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domingo, 19 de dezembro de 2010

Economicomio LXV – João Cesar das Neves

João César das Neves é professor catedrático de economia, autor de um livro de Economia para crianças que me parece ensinar o interesse egoísta de Adam Smith em detrimento da solidariedade, mas pode ser interpretação deficiente minha, e defensor de teorias económicas que não me são simpáticas.
Mas tem o mérito de ser um crítico das políticas económicas praticadas no nosso país desde 1997, como confessa na sua entrevista ao DN de 19 de Dezembro de 2010.
Também é autor da ideia de que, de erro em erro, Portugal tem obtido alguns êxitos (por exemplo, ainda há quem vá trabalhando e conseguindo aumentar as exportações).
O que me chamou a atenção na entrevista foi a afirmação de que no momento presente os “lobbies ” da construção estão condicionando fortemente o governo e os políticos e não estão nada interessados na intervenção do FMI, que previsivelmente lhes retiraria poder económico.
Quem concordar com a intervenção do FMI arrisca-se a ser taxado (para além das taxas dos PEC) de anti-patriota.
Mas…correndo outro risco, o de ter interpretado mal a leitura do que o senhor professor disse, e animado por o senhor professor catedrático de economia ter constatado o que Karl Marx verificou há muitos anos, que o poder económico andava a controlar o poder político, vou tentar um silogismo, começando por outra afirmação de Jerónimo de Sousa, reproduzida no DN da véspera e designada de seguida por 1, excluindo o parentesis:

1 - a quota das remunerações dos trabalhadores das empresas portuguesas é, em média, cerca de 26% dos custos operacionais, sendo que no caso das empresas exportadoras essa quota é de cerca de 15% (sendo que no Metropolitano de Lisboa, escrevo de cor, pelo que peço desculpa, os encargos com o pessoal são da ordem de 40% dos custos operacionais sem encargos financeiros e de 25% incluindo os custos da dívida);

2 – nas despesas operacionais duma empresa, uma quota de 26% é uma pequena contribuição para os custos de produção e comercialização (cuja redução melhora a tal competitividade), pelo que, sempre que é necessário reduzir os custos, deverá ser dada maior atenção aos fatores com maior expressão na contribuição para os custos;

3 – Logo, reduzir a quota das remunerações por abaixamento ou taxação das remunerações ou redução dos quadros de pessoal não são as principais medidas a tomar para reduzir os custos de produção e comercialização, q.e.d

Mas os senhores economistas insistem em cortar nos rendimentos do trabalho (penso que é para poupar os rendimentos do capital e não enervar ainda mais os “mercados”, que são organismos muito sensíveis, com os nervos à flor da pele e com tendência para fugir, nem eles sabem agora para onde, desde que o banco suíço UBS teve uma má experiência com os USA).
Podemos tentar outra perspetiva:

Mantenhamos o objetivo do senhor Tricheur, perdão do senhor Trichet do BCE, de manter a inflação contida e as taxas de juro baixas, o que se consegue, como se sabe da lei de Philips com taxas elevadas de desemprego e despesas públicas também contidas.
Ora, as quotas mais responsáveis pela despesa pública são os encargos com o estado social, enquanto agente operacional dos direitos humanos consagrados na respetiva declaração universal, e aplicáveis principalmente ao setor do trabalho, ativo e pensionistas.
Como é sabido, as receitas dos PEC são principalmente cortar nos rendimentos do trabalho, sem taxar, por exemplo, as transações da bolsa, os depósitos nos “off-shore” ou até mesmo, de forma excecional, os lucros dos bancos e as mais valias em bolsa (não confundir com as propostas taxas sobre as transações).
Logo, o esforço recairá mais sobre o trabalho do que sobre o capital (foi o que disse João Cesar das Neves, não foi? que há corte no subsídio de desemprego e no rendimento social de inserção, mas não há na alimentação das grandes construtoras). Isto é, contribuirá para aumentar a diferença de rendimentos entre as faixas de população com menores e com maiores rendimentos e agravar assim o coeficiente de Gini de desigualdade social.

Perdoarão, mas isso é contra a declaração dos direitos humanos, e eu não quero ser acusado de apoiar a violação desses direitos.
Confesso que gostaria de ver os senhores economistas demonstrar com fórmulas que o que escrevo está errado, ou que os PEC estão a sobrecarregar igualmente o trabalho e o capital.
Mas não consigo ver nenhum senhor economista a divulgar esses cálculos…
Dificuldade de interpretação minha da leitura do que eles dizem, ou de iliteracia minha dos seus cálculos matemáticos.
Será que algum leitor economista poderia facultar-me esses cálculos para publicação neste humilde blogue?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

