quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Os orçamentos de estado de Portugal e dos USA

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Aproveitemos a época em que se fala tanto de orçamentos.
Deixemos o aspecto novo rico e provinciano (no sentido em que Sofia de Melo Breyner falava do poder de Lisboa) da fotografia parlamentar com a memória “pen” na mão elevada, ou o CD, já não sei bem, mas de mão, sim, elevada e o sorriso amarelo para fixar a felicidade do momento.
Lembrei-me de ir ver os sítios do ministério das finanças do meu país:

http://www.min-financas.pt/comunicados/2010/100127.pdf
(ver o resumo do orçamento global na página 7),

e do Office of Management and Budget da presidência dos USA :

http://www.whitehouse.gov/omb/budget/fy2011/assets/budget.pdf
(ver a tabela S.1 , na página 146, com o resumo global), sendo que também é muito interessante o artigo da Wikipédia:

http://en.wikipedia.org/wiki/United_States_federal_budget

Também com carater lateral, temos aqui a questão interessante de, em Portugal, de acordo com uma norma europeia a precisar de actualização, se utilizarem os seguintes significados antecedendo as unidades, por exemplo de euros ou dólares:

Bilião…………milhão de milhões...................10E12........T....... tera
Trilião………milhão de milhões de milhões........10E18 .......E ...... exa

E nos USA, no Brasil e, mais recentemente, na Inglaterra:

Bilião………… mil milhões ....................... 10E9 ...... G....... giga
Trilião …… milhão de milhões ................. 10E12...... T ...... tera
Quintilião… milhão de milhões de milhões .... 10E18 ..... E ...... exa

Mas talvez tenha mais interesse fazer um quadro comparativo entre os orçamentos para 2010 de Portugal e dos USA, quanto mais não seja para daqui a um ano vermos o grau de realização e de afastamento entre a previsão e a realidade.
E para vermos onde deveríamos atuar para melhorar o PIB ou reduzir o défice (vou ter mesmo de voltar ao “Economia para todos” de David Moss).
E para termos uma ideia da intensidade ou do PIB per capita ou da produtividade comparada.
Então vejamos (para converter dólares em euros multiplicar por 0,7, pf):

' PT (milhões de euro) USA (milhões de dólar)

Défice: 13 900 (8,3%) ; 1 600 000 (10,6%)

PIB: 168 000 (100%) ; 14 600 000 (100%)

Despesa pública: 81 200 ; 3 720 000

Dívida pública: 143 000 (85%) ; 9 300 000 (64%)

Temos assim que o PIB dos USA será cerca de 60 vezes o PIB de Portugal, sendo que a população dos USA é cerca de 30 vezes a de Portugal, pelo que a produtividade em Portugal será cerca de metade. Apesar disso, a um ignorante em economia como eu parece que a maior preocupação em Portugal deveria ser a de aumentar a produção, e só depois preocuparmo-nos com o aumento da produtividade, mesmo que entretanto cometêssemos desperdícios .
De assinalar o elevado défice dos USA, que os defensores da desigualdade adam smithista atribuem à reforma do serviço nacional de saúde, mas que os economistas do império romano atribuiriam, com a experiencia das legiões romanas, a excesso de despesas militares longe de Roma, perdão, longe de Washington.
Comparativamente (dentro das limitações da comparação de uma nano-râ com um mega-boi), dir-se-ia que a dívida pública de Portugal está um bocado puxada. Aliás os nossos bancos, geridos por tão preclaros gestores, vêm a ser responsáveis por quase outro tanto de dívida, o que não abona os ditos gestores.
Donde, parecerá que, para inverter a situação, terá de se acabar com a triste situação de importarmos mais de 80% do que consumimos. Isto é, só produzindo se pode acabar com a dívida… Não deixem fechar as fábricas nem as fabriquetas, não deixem arrancar árvores, não abandonem a terra…mas o dr Medina Correia só fala em congelar os salários…

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3 comentários:

  1. Os números, por si só, pouco dizem, ou melhor, não dizem rigorosamente nada.
    A questão principal é a capacidade de um país para recuperar da crise, orçamental, financeira, económica e sobretudo social.
    E não, não haja dúvida, que os EUA têm muito mais meios para sair da "crise" do que nós.
    Têm uma economia mais aberta (a mais aberta do mundo), ainda têm a moeda de referência, têm muito melhores empresários, muito mais produtividade e, sobretudo, uma sociedade menos, muito menos, dependente.
    E também é verdade que tudo isto é suportado numa política que alguns dizem "belicista" e que eu digo inteligente. Inteligente, sim! porque a capacidade bélica é fundamental no xadrez político e económico.
    Ou seja os EUA irão (do verbo e não do país) ábandonar a crise, enquanto nós nos afundaremos ainda mais.
    Basta, no que documento que refere, no qual eu já tinha tido a oportunidade de passar os olhos, ver o capítulo referente às PPP's e nelas incluir as que, por serem do sector público empresarial, não foram incluídas.
    é preciso veríficar que Portugal, ao contrário dos EUA, não cria valor. Destrói valor.
    E nada disto deriva do Obama ou do Pinto de Sousa, deriva da cabeça dos respectivos povos.
    Uns andam a ver o que governo pode fazer por eles e outros andam a ver o que podem fazer por si próprios...

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  2. Caro anónimo

    De acordo. Os números nada dizem. Mas a sua ausência ainda diz menos. E os nossos meios de comunicação social falam, falam, e omitem os números. Mas realmente é verdade, ou pelo menos parece, que os números aparecem depois da realidade, se é que há realidade ou o que for por ela, e a realidade é um povo que se está afundando porque, como diz, destroi valor e tudo deriva da sua cabeça.

    É por isso que eu costumo dizer que a solução está nas escolas (não as da senhora ministra Lurdes, claro), para ver se mudam a dita cabeça, apesar de a falta de concursos públicos já andar a levantar suspeitas sobre as obras de recuperação.

    Quanto ao valor estratégico, por mais valor que a guerra do Afeganistão e a guerra do petróleo criem, faz-me sempre repulsa imaginar: e se fose eu o peão comido? E desta dúvida só saio votando por não haver guerra, mesmo que o valor fosse menor e que minha jogada seja classificada como de xadrez romantico(mas parece ser um voto minoritário, pelo menos por enquanto).

    Quanto à questão do setor empresarial público, segundo o blogue de 4 de janeiro contribuimos com 50 000 milhões de euros para a duvida, não é?
    Eu, como funcionário de uma empresa pública, em fim de carreira (espero que em fim só eu, que a empresa pública ainda me sobreviva uns anos), tentei, dentro do meu pequeno mundo, que ela funcionasse melhor. Era difícil, e o insucesso foi quase total. Fico com a ilusão de que eu tinha uma certa razão, porque normalmente fez-se o contrário do que eu propus e o estado atual não é famoso (não quer dizer que eu conseguisse reduzir a dívida, até porque dívidas são números e os números nada dizem, mas a tal de produtividade julgo que sim, que até conseguiria uns resultados, incluindo indução de benefícios externos à empresa). Mas se lermos os relatórios das empresas públicas só vemos sucessos, não é?
    Como dizia o outro, a situação é de facto catastrófica, mas ainda não é grave. Ainda podemos afundar-nos mais um bocadinho, enquanto não lemos a Sabedoria das Multidões e não conseguimos pôr o PIB a subir na base das exportações e do investimento produtivo.

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