam que a bitola não era um problema, ou que era uma falsa questão quando já existiam os eixos variáveis. É um princípio experimental da engenharia que qualquer componente adicional vai reduzir a fiabilidade do sistema e aumentar as necessidades de manutenção, conduzindo a novos componentes para correção desses efeitos. A experiência dos comboios de eixos variáveis na linha de Alta Velocidade da Galiza comprovou-o, pese embora o elevado nível da engenharia da Talgo, penalizada pelo seu voluntarismo. Assiste-se a um impasse na promoção dos vagões de mercadorias de eixos variáveis, e não consta que algum fabricante esteja disposto a investir em locomotivas de eixos variáveis. Comprometida assim a passagem "seamless"nas fronteiras de bitolas diferentes do artigo 13.a . 

 Acontecimentos importantes relativos à Alta Velocidade com impacto em Portugal 

 Perdoe-se-nos a extensão do que pretendíamos ser uma introdução à situação atual, em que acontecimentos importantes relativos à Alta Velocidade com impacto em Portugal ocuparam a comunicação social durante alguns momentos: 

  •  a nomeação do novo comissário europeu dos transportes, Apostolos Tzitzikostas e sua visita a Portugal em fevereiro de 2025. 
  •  a cerimónia em julho de 2025 de assinatura do contrato de concessão do 1º troço da LAV Porto-Lisboa, Porto-Oiã, em regime de parceria publico privada para projeto de execução, construção, manutenção e financiamento por 30 anos. Graças à participação da presidente do BEI Nadia Calvino, do diretor geral do BEI Christophe Laloux, da vice-presidente da CE para a Transição limpa, do comissário Apostolos Tzitzikostas, com declarações altamente elogiosas para as entidades portuguesas, esta cerimónia serviu de promoção da imagem da IP enquanto entidade coordenadora principal da Alta Velocidade em Portugal em sintonia com a CE. Todavia, algo parece não estar bem quando o financiamento atribuido pelo BEI a Porto-Oiã é um empréstimo de 875 milhões de euros (previstos 3.000 milhões para a totalidade da linha), além do financiamento de 480 milhões do CEF 2024. Como sinal de alarme verificou-se que o CEF 2025 não atribuiu a Portugal nenhum financiamento, provavelmente pelo não cumprimento dos requisitos de interoperabilidade como a bitola europeia e os limites das pendentes para tráfego misto. Situação preocupante considerando os custos estimados (Porto Oiã 2.000 milhões, Porto-Lisboa-9.000 milhões) e a dependencia do financiamento pelas próprias PPP a 30 anos. Em vez de discursos de satisfação pareceria mais indicado negociar com a CE uma assistencia técnica e financeira (recorda-se os arts 170 a 172 do TFEU) compatível com os requisitos da interoperabilidade, para alinhamento das estratégias nacionais e comunitárias. 
  •  a nomeação do novo coordenador do corredor atlântico, François Bausch e sua visita a Sines, ao troço Évora-Caia e à linha da Beira Alta em outubro de 2025, no que foi apresentado pela IP e pelo novo coordenador como "contribuição para uma rede mais interoperável de ligação da península ibérica ao centro da Europa", o que nos recorda, pelo contraste entre as felicitações de uns e a insatisfação do outro, as palavras do anterior coordenador Carlo Secchi, no seu workplan de 2022: "The completion of the high-speed line between Lisboa and Caia-border ... and a migration to European standard track gauge should also be considered. There are up to forty daily flights both ways between Lisboa and Madrid, we cannot afford to wait until 2050 to shift this traffic to rail.") 
  •  emissão pela CE em 30 de outubro de 2025 da implementing decision com o calendário da LAV Lisboa-Madrid, diferindo a data de inauguração com interoperabilidade plena de 2030 para 2034 considerando as dificuldades financeiras do país. 
  •  a comunicação da CE ao Parlamento Europeu de 5 de novembro de 2025 com o plano de ligação das capitais europeias "Connecting Europe through High-Speed Rail" 
  •  a comunicação da CE de 19 de novembro de 2025 sobre novo regulamento da mobilidade militar, que será mais um elemento de pressão para o cumprimento dos requisitos de interoperabilidade e aceleração da execução do regulamento 1679 ("dual use", considerando 45 e artigos 8.1.b e 12.1.f) 
 
A implementing decision de 30 de outubro de 2025 sobre a LAV Madrid-Lisboa 

 Porém, o acontecimento principal, contrariando a imagem pretendida de sintonia das estratégias da Comissão Europeia e de Portugal, foi a emissão em 30 de outubro de 2025 pela CE de uma decisão de execução ("implementing decision") propondo um calendário concreto para a execução da linha de Alta Velocidade Lisboa-Madrid. Pouco se falou antes, em Portugal sobre a eminência da publicação desta implementing decision (o assunto foi tratado no programa Negócios da Semana da SIC Notícias de 29 de outubro) embora se suspeitasse dela por algumas informações com origem em eurodeputados, veiculadas por orgãos de imprensa espanhola e debatidas num seminário em Madrid promovida em meados de outubro de 2025 pela associação Sudoeste Ibérico que defende a rápida construção da linha de Alta Velocidade Madrid-Extremadura-Lisboa. Neste seminário o comisionado do governo espanhol para o corredor atlântico, Sebastian Ruiz, insistiu na necessidade dos Estados membros cumprirem os regulamentos, sob pena de intervenção da CE. Mais uma vez o secretismo. Destaque entretanto para a concessão pelo BEI de um empréstimo de 1700 milhões milhões de euros para os últimos 93 km do Y basco.

 Comparativo dos textos da implementing decision e da nota do MIH 

 Logo o MIH se apressou a publicar uma nota de imprensa que não dizia exatamente o mesmo que a implementig decision. Diz o texto da implementing decision no art.2.3.a e 2.3.b: “Cada um dos países deve elaborar até ao f inal de 2027 um plano coordenado para a implantação da bitola nominal da norma europeia de 1 435 mm na linha de alta velocidade entre Lisboa e Madrid, em conformidade com o artigo 17.º do Regulamento (UE) 2024/1679;” 
 Ao que a nota do MIH contrapõe: "Portugal e Espanha comprometem-se a avaliar até 2027 os custos e benefícios socioeconómicos e impacto para a interoperabilidade da migração da bitola ibérica para a bitola europeia padrão. No caso de avaliação favorável, os dois países apresentarão um plano devidamente coordenado para a migração de bitola.” 

