quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Algumas notícias do fim do ano de 2009

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1 – Hidráulica - As águas do Douro subiram 4 metros, no vale do Tejo tomam-se medidas de prevenção contra a cheia prevista, no Guadiana aguarda-se a reposição por Espanha dos caudais retidos.
Com muita pena:
- dos bichinhos que serão vitimados,
- das espécies vegetais que serão destruídas,
- das eventuais perturbações climatológicas relativamente à situação anterior,
- de algumas submersões de vestígios arqueológicos de antepassados que dariam anos da sua curta vida para poderem beneficiar por um momento só que fosse da nossa tecnologia,
gostaria de saber, considerando os factos do primeiro parágrafo, quando serão os nossos técnicos da especialidade autorizados a projectar os tão denegridos transvazes de água das bacias do Douro e Tejo para a do Guadiana.
Há mais de 40 anos que a comissão mista luso-espanhola definiu as linhas orientadoras, chegando-se do nosso lado a fixar o traçado (foi mais fácil do que o do TGV), mas ficando tudo à espera de melhores dias.
Não é possível às barragens do Douro internacional, quase de fio de água, nem às do Tejo, reter o excesso de água.
Os descarregadores de cheia fazem o paralelo desse excesso contornando as turbinas, perdendo-se o seu potencial energético; se esse caudal fosse desviado para linhas de água de menor caudal, podia aproveitar-se a respectiva energia e armazená-la para fins de regadio ou de bombagem em horas de vazio para produção eléctrica em horas de ponta.
Mas continua o tabu contra os transvazes e a não poderem aproveitar-se os recursos de que dispomos.
Será talvez um problema de dificuldade de percepção da realidade.

2 –Atropelamentos – continuam os utlizadores da estatística no ministério da Administração interna a chamar a atenção para a diminuição do número de mortos nas estradas neste ano relativamente a 2008. Continuo a pensar que não é um bom método para combater a sinistralidade rodoviária. Foco-me no horrível crescimento do número de atropelamentos mortais, especialmente nas cidades.
Quando perceberão os senhores condutores que há uma correlação muito forte entre os níveis de velocidade praticados e o número de mortes por atropelamento?
Já repararam na preversidade do aumento da segurança para quem conduz (cintos de segurança, air-bag, zonas de absorção, barras de protecção, melhor estabilidade dos automóveis) se traduzir na diminuição da segurança de quem anda a pé?
Isto é, o número de mortos diminui entre quem conduz e aumenta entre quem anda a pé.
Por outras palavras: o modo de transporte automóvel está mais seguro e o modo de transporte a pé está mais perigoso.
Mais uma vez recomendo o livrinho de Steven Levitt e Stephen Dubner, Superfreakonomics, em que este assunto é tratado com as metodologias dos economistas.
É preciso mais para justificar a fixação de limites de velocidade rigorosos?
Ou haverá aqui também um problema de dificuldade de percepção da realidade?

3 – Vanunu foi preso – Vanunu é um antigo técnico da indústria militar nuclear de Israel que conseguiu publicar as provas da existência de armas nucleares fabricadas em Israel.
Os detentores do poder não gostaram.
Parece que uma agente israelita da Mossad seduziu o senhor e conseguiu convencê-lo a viajar até um país onde foi fácil obter a extradição.
Vananu terá achado que a agente valeu a pena? Talvez o autor neolítico de Foz Côa achasse que valeria a pena morrer cedo, se o deixassem experimentar a electricidade por um mês; nem se importariam os maias jogadores de bola, cujo prémio era a morte, mas só depois de um ano em que todos os desejos eram satisfeitos.
Ainda bem que o meu blogue não tem força para convencer ninguém, não fosse uma agente israelita seduzir-me para que o seu Estado, seu dela, me punisse devidamente, eu, um apoiante de Hedy Epstein, uma senhora judia americana de 85 anos, que sofreu as perseguições nazis e tem por isso autoridade moral para desenvolver militância pelo levantamento do cerco à faixa de Gaza.
Mas nisto das teses oficiais e das políticas geo-estratégicas pode haver também muitas dificuldades de percepção da realidade.

4 – Uma tese de mestrado – Uma cidadã fez as suas investigações, inquéritos e análises para uma tese de mestrado, e concluiu que existe uma correlação fortíssima entre as urbanizações baseadas no betão, com poucos ou degradados espaços verdes e dificultando o relacionamento entre vizinhos, e as depressões dos habitantes.
As depressões são uma das características crónicas da força de trabalho do nosso país (não quer dizer que nos outros países também não sofram com elas, mas centremo-nos no nosso país).
Por isso os decisores e os estrategas deviam dar mais atenção a esta correlação (é a recomendação da tese, dirigida especialmente aos senhores dirigentes autárquicos).
Mas não parece que dêem, e os nossos técnicos de engenharia e de arquitectura não estão organizados para vencer este combate.
Pelo menos que eu saiba.
Nem eu me sento capaz de mobilizá-los.
Como eu dizia há dias, vamos continuar a ser uma cidade pequenina.
Pequenina e mal organizada, com muito betão por um lado e edifícios degradados por outro.
Acho que há aqui um grande problema de dificuldade de percepção da realidade.

5 – A grandeza dos levantamentos – De 1 a 26 de Dezembro de 2009, foram efectuados através da rede POS Multibanco:
58 milhões de pagamentos no total de 2 500 milhões de euros;
no mesmo período foram feitos nas ATM:
31 milhões de levantamentos no total de 2 100 milhões de euros.
Temos assim que o movimento no Multibanco no mês de Dezembro de 2009 correspondeu aproximadamente a 2,6% do PIB (aumentando o consumo, mesmo que estejamos a desequilibrar a balança de pagamentos, estamos a aumentar o PIB).
E… cada português, crianças e velhos incluídos, estraçalhou 460 euros. Bom, cada português na concepção estatística do restaurante com janela para a Avenida da Liberdade. O cidadão comensal janta um frango e o cidadão sem-abrigo observa do lado de fora. Cada cidadão jantou meio frango.
Este pequeno país era assim capaz de resolver os problemas da GM, do Lehman Bros e do J.P.Morgan e no fim ainda sobrava dinheiro para os bónus dos senhores gestores.
Mas não, optamos por sustentar os países fornecedores dos 80% (mais)do que comemos, da energia que consumimos em casa e no automóvel, e do que compramos para nos divertirmos a nós e às nossas crianças.
Eu acho que não é sustentável,que o endividamento do país para fins de consumo não pode ser infinito, que a única solução seria aumentarmos ambas, a contenção e a produção, mas também acho que aqui há um problema generalizado de dificuldade de percepção da realidade.

São de facto interessantíssimas as notícias de fim de ano, algumas pouco agradáveis.

PS - Para que os meus amigos economistas não me repreendam por estar a apelar à contenção numa altura em que o consumo poderia estimular o PIB e o investimento e em que a contenção poderia agravar, por exemplo, o fecho de fábricas e o desemprego, entrando na espiral negativa, quer-me parecer que isso só seria verdade se vivessemos em economia fechada.
Como a nossa procura não vai influenciar coisa nenhuma lá fora e a contenção que eu proponho é relativa apenas a produtos estrangeiros (não é dificil afectar as importações com a contenção, importamos 80%), julgo que conter o consumo (contendo a importação) e estimular a produção (e a exportação, consequentemente) será uma boa solução.
Mas não pode ser o pobre mercado a tratar disso, pois não?
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