terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

De Sofia de Melo Breyner, um país de pedra e vento duro


 
De  Sofia de Melo Breyner, 1962, recordada hoje pelo programa da Antena 2:
 
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro
 
Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Do longo relatório irrecusável
 
E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas
 
- Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro
 
Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo.
 
 
Como já expliquei, sou um emocional, e lá apareceu ao canto do olho uma meia lágrima, quando oiço aquela do relatório irrecusável a seguir ao “rente aos ossos”.
Sofia era uma senhora das classes privilegiadas da nossa comunidade, mas que sentia o problema do empobrecimento.
A Antena 2 passou este poema depois da crónica de Pedro Malaquias que referiu o suicídio de 9 empresários de restaurantes em 3 meses “que viram a esperança morrer nos seus braços”.
Já dizia o deputado do partido do atual governo que há restaurantes a mais.
Não vale a pena discutir com quem não quer ver o crime, só porque na lei não está escrito que existe uma correlação ente o desemprego e o suicídio. 
Não vale a pena discutir com quem se acha incumbido de uma missão salvadora de acordo com a cartilha da escola de Chicago.
Depois do poema a Antena 2 transmitiu uma cantata do Natal de Bach e o Stabat Mater de Boccherini.
Porque a esperança do atual governo se ir embora antes do fim do mandato ainda não morreu (apesar do senhor ministro Relvas pedir aos portugueses para esperarem até ao fim do mandato para ver os resultados – será que está a anunciar benefícios pré-eleições?).
É verdade que, apesar de já se cantar “Grândola, vila morena” na ruas de Madrid, não são os poemas que mudam, mas podemos perguntar ao atual governo como vai a implementação da taxa sobre as transações financeiras e se já estudaram a aplicação de uma taxa sobre cada  transação do multibanco não repercutível no utilizador.

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