 A interpretação do MIH 

Pressente-se nesta frase a tentativa de evitar a introdução da bitola europeia no território nacional. Para isso, reproduziu o texto do artigo 17.3 que não é aplicável à totalidade da LAV no território nacional porque os trabalhos de construção dos troços Lisboa-Évora e Elvas-Caia ainda não começaram. Pode sim ser aplicado, embora não obrigatoriamente, ao troço Évora-Caia cujos trabalhos de construção se iniciaram antes de 18 de julho de 2024, marco fixado pelo regulamento 1679. No troço Évora-Caia, em que a bitola ibérica já foi instalada, pode falar-se em "migração", como referido no artigo 17.3, para a bitola europeia. O que não é o caso no troço Lisboa-Évora, o qual deve ser construido de origem em bitola europeia, conforme o regulamento. por fazer parte do corredor internacional atlântico da rede básica ("core"), independentemente de análises de custos benefícios. A IP também emitiu um comunicado sobre a implementing decision, garantindo para 2034 “a total interoperabilidade com a rede de alta velocidade espanhola”, o que deixa a dúvida se não será a interoperabilidade apenas com a parte em bitola ibérica da rede de alta velocidade espanhola (756 km em 3981km) em vez da rede europeia de bitola UIC.

 O caso da via única do troço Évora-Caia 

 O que poderia ser uma empreitada relativamente simples, "migrar" a bitola para europeia se se tivesse adjudicado a construção de via dupla conforme o projeto anterior do consórcio ELOS e não via única, em bitola ibérica, com plataforma dupla, revela-se agora de gravosa resolução. Isto porque grande parte do troço é em viadutos e nestes apenas estão construidos os tabuleiros e os pilares para uma das vias. Não existem tabuleiros para a segunda via e os respetivos pilares apenas têm a base. Isto é, voltar à obra para instalar segunda via nos viadutos equivale a obra nova. A segunda via construida em bitola mista (3 carris) permitiria a sua utilização por comboios de passageiros de bitola europeia e por comboios de mercadorias de bitola ibérica. Manter-se-ia a primeira via em bitola ibérica, em travessas polivalentes, até à "migração" para a bitola europeia, com minimização das perturbações durante a mudança de bitola. 

 A implementing decision fixa para colocação em serviço: 
  •  da linha Évora-Caia em junho 2026 (art.2.1.b) , 
  •  do ERTMS entre Évora e Elvas em dezembro 2027 (art.2.1d) 
  •  do ERTMS entre Elvas e Badajoz em dezembro 2028 (art.2.1.f) 
  •  da segunda via Évora-Caia em 2034, dependendo de confirmação da justificação (art.2.2.b.ii) 
 Estranha-se o requisito de confirmação da justificação da segunda via para serviço em 2034, numa linha integrada no corredor internacional atlântico para AV de passageiros e para mercadorias para exportação para a Europa, com o benefício adicional de evitar perturbações da operação na primeira via quando da mudança de bitola de ibérica para europeia. 

 O que diz o art.17 do regulamento 2024/1679 

 A implementing decision é clara ao fixar no art.2.3.a a data de dezembro de 2027 para apresentação de um plano coordenado com Espanha para instalação da bitola europeia na linha Lisboa-Madrid, conforme o art.17 do regulamento 2024/1679 
  •  ponto 1 : os Estados membros garantirão que qualquer linha da rede básica ("core") cujas obras de construção não tenham começado até 18 julho 2024 será construida com bitola europeia de raiz (em espanhol: "se entenderá por nueva línea ferroviaria toda línea cuyas obras de construcción no hayan empezado antes del 18 de julio de 2024") . Será portanto aplicável ao troço Lisboa-Évora e Elvas-Badajoz, tal como referido no workplan de 2022 do coordenador do corredor atlântico. 
  •  ponto 2 : não é aplicável à LAV Lisboa-Madrid por já estar planeada há muito (no regulamento em espanhol :"No obstante lo dispuesto en el apartado 1 del presente artículo, aquellos Estados miembros en cuyo territorio no esté prevista a 18 de julio de 2024 la conexión de ninguna nueva línea ferroviaria ..."). Não se justifica portanto uma ACB negativa para não construir em bitola europeia 
  •  ponto 3 : pode ser aplicado ao troço Évora-Caia como visto atrás e, como já está construido em bitola ibérica, deverá realizar-se uma ACB para avaliação da viabilidade de "migração" para a bitola europeia, como descrito acima 
  •  ponto 5 : é verdade que este ponto diz que pode ser concedida pela CE uma isenção temporária para dispensa da bitola europeia que só será concedida pela CE mediante uma ACB e uma avaliação negativas do impacto na interoperabilidade, da continuidade da rede e do parecer de Espanha (que não se espera seja negativo, considerando todas as declarações do comissionado del corredor atlantico Sebastian Ruiz e do ministro Oscar Puente relativas à escolha da bitola europeia para o troço Talayuela-Madrid da LAV-Madrid-Lisboa e da nova linha Huelva-Sevilha) .
 
