sábado, 19 de dezembro de 2015

Meditação na Angelina Vidal

Meditação na rua Angelina Vidal, perto do largo de Sapadores.
Nas janelas já não vejo vida.
No rés do chão havia aqui um fotógrafo.
Ao lado uma mercearia, e depois uma tasca.
Havia um alfaiate. Fatos e arranjos por medida, a preços compatíveis com o nível de vida dos vizinhos.
Estão as portas fechadas, a apodrecer, e as janelas a cair.
Também ardeu o madeiramento do telhado da oficina de automóveis.
Morreram os moradores.
Não tiveram filhos ou estes foram viver para longe.

Inútil procurar culpados, em leis de arrendamento, burocