Um estilo simpático, prudente, afetuoso, tem sido o de
algumas entrevistas , declarações, discursos, de senhores ministros do XXI
governo, em fase final de legislatura e em aproximação da campanha eleitoral.
Não generalizo, até porque tem sido patente alguma
inabilidade na comunicação de algumas inconformidades, mas sobre questões técnicas
que estão relacionadas com o futuro, assiste-se a um estilo simpático,
prudente, afetuoso com que se tratam assuntos que influenciam a vida da
comunidade.
Por exemplo, o EIA sobre o aeroporto do Montijo, na questão do
ruido e de medidas de mitigação. Verifica o evidente, que a rota de aproximação
da pista 1 vai gerar ruido no parque ribeirinho de Alhos Vedros. Será uma
situação análoga à do Campo Grande e a aproximação da pista 3, com o
predominante vento norte ou noroeste. Convido todos os defensores da manutenção
as infinitum do aeroporto na Portela a sentarem-se numa tarde num banco do
Campo Grande. Pode estar vento norte, e será a aproximação, ou vento sudoeste,
e será a descolagem. Se puderem, façam-no num dia de nuvens baixas, para que
possam repercutir o som. E digam se é admissível. Não se esqueçam que esta rota
sobrevoa 4 hospitais, um deles psiquiátrico. Ah, os aviões vão sendo cada vez
mais silenciosos porque o rendimento dos seus motores é cada vez maior. É
verdade, mas lembremo-nos que o ruido se deve à deslocação das moléculas de ar,
através dos reatores principalmente graças às boas caraterísticas aerodinâmicas,
e considerando que pôr um avião no ar
põe em jogo, na descolagem, à volta de 200 MW (deuses, a potencia de uma central
hidroelétrica), nunca será possível silenciar completamente a descolagem. Mas
conseguir-se-á concentrar o som emitido (sem esquecer as falhas clamorosas de
projeto que associaram o desenvolvimento de aviões de melhor rendimento a
acidentes fatais, Boeing 737 Max, ou a incomodidade na cabina Airbus 321 Neo),
de modo a reduzir a população afetada (curioso, as leis da EU , proíbem, no
perímetro urbano, a reurbanização de zonas sobrevoadas (caso da Praça de
Espanha, para não irmos muito longe). Por outras palavras, quanto mais
silenciosos os aviões, mais incomodativos para quem se senta num banquinho do
Campo Grande ou do parque José Afonso da câmara da Moita (curiosa a observação:
se a pista eleita para o Montijo tivesse sido a 9/27 o presidente da câmara do Montijo defenderia
tão entusiasticamente o seu aeroporto?).
E porque é simpático, prudente e afetuoso o texto do EIA? Porque
nas medidas mitigadoras aventa a hipótese de cofinanciar o deslocamento do
parque ribeirinho amorosamente construído pela câmara da Moita, para nascente, mais
afastado da rota de aproximação (curioso, os autores do EIA estariam a pensar
no desmantelamento do estaleiro desmantelador de Alhos Vedros, uma atividade
produtiva do ciclo fim de vida dos navios?).
Enterneço-me ao ler esta proposta. Prova que o interesse das
populações está presente em quem assina o EIA que autoriza o governo a
autorizar a Vinci a fazer o seu aeroporto de saturação prevista por ela própria
para 2032 (cerca de 17 milhões de passageiros/ano) para ser por ela gerido até
2062. Crescimento do tráfego de 4,3% ao ano conduzirá a 50 milhões de
passageiros/ano em Portela + Montijo ou 48+24 movimentos/h máximo. Autorização
essa também simpática, prudente e afetuosa, considerando as desvantagens da
obra, até porque, como referido, qualquer obra tem inconvenientes (deuses, poupai-nos
os truísmos, as redundâncias, as lapalissadas, por mais simpáticos que queirais
ser).
Enterneço-me ao ler esta e as outras medidas mitigadoras,
como alterar ligeiramente as rotas de aproximação ou descolagem em função da
época do ano e das preferências de locomoção das aves na sua faina nidificadora
em busca das melhores condiçôes climatéricas para a espécie. Enterneço-me
porque algum técnico de coração empedernido dirá que não se mexe nas rotas (a
propósito, já foi adjudicado o novo sistema de controle aéreo? Não é a Vinci
que vai pagar, pois não?) . E o PAN gostará de saber que nas medidas contra a
colisão com aves não está uma bateria de falcões, a estraçalhar as pobres e
incautas avezinhas.
