sábado, 30 de julho de 2011

Os 4 meninos maus

Os quatro meninos maus, que, apesar de terem muitos brinquedos, gostavam de tirar os brinquedos aos outros meninos e meninas menos ricos, acharam que esses meninos e meninas andavam a brincar com demasiados brinquedos e durante demasiado tempo, e que assim não haveria dinheiro que chegasse para comprar novos brinquedos, daqueles mais caros, com que sempre tinham brincado.
Por isso, foram fazer queixa ao paisinho, que andava em processo de divórcio e a namorar uma nova madrasta, a gritar que não havia mesmo dinheiro e que por isso era preciso pedir à tia rica que morava num país mais acima para mandar algum dinheiro para poderem continuar a comprar os brinquedos caros.
Tanto berraram e ameaçaram o paisinho que punham os pés à parede senão lhes fizessem as vontades, que o paisinho lá convenceu a anterior consorte, em fase final de divórcio, a escrever à tia do país mais acima.
A tia mandou uns primos muito compostosinhos para brincarem com os quatro meninos maus e para ver que brinquedos é que deviam ser cortados aos meninos e meninas menos ricos para que os meninos maus pudessem continuar a brincar à vontade.
E assim se fez.
Porem, ao fim de quatro meses, os quatro meninos maus foram outra vez queixar-se ao paisinho e desta vez à nova madrasta, a gritar incontroladamente que assim não podia ser porque o programa dos primos lhe estava a confiscar os brinquedos, a eles, meninos maus e ricos.
E isto apesar de já ter sido confiscada grande parte dos brinquedos de que os meninos e meninas menos ricos já estavam à espera para o Natal.
Apesar de zangados com o paisinho e a nova madrasta, os meninos e meninas menos ricos continuavam a portar-se bem e a olhar para os quatro meninos maus a comportarem-se mal pensando que, possivelmente, o problema estaria nalguma dificuldade de perceção e compreensão das dificuldades dos outros.
E certamente que todas as questões entre todos os meninos e meninas se resolverão a contento geral se o paisinho e a nova madrasta levarem os quatro meninos maus a tratarem essa dificuldade e os respetivos doutores tomarem em consideração todos os parâmetros em jogo.
Será porem muito mau se os meninos não forem tratados, porque continuarão a empurrar os  outros meninos.




Nota 1 - Este texto foi escrito imediatamente a seguir à leitura do artigo de José Manuel Pureza, professor universitário, no DN de 2011-07-29 intitulado Confiscos, de que transcrevo: "... é preciso ter lata. O que o Estado deve aos bancos contrairam-no eles a 2% junto do BCE para depois emprestarem ao estado a 6 e 7%, ... Dizem os quatro banqueiros que é um confisco dos acionistas (o imposto pela troica reforço de capitais próprios e diminuição da taxa de alavancagem ou proporção entre empréstimos e depósitos, porque assim os dividendos não podem ser distribuidos ) ... o que eles poderiam explicar era porque é que o confisco deles não pode acontecer, e o dos contribuintes IRS é uma inevitabilidade".
Nota 2 - Será por causa do confisco da nota 1 que o senhor ministro das finanças quis poupar os dividendos ao imposto extraordinário? Mas o senhor presidente da comissão europeia já tinha dito à senhora eurodeputada Ilda Figueiredo que estava a ser estudado um imposto sobre os bancos...
Nota 3 - Este texto é dedicado àquela senhora bonita, elegante e sem problemas económicos, que num debate televisivo, sem que o seu interlocutor tivesse dito ou feito  nada que o justificasse, lhe disse que ele gostava de se mover em lamaçais. 
É sempre interessante ver o verniz estalar, especialmente em senhoras finas e de snobismo tão requintado (perdoe-se-me o machismo, mas as senhoras bonitas não deveriam ser de direita, ou então permita-se-me recordar à senhora que democracia será quando a oposição e os cidadãos e cidadãs tiverem acesso às contas, para compreender onde está o tal desvio de 2.000 milhões de euros, por exemplo, uma vez que o afastamento do defice de 7,7% relativamente aos 5,9% do PIB dá um pouco mais do que isso e o tempo está passando e a explicação não vem). 
De facto, a preocupação da esquerda é viver no meio do lamaçal das pessoas que têm de trabalhar para sobreviver, que correm riscos de ficar sem proteção social, que não têm educação, que cheiram mal, não vão a festas bonitas e facilmente são punidas quando por quaisquer peripécias se viram momentaneamente com um pequeno desafogo e aumento do poder de compra.
Para a direita primitiva que se exprime assim no nosso país, possivelmente amparada pelo complexo de Hubris de quem se sente no poder, isso é mesmo viver no lamaçal.
Eu teria preferido que o interlocutor, depois de alvejado novamente, com o epíteto básico, não tivesse retorquido "básica é a senhora", mas valeu a frase dele: " a hipocrisia da direita tem de ser denunciada". E recordo Francisco Pereira de Moura: "chamar fascista a alguem que defende ou pratica essa ideologia não é insulto, é a expressão de um facto". Da mesma maneira, classificar como hipócrita a defesa duma austeridade assimétrica e injusta, como diz J.M.Pureza,  não deverá ser entendido como insulto (assimétrica e injusta, segue-me senhor ministro?). 
Salvo melhor opinião.
E como dizia Maria  de Belem, extremar os privilégios de uns relativamente à maioria não será fazer regressar o debate ideológico aos tempos do capitalismo primitivo da elaboração do marxismo?
É que não é isso que pretendem, nem a esquerda nem a direita civilizadas.


Referencias:
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1935828

http://www.youtube.com/watch?v=IY2ChmIupsE

http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1905991

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