sexta-feira, 19 de junho de 2009

O surpreendente Metro de Madrid - I

É extraordinário o que se pode ler nos links a seguir:

http://www.adn.es/local/madrid/20090619/NWS-1567-Esperanza-Gobierno-Aguirre-Metro-presidente.html

http://ecodiario.eleconomista.es/espana/noticias/1342895/06/09/Grupos-parlamentarios-piden-la-dimision-del-presidente-de-Metro-por-no-acudir-a-explicar-el-accidente-del-12-de-mayo.html

Em 12 de Maio de 2009, a segunda carruagem (só a segunda) de uma composição do Metro de Madrid descarrilou à entrada da estação de Moncloa e destruiu parte da borda do cais. Um descarrilamento pode ter várias causas, umas mais ligadas à via férrea e outras infraestruturas, outras mais ligadas ao material circulante, outras devidas à interacção entre via e material circulante.
Quem se interessar pode ver um catálogo de possíveis causas no relatório do acidente do Tua.
Isto para dizer que é legítimo as pessoas interrogarem-se sobre o que poderá ter provocado o descarrilamento e colocarem hipóteses indo ao catálogo, enquanto as comissões de inquérito tratam de buscar melhores certezas.
Chamo ainda a atenção para que normalmente existe em cada país uma entidade responsável pela análise das causas dos acidentes (em Portugal essa entidade é o GISAF), havendo casos em que, 24 horas depois do acidente, já existe disponível na internet informação muito próxima das causas reais.
Logo a seguir ao acidente, com base na informação recolhida na net, incluindo fotos do acidente, tentei dinamizar entre os colegas a análise do que poderia ter acontecido em Moncloa.
Fui muito criticado por alguns (apesar de também serem técnicos). Possivelmente estariam a ser de uma forma muito simples, politicamente correctos. Isto é, estariam a cultivar o secretismo que permite aos políticos fabricarem factos consumados. O metro de Madrid também não quis ajudar. Destaque-se pela positiva a informação do director Ildefonso Matias que no próprio local informou que o comboio seguia em marcha automática, pelo que não seriam imputadas as causas ao maquinista.
E digo que o metro de Madrid não quis ajudar porque veio a saber-se (não pela internet) que já tinha havido anteriormente uns descarrilamentos com aquele material circulante, e que tinha havido uns problemas de manutenção não esclarecidos ( vêem a vantagem das investigações de acidentes serem rápidas e abertas? Para que não se façam suposições negativas), com queda de motores à via, maus funcionamentos de suspensões, problemas em agulhas…
De modo que, quando não consegui recolher mais informação, desabafei: - Algo vai muito mal no metro de Madrid. Será que o sucesso subiu à cabeça destes senhores? (o metro de Madrid detem, neste momento, uma das maiores e mais modernas redes de metro do mundo.)
Também fui muito criticado por ter dito isto.
E assim chegamos ao episódio da carta de Manuel Melis, professor catedrático de Ferrovias e Geologia, presidente não executivo do metro de Madrid, relegado para a prateleira por uma reorganização de serviços de eficácia duvidosa (por exemplo: englobou na mesma direcção de manutenção as áreas de manutenção de infraestruturas e de material circulante, perdendo assim o benefício do controle mútuo de qualidade; separou os serviços ligados à rede em funcionamento dos serviços de projecto das novas linhas ou extensões, comprometendo assim, de forma dramática, o retorno de informação da experiencia de quem lida com as instalações para quem os projecta). Tudo isso sob a batuta dos políticos que muito democraticamente constituíram a Consejeria de Transportes da Comunidade de Madrid.
Dá-se agora o caso do presidente não executivo do Metro, deixado no cargo por magnanimidade dos políticos, mas sem interferência na vida do Metro, ter sido chamado à Assembleia da comunidade para “explicar” aos políticos as causas do acidente de 12 de Maio.
E o técnico enviou uma carta a explicar as causas técnicas, que foi considerada incompreensível (et pour cause, como diriam no metro de Paris, em que estas coisas parece não poderem suceder, porque até ver, os gestores e os políticos parisienses têm respeito pelos técnicos da empresa – um dia destes conto porquê) , mais escreveu que explicaria pessoalmente ao senhor conselheiro, à volta duns hamburgers, quando ele demonstrasse que tinha competências para perceber as causas.
Caiu o Carmo e a Trindade, que talvez seja o mesmo que cair a Plaza Mayor e o Palacio de Moncloa (ou o da Zarzuela? Não sei). Os políticos, irados, rasgaram as vestes, clamaram desrespeito pela assembleia democraticamente eleita e exigiram a demissão de Manuel Melis e a retirada de todas as mordomias.
Eu sinceramente penso que estos señores no saben lo que es verdaderamente la Democracia, pero como yo soy del tiempo de Salud y Republica y que igual qu'el pino junto a la ribera no nos moveran, e estos señoritos son mucho mas jovenes do que yo, entonces por supuesto que elos saberan lo que sepan.
E talvez os senhores deputados-consejeros ignorassem que o homem coitado vive do trabalho dele na Universidade, dos projectos, e que do Metro não recebe um cêntimo.
Engraçado, comparar esta estrutura de rendimentos com os rendimentos dos políticos (estoy hablando de los políticos españoles, no?).
Como dizia Pancho Guedes, os politicos não percebem nada de cidades. E de metros também não. Faz-me lembrar a triste comissão Parlamentar do acidente do tunel do Terreiro do Paço.
Confesso que tenho muita curiosidade em seguir estes acontecimentos de Madrid , e ver também quais as causas do descarrilamento.
Que a comunidade de Madrid e a sua consejeria de transportes estão descarriladas, isso já se vê.
Quanto ao descarrilamento do metro, é possível que tenha sido problema na suspensão ou rodados e engrenagens da carruagem, ou problema na via férrea… mas isso também o senhor de La Palice podia dizer.
A ver vamos.

