terça-feira, 7 de janeiro de 2014

do Te Deum de António Teixeira ao Candide de Leonard Bernstein

Na mudança de ano, duas peças coral-sinfónicas em Lisboa, entre outros concertos.
A crise, com diria Pangloss, o heroi otimista de Candide, permite o surgimento de maravilhas.
Os musicos e os cantores portugueses estão a tocar e a cantar muito bem.
O concerto do  Te Deum de António Teixeira, na igreja de S.Roque, foi gravado para retransmissão pelo canal Mezzo.
Pode ser que, na terminologia do senhor presidente da República, a retransmissão ajude a dar credibilidade ao país, já que a orquestra e o coro Gulbenkian a têm. Curiosamente, no dia seguinte, o Mezzo transmitiu um concerto pela ópera de Astrana, capital do Casaquistão.
Nos solistas, alguns cantores portugueses, com nível muito bom, uma ou outro fazendo a sua vida na "diaspora", para voltar a citar o senhor presidente da República. Direção de Jorge Mata.
O Candide, de Leonard Bernstein foi dado no São Carlos em versão concerto. Direção de João Paulo Santos.
Pena não ser retransmitido pelo canal Mezzo.
Cantores portugueses (a soprano canta em Londres, no Fantasma da ópera, por exemplo) em muito boa interpretação (pessoalmente apreciei especialmente a interpretação da mezzo soprano, ao nível de Christa Ludwig).
Apesar da crise, o São Carlos sobrevive.
O Candide já tinha sido apresentado em julho de 2013, no festival do largo e em Aveiro.
Para concerto de ano nova, terá sido escolhido como homenagem à politica panglossiana do atual governo, de esperar que da crise austeritária nasçam benefícios (é verdade que nasceu o Candide, mas outros espetaculos poderiam surgir se a crise fosse combatida com investimentos), e que contra essa política há que cumprir a mensagem final do Candide: "cuidemos do nosso jardim".
Voltaire, autor do Candide, não perdoou as crenças ilusórias como esta, das vantagens das desgraças, ou as justificações mais ou menos divinas, de castigo do pecado, dos fenómenos naturais como o terramoto de 1755 (paralelismo evidente com as culpas dos trabalhadores e pensionistas do estoiro financeiro de 2008).
É natural que o governo panglossiano não tenha gostado da escolha e não tenha enviado o seu secretário de Estado da cultura ao São Carlos.
E mais natural ainda que o camarote presidencial tenha ficado vazio.
Como dizia José Saramago, a cultura não pode esperar nada de um senhor que não distingue Tomas More de Tomas Mann.
Mas o Candide vive.
No dia seguinte foi apresentado em Setubal.

Te Deum:
http://www.youtube.com/watch?v=MeRdUJ1WQnM

Candide:
http://www.youtube.com/watch?v=cMIzHnyuiNY
http://tnsc.pt/gala-de-ano-novo-2014/





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