Relação das ações previstas na implementing decision e dos prazos para a ligação AV Lisboa Madrid 

  • 31dez2025 - conclusão das obras do troço Évora-Caia (art.2.1.b da implem.decision) (pressupõe-se da 1ª fase, bitola ibérica/travessas polivalentes/viaúnica ver comentário acima) 
  •   31dez2025 - concurso dos estudos para o troço Caia-Badajoz gerido pelo consórcio europeu de interesse económico AVEP (ADIF/IP) (art.2.2.c) (pressupõe-se para bitola europeia) 
  •   30jun2026 - colocação em serviço de Évora-Caia (art.2.1.b) (pressupõe-se da 1ª fase, bitola ibérica/travessas polivalentes/via única ver comentário acima) 
  •   30jun2026 - início das obras de duplicação da via convencional Poceirão-Bombel (art.2.1.a da implementng decision) (pressupõe-se não fazendo parte do traçado de Alta Velocidade e executado com travessas polivalentes, mas seria mais correto com travessas mistas (3 carris)) 
  •   19jul2026 - avaliação com uma ACB da viabilidade da "migração" dos troços existentes no corredor internacional (caso Évora-Caia) e do impacto na interoperabilidade (art.17.3 do regulamento 1679 ) 
  •   31dez2027 - plano coordenado com Espanha para implantação da bitola europeia na LAV Lisboa-Madrid conforme o art.17 (art.2.3.a da implem.decision) (deduz-se que a implementing decision faz a equivalencia entre o fim da isenção temporária do art.17.5 e o limite de 31dez2034 para colocação em serviço da bitola europeia na LAV Lisboa-Madrid conforme o art.2.3.b) 
  •  31dez2027 - colocação em serviço do ERTMS entre Évora e Elvas (art.2.1.d) 
  •   31dez2027 - conclusão dos estudos para o troço Lisboa-Évora incluindo a TTT (art.2.2.a) 
  •  31dez2027 - adoção de um PMUS para a AML conforme o art.41.1 do regulamento 1679 
  •  31dez2027 - conclusão dos estudos para o troço Caia-Badajoz e decisão sobre data para a sua construção em bitola europeia e eventualmente de estação internacional, de modo a ser colocado em serviço antes de 31dez2034 (art.2.2.d) 
  •  31dez2028 - colocação em serviço do ERTMS entre Elvas e Badajoz (art.2.1.f) 
  •   31dez2029 - colocação em serviço da 2ª via convencional de Poceirão-Bombel (art.2.1.a) 
  •  31dez2030 - ligação Lisboa-Madrid em 5 horas com troços convencionais e de alta velocidade (pressupõe-se maioritariamente em bitola ibérica) (art.2.1 da impl.decision) 
  •   31dez2034 - ligação Lisboa-Madrid em 3 horas em AV (deduz-se do art.2.3.a e 2.3.b que integralmente em bitola europeia) 


 Proposta de seguimento para os cidadãos interessados 

 Considerando o histórico, com todas as dificuldades de organização, planeamento e financiamento, afigura-se difícil cumprir os prazos da implementing decision e do regulamento 1679, o que é uma boa razão para desenvolver as seguintes ações, ao abrigo do art.48 da CRP: 
 
1 - Monitorizar a evolução das medidas e a exequibilidade de cumprimento dos prazos referidos acima na implementing decision e no regulamento 1679, incluindo os traçados do serviço ao NAL, passageiros e mercadorias.

 2- Acompanhar a realização anual das reuniões de ponto de situação do art.3.1 da implem.decision de representantes de Portugal e Espanha num grupo de trabalho sob orientação do coordenador do corredor atlântico conforme o art. 53.4 do regulamento 1679. 

 3 - Acompanhar, para tudo o que se relaciona com a parte portuguesa das redes TEN-T, os contactos com o coordenador do corredor atlântico, o comissário dos Transportes da DG-MOVE, o comisionado del corredor atlantico espanhol para apoio técnico e para melhoria do financiamento da Alta Velocidade conforme os arts 170 a 172 do TFEU 

 4- Acompanhar a preparação da próxima cimeira de Huelva, nomeadamente para o controle do calendário de colocação em serviço de todos os elementos da rede portuguesa "core", "extended core" e "comprehensive" integrada nas redes TEN-T com respeito pelos requisitos da interoperabilidade plena, incluindo ERTMS, bitola europeia, alimentação elétrica, comprimento dos comboios, pendentes e raios de curvatura. Será importante respeitar as prioridades do regulamento 1679 (rede "core": Linhas AV Porto-Lisboa e Lisboa-Madrid e Sines/Leixões/Aveiro-Salamanca. A aproveitar a próxima construção da ligação em AV Huelva-Sevilha para promover a ligação em AV Évora-Beja-Faro-Huelva programada para 2050) 



 Ligações

 Regulamento 2024/1679 
Tratado de Funcionamento da União Europeia 

 Assinatura do contrato de concessão Porto-Oiã 

 Financiamento do troço Porto-Oiã 

 RCM 77/2025 e Plano Ferroviário Nacional 

 Exportações de bens por modo de transporte e local de destino 

 Intervenção do comisionado do governo espanhol para o corredor atlântico no foro Sudoeste Ibérico em 16 de outubro de 2025 (não cumprimento do regulamento 1679 por França no minuto 6.26, por Portugal no minuto 7.24) 

 Implementing decision de 30out2025 da CE sobre a LAV Lisboa-Madrid 

 Comunicado do XXV Governo sobre a implementing decision 

 Comunicado da IP sobre a implementing decision 

 Plano para a rede ferroviária europeia de ligação das capitais 

 Comunicação de 19 de novembro de 2025 da CE sobre novo regulamento sobre mobilidade militar 

 Empréstimo do BEI para conclusão do Y basco 

 Programa na TV sobre financiamento das linhas de AV e a implementing decision 


 Mais uma vez pedimos desculpa pela extensão da missiva, mas a complexidade do tema e as implicações negativas que orientações menos corretas dos investimentos ferroviários poderão trazer para a economia nacional justificará os incómodos. 

 Com os melhores cumprimentos subscrevem-se, enquanto representantes dos subscritores em 2017 do Manifesto “Portugal, uma ilha ferroviária?” 

