quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Gestionarium X - dedicado ao senhor sociólogo Antonio Barreto



O sociólogo António Barreto e o estado da Justiça em Portugal

Não gostei do senhor sociólogo António Barreto enquanto ministro da Educação. Acho que contribuiu, como quase todos os restantes ministros que tivemos, para a progressiva degradação da Educação em Portugal, por falta de compreensão da correlação entre extensão efectiva da Educação a todos os jovens, e progresso social e económico. Mas é uma opinião subjectiva. É achismo simples.
Também subjectivamente me parece que faltam alguns conceitos matemáticos e físicos nas suas análises, especialmente as que fez há muitos anos a propósito da reforma agrária. Mas é também achismo.
Porém não acredito que possa ser achismo o que o próprio António Barreto diz da Justiça em Portugal.

O princípio da qualidade

Perante um advogado amigo que se me queixava do estado da Justiça, disse-lhe que as disciplinas científicas desenvolveram, para as aplicações nas empresas e nos serviços, métodos de controle mútuo. Dois órgãos distintos, sem relações nem dependências hierarquias comuns debruçam-se sobre o mesmo sistema ou equipamento e controlam mutuamente a correcção da sua instalação, da sua operação, da sua manutenção, da sua desactivação. Não há orgãos soberanos. As decisões são tomadas após debate em equipas. Não havendo equipas únicas. Este é o princípio básico da qualidade.
O pobre do meu amigo disse-me que isso era impossível no mundo da Justiça em Portugal.
Um silogismo elementar permitirá concluir assim não pode haver qualidade na Justiça em Portugal.

O método “top-down”

Há ainda uma agravante. No nosso país o poder político é fan dos métodos “top-down”. Há uma crença religiosa que só pode ser forte porque os crentes estão longe da realidade.
Dou exemplos: como pode um ministro dos transportes avaliar as prioridades do desenvolvimento da rede e dos modos de transporte duma área metropolitana se não utiliza a rede para ir para o trabalho? Como pode um ministro da saúde avaliar o serviço de saúde se não recorre a ele?
A resposta é simples, uma vez que não é aplicável o método dedutivo nem o método escolástico: tendo fé nos seus colaboradores e nos seus relatórios.
E quem são os seus colaboradores? São aqueles que o poder político, supervisionado pelo poder económico, seleccionou para colaborarem com o ministro. Sem avaliação das competências técnicas, concurso público, apesar das tão badaladas regras da contratação pública, a probabilidade de mau entendimento da realidade, ou subordinação do entendimento da realidade a outros critérios é muito grande.
E quando essa probabilidade é grande, também é grande a probabilidade das decisões que são tomadas não resolverem os problemas.
Típico de um processo “top-down”, sem “down-top” (estão de acordo que o método da senhora professora Maria de Lurdes Rodrigues era “top-down”, não estão?).

Poor us

É isso que nos distingue. Temos os mesmos problemas dos outros povos, mas temos grande dificuldade em nos organizarmos em equipas que cooperem para a solução do problema.
E assim assistimos desagradados à entrada precipitada em vigor duma lei da reforma penal que libertou por erros processuais criminosos já julgados e condenados, ao aumento da criminalidade, à gestão desastrosa do imobiliário das prisões, tudo ao arrepio dos técnicos que estão mais dentro dos assuntos.

A estatística

E sempre que questionamos os ministérios, vem a resposta olímpica: de acordo com as estatísticas de que dispomos, os indicadores dizem que está tudo bem.
Fazendo a ponte para assuntos mais próximos da actividade do humilde escriba deste blogue, tudo isto me faz lembrar o colega mais novo, da minha empresa, que foi investido num cargo de muita responsabilidade e que apresenta resultados estatísticos da sua direcção de fazer inveja a qualquer um.
Eu bem tento convencê-lo de que as questões técnicas que surgem numa empresa de transportes deviam ser tratadas como um jogo de xadrez.
O xadrez tem regras e existem algumas técnicas para aplicar consoante a fase do jogo.
Mas não é possível ensinar a analisar uma combinação para resolver um problema para o qual concorrem muitas variáveis.
Ninguém é obrigado a ter aptidões para tudo.
E a estatística reproduz ou simula apenas e sempre, uma realidade ou uma parte da realidade.
A estatística pressupõe e gera abstracções, modelos, dados estruturados que são elementos de estudo preciosos, mas que não são a realidade (não há realidades simples nem determinísticas).
O colega mais novo anda muito orgulhoso das suas estatísticas e da sua gestão virtual, com muitos computadores e programas de gestão, e vende esse orgulho a quem o quer comprar.
Como os nossos ministérios que tratam destes assuntos da Justiça.
Compramos?

O programa do blogue

Mas o colega mais novo tem razão numa coisa. Obriga todos os colaboradores a descrever ao pormenor as respectivas tarefas e funções (tarefa é táctica e a actividade concreta que executaram, função é a estratégia e o tipo de actividade que devem desempenhar). Talvez eu ficasse mais contente se ele desse mais autonomia aos seus colaboradores e estimulasse a organização de equipas, mesmo que se chegasse a conclusões diversas e contraditórias.
Devemos definir bem os objectivos do que fazemos e escrever um programazinho com os tópicos principais. Também isso faz falta a este pobre blogue.
Tenho de escrever uma pequenina nota de intenções, para pôr no perfil do dito blogue.

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