segunda-feira, 27 de junho de 2011

O fogo, inimigo silencioso e invisível

A perceção tem destas coisas, e é disso que o "marketing" e a propaganda gostam.
Já dizia o meu colega do Porto que as tias dele gostavam muito dos comboios amarelos do metro do Porto que faziam a ligação da Campanhã a Rio Tinto. A perceção era que os comboios, da CP, eram do metro do Porto por serem amarelos.
As senhoras tinham uma certa razão, porque o serviço da Campanhã para Rio Tinto poderia ser um serviço urbano, não necessariamente suburbano, mas a razão não tem que sobrepôr-se à perceção.

Seja então a perceção que os cidadãos e cidadãs terão dos estragos feitos pelo fogo no corrente ano, comparativamente com 2010.
É possivel que os cidadãos e cidadãs respondam que os incendios começaram agora e esperamos que seja melhor este ano.
Infelizmente, o fogo é mesmo um inimigo invisivel (só é visivel à noite, para prazer dos pirómanos, pelo que as televisões se deveriam abster de transmitir  imagens noturnas) e silencioso, que não se faz ouvir nas cidades.
Segundo a Autoridade Florestal Nacional, arderam, de 1 de janeiro a 31 de maio de 2011, 1552 hectares de floresta e 5203 hectares de matos.
Em igual período de 2010 arderam 544 hectares de floresta e 1881 hectares de matos.

Isto é, a situação piorou cerca de 3 vezes.


Questionado pela comunicação social, o senhor ministro de quem agora dependem estas questões, provavelmente deixando-se levar pela sua perceção do problema, respondeu que o dispositivo que estava montado se mantem intocável.
Todos nós, ministros e não ministros, deveriamos desconfiar mais da perceção, porque as criticas que se fazem podem basear-se apenas em perceções e não em factos.
Devemos então criticar o dispositivo que se mantem intocável ou deveriamos ter alterado o dispositivo?
Questão dificil de responder  porque, com os cortes já feitos antes da troica, este ano o dispositivo não conta com os meios aéreos de 2010. E dos que dispõe, aplica-se a teoria (segundo o novo dispositivo intocável) da Gata Borralheira, isto é, a diretriz é mandar retirar o avião ao fim de 30 minutos de ataque ao fogo. São tambem utilizados menos 20% de homens do que em 2010 (ainda o dispositivo intocável anterior ao novo governo).

Em resumo, as criticas que se faziam ao anterior senhor ministro da administração interna sobre as debilidades do combate ao fogo não parecem ter até agora alternativa objetiva da parte do novo governo (se isto for verdade, se continuar a ser verdade e se tambem for verdade    noutros setores, poderá dizer-se que a eleição do novo governo resultou de uma perceção pouco ligada à realidade objetiva, mas esta é apenas uma hipótese a testar ).
Assunto a seguir dada a sua gravidade, nomeadamente porque apenas 3% da floresta nacional é pública (lá está, o dogma da privatização não é de aplicação universal,  porque o peso do setor privado é maior do que a perceção acha - ver o que se deixou escrito neste blogue em Setembro de 2010, sendo certo que o que lá se propunha, recurso às verbas do QREN mediante apresentação de projetos de prevenção e racionalização florestais, não teve seguimento objetivo: http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/09/oratoria-da-floresta-simpatica.html ).

Por outro lado, considerando o outro inimigo, tambem silencioso porque nada ouvimos que estamos a dormir e moramos longe de Albufeira, o dos assaltos sistemáticos a turistas ingleses durante a madrugada (será verdadeira a hipótese que apareceu num jornal de que os senhores vândalos preferem assaltar turistas estrangeiros?) e o desastroso panorama da segurança de pessoas e bens neste país, será de esperar urgente anuncio de medidas de tratamento eficaz.
Mas não sei se a perceção justificará, o que objetivamente será uma pena.

Sem comentários:

Enviar um comentário