 Lisboa, 29 de novembro de 2025 



Fernando Santos e Silva, eng.eletrotécnico, ex técnico do Metropolitano de Lisboa
Fernando Teixeira Mendes, eng.eletrotécnico, empresário
Henrique Neto, empresário
Mário Lopes, eng.civil, professor no IST
Mário Ribeiro, eng.mecânico, ex técnico da TAP
Rui Rodrigues, consultor de Transportes

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

A POLÍTICA FERROVIÁRIA NACIONAL E AS REDES TEN-T

 

A POLÍTICA FERROVIÁRIA NACIONAL 

E AS REDES TEN-T

Comunicação apresentada no 11ºcongresso do CRP em maio de 2025

 

 

Fernando de Carvalho Santos e Silva

Ex técnico do Metropolitano de Lisboa na Direção de Engenharia e Desenvolvimento das Instalações Fixas

Lisboa, Portugal

santos.silva45@hotmail.com

 

RESUMO: Sugere-se aos decisores institucionais uma mudança urgente da política ferroviária nacional para ligação à rede única ferroviária europeia, e para informação pública das vantagens económicas e ambientais duma política alinhada com os objetivos da União Europeia. Três motivos são determinantes: i)   obrigação jurídica de cumprimento do regulamento 2024/1679 [1] das redes interoperáveis TEN-T, em 3 estádios, 2030, 2040 e 2050, conforme os objetivos de coesão do TFUE; ii)  ultrapassagem  em valor das exportações de bens para a Europa além Pireneus relativamente a Espanha, induzindo a necessidade da transferência do tráfego rodoviário para a ferrovia; iii) cumprimento dos objetivos do Green Deal com  aumento da quota modal do transporte ferroviário e transferência das ligações aéreas de Lisboa para Porto e Madrid para ferrovia AV (Alta Velocidade). Estes objetivos exigem a construção das novas linhas de interoperabilidade plena do regulamento 1679, sugerindo-se a criação na IP de, além da área para gestão da infraestrutura existente, uma nova área para gestão da infraestrutura de AV e de transporte de mercadorias  no estrito respeito do regulamento. A essa nova entidade competiria, no AEIE (Agrupamento Europeu de Interesse Económico) com ADIF/AV e SNCF, o planeamento integrado das novas redes em toda a Península Ibérica.

 

PALAVRAS-CHAVE: política ferroviária, redes interoperáveis TEN-T, regulamento 2024/1679, exportações de bens, UE, Alta Velocidade

 

 

1 – Situação atual

 

A política nacional ferroviária pode caracterizar-se por, num contexto na IP de carência de recursos humanos e redução de investimentos e de apertado controle de despesas operacionais e de manutenção, privilegiar a manutenção ou a beneficiação das linhas existentes em detrimento da construção de uma rede independente com os parâmetros de interoperabilidade plena para integração na rede única ferroviária europeia nos termos do regulamento 2024/1679 das redes interoperáveis TEN-T (Trans European Networks – Transport).

Esta orientação, que se julga de alterar, está expressa no PFN (Plano Ferroviário Nacional): i) quando dá prioridade à interligação entre as novas linhas de AV (Alta Velocidade) e a rede existente, eternizando assim a bitola ibérica e o CONVEL através do STM [2]; ii) quando a põe de parte, apesar de  reconhecer as vantagens “inegáveis” da bitola europeia para o futuro das exportações de bens [3]; iii) ao reorganizar a rede de transportes da AML (Área Metropolitana de Lisboa) ignorando os procedimentos jurídicos de ordenamento do território.

No planeamento e gestão da operação do corredor atlântico, a IP participa nos agrupamentos europeus de interesse económico (AEIE)  juntamente com a ADIF, a SNCF  e a DB. Para a AV passageiros é o agrupamento AVEP (Alta Velocidade Espanha Portugal) e para mercadorias o RFC4 (antigo corredor 4).

A  política oficial do governo português reproduz a estratégia da IP e dos AEIE.

O corredor atlântico está definido no mapa das redes TEN-T (redes trans europeias – transporte) na figura 1. Na figura 2 mostram-se os mapas das linhas integrantes na península ibérica do corredor atlântico  para passageiros e para mercadorias com os objetivos 2030, 2040 e 2050.

 

Mapa

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Figura 1 – mapa dos corredores internacionais das redes TEN-T, corredor

atlântico a amarelo em:

(Regulation (EU) 2024/1679, primeiro mapa do Anexo III).

 

Mapa

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

 

Figura 2 – mapas das linhas de passageiros (à esquerda) e de mercadorias (à direita) do corredor  

atlântico na península ibérica em:

(Regulation (EU) 2024/1679, mapas 7 do Anexo I).


2 – Investimentos em AV  em outros países

 

É desejável que os técnicos de transportes e as revistas da especialidade divulguem junto dos cidadãos o que se vai passando no domínio da Alta Velocidade em outros países, eis uma pequena relação:

 

- Polónia – projetada a construção do túnel de Lodz, essencial para a estrutura em Y da rede de Alta Velocidade da Polónia [4]

- Marrocos – iniciada a construção da linha Casablanca-Marraquexe, de 430km. A juntar à rede existente de 200km [5]

- Vietnam – aprovada pelo Parlamento a construção da linha Hanoi-Ho Chi Minh, de 1541km e estimativa de 67.000 milhões de euros, a pagar em 18 anos,  para um tráfego anual de 60 milhões de passageiros [6]

- Países Bálticos – Decorre a construção, com o objetivo 2030, da linha de AV de 870km Rail Baltica que unirá os 3 países à Polónia [7]

- República Checa -  Lançados os primeiros concursos para o projeto da linha de AV de 276km Praga-Brno-Ostrava para início da construção em 2030 e entrada em serviço em 2035 [8]

- Tailândia e Abu-Dhabi, Canadá – Anunciados planos para linhas de AV [9] e  [10]

- UK – Apesar do aumento excessivo dos custos, prossegue a construção da linha de AV (HS2) Londres-Birmingham [11] porque  a resistência ao rolamento da roda sobre o carril é inferior à do pneu sobre o asfalto, determinando (em igualdade de desenvolvimento tecnológico e de especificações de segurança a colisões) a compensação do maior peso do ferroviário, menor consumo específico de energia e economia de emissões de gases poluentes. Identificadas as principais causas do aumento de custos: projetos deficientes, má gestão, interferências dos poderes central e local, burocracias, constrangimentos por ambientalistas.