Comovo-me ainda ao ver o encurtamento de 5 minutos no
percurso dos catamarãs. Os senhores da Marinha vão dizer que sim, que não há
problema em acelerar no meio do tráfego fluvial? Que vai ter de crescer, de
Alcantara, da Trafaria (terminais cerealíferos), de Santa Apolónia enquanto a
SRU não consegue tirar de lá o respetivo terminal) para Castanheira do
Ribatejo. E com o terminal do Barreiro não haverá colisão, certo? Ou que para encurtar a viagem ou ir à Expo vão
ter de se fazer campanhas de dragagem ou então um cais novo a poente da
peninsula do Montijo (Vinci pagará?) .
Também me comovo (sou um sentimental) com o cuidado posto no
projeto base e no alternativo da ligação à A12 (a Vinci pagará? Em conferencia
em 15 de outubro de 2018 o senhor CEO da ANA disse que sim…). Eu diria que com
expropriações, viadutos e portagens novas quaisquer 50 milhões chegarão, a
juntar aos 550 milhões da estimativa (falava-se em outubro de 2018 que quaisquer
300 milhões dava para tudo, incluindo deslocalização parcial da força aérea! que
o grosso da coluna seria para gastar na Portela – toda a semelhança com o
avanço petit a petit é pura coincidencia). Vamos assim ter uma distancia do
terminal das chegadas do Montijo ao km 0 de Lisboa de 21 km. Para efeitos de comparação CTA-km 0 seriam 36 km e em Londres, Gatwick (outro aeroporto da Vinci) ao Regent
Park são 46 km. Não vale a pena discutir se um aeroporto perto duma cidade é
uma vantagem ou inconveniente. Uns dirão afastai este cálice e outros dirão
deixai vir a mim os excursionistas que deles é o reino do euro. Mais comovido
ficaria eu se tivessem passado das boas intenções com o EIA se refere à
possibilidade de aceder por ferrovia ao Pinhal Novo, mas não, não quiseram
meter-se pelo ínvio caminho de recuperar o ramal Montijo -Pinhal Novo (15 km, o
que viabilizaria aeroporto do Montijo-Entrecampos em 45 minutos) nem considerar
a urgência de cobertura da margem sul pela rede de metro ligeiro
Alcochete-Montijo-Barreiro sul-Seixal-Almada- Caparica/Seixal-Sesimbra.
E os 300m de ampliação para sul vão ser aterro? Em zona
lodosa? Para ficar mais barato? Cuidado porque há testemunhas ainda vivas que
em 15 de outubro de 2018 o senhor CEO da ANA falou que a Vinci pagava a
estacaria necessária (haverá dúvidas que aterro não é solução, é preciso ir
buscar o exemplo das “barragens” brasileiras? Vá lá, é uma questão técnica, pensem
em ter mesmo de enfiar estacas. E não há saída da pista, o aviãozinho vai ter
de rodar 180º se estiver vento sudoeste? Atrasa a aterragem do senhor que se
segue, ou estou a ver mal? Não vi, pode ter-me passado, referencia ao problema
da exposição da pista 1 ao vento sudoeste em dia de marés vivas , apenas uma
análise teórica da drenagem. Não esquecer ainda que alguns aviões de médio curso não estarão autorizados a levantar com o seu peso máximo em pista de 2400m.
E na PVG passa-se de 3 para 4 vias por sentido? Deuses,
apiedái-vos de nós. Atualmente temos 3 vias de 3,3 m e uma faixa de estacionamento
de 2m. Ratando no separador e na bordadura lateral ganhamos 1 m . Estarão a
pensar em suprimir a faixa de segurança de estacionamento? Ou em intervir na
estrutura do tabuleiro? Esqueceram-se que poucos anos depois da inauguração foi
necessário reparar as coberturas das armaduras? Deixem a PVG em paz, não
escrevam tão simpaticamente, tão prudentemente, tão afetuosamente. A TTT ferroviária é uma necessidade, embora
saibamos que quem decide não quer saber disso, nem sequer no PNI 2030.
E fiquemos por aqui, formulando votos para que consiga ler
mais documentos do simpático EIA.
PS em 4 de agosto de 2019 - Não mencionei a referência aos tanques de combustível no capítulo de riscos. E o EIA parece que também se esqueceu de mencionar a solução correta para aeroportos:_ oleoduto. Neste caso,a solução mais simples poderá ser um oleoduto desde o terminal existente da Trafaria (certamente que se levantarão protestos ao traçado até ao aeroporto) ou associar a alimentação do Montijo à futura ligação do aeroporto da Portela a Aveiras de Cima (mantem-se a ideia de algaiar uma das condutas de água?), solução que me parece mais cara (Trafaria-Montijo - 20 milhões?). A propósito de oleoduto veja-se a imagem do Google Earth dos tanques da Portela, mesmo ao lado da avenida Santos e Castro, a 600m da rua José Cardoso Pires, a 300m da rua Vasco da Gama Fernandes e a 200m das rua Vitor Cunha Rego. A Vinci faz mesmo o que a deixam fazer.
Sem comentários:
Enviar um comentário