terça-feira, 7 de maio de 2013

O triunfo do regresso aos mercados

Contentinhos que ficaram, um exito.
De longe um sucesso superior ao fracasso da diminuição do PIB e do crescimento do desemprego.
Que bom para quem vive em gabinetes poder ostentar um triunfo assim, um empréstimo a 5,6% a 10 anos, tomado por credores de confiança que já conhecemos.
Já não é preciso propor alterações aos tratados da Europa.
Não pensam agora em defender a união bancária, a mutualização da dívida e a harmonização fiscal.
Um exito, os credores já não se enervam connosco.
E contudo, tão escandalizados que ficaram por causa dos "swaps" indexados toxicamente à baixa das taxas de juro.
Que foi o que aconteceu, as taxas de juro baixaram, a taxa de cedencia do BCE já está em 0,5%.
Grande exito, portanto, uma taxa de 5,6%.
Foi preciso Silva Lopes explicar que, apesar do valor de 5,6% ser melhor do que o esperado, uma dívida de 5,6% não é sustentável, porque só é possível o desendividamento se a taxa de crescimento do PIB for superior à taxa de juro da dívida.
Esta é uma condição sine qua non.
Tenham pudor, não cantem vitória enquanto a taxa de juro da dívida for superior à taxa do PIB.
Que triunfo este, nem sequer é uma vitória de Pirro, mas vamos ter de ouvi-los a gabarem-se e a sorrirem na televisão, a dizer que o caminho que traçaram está certo.
É isto o funcionamento regular das instituições?

PS em 8 de maio - Segundo o DN, os senhores governantes não consideraram o leilão da divida um sucesso, mas sim "um grande sucesso". Mais acrescentou o senhor ministro das finanças que o ajustamento orçamental em Portugal era "muito mais bonito". Devia ter sido o subconsciente cego pelo exito do leilão. Eu diria que é um verso de um poema surrealista, para não invocar outra vez a frase de Marx, que ao princípio o erro é uma tragédia e depois uma sucessão de farsas, trágicas, mas farsas. O atual plano de pagamento de dívida termina em 2041, e como a taxa de variação do PIB continua inferior à taxa de juro, lá vamos nós vivendo em divida permanentemente crescente. Mas claro que é tudo culpa do governo anterior, como até o senhor ministro Maduro, apesar das suas credenciais intelectuais, já veio dizer, culpa da bancarrota do governo anterior (anteriores? até ao fim dos anos 80, com a desindustrialização, desarmamento pesqueiro e desertificação agrícola dos governos de Cavaco Silva?). 
E outra correção: afinal o juro conseguido não foi de 5,6%, foi de 5,669%. É um erro de comunicação no montante de 1,2% . É pequeno, o erro, mas é mais uma amostra da imprecisão dos senhores governantes. E nem é assim tão pequeno, é 240% da taxa de cedencia do BCE, de 0,5% .

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