- México – Prevê-se a construção sob concessão à Canadian Pacific Kansas City de uma linha de AV de 210km entre Cidade do Mexico e Queretaro  [12]. Em curso estudos de viabilidade para uma ligação de AV de 400km de Monterey a San Antonio (Texas, USA). A rede ferroviária convencional do Mexico tem cerca de 27.000 km, incluindo os primeiros troços do Tren Maya (velocidade máxima 160km/h) já em serviço com investimento de 1.300 milhões de euros em 1480km de que  60% são modernização de linhas pré-existentes.

- Espanha – Aprovado o traçado Madrid-Talavera em bitola europeia exclusivo passageiros da linha AV Madrid-Lisboa  (Talavera-Oropesa para tráfego misto  passageiros e mercadorias) [13] .  De acordo com a sua declaração anual, a rede da ADIF Alta Velocidad dispõe de 2.606km de vias de bitola europeia, 694km de  bitola ibérica, 102km de bitola mista (europeia e ibérica), estando 2008 km equipados com ERTMS [14].

 

Por razões de economia de investimento, operação e manutenção decorrentes das caraterísticas da Normalização, deverão ser cumpridas nestes projetos as especificações da Alta Velocidade conforme o regulamento 1679 da UE.

No caso português os objetivos principais com o cumprimento das especificações do regulamento, incluindo bitola europeia e ERTMS e prescindindo de pedidos de isenções,  serão a transferência para a ferrovia de passageiros das ligações aéreas Lisboa-Porto e Lisboa-Madrid e de carga rodoviária nas exportações para mais de 300km por modos terrestres.

A insistência na bitola ibérica poderá ser um fator de limitação do crescimento económico a médio prazo. No caso do tráfego de passageiros, porque não é crível que os operadores europeus não espanhóis queiram explorar Lisboa-Porto-Vigo  e Lisboa-Madrid, o que lhes exigiria  aquisição de material não standard de eixos variáveis e intercambiador.

No caso das mercadorias, porque a simples operação de transbordo de contentores ou mudança de eixos ou bogies aumenta o custo do frete e desincentiva a transferência da carga rodoviária para a ferrovia, a solução de eixos variáveis em mercadorias tem a contraindicação das dificuldades de manutenção longe da base.

 

3 - Razões para uma nova política ferroviária económica e ambientalmente sustentável a médio/longo prazo

 

3.1 –  A obrigação jurídica de cumprimento do regulamento 2024/1679 das redes interoperáveis trans europeias TEN-T, consagrada em 3 estádios, rede “core” 2030, rede “extended core” 2040 e rede “comprehensive” 2050, e nos objetivos de coesão do TFUE (Tratado de Funcionamento da União Europeia [15] destacando-se:

Artigo 170:  … a União contribuirá para a criação e o desenvolvimento de redes transeuropeias nos setores das infraestruturas dos transportes, das telecomunicações e da energia.

Artigo 171: … a União realizará todas as ações que possam revelar-se necessárias para assegurar a interoperabilidade das redes, em especial no domínio da harmonização das normas técnicas

Artigo 288 : - Os regulamentos comunitários têm caráter geral, são obrigatórios em todos os seus elementos, devem ser integralmente respeitados e são diretamente aplicáveis por todos os Estados-Membros [16]

 

3.2 – A realidade das exportações de bens para a Europa além Pireneus ultrapassarem em valor as exportações para Espanha, determinando a necessidade de coordenação com Espanha e França do desenvolvimento das ligações ferroviárias para a transferência do tráfego rodoviário para a ferrovia.

De acordo com os dados do INE, as exportações de bens por todos os modos em 2024 foram  [17]:

para a UE:                            26,2 milhões de toneladas   

                                             no valor de 56.277 milhões de euros,

incluindo para Espanha:      14,6 milhões de toneladas (55,7% do total para a UE)

                                             no valor de 20.610 milhões de euros (36,6%) .  

Comparando as exportações por modos terrestres para Espanha e para o resto da Europa (tabela 1) justifica-se o arranque imediato da coordenação com Espanha e França para a médio/longo prazo se ter a interoperabilidade plena para satisfação do crescimento das exportações além Pireneus com transferencia da rodovia para a ferrovia (5,9 Mton anuais são cerca de 17.000 toneladas por dia em 500 camiões, equivalendo a 13 comboios diários).

 

Tabela 1  -  exportações de bens por modos ferro e rodoviário em 2024

 

soma dos 2 modos

Ferro

Rodo

soma dos 2 modos

ferro

Rodo

 

em  Mton

em   M€

UE

16,96

0,124

16,834

44186

422

43764

Espanha

11,01

0,100

10,910

17295

132

17163

UE-Espanha

5,95

0,024

5,924

26891

290

26601

                 INE (2024), exportações de bens para UE por modo de transporte (NC6), Lisboa

 

 

 


 

Em 2023 a distribuição modal em peso foi [18] :

modo marítimo     20,7%

modo ferroviário     0,5%

modo rodoviário    68,3%

modo aéreo              0,03%

instalações fixas      3,5%

 

Confirma-se assim o que o PFN referiu sobre as inegáveis vantagens para o futuro das exportações de bens nacionais através das ligações ferroviárias à Europa além Pireneus. Não só o valor das exportações para o resto da UE além Pireneus ultrapassa o valor exportado para Espanha, como o tráfego rodoviário para Espanha (10,91 milhões de toneladas) e de travessia dos Pireneus (5,92 milhões de toneladas):  i) é um desperdício de energia (devido à maior resistência ao rolamento do pneu sobre o asfalto relativamente à roda sobre o carril e ao efeito de escala na equivalência de 1 comboio a n camiões);  ii) produz mais emissões de CO2;  iii)  é fator de congestionamento rodoviário.

Evidentemente que a curto prazo será mais cómodo e económico manter o modo de proceder atual, mas a médio e longo prazo rejeitar a bitola europeia e o ERTMS prejudicará gravemente o crescimento das exportações com  consequências negativas para a economia nacional.

