sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

A Pascoa de 1998 no metropolitano de Lisboa

Passámos o sábado de Pascoa de 1998 em ensaios. Testaram-se todos os sinais e aparelhos de mudança de via, todos os itinerários no término de Cais do Sodré. Era urgente concluir os ensaios para termos pelo menos uma semana com os comboios a circular no troço novo e da Alameda ao Cais do Sodré, embora sem passageiros. Conseguimos acabar os ensaios no dia seguinte, domingo de Pascoa, dar luz verde à circulação dos comboios sem passageiros na segunda feira e abrir à exploração de passageiros em 18 de abril, sábado.
Conto este episódio a propósito da decisão de encerrar a exploração do metropolitano às 22:00 de dia 24 de dezembro de 2019, e retomá-la às 8:00 do dia 25, a pretexto da pouca procura. Não contesto a pouca procura, embora ela se reduza cada vez que se reduz a oferta (consequencia da lei de Say, um dos grandes economistas clássicos), mas há sempre quem precise de se deslocar e prefira o metro, ou comemorar fora de casa, ou apreciar o ambiente menos frio das estaçóes. Apenas por principio defendo o serviço todos os dias, sábados, domingos e feriados, com critérios de rotatividade do pessoal no que toca a feriados e fins de semana.
No sábado 11 de abril de 1998 acabámos tarde e algo desiludidos as circulações de ensaio com a locomotiva diesel e a carruagem de ensaio. A coisa não tinha corrido bem nos aparelhos de via do término. Combinámos ir descansar e retomar os trabalhos no domingo de manhã, domingo de Páscoa. Um de nós não terá ouvido bem e despediu-se, até segunda. Os ensaios estavam a ser acompanhados por um dos administradores do metro, que nessa altura, apesar de comissários politicos do partido no poder, se interessavam pela evolução das obras presencialmente (coisa que infelizmente não se verificou depois a partir de certa altura). E o administrador disse ao colega: se não vem amanhã não se preocupe em vir na segunda. Mas felizmente veio no domingo e correu bem, a coisa, no domingo de Páscoa, e pusemos os comboios a circular.
Penso que não devemos ser ortodoxos ou fundamentalistas no que toca aos rituais comemorativos religiosos.

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