segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Senhor presidente


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C'est pas pour vous fâcher

Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m'en vais déserter 

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                                 Boris Vian, le deserteur



Senhor Presidente

Peço desculpa por nesta mensagem haver reminiscências da carta de Boris Vian.

Eu não devia invocar por comparação assunto tão grave como a guerra.

Mas na minha pequenina escala, impressionou-me o que o senhor Presidente disse,

que “não há lugar para o chefe de Estado dizer uma coisa, o chefe do Governo dizer outra… o Parlamento votar outra…”

À  primeira impressão, isso colide com a ideia da diversidade como caraterística da vida democrática, sem prejuízo duma organização do debate  que conduzisse à escolha pela entidade constitucionalmente indicada para essa escolha, que viabilizasse a correção de um dos órgãos pelos outros. Debate esse monitorizado pelos órgãos jurídicos de controle, um controle  mútuo entre o executivo, o legislativo, o senhor Presidente, e também o judicial, tal como nas empresas que praticam o controle de qualidade, com o seu órgão independente, com a interrogação que já atormentava Juvenal, quem guarda o guarda, quem julga o juiz?

E à segunda impressão lembrei-me da classificação que deu aos artigos da lei do Parlamento que mandavam o Governo suspender a construção da linha circular do metropolitano de Lisboa: uma recomendação (por acaso, recommandare em latim significa encarregar alguém duma tarefa). Classificação que o Governo se apressou a adotar para alegre e despreocupadamente continuar o processo de construção, por sinal com o visto judicial.

Por outras palavras, houve lugar, perdoe-se-me o galicismo, para o Parlamento dizer uma coisa, e o Governo, o Tribunal de Contas e o senhor Presidente dizerem outra.

Não quero que fique zangado, mas tomei uma decisão,  assim não posso apoiá-lo.

 

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