 

3.3 -  o cumprimento dos objetivos do Green Deal através do aumento da quota modal do transporte ferroviário e da transferência dos passageiros de via aérea nas ligações Lisboa-Porto e Lisboa-Madrid para a ferrovia de Alta Velocidade.

  

Estimativa de gastos adicionais de energia e de emissões do avião relativamente à Alta Velocidade:

Lisboa-Porto   Tomando a estimativa da IP para a linha de AV Lisboa-Porto de 10,5 milhões de passageiros por ano (apresentação IP de 19jan2024), ou cerca de 3000 milhões de passageiros-km por ano e admitindo um diferencial de consumo específico de 180 Wh/pass-km entre o avião e o comboio de AV para uma taxa de ocupação de 90%, obteem-se os  valores adicionais pelo avião de 550 milhões de kWh  por ano e 140.000 toneladas de emissões de CO2.

Lisboa-Madrid - Considerando 40 voos diários nos dois sentidos ou 7000 passageiros por dia, teremos  200 milhões de kWh por ano para o consumo adicional de energia por avião relativamente ao comboio de AV e estimativa de 50.000 toneladas de CO2.

 

 

4  – Possibilidades de financiamento no período 2021-2027

 

Dados os elevados investimentos necessários para a construção, em cada Estado membro, das linhas ferroviárias a integrar na redes TEN-T, é indispensável recorrer ao financiamento comunitário, incluindo a fundo perdido, em mecanismos como o CEF (Connecting Europe Facility) [19], NextGenerationEU (inclui o RRF Recovery and Resilience Facility) ou   empréstimos do BEI (Banco Europeu de Investimentos) [20]. Para estes últimos reclama-se a possibilidade de prestação de garantias (grants) por toda a UE ou por grupos de Estados membros, o que seria aplicável aos grandes investimentos nas ligações ferroviárias em bitola europeia ligando os portos nacionais à rede francesa. Desconhece-se se os atuais detentores dos cargos decisórios principais na UE, com a provável exceção do Tribunal de Contas ECA (European Court of Auditores) estiverem  disponíveis para o pôr em prática. A considerar ainda a possibilidade de alívio dos critérios de défice e dívida pública, por exemplo retirando do seu cálculo os custos dos juros do capital investido em infraestruturas e saúde.

É importante fator de ponderação  nos processos de candidatura aos fundos ou aos empréstimos um bem elaborado estudo prévio ou anteprojeto e uma análise de custos benefícios (ACB) abrangendo também a  contabilização das externalidades negativas e positivas.

 

A Comissão Europeia editou um guia para a elaboração de ACB [21] e um manual para o cálculo dos custos externos do transporte [22].

 

Em 2022 foi apresentada no 10º congresso do CRP [23] uma ACB comparando o procedimento atual (business as usual) com o expetável crescimento das exportações com ligações sem demoras adicionais na fronteira com Espanha (eixos variáveis com intercambiador, mudança de bogies ou de eixos, transbordos).

Resultados obtidos mostram-se na figura 3, para um investimento de 12000 milhões de euros (a totalidade das linhas TEN-T “core” em Portugal) com cofinanciamento comunitário de 40%, crescimento 3% ao ano e transferência até 2030 de 30% da carga rodo para a ferrovia: valor atual líquido VAL (NPV)  486 milhões de euros; taxa interna de rentabilidade TIR (ERR) 2,23%; relação benefícios/custos 1,11[24].

 

 

Tela de computador com texto preto sobre fundo branco

Descrição gerada automaticamente com confiança médiaFigura 3 – resultados da ACB apresentada no 10º congresso do CRP, Lopes, M et al. (2022). As linhas da rede TEN-T e os desafios para o transporte ferroviário de mercadorias além Pirenéus. Lisboa.

 

 

A considerar na definição das prioridades para a construção dos diferentes troços da rede TEN-T:

·        as quotas de exportações terrestres por região de origem (estimativa em 2021: região norte e centro 55%, AML e região sul 45%), o que deveria sugerir aos sucessivos governos e à IP mais atenção á linha nova Aveiro-Salamanca que integra o mapa das redes TEN-T em vez da ineficiente remodelação da linha existente (seria desejável para esta uma avaliação ex post)

·        a existência desde 2009 do projeto de execução AV Poceirão-Caia, cuja renegociação e aplicação parcial permitiria evitar o pagamento da indemnização ao consórcio e acelerar a ligação a Évora

·        segundo uma estimativa de crescimento de 3%/ano das exportações terrestres para 2030: 10 comboios de mercadorias para Espanha + 5 comboios de mercadorias para resto da Europa + 4 comboios de AV para Madrid

·        os ganhos de eficiência energética por substituição de viagens aéreas de passageiros Lisboa-Madrid e Lisboa-Porto, do transporte rodoviário de mercadorias para mais de 300km com construção de novos troços de ferrovia com menores gradientes e curvaturas.

 

O Tribunal de Contas Europeu (ECA) tem sido crítico da política ferroviária laxista  da Comissão Europeia que não pressiona suficientemente os Estados membros para o cumprimento dos objetivos da UE expressos na regulamentação obrigatória, especialmente nas redes de mercadorias.

 

 

Em 2018 o ECA apresentou o relatório “Rede ferroviária de Alta Velocidade na Europa: longe de ser realidade, não passa de uma manta de retalhos ineficaz”[25].

Em   2023 o ECA divulgou o relatório “Intermodal freight transport: EU still far from getting freight off the road”  [26]

A Comissão Europeia e a Ombudswoman desculpam-se com a soberania dos Estados membros que assim, por inércia ou para não prejudicar os lobies aeronáuticos e rodoviários, se vêem isentos de processos de infração por incumprimento dos regulamentos.

 

 

5 - Proposta de programa coordenado com Espanha e de faseamento da aproximação progressiva da bitola europeia e do ERTMS dos portos portugueses

 

Disseram-nos a IP e os sucessivos governos que o uso exclusivo da bitola ibérica é imposto por Espanha, cuja rede interna de mercadorias é maioritariamente em bitola ibérica. Sendo verdade,  o comissário espanhol para o corredor atlântico tem contudo, apesar de limitado, um orçamento para investir no seu corredor, esperando-se a curto prazo a ligação em via de 3 carris entre a fronteira francesa e a plataforma logística de Vitoria. Também no corredor mediterrânico se espera antes de 2030 a ligação em bitola europeia entre Barcelona e Valencia.

