sexta-feira, 1 de julho de 2011

Não em meu nome IV - privatizações

Não sendo o humilde escriba economista, foi no entanto obrigado na sua vida profissional a fundamentar com análises de custos e beneficios, nas suas propostas,  todo e qualquer investimento em sistemas, equipamentos e até, investimentos imobiliários (evidentemente que as instancias decisórias não deram andamento à proposta de um grupo de técnicos de que fiz parte, mas tambem não foi dado andamento à alternativa que as instancias decisórias quiseram acordar com a câmara municipal de Lisboa...).

Por isso me sinto habilitado como cidadão e como técnico a exprimir a minha discordancia relativamente às intenções de privatização no domínio dos transportes (considerando as experiencias negativas em Inglaterra), da energia (considerando as dificuldades de coordenação da distribuição de energia em redes malhadas de elevada potencia de curto circuito de poli-exploração) , dos CTT (considerando que esta empresa é um fator de coesão nacional) e da CGD (considerando que o seu papel regulador é uma arma contra os efeitos da especulação financeira).

Mas o que motiva diretamente este texto é a noticia do DN que acompanha o anuncio pelo senhor primeiro ministro das privatizações  das participações de 25% na EDP e de 51% na REN (o simples facto de atualmente a participação na REN ser maioritária indicia a preocupação dos técnicos em garantir a referida coordenação, que será depois mais dificil, embora os senhores economistas possam explicar de outra forma) .
Informa o DN que será possivel vender a participação na EDP por
2244 milhões de euros
e que anualmente os dividendos recebidos pelo Estado são de
155 milhões de euros
o que quer dizer que o ativo de 2244 milhões de euros rende anualmente
6,9%.

E a participação na REN por
675,4 milhões de euros
que dão dividendos de
45,7 milhões de euros
que correspondem a um rendimento anual de
6,8%
                                               
Evidentemente que aqui temos a conversa do costume, que não são só os dividendos que entram na conta porque há os impostos e o endividamento da EDP é enorme.
Claro, se ela paga as obras das barragens e as torres eólicas que deveriam ser contabilizados como investimentos nacionais, e se o preço do kWh é inferior ao custo de produção, é evidente que tem de haver endividamento e que qualquer companhia privada vai querer isso resolvido, isto é, não vai subsidiar as obras nem os consumidores e o preço do kWh vai subir (coisa que é inevitável, mas seria desejável, com ou sem privatização, haver um plano de atualização progressivo e ponderado pela capacidade financeira dos consumidores, o que significaria que um banco teria de pagar o kWh a um preço mais elevado do que o cidadão desempregado; a experiencia ensina que, quando isso não acontece, existirá um mercado negro perfeitamente ilegal e inseguro de distribuição de eletricidade ) .

Ora, apesar dos meus limitados conhecimentos de economia, existe lá em casa uma regra que, nas circunstancias atuais, fixa os limites de rendimento para venda, seja do que for, em condições de emergencia ou de falta de interesse em manter a coisa, em 2%, e em condições normais, em 1%.
Isto é, a coisa vende-se se, havendo pressa em vender, o comprador oferecer 50 vezes o que a coisa rende por ano.
Ou, se não houver pressa, o comprador oferecer 100 vezes o rendimento anual.

Aplicando este critério às participações, resulta como valor minimo (considerando a situação de aperto que se vive) para venda:


da EDP:  7750 milhões de euros
da REN:  2290 milhões de euros


Seriam então estes os valores minimos que eu votaria em assembleia de acionistas, apesar de me fazer impressão estar a vender aneis que depois já não podem render (embora em qualquer altura se poderá renacionalizar uma empresa se houver fundamento para isso).

Infelizmente apenas me cabem 4,7% (percentagem relativamente ao universo de eleitores, dos votos na força politica em que votei), o que reconheço é muito pouco quando comparado com os acionistas dos partidos do governo (29,7%) e especialmente, quando comparado com os acionistas abstencionistas, de voto branco ou anulado (43,5%).

Tudo ponderado, eu achava melhor deixar estar as participações e atuar antes no tal plano progressivo das tarifas e na clarificação dos investimentos (recorrer ao QREN, o que exige elaboração de projetos de pormenor).

Pelo que é legítimo privatizar como se anuncia, mas não em meu nome.

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