sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Cinema - Hanna Arendt





Hanna Arendt, filme de Margarethe von Trotta

Confesso que fui desconfiado ver o filme.
Será difícil fazer um filme sobre uma filósofa teórica da organização politica.
Mas é um excelente filme com um texto muito bom, intensamente perturbador.
Biográfico quanto baste, mas com uma mensagem essencial, que me pareceu, dita por ela própria, ser esta: que nem sempre é o interesse egoísta que comanda a economia e a politica; que pode ser a ação de uns poucos que para isso detêm o poder, que decidem que outros são dispensáveis, que para nada são precisos. E que o mal que esse desvio da humanidade representa pode ser executado e espalhado por pessoas medíocres, que não questionam as ordens ou o pensamento dos seus chefes (“a triste verdade é que o mal é feito por pessoas que nunca decidiram se o que fazem é bom ou mau”).
Hanna Arendt referia-se ao totalitarismo nazi, ao julgamento de Eichmann e ao colaboracionismo de alguns lideres religiosos judeus durante a guerra com os próprios nazis.
E que mais grave do que a tentativa de genocídio é o próprio desvio que faz abater o mal com banalidade sobre as vítimas.
Mas que pensar de quem era jovem nos anos 30 e 40 e foi incorporado no exército alemão?
Que fazer nesas circunstancias?
Que fazer quando se era incorporado no exército colonial português e se recebia ordem de atacar os moimentos de libertação?
Como dotar a democracia de meios para evitar os totalitarismos? Nesse aspeto algumas garantias de democracia direta que se encontram até nas constituições de alguns países (referendos, iniciativas legislativas, assembleias de freguesia) poderiam ajudar, para alem da separação de poderes e, de forma indispensável, a educação das pessoas, para que pensem e não dependam do que lhes dizem os lideres, quer sejam religiosos quer sejam politicos.
Que podemos chamar a quem acha dispensáveis os seus semelhantes e os lança no desemprego?
E que fazer quando se é uma chefia intermédia e se recebe ordem de fazer uma lista de "dispensáveis"?
Para Hanna Arendt o julgamento de Eichmann devia fazer-se (embora num tribunal internacional), mas o mal estava antes do que estava  a ser julgado, o genocídio; o mal esteve nas pessoas vulgares terem enveredado por considerar dispensáveis outras pessoas.
Filme terrivelmente atual para muitos, quando o mal se banaliza e se expande pelo planeta, enquanto comodamente alguns vão vivendo e votando nos lideresinhos politicos e validando as opções do poder bancário central.


PS - o comentário seguinte é irrelevante e sem importancia quando comparado com a grandeza do problema estudado por Hanna Arendt, e diz respeito a um acessório da realização: a ação do filme passa-se em 1961, mas pareceu-me que o modelo de automóvel mais recente que se vê é de 1957. Poderá ser indício, se não erro, de economias da produção,ou de menor atenção do consultor de veículos históricos.

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