sexta-feira, 7 de março de 2014

Portem-se bem, senão...


Pessoalmente, não simpatizo com algumas técnicas publicitárias, provavelmente por excesso de suscetibilidade minha.
No metropolitano, onde este anuncio está exposto, aconteceu uma vez afixarem um anuncio , integrado numa campanha de segurança rodoviária, que dizia: "Atravesse em segurança, olhe para os dois lados". Isto, numa estação de metro, era demais.
Neste caso, embora não tenha a gravidade de aconselhar uma travessia de vias eletrificadas,  parece-me revelar  insensibilidade na forma como se tratam os passageiros.
Diz o anuncio que a falta de validações pode levar a menos carreiras de autocarros, menos comboios na linha e portanto maior tempo de espera e, consequentemente, degradação do serviço.
1 - Quem lê não tem título de transporte válido. Trata-se de um utilizador que não liga muito à programação das suas atividades. Não se importará com a degradação do serviço. Quando ele estiver mais degradado adaptar-se-á à situação. É coisa que não o preocupa. Desenrascar-se-á.
2 - Quem lê validou. Pagou o seu direito a circular com um aumento de 1% quando a inflação foi de metade, é prejudicado pelos cortes de investimento e de operação para reduzir custos e é agora ameaçado com menos autocarros, menos comboios, mais tempo de espera e mais degradação? Porque os outros, os que não validaram, continuam a não validar? Querem que se organizem milícias de passageiros enfurecidos contra os que não pagam?
Na verdade, as perdas devido às fraudes  implicam degradação de serviço se não forem compensadas financeiramente. Depositar a principal responsabilidade no cartão viva ou zapping permite de facto reduzir o tempo que o motorista de autocarro dedica à entrada de passageiros e portanto melhora a produtividade em termos de numero de autocarros e de motoristas. Idem para o numero de bilheteiras do metro. Porem, os custos do equipamento e a antipática obrigatoriedade de comprar o cartão desapareceriam em grande parte se se gastasse algum dinheiro com um quadro de pessoal mais elevado nas brigadas de fiscalização.
Fiscalizar e organizar sistemas de cobrança eficazes é obrigação da empresa.
Garantir condições de cidadania, de educação dos cidadãos, de emprego e de convivencia saudável é obrigação do governo (ver constituição).
Se a taxa de fraudes é elevada, isso é consequencia principalmente de disfuncionalidade social e as suas consequencias constituem dívida do Estado à empresa. Acresce que os seus custos deveriam ser incluidos na análise custos-benefícios quando se despedem pessoas, se estimula o desemprego, se degrada o ensino e a assistencia na saúde, ou se baixa o nível cultural das emissões de TV (estou a pedir demais à capacidade de entendimento dos defensores dos despedimentos?). Por exemplo, os custos com circuitos internos de televisão de segurança pessoal deveriam ser levados à conta do estado e não da empresa, tal como o serviço da dívida. Qualquer gestor de empresa privada candidata à concessão/privatização pode explicar isto ao senhor secretário de Estado, não preciso de ser eu.
Quanto à empresa, apesar do relativo sucesso da gestora do sistema de cobrança sem contacto Otlis, seria bom que reconhecesse que o sistema não é amigável para utilizadores ocasionais e contem algumas deficiencias graves, desde a impossibilidade física dos equipamentos evitarem a fraude e portanto não permitirem a redução significativa da fiscalização (coisa de que pessoalmente informei os colegas decisores na altura, acrescentando que há outros meios eficazes de contagem de passageiros para distribuição de receitas de contagem eletrónica a simples inquéritos regulares), nomeadamente no caso dos autocarros, à dispendiosa aquisição e manutenção dos equipamentos (a título de exemplo, são raras as redes alemãs com sistemas semelhantes de canais fechados).

Enfim, se quisermos explicar às criancinhas, é o critério de equidade que nos governa. Uns são os bons, os que validam e registam a sua efatura no respetivo site. Outros os  maus, os que abraçam o passageiro que vai a passar pelo canal de acesso e os que não usam fatura. Quem paga os prejuízos são sempre os bons, e se for preciso aumentam-se os custos ou degrada-se o serviço.
Não, não estou a diabolizar os maus, estou a criticar a fábrica de maus em que se tornou o governo e a troika. O principal criminoso não é quem puxa o gatilho, é quem paga para que ele puxe o gatilho ou não exerça a função social que pudesse evitar que ele puxasse o gatilho.
Tal como na medicina, a fraude combate-se prioritariamente evitando-a, não castigando-a.












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