As metáforas dos economistas

Devo ao senhor professor Daniel Bessa, economista ex-ministro, o ter-me ensinado, através da comunicação social, a lei de Philips, a saber, que, se quisermos manter o custo de vida baixo, há que aumentar o desemprego.
Esta informação foi honesta, numa altura em que se queria fazer crer à população, isto é, às vítimas da lei, que se podia desenvolver a economia mantendo os preços baixos e criando emprego.
Infelizmente tal não é verdade na maior parte dos casos, e será pouco honesto querer fazê-lo crer à população, apesar de ser bem simples explicar a lei: com a condição de haver produção e oferta suficiente, aumentando o desemprego vai diminuir-se o poder de compra e a procura; se a procura baixa, o preço vai atrás.
Mas o senhor professor vem agora ensinar, como lhe ensinaram, como ele próprio disse, que as políticas económicas ou são expansionistas ou são restritivas.
Com o que todos concordamos, porque o crescimento está ameaçado com as medidas do PEC do nosso descontentamento.
E a metáfora do senhor professor é esta: estas medidas restritivas são como carregar com toda a força no travão e o carro ameaçar  sair da estrada, pelo que se deve conduzir carregando no travão com um pé e no acelerador com o outro pé, para existir algum crescimento.
Já não posso concordar, pelo menos na parte automóvel.
Ensinaram-me na escola de condução que devia ser o mesmo pé a carregar ora no acelerador ora no travão.
Mais tarde, experimentei carregar simultaneamente no travão e no acelerador. Mas segui os conselhos dos mais experientes e fiz isso com o mesmo pé (confesso que é um bocadinho dificil, só serve para condução desportiva com as rodas tratoras a patinhar, ou para aguentar o carro numa subida em ponto morto, mas consegue-se; especialmente se os pedais forem adaptados - cuidado porem com a adaptação e com a condução que se torna arriscada, pelo que se deve seguir o aviso: não tente fazer isso).
Acionar o acelerador com um pé e o travão com o outro tem o grande risco de ser mais longa a cadeia de controle mútuo entre a pressão no acelerador e a pressão no travão. É necessário ver primeiro o efeito para depois alterar as duas pressões . Isto é, é preferível controlar a travagem doseando apenas a pressão no travão esquecendo o acelerador, ou dosear a aceleração esquecendo o travão.
Esta é a primeira metáfora que me deixa preocupado com os senhores economistas.
A segunda vem do senhor professor Carlos Costa, governador do banco de Portugal, que nos propõe a seguinte metáfora: a economia portuguesa é como um quadrireator em que dois dos motores vão desacelerar - um é o consumo público  e outro é o consumo privado; dos outros dois motores, um é a exportação, que, se se portar bem, evitará que o avião perca altitude, e o outro é o investimento, que se está a engasgar.
Por Mercúrio, um motor só é muito pouco, e ainda por cima aumentamos o volume das exportações mas dão-nos menos pelo que exportamos, não porque o euro se desvalorize, mas porque a concorrencia é muita e porque muitas das nossas exportações têm pouco valor acrescentado, com a agravante disso mesmo, o euro está muito forte.
Como dizia o professor Daniel Barbosa nos anos 60 do século passado, o turismo (não era preciso ser de alta qualidade) e a emigração é que aguentavam a balança de pagamentos.
Ou por outras palavras, não vejo outra saída para a metáfora que não seja dar um bocadinho mais de gás ao motor do investimento.
Não pode ser só cortes.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Diálogos de Siracusa. 4º diálogo – in PEC probationem nostri (no PEC as nossas provações)

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Publius Coletius atravessava apressado o Forum de Siracusa, de manhã cedo, dois dias depois das festas da Florália, quando encontrou Caio Indivisio.

Publius Coletius - Amicus Caius, ainda bem que te encontro. Vem ajudar-me na Ágora. Chegou uma nave de Roma. O imperador expediu ordens de PEC.

Caio Indivisio – Ordens de PEC?!

Publius Coletius - Sim, ignorante, as propositionem exequo compositus advenio (proposições para equilíbrio e compatibilização do crescimento). Trata-se de um plano destinado a compensar os disparates que os imperadores têm cometido, gastando demais com atividades não produtivas, guerreando em vez de negociar os preços do trigo e de investir na construção, na marinha, no comercio, na agricultura, nas ferrarias e nas canalizações. Têm deixado à solta os patrícios e banqueiros que emprestam dinheiro e eles têm enganado a plebe e explorado os escravos, os artesãos e os soldados até ao tutano, e pior que isso, especulam, especulam e arrasam as empresas honestas. Eu bem tinha avisado.

Caio Indivisio - Publius, Publius, sabes que eu sou pela iniciativa privada. Nem todos os empreendedores e banqueiros são assim. Eu próprio vou diversificar as minhas empresas e vou abrir um banco. Estudei os textos de Apolodorus sobre o pai, Pasion; os êxitos do seu trabalho nos bancos de Antistenes e Arquestratus, do Pireu. Aprendi com eles e com o banco de Delos a emitir títulos de dívida de modo a não ser preciso andarmos sempre com bolsas cheias de sestércios.

