quarta-feira, 16 de junho de 2010

Securitarium VI - as estatísticas mentirosas

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Em 20 de Maio de 2010 escrevi no blogue, num texto intitulado Securitarium IV – convite ao crime:

“Com a devida vénia ao DN que apresenta hoje o relatório: em 5 anos o número de crimes com armas de fogo subiu de 2546 em 2004 para 7060 em 2009, isto é, triplicou.

Estima-se a existência de 1,4 milhões de armas de fogo legalizadas e de 1,2 milhões ilegais (1 arma para 4 habitantes; tudo o que seja mais do que 1 arma para 10 habitantes é convite ao crime - ver o filme de Michael Moore sobre as armas).”

Vem agora o senhor ministro da Justiça dizer que estavam a fazer umas afinações na estatística, “um processo de afinação”, e por isso afinal não foram 7060 crimes em 2009 mas sim 3174 (aumento de 25% relativamente a 2005).
Parece que até 2005 não havia duplicações na contagem das participações dos crimes e a partir de então houve; daí o tal “processo de afinação”.
O senhor ministro da Justiça não tem obrigação de ter formação matemática. Mas como os meus colaboradores, de quando eu exercia funções, tinham essa obrigação, seriam devidamente avaliados, no tal processo de avaliação, se se atrevessem a dar uma desculpa deste calibre. Até porque, a ser verdade, teriam andado 5 anos a fazer estatísticas erradas.
A tentação para os dirigentes utilizarem a estatística para esconderem a realidade é demasiado forte para se lhe resistir.
A semelhança com o triste caso dos acidentes rodoviários choca a consciência dos cidadãos (foi enviada para Bruxelas a informação de cerca de 750 mortos em 2009, mas os hospitais que recolheram os feridos graves em acidentes contabilizaram mais 400 mortos no período de 30 dias de que fala a regra europeia de contagem; a contagem dos mortos nos hospitais foi ocultada pelo ministério da administração interna).
Mas fica por esclarecer se afinal é verdade ou não que existe 1 arma por 4 habitantes, o que é efetivamente um convite ao crime, e não venham, por favor, com a desculpa dos emigrantes.
Muito gostaria eu que os senhores dirigentes lessem e entendessem o Freakonomics no capítulo dedicado às estatísticas e causas da criminalidade.
Mas deve ser pedir demais; por que razão iriam os especialistas do Ministério, detentores das suas verdades, dar atenção a uma sugestão destas?

Sobre este assunto de alteração das estatísticas, permito-me citar o senhor deputado Nuno Magalhães: “É uma vergonha”. E parafraseando Manuel Maria Carrilho: mas não devia ser.


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