Apesar das limitações da rede de mercadorias espanhola reconhecida pelo próprio ministério com uma quota modal de 9% [27], a natureza vinculativa da regulamentação comunitária impõe a um Estado membro a obrigatoriedade  de coordenar com o Estado vizinho as ligações transfronteiriças e nunca a possibilidade de constituir um obstáculo às exportações desse Estado vizinho. É uma obrigação comunitária [28], extensível a França que tem adiado unilateralmente o aumento da capacidade do seu corredor atlântico, em oposição ao coordenador da DG MOVE [29] e ao comissário do governo espanhol para o corredor atlântico [30].

Por outro lado, o comissário do governo espanhol  para o corredor mediterrânico destacou em dezembro de 2024 no Forum Económico de Valencia a importancia da bitola europeia para as exportações para a Europa, nomeadamente das fábricas de baterias de Sagunto e Zaragoza, e referiu a informação do ministro de que o investimento no corredor mediterrânico em 2024 tinha sido perto de 1300 milhões de euros [31].

Saúda-se a referência pelo secretário de Estado do MITMA após a reunião de 16 de janeiro de 2025 com o seu homólogo português [32], à implementing decision (decisão de execução) 4886 de 2023-07-25 que trata do financiamento das travessias fronteiriças (cross border) [33]. Destaque igualmente para o respeito da parte espanhola pela regulamentação comunitária, tendo o secretário de estado Santano “reiterado el compromiso de España de cumplir con el Reglamento de la Red Transeuropea, clave para el impulso del transporte europeo sostenible y la cohesión social y territorial de la Unión Europea” e a necessidade de coordenação com França. A parte portuguesa não parece cumprir de momento a regulamentação, preferindo reivindicar isenções. Exemplo disso é a insistência em manter o CONVEL, donde o pedido a Espanha de facilidades para os ensaios do STM (Specific Transmission Module, indispensável para que os comboios equipados com o ERTMS possam circular na rede existente portuguesa com o sistema CONVEL) quando o regulamento determina a desativação dos sistemas de classe B até 2040.

Considerando a demora na construção das novas linhas para mercadorias em Portugal e Espanha com as caraterísticas de interoperabilidade com  o resto da Europa, os respetivos governos deveriam coordenar um plano com o faseamento de aproximação da bitola europeia dos portos atlânticos (sugestão na figura 4).

Julga-se que isso só poderá ser feito, na parte portuguesa, com um comissário nomeado pelo Governo e uma estrutura de gestão de infraestruturas corretamente dimensionada em termos de recursos humanos para gestão do desenvolvimento de uma nova rede, separada da gestão corrente da rede existente, sem prejuízo do recurso a concursos públicos internacionais para seleção de consultores com experiência internacional em projeto, manutenção e operação de redes de alta velocidade/mercadorias.

Diagrama

Descrição gerada automaticamente

Figura 4 – sugestão de faseamento da aproximação da bitola europeia  dos portos portugueses

 

Da parte espanhola, destaca-se o compromisso do ministro das infraestruturas, Oscar Puente, na cimeira de Faro de outubro de 2024, em concluir a parte espanhola  da linha de AV Madrid-Lisboa até 2030 [34].

Pela negativa, assinala-se ter sido escolhida a variante por Toledo, aumentando o percurso, limitando a capacidade por partilha à chegada a Madrid com as linhas de AV para Sevilha e Valencia, e limitando a utilização por mercadorias (apenas Talavera-Oropesa-Plasencia-Badajoz estão previstas para uso misto). Também, por pressão dos sucessivos governos portugueses, haverá bitola ibérica de Badajoz a Oropesa. Só haverá bitola europeia entre Madrid e Oropesa onde existirá um intercambiador, mas de Madrid a Badajoz os comboios terão ERTMS.

 

 

Não é fácil a implementação da nova rede de AV com os requisitos da interoperabilidade plena, incluindo o projeto para tráfego misto, bitola europeia e ERTMS. A complexidade envolvida acentua-se com a necessidade de, em linhas novas, integrar o serviço de mercadorias nas mesmas linhas de passageiros, isto é, concretizar a integração dos corredores de mercadorias no European Transport Corridor para otimização do uso das infraestruturas e benefício das regiões periféricas,  conforme os considerandos 31, 100 e 101 e os artigos 13.a e  44 do regulamento 1679.

Tal requer uma coordenação ativa entre os AEIE, o coordenador da DG MOVE e o comissário do governo espanhol para o corredor atlântico.

São à volta de 900km em Portugal  e 1200km em Espanha, preferentemente em construção nova, sem insistir para além das necessidades de manutenção e de segurança em linhas pré-existentes, nomeadamente para evitar pendentes elevadas e curvas apertadas, como o exemplo da linha da Beira Alta ilustra.

Dados os custos envolvidos, sugere-se um faseamento ao longo de alguns anos sem ultrapassar os valores anuais numa percentagem do PIB razoável e contando com o cofinanciamento da Comissão Europeia em estrita conformidade com as disposições de apoio às regiões periféricas e isoladas do art.171 do TFUE.

