quinta-feira, 2 de março de 2023

Passe o cartão, não a carteira

 O título poderia entender-se como um imperativo num assalto, mas não, é o aviso com que desde 17 de fevereiro a instalação sonora do metropolitano bombardeia os seus passageiros.

Nos longínquos anos 90, o metropolitano resolveu substituir o seu sistema de controle de acessos, de aberto com validação em obliterador, por fechado com cancelas e leitor de cartões.

Sugeri a manutenção do sistema aberto, com a vantagem para o passageiro da comodidade de não precisar sequer de mostra o cartão.  Por leitura codificada por modulação da frequência de cartões emissores-recetores na gama da dezena de Mhz, sem retirada do bolso, haveria um sinal sonoro à passagem sem cancelas do passageiro caso não tivesse o título de transporte válido.

Não ganhei apoio dos colegas, que achavam que assim não podiam saber o número exato de passageiros. Eu bem respondi que havia sistemas que por deteção do volume de ocupação de uma área davam um valor credível. Não os convenci e muito menos à simpática senhora administradora, que já tinha desenvolvido grande atividade na Otlis, uma empresa criada para fornecer as especificações e os rolos de cartolina com banda magnética para os bilhetes e os cartões para os passes de assinatura.

Lembrei-me disso ao ouvir a mensagem agora incessantemente repetida, o cartão não a carteira.

Consultado o site do metro lá diz que foram comprados agora uns leitores de elevada tecnologia (nunca mais se abandona este hábito pacóvio de glorificar as tecnologias de última geração) já instalados nalgumas estações e que suscitaram o problema. Quando numa carteira existem vários cartões, pode haver colisão entre as leituras, agora na frequencia dos 2,4 e 5 GHz.

Verifica-se assim que uma nova tecnologia não faz aquilo que uma anterior fazia, que era a comodidade do passageiro passar a carteira pelo leitor sem ter de tirar o cartão da carteira.

Isto é, baixou a qualidade. Aceita-se que se cometa um erro ou uma falha, não é razoável não reconhê-lo e arranjar uma linguagem publicitária para desculpa. 

Experimentei, o leitor não se baralha por vezes e outras vezes baralha-se, se os outros cartões, para além do Lisboa Viva, são de entidades não financeiras. Mas se também está o cartão multibanco, o leitor recusa-se a validar a leitura. Talvez os cartões bancários tenham receio de ser clonados. Talvez que os colegas informáticos que desenvolveram o sistema não soubessem que anteriormente não era preciso tirar o cartão da carteira. Ou talvez não queiram perder tempo por falta de rentabilização, a resolver o problema da colisão das frequências ou dos códigos de endereços.

2 comentários:

  1. ... ou talvez haja no Metro quem ganhe com a aquisição do novo sistema ...
    LCS

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  2. Nem todos os colegas estiveram a favor de fechar o sistema. Cheguei a ouvir que se poupava o custo dos fiscais! Quando se têm ideias feitas é impossível discutir as coisas com racionalidade. Já me aconteceu haver interferência com outros cartões ao proceder à validação.

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