Não é brincadeira. Depois de tanto criticar a solução do aeroporto complementar do Montijo, e de defender a solução definitiva no campo de tiro de Alcochete, vir agora dizer que não tirem o aeroporto da Portela pode parecer estranho.
Deixem-me explicar, por exemplo, com uma ficção, uma antevisão da viagem de um executivo de Lisboa à Europa.
A, o dito executivo, dirigiu-se numa manhã do ano 2035 ao aeroporto da Portela. Serviu-se do metropolitano porque gostava de andar um bocadinho logo de manhã, como o seu serviço médico recomendava. Poderia ter requisitado o transporte autónomo em carrinhas partilhadas, mas elas tinham o inconveniente de demorar sempre algum tempo ao chegarem ao aeroporto, inconvenientes dos transportes individuais, quando não se dispõe de grandes áreas para a sua triagem e pontos de descarga e tomada de passageiros .
A também poderia ter feito o check-in em casa, no seu computador, mas como levava 20 kg de bagagem, preferiu fazê-lo no aeroporto, também porque não gostava de utilizar o serviço automático de recolha de bagagem em veículos autónomos.
Despachada a bagagem e com a informação do portão de embarque, A desceu a escada rolante para o cais do vai-vem para o núcleo central do novo aeroporto de Lisboa, onde anteriormente tinha existido o campo de tiro de Alcochete, próximo da povoação de Canha.
O vai-vem saía da Portela de 20 em 20 minutos e demorava o mesmo tempo a atingir o núcleo central. Fazia um pequeno percurso em subterrâneo até ao vale de Chelas e depois atravessava o Tejo pela ponte Beato-Montijo em linha partilhada com a ligação suburbana à margem sul mas distinta da linha de alta velocidade para Madrid, a qual era também partilhada pelo serviço de mercadorias para a plataforma logística do Poceirão. Uma vez na margem sul abandonava o troço comum com a linha suburbana e lançava-se a 250 km/h até ao núcleo central do aeroporto. O vai-vem era como um apêndice do novo aeroporto. Na Portela funcionava igualmente a estação da linha de alta velocidade para o Porto.
A rapidamente apanhou o transporte hectométrico, do tipo rapid people mover em cabinas automáticas para 6 passageiros, para a zona do seu portão de embarque e atardou-se na livraria da zona comercial a compulsar os últimos livros sobre a teoria económica explicativa da incompreensível evolução dos últimos indicadores socio-económicos e sobre as últimas propostas de reforma do sistema eleitoral, normalmente em fuga ao teorema de Kenneth Arrow.
Cinco horas depois estava em Bergen, na Noruega, discutindo com um grupo da universidade, um grupo do fundo de pensões local e um grupo de empresários da terra mais uma hipótese de investimento em Portugal, qualquer coisa relacionada com produção de energia por fontes renováveis e transporte a distância de energia elétrica para a Europa.
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