Lembrei.me de si, caro Francisco Mendes da Silva, no seu artigo admirativo de Dylan https://www.publico.pt/2025/02/07/opiniao/opiniao/bob-dylan-tentacao-neutralidade-2121631 ao ouvir a nona sinfonia no canal mezzo: https://www.mezzo.tv/en/Classical/West-Eastern-Divan-Orchestra-Daniel-Barenboim-Beethoven-Wagner-13052
A razão disso está na sua afirmação de que a arte está longe da maior eficácia na luta política e que até pode ser displicente.
Estou até de acordo consigo, mas porque nenhuma forma de atividade humana será a forma mais eficaz da luta política, tão rebuscadas são as formas de opressão e de repressão dos grupos que ascendem ao poder. Cada caso terá as suas particularidades. E sim, quão displicente pode ser a subserviência dos artistas para receber o sutento do poder. Mas deixemos a teoria e centremo-nos na nossa (pequena?) história.
É jovem, não viveu como adulto o pré 25 de abril. Não terá estado no Coliseu em 29 de março de 1974. Talvez não tenha lido o relatório dos agentes da PIDE que diligentemente lá estiveram e que pelo que escreveram parece que não concordariam consigo quanto à pouca eficácia da luta artística. Não terá dado muita importância à escolha da senha da revolução (ou revolta convertida em revolução), parece que decidida no Coliseu.
Tive a sorte de, jovem, ter conhecido os que cantavam e davam o seu contributo em espetáculos pelo país fora, uns com a PIDE a assistir, outros não, e em programas como o Zip-Zip. Apesar da primavera marcelista acabou por haver um Curto Circuito, como dizia Raul Solnado. O Zip-Zip estava a ter muita eficácia na sua luta pela democratização, até meteu canções de Lopes Graça, e então o SNI arranjou maneira de o substituir por um programa mais "displicente". Displicentes eram os nacional-cançonetistas, como se via na competição nos festivais da canção com os cantores de "intervenção" amparados pelas "letras" de Ary, José Niza, Joaquim Pessoa, Manuel Alegre, José Fanha, e música de Nazaré Fernandes, FernandoTordo ou Carlos Mendes.
Não terá sido a forma mais eficaz de luta, mas foi o que lhes impôs a consciência política de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, Luis Cília, Manuel Freire, José Barata Moura, Sérgio Godinho, Pedro Barroso, Samuel, Introito, Ana Maria Teodósio, e muitos outros de que a idade não me deixa recordar.
Do outro lado do Atlântico, seguiamos mais Joan Baez e o "Hair", que a guerra do Vietnam e as suas bombas de napalm para "defender os valores do ocidente" (como agora diria o holandês sorridente e bélico) a isso nos levava.
E voltando ao concerto da 9ª sinfonia com Barenboim (gravado em 2006) a orquestra do divan foi (é) outro exemplo de luta da arte, a orquestra composta por músicos uns judeu e outros palestinianos. Mas tem razão, é pouco eficaz, não evitou que assassinos tomassem o poder, em Telavive, em Gaza, em Moscovo, em Kiev, na Somália, no Congo/Ruanda, onde quer que o poder mande jovens morrer ou matar.
Mas enfim, não quero convencê-lo de nada, apenas recordar estes factos.
Com os melhores cumprimentos.
PS - Alguém me lembrou o "Masters of war", do próprio Dylan, de 1963:
Come you masters of warYou that build the big gunsYou that build the death planesYou that build all the bombsYou that hide behind wallsYou that hide behind desksI just want you to knowI can see through your masks
You that never done nothin'But build to destroyYou play with my worldLike it's your little toyYou put a gun in my handAnd you hide from my eyesAnd you turn and run fartherWhen the fast bullets fly
Sem comentários:
Enviar um comentário