sexta-feira, 15 de julho de 2022

O LRT (light rail transit) de Odivelas a Loures, em 3 km de túneis

Graças à sedução do "marketing" do metro e da sua tutela, foram as sucessivas direções das câmaras de Odivelas e Loures convencidas de que o metropolitano seria expandido até aos seus municípios.

Em 2021 foi assinado um protocolo entre o metro e as duas câmaras em que o primeiro se comprometia a desenvolver o projeto de uma linha de metro de superfície (LRT light rail transit) entre o Hospital Beatriz Angelo  e a estação de metro de Odivelas e entre esta e o Infantado numa extensão de  5 + 8 km. Ver   https://fcsseratostenes.blogspot.com/2020/10/mais-um-protocolo-das-camaras-de-loures.html

e

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/11/mensagem-para-o-presidente-da-camara.html

Provavelmente para se defender da habitual acusação de secretismo, o metro terá promovido ( eu escrevo terá porque não assisti nem vi referências na imprensa)  uma sessão de esclarecimento com alguns pormenores. Por razões que me dispenso de avaliar, não devo revelar a minha fonte de informação, sem no entanto não deixar de recordar os artigos da Constituição 165.z (competência exclusiva da AR para legislar sobre bases de ordenamento do território, o que exclui ad limine qualquer despacho de um ministro ou secretário de Estado determinando qual o traçado de um novo troço de metro, como tem sido praticado) e 65.5 (direito de qualquer cidadão de participar na elaboração de quaisquer instrumentos de planeamento físico do território).

Na sua argumentação, o metro achará que debater traçados com municípios cujos técnicos não têm naturalmente experiência de exploração de redes de metro  será suficiente para cumprir as diretivas constitucionais. Não é, porque a eleição de representantes pelos cidadãos não lhes confere o dom da infalibilidade em assuntos técnicos, que aliás ninguém tem, mesmo técnicos com experiencia, daí a necessidade de debate sério, não manipulado, especialmente quando se invoca a desculpa dos prazos do PRR e do POSEUR para aceitar factos consumados, como se viu com a linha circular, com o prolongamento da linha vermelha e agora com o LIOS.

O famoso mapa de 2009 de expansão do metro da então senhora secretária de Estado dos Transportes que serviu de fundamento à linha circular previa a ampliação da linha amarela a partir de Odivelas para a Ramada e para Loures e Infantado através de uma bifurcação:


 Esta proposta ignorava a proposta do PROTAML de 2002 duma linha de metro de superfície de Algés a Loures e Sacavém.


Consultado o site do metro   https://projetos.metrolisboa.pt/expansao/projetos-em-estudo/    nele se encontra o mapa do traçado da linha de LRT Hospital B Angelo-Odivelas-Infantado:

retirado em 2022-07-14 do site do metropolitano


Confirmam-se assim as informações da referida sessão, conforme o esquema seguinte, em que sobre o mapa  Google Earth inseri as distancias das 7 interestações do troço HBAngelo-Odivelas, com uma extensão de cerca de 5 km e as cotas à superfície, retiradas do mesmo Google Earth. 


Distancias entre estações e cotas à superfície, entre a estação de metro de Odivelas e o Hospital Beatriz Angelo


Ora, o critério para o prolongamento da linha amarela do metro deveria ser o de captação do TI (transporte individual) com origem nos municípios de Odivelas e de Loures e a norte, nomeadamente Malveira e Mafra, e ligação à linha do oeste, com parques dissuasores junto do Hospital e da CREL.  
Donde, a linha em U de LRT Hospital-Odivelas-Infantado não parece integrar-se num plano de mobilidade da AML coerente, excetuando a ligação Odivelas-Infantado, parcialmente já prevista no PROTAML DE 2002 integrada na grande circular externa em LRT Algés-Loures-Sacavém.
Dadas as caraterísticas topográficas, o troço Odivelas-HBAngelo tem um traçado sinuoso, com elevadas pendentes e subsequente dispêndio de energia, e obrigando à construção de 3 tuneis, um deles junto da estação de metro de Odivelas. 
A cota do plano base de via do troço em LRT projetado será aproximadamente 21m enquanto a cota da via no término do metro é de cerca de 25m. Isto é, um traçado em tunel de metro prolongando o término existente teria ligeiramente menos pendentes, dentro do limite de 4% e deveria ser menos sinuoso, com o novo término no HBAngelo à superfície (a cota à superfície junto do HBA é de 119 m e junto da radial de Odivelas chega a atingir 200 a 170m contraindicando a construção de uma estação nesta zona, daí a interestação de 1280 m). 
Note-se que a estrutura habitacional de toda esta zona, quer em extensas áreas de moradias quer em áreas de blocos, induziu o recurso sistemático ao TI , pelo que não poderá exigir-se que o metro vá porta a porta, para isso deverão prever-se parques de estacionamento e modos complementares a pedido.
O serviço para ocidente de Odivelas poderia ser assegurado pelo prolongamento do troço LRT vindo do Infantado, cumprindo assim parcialmente o objetivo da circular externa do PROTAML de ligação a Algés. 
O adicional de custos do tunel de metro comparativamente com os custos dos tuneis do LRT pode ser atenuado com o encurtamento do percurso e eventualmente anulado com a valorização da hora do passageiro poupada devido à maior velocidade comercial do metro em relação à do LRT (30 km/h com término de inversão alternada, contra 20 a 25 km/h, o que para um percurso de 5km dá um diferencial de 5 a 2  minutos). Esta valorização, multiplicando a poupança em tempo do percurso pelo número de passageiros, entra nos critérios das análises de custos benefícios regulamentadas pela Comissão Europeia.
Considerando a extensão de tuneis e o desnível para o LRT e o maior potencial atrativo da ligação em metro pesado a partir do Hospital B Angelo em comparação com a linha de LRT que obriga ao transbordo em Odivelas, é de recomendar a construção da linha HBAngelo-Odivelas em metro pesado e não em LRT, especialmente se vier a verificar-se a continuidade da linha amarela até ao centro de Lisboa (linha em laço) apesar da linha circular.








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