2 comentários:


  1. Ora viva...vejo, ou melhor um dia verei, mas por agora leio que afinal está de acordo comigo.
    De acordo ou partilha a mesma opinião que eu no que respeita à falta de conhecimento (para não dizer outra “cousa” menos descontextualizada), de muitos políticos em relação a questões técnicas, nomeadamente relacionada com transportes.
    Infelizmente temos políticos que hoje fazem nada, e amanha dizem que fariam tudo, mas não explicam como, quando, com quem e de que forma.
    Ou seja Melis fundamenta muito bem porque está a “marimbar-se” (aqui tenho mesmo que ser politicamente correcto, porque bem estava tentado a usar outro verbo assaz condizente com o nosso (salvo seja) bem apimentado e vernáculo dialecto), para os políticos que teimam em não ouvir os técnicos, as pessoas que dia a dia gastam as bordas das cadeiras e secretárias a tentar fazer o que melhor sabem e podem, para a “cousa” funcionar bem, ou pelo menos, menos mal.
    Eu apesar da minha grande mas benévola ignorância na matéria, também acho que estas coisas ficam melhor explicadas ou entendidas numa mesa, obviamente que não naquelas em que temos que besuntar as mãos com as batatas e os hambúrgueres nem naquelas das massas recheadas de tomate com orégãos, cogumelos e queijo, (que falta de imaginação), como sugere Melis.
    Para mim (hoje não é Janeiro, como diz o cantor), num Coreto ou com Gravatas ainda vá, que não vá.
    Então o homem está lá apenas a fazer de “Queen of England” e depois pedem-lhe responsabilidades?
    Então? Que falta de imaginação.
    Então e por cá não é assim também?
    Pelo menos creio eu, e segundo Matias a culpa do que ainda está por descobrir, é certa não foi do homem que conduzia a máquina na altura, porque era a máquina, ser pensante, que se conduzia a ela própria, poderá ter sido de outro ser pensante, daquele elaborou o programa de software, do homem da manutenção, do que projectou e construiu a máquina ou ainda do que projectou, ou construiu a via.
    Ainda pode ser culpa do divino, ou coisa parecida...
    Mas como diz um sábio amigo, se ele assim permitir designá-lo, a minha preocupação não é pelo facto de a máquina ser pensante, até porque disso vou percebendo eu, preocupa-me sim, é que alguns pensem que pensam.
    Eu cá tenho as minhas dúvidas se penso.
    Mas o que não vi, e ainda bem, porque pensei por momentos que estava a tomar algum alucinógénio daqueles que recebemos agora nas nossas caixas de correio electrónico, foi o mesmo que li numa notícia sobre o Metro cá do burgo em que um engenheiro (como é possível) que supostamente é chefe dos Comandos da Central do Metro, onde afirma e parece que afirmou mesmo, que “as máquinas não bebem uns copos nem se zangam com as mulheres”.
    Que barbaridade tamanha...
    Eu não o queria para meu chefe. Também quem gostará de ser chefe de “bêbados” ou de coirões que batem nas mulheres?
    Já viu algum exército ser comandado por bailarinas, ou uma orquestra ser dirigida por um trolha? Desculpe-me o palavreado, mas quando falam em bater nas mulheres fico com borbulhas, já não digo o mesmo em relação a beber uns copos, sem excesso é claro.
    Será por isso que somos o que somos?
    Bem hoje estava com a electricidade toda, mas chega. Apesar de o tema ser interessante.
    Quanto à sua estimada professora de Filosofia, confesso que admiro pessoas, que se lembrem com ternura das suas antigas professoras.

    DPVL

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  2. Carissima anónima DPVL

    Como se diz em coloquial, ainda bem que já somos dois a defender de forma politicametne incorrecta o técnico Melis. Nós por cá também submetemos os técnicos aos politicos, e parafraseando Pancho Guedes, os politicos não percebem nada de metros (em Madrid viu-se). O nosso problema é que temos sempre grupos de técnicos que vão a correr dar viabilidade às ideias dos politicos. Exemplos mais dolorosos; o traçado da 3ª travessia do Tejo, a localização da estaçaõ central do TGV, o terminal de contentores de Alcantara... tudo casos em que o grupo de técnicos nomeado devia explicar aos politicos: estas não são as melhores soluções.
    Quanto ao engenheiro do Metro de Lisboa, calma. Independentemente do diz que disse, importa evitar o "pelourinho" e discutir o assunto em termos técnicos. Trata-se de um profissional de alto valor técnico, de que discordo tecnicamente, porque ele é um defensor entusiasta do automatismo integral, enquanto eu sou um entusiasta prudente de sistemas ATO com maquinista a "supervisionar" a segurança geral. Julgo que deverá ser nas questões técnicas que nos devemos concentrar.

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