Publius Coletius - Sim, sim; nem eu queria ofender tão ilustre empreendedor como tu és. Também não queria que pensasses que menosprezo a capacidade matemática dos banqueiros, desde os primeiros babilónios que sabiam calcular juros compostos; nem sou fundamentalista como a nova religião do médio oriente que condena os juros sobre os empréstimos; e acho muito bem que estudes a história da banca, para evitares  os erros que outros cometeram e evitares ser  enganado como os outros já foram pelos especuladores. Mas as ordens do imperador são muito claras, e são para cumprir. Aumento de impostos e cortes nas despesas. Vamos ter de prescindir de enviar os escravos ao topo das montanhas para trazer neve para fazer gelados, vamos ter de nos contentar com os carroções da Etruria e da Iberia e deixar de comprar os carroções da Germânia. Adeus às sedas e brocados de Bagdad e de Samarcanda. Os bois e as vacas que mandamos vir das planícies da Panónia vão ter de ser criados aqui na Sicília. Temos de libertar uns quantos escravos e dar-lhes terras para criarem galinhas , coelhos e ovelhas. Não podemos continuar assim, a importar mais de oitenta por cento do que comemos.


Caio Indivisio - E recuamos também as fronteiras do Oriente, para pouparmos nos gastos militares; deixamos os territórios de entre o Eufrates e oTigre para os Partos e os Persas…

Publius Coletius - Acho bem, folgo muito em ouvir-te dizer isso.

Publius e Caio mergulharam absortos no estudo das bulas do imperador. Ao fim de algum tempo de grande concentração, Caio exclamou:

Caio Indivisio – Publius, devias ser tu a dizer isto, mas eu dou-te a ideia de graça. Qualquer resolução deve ser baseada em factos e em números bem concretos, como diziam os alunos de Pitágoras. Isso nos ensinam os economistas do tempo daqui a 80 gerações. Recolhem-se os dados, classificam-se e armazenam-se em bases de dados e depois, interpretam-se , ou tenta-se interpretar através dum modelo que simule a realidade; que a simule, como dizia Bertrand Russel, nunca a pode reproduzir exatamente.

Publius Coletius – Explica-te.

Caio Indivisio – Disseste que o problema só podia resolver-se com aumento de impostos para o nosso imperador. Então, temos de saber que percentagem da riqueza do império foi produzida pelos escravos, artesãos e soldados, e que percentagem da riqueza foi produzida pelos patrícios e pelos banqueiros.

Publius Coletius – Isso não sei dizer-te, qual a riqueza produzida por cada grupo; mas, como as contas são feitas, sei dizer-te qual a riqueza que entra nas bolsas dos escravos, dos artesãos e dos soldados , e qual a que entra nos cofres dos patrícios e dos banqueiros. Conta com 20% para os escravos, artesãos e soldados, e com 80% para os patrícios e banqueiros.

Caio Indivisio – Então é simples: 20% do aumento dos impostos tem de ser aplicado aos escravos, aos artesãos e aos soldados, e 80% aos patrícios e banqueiros.

Publius Coletius – E se os patrícios e os banqueiros fugirem para a Germânia ou para outros sítios bárbaros, podemos pôr grandes massas de escravos, artesãos e soldados a trabalhar nos campos e nas minas desses patrícios e banqueiros… e podemos dizer aos chefes das tribos germânicas que os sestércios que eles levaram sem autorização do imperador já não valem o mesmo que os sestércios do imperador.

Caio Indivisio – Publius, já temos a solução para a nossa Sicília e para o nosso imperador. Já podemos mandar a nave de volta com a nossa posição. Esperemos que o Senado em Roma concorde. E não nos esqueçamos de escrever na mensagem que o aumento da produção de bens alimentares e a redução dos gastos com campanhas militares são absolutamente necessárias.

Publius Coletius – Amen (assim seja). Agora vamos fazer como se honrássemos os deuses da mesa e depois voltamos para escrever a mensagem para o Senado de Roma. Ainda temos tempo depois para assistir serenamente ao crepúsculo.



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domingo, 25 de abril de 2010

Economicómio XLVIII - a taxa FTT

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Encontrei já há uns dias, na página de Finanças do DN, um breve editorial de um dos seus comentadores.
Parece-me que o DN não contrata para esta sua secção economistas não ortodoxos.
Por isso fiquei agradavelmente surpreendido quando li a sua sugestão: porquê montar um esquema complicado e burocratizante para taxar as mais valias em bolsa, aliás relativamente fáceis de camuflar, quando seria muito mais simples e eficaz taxar as transações financeiras?
Passados uns dias, vejo numa manifestação de um partido de esquerda este cartaz: Financial transaction tax, NOW, 0,05% (tão pequena!?).
Afinal, o que separa as pessoas não é a extensão das suas divergências, nem a distancia que vai do ultimo lugar à direita do hemiciclo do Parlamento ao ultimo lugar à esquerda; é a dureza das suas razões e das suas emoções, é a insensibilidade que não quer ver os problemas de outros.
Como dizia o doce rabi (Eça de Queirós), que não sabia nada de finanças (Fernando Pessoa), era tempo agora de tornar menos duros os corações dos financeiros. Talvez lembrar-lhes que nos tempos que correm, a metáfora é que estamos todos no mesmo avião com problemas. Os poucos em executiva e os muitos em económica.

Dava muito jeito ao PEC esta taxa, não dava?





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