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domingo, 4 de agosto de 2013

Uma noite de fim de semana no Algarve

O administrador dos hospitais principais do Algarve, de Faro e de Portimão, disse que o quadro de médicos no hospital de Faro estará 60% das necessidades e que faltam 38 enfermeiros. Sexta feira à noite, pouco antes das 23 horas, levei às urgencias do hospital de Faro uma pessoa de família com o que tudo indiciava ser um ataque de colibacilo. A espera pela triagem foi de 20 minutos, e o atendimento médico esperou mais 50 minutos. Foi necessário esperar ainda 60 minutos pelos resultados da análise , confirmação do diagnóstico, receita do antibiótico e recomendação de que não se esqueça em Lisboa da ecografia pélvica para completar o protocolo. Estava pouca gente a recorrer às urgencias (separadas da pediátrica), alguns estrangeiros, poucos turistas nacionais, algumas pessoas da serra algarvia (que iam chegando de ambulancia após o "delay" correspondente ao fecho dos centros de saúde diurnos, e, pela familiaridade do tratamento dos funcionários, alguns habitantes da cidade, com os acidentes domésticos habituais. Parece que as taxas moderadoras, apesar das isenções, fazem algum efeito, e que os turistas nacionais preferirão os hospitais privados. Nada tenho com o seu direito ao negócio, mas já tenho contra o facto, de, quando recorri a um deles, em Lisboa, muito apreciado e com ótima cotação entre as pessoas, ter esperado pela triagem o mesmo tempo que em Faro foi necessário para dar a receita, imediatamente aviada na farmácia anexa ao hospital (sim, privada por concessão). Depois de ter sondado os profissionais que me atenderam nessa altura e que se queixaram da má remuneração, dei razão à senhora CFO desse hospital, quando disse que a saúde é o segundo melhor negócio do mundo , depois das armas (porque não medem o alcance das palavras?). Enfim, quando se diz tão mal do SNS e dos hospitais públicos, quando se teme que os senhres governantes o debilitem para beneficiar o setor privado, melhor seria ter algum respeito por quem lá trabalha e consegue, com sucessivos cortes, manter um serviço de qualidade(não estou a criticar o ministro da saúde, Paulo Macedo, que também tem respeito por quem trabalha). No regresso a casa, a confirmação. O tráfego automóvel diminuiu muito. Isso ajuda a combater a sinistralidade, até porque grande parte dos acidentes eram devidos à mobilidade jovem e noturna. Mas não devia ser por isso que sinistralidade deia diminuir. Mais uma vez, quer o assunto seja saúde nacional ou segurança rodoviária, não pomos, como dizia o professor Carvalho Rodrigues, a ciencia na equação. Vamos atrás das emoções, como disse António Dâmaso.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Cenas da vida quotidiana de um cidadão em Portugal, Lisboa, em dezembro de 2011

Cena 1 - Talão abandonado numa caixa Multibanco, no Centro Comercial Colombo:

Levantamento, montante: 60,00 euros
saldo contabilistico:      593,51 euro
saldo disponivel:           601,41 euro
saldo autorizado:            19,73 euro

Após a operação de levantamento, o distraido detentor da conta ficou a saber que pode movimentar 19,73 euros, e que tem de aguardar que lhe depositem na conta o seu ordenado, de cerca de 600 euros, para poder usufrui-lo. Este tempo de espera resulta em beneficio para os bancos. O valor médio de uma renda de casa modesta em Lisboa é de 450 euro. Sobram 150 euro. Segundo um dos membros da troica, os salários em Portugal devem baixar porque atualmente são mais altos do que o valor que é produzido.

Cena 2 - Numa carruagem de metro na linha verde, um rapazinho, talvez de 9 anos, para o pai:
"porque não vamos à Assembleia falar com eles, com o primeiro ministro, para ajudar a resolver a crise? Há tantas lojas a fechar e pessoas desempregadas, que podiamos empregar essas pessoas nas lojas"
"Pois, dizia o pai, mas não pode ser só lojas, alguem tem de produzir nas fábricas, nos campos"
"É nisso que podiamos ajudar o Passos Coelho, dizer-lhe que podia empregar essas pessoas"
O pai sorria, mas era um sorriso triste.
O menino, que tem aspeto de inteligente e generoso, aprenderá um dia a lei de Philips: existe uma correlação fortemente positiva entre o desemprego e a contenção dos preços (a contenção dos preços é a politica oficial do BCE,  a qual não foi sujeita a eleições pelos cidadãos e cidadãs europeus)

Cena 3 - Na sala de espera de um hospital privado, 01:30.
Ao fim de uma hora e dez minutos de espera, abriu-se a porta de um dos consultórios e é chamado o nome do cidadão que esperava. Não houve triagem para avaliar o estado de gravidade do cidadão.
No jornal desse dia vinha anunciado o aumento dos custos para os utilizadores dos hospitais públicos e, no jornal do dia seguinte, a de que qualquer cidadão ou cidadã sem capacidade para pagar as despesas no hospital público pode registar no sistema informático das finanças a sua isenção (antigamente, no tempo do para-fascismo, chamava-se atestado de pobreza,  que era obtido na junta de freguesia).
Espera-se aumento da procura de hospitais privados.
Espera-se aumento do tempo de espera.