segunda-feira, 29 de junho de 2009

Economicómio XI – O monte dos perdigões

Tive o prazer de encontrar hoje uma colega economista que muito admiro.
Aproveitei para provocá-la, como representante dos economistas, dizendo que eles só pensam na estatística do PIB, sem se ralarem se o que para lá entra é ou não produtivo.
Contratacou ela que a causa principal do atraso português é a dificuldade em nos adaptarmos às novas condições da economia, e que os dirigentes das empresas se demitem da tomada de decisões para essa adaptação.
Sem pôr em causa a justeza do diagnóstico, e até concordando que nos falha em toda a linha a metodologia para a tomada de decisões, acho que vem a propósito o caso da herdade do monte dos perdigões.
Nesta herdade, próximo de Reguengos de Monsaraz, começou a produzir-se o vinho que leva o nome da herdade no rótulo.
A herdade pertence a Henrique Granadeiro, anterior presidente executivo da PT.
Questionado pelos jornalistas sobre a momentosa disputa dos 30% do capital da TVI ambicionado pela PT, fez o diagnóstico, julgo que com alguma autoridade devida à sua experiencia: “O que disseram o presidente da Republica, o primeiro ministro, o governo, e a presidente do principal partido da oposição, ou está fora do contexto ou está fora da realidade”.
Tenho de tirar o chapéu à afirmação, até porque é isso que eu sinto quando qualquer daquelas entidades se pronuncia sobre questões de transportes. E a hipótese de estar fora do contexto funciona como um capuz eficaz para quem se poderia queixar de estar a ser acusado de vítima de doença psiquiátrica de alheamento da realidade.
Todas as entidades citadas mereceram a frase. Pois não é certo que fugiram à recomendação de Melo Antunes (o sector publico deve conviver naturalmente com o sector privado; há espaço para todos)? Se bem que pode ser que não haja o mercado de que estão à espera…
Estar fora da realidade pode não ser doença.
A realidade pode ser pior do que Platão intuiu com as sombras nas cavernas. O nosso cérebro engana-nos. Pode tomar amostras da realidade em pontos isolados. Mas depois une-os com construções virtuais e imaginárias que nos afastam da realidade. E só com uma probabilidade muito pequena poderemos atingir uma boa decisão como somatório de decisões erradas.
E assim contesto a minha colega economista que muito admiro.
Não é a incapacidade de adaptação a novas situações que nos trama a vida económica (ora, ora, houve alguma dificuldade em criar contas “off-shore” quando o contexto se proporcionou?), é os tomadores de decisão estarem fora da realidade.
Como dizia o professor Carvalho Rodrigues, os decisores não utilizam ou não sabem pôr a Ciência na equação; e, como dizia o professor António Câmara, os decisores não conhecem o negócio sobre o qual tomam decisões.
É mesmo um interessante problema de economia, não é?
Fascinante, como dizia Mr.Spock, analisando a trajectória de colisão com o cometa destruidor…

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