 

 

 

6  -  Proposta de prosseguimento

 

Considerando a natureza vinculativa da regulamentação europeia das redes interoperáveis TEN-T, o apoio expresso do novo comissário dos transportes da CE [35] e do governo espanhol, e as inegáveis vantagens (citando o próprio Plano Ferroviário Nacional) para a economia portuguesa através:

i)                 do estímulo a médio/longo prazo das exportações de bens além Pireneus,

ii)               da atratividade de investimento estrangeiro no setor secundário desde que exista uma boa ligação ferroviária à Europa,  

iii)             da maior eficiência energética e menores emissões de gases de efeitos de estufa dos comboios de alta velocidade relativamente ao avião e à rodovia mesmo elétrica,

 

é imperativo que os decisores políticos, com o apoio do CSOP, respeitando a legislação dos instrumentos jurídicos de gestão do território e as garantias constitucionais relativas à informação e à participação dos cidadãos, desenvolvam:

 

i)                 a alteração da estratégia da IP e agrupamentos AEIE para cumprimento dos regulamentos comunitários, nomeação pelo ministério das Infraestruturas de um coordenador do corredor atlântico a exemplo de Espanha e seguindo o modelo desta de dois órgãos de gestão de infraestruturas independentes, rede existente ibérica e nova rede europeia/ERTMS;

ii)               uma política de coordenação com Espanha e França definida e acompanhada por uma estrutura criada em moldes semelhantes aos da CTI para o NAL ou em alternativa por gabinete internacional com referências, selecionado por concurso público, e em ambos os casos com apoio técnico e financeiro da DG MOVE e UE, nomeadamente na preparação dos anteprojetos para candidaturas ganhadoras ao financiamento;

iii)             o processo de construção das novas linhas de AV e de mercadorias com os parâmetros da interoperabilidade plena e conforme o plano das redes TEN-T do regulamento 1679, mais uma vez com o apoio técnico e financeiro da DG MOVE  e da UE; 

iv)              a organização de sessões públicas periódicas para acompanhamento do progresso.

 

 

Certamente que terão o apoio da sociedade civil, nomeadamente dos próprios operadores de transporte, empresários, técnicos, imprensa especializada, academia, associações profissionais e de cidadãos.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

INE (2024), exportações de bens para UE kg e € por modo de transporte (NC6), Lisboa

https://1drv.ms/x/c/1ebc954ed8ae7f5f/EWJ82MARzwJOoYPs325XGa0B_dCqVDeIMKStwpIXmAJzuQ?e=Fmzwqo

 

Lopes, M et al. (2022). As linhas da rede TEN-T e os desafios para o transporte ferroviário de mercadorias

além Pirenéus. Apresentação no 10º Congresso CRP. Lisboa.

https://1drv.ms/p/c/1ebc954ed8ae7f5f/EV9_rthOlbwggB4NIAAAAAABbhP27n7Qh3pXxTbeH7bb4g?e=5QROiK

Regulation (EU) 2024/1679 of 13 June 2024. Official Journal of the European Union L series. On Union   

guidelines for the development of the trans-European transport network.

The European Parliament and the Council. Brussels.

ELI: http://data.europa.eu/eli/reg/2024/1679/oj

Secchi, C (2022). Atlantic TEN-T Core Network Corridor Fifth Work Plan of the European Coordinator. DG

             MOVE. Brussels.

https://transport.ec.europa.eu/system/files/2022-10/atlworkplanvweb.pdf 

Siemens (1969), Electrical Engineering Handbook”. Capitulo 10. Electric Traction. Erlangen.

Silva, F (2017). Manual condensado de transportes metropolitanos. Capítulo 3. Comparação da eficiência

 energética de modos de transporte rodoviário e ferroviário; cálculos em Anexos. Lisboa. Sítio do Livro, https://1drv.ms/f/s!Al9_rthOlbwehWEdmBJ_Q06Wk7XH

Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia de 7 de junho de 2016. Jornal Oficial da União  

             Europeia. Bruxelas.

https://eur-lex.europa.eu/resource.html?uri=cellar:9e8d52e1-2c70-11e6-b497-01aa75ed71a1.0019.01/DOC_3&format=PDF

Tribunal de Contas Europeu (ECA  European Court of Auditors, 2018),  Relatório  Especial 19/2018: Rede  

            ferroviária de alta velocidade na Europa: longe de ser realidade, não passa de uma manta de

            retalhos ineficaz, Luxemburgo

https://www.eca.europa.eu/pt/publications?did=46398 

Tribunal de Contas Europeu (ECA  European Court of Auditors, 2023), Relatório Especial 08/2023:

            Transporte intermodal de mercadorias: UE ainda a milhas de retirar o transporte de mercadorias da   

             estrada, Luxemburgo

https://www.eca.europa.eu/en/publications?ref=SR-2023-08   

White Paper The European Green Deal, Communication from the Commission, 11.12.2019, Brussels

https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=COM%3A2019%3A640%3AFIN

 





[2]  Specific Transmission Module, interface entre o Sistema ERTMS obrigatório a partir de 2030 no material circulante e nas novas linhas TEN-T, e o sistema existente na rede da IP de controle de velocidade CONVEL a desativar regulamentarmente até 2040 (sistema de classe B), permitindo a circulação de comboios novos com ERTMS em linhas existentes com CONVEL.

[3]  O mesmo reconhecimento é feito pelo presidente da Medway quando numa entrevista à Railway Gazette (outubro 2021) afirmou: "evidentemente que ter a bitola única europeia seria o ideal".

 

[27] Volume de tráfego em Mton em Espanha (2021): nacional rodovia 1541, ferrovia 20; internacional   

   rodovia 119, ferrovia 4,7.

(OTLE, https://cdn.mitma.gob.es/portal-web-    drupal/OTLE/elementos_otle/Informe_anual_2021.pdf ).

   Volume de tráfego em Mton em Portugal (2021): nacional rodovia 120,5, ferrovia 6,6; internacional   

   rodovia 22,9, ferrovia 2,7.                                                                                                                           

(INE,    https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=16909661&PUBLICACOEStema=55488&PUBLICACOESmodo=2&xlang=pt) .

[28]  GPSO Grand Projet Sud-Ouest                                         https://www.sgpsudouest.fr/

[29] Migração da bitola e ligação  Espanha-França           https://ec.europa.eu/newsroom/mytent_t/items/867358/en

[30] Orçamento do corredor atlântico para 2025:

    2.500 milhões de euros (https://ec.europa.eu/newsroom/mytent_t/items/867060/en)

[35]  Discurso do comissário dos transportes da CE Apostolos Tzitzikostas em 4fev2025 no Parlamento português:   

https://ec.europa.eu/commission/presscorner/api/files/document/print/en/speech_25_438/SPEECH_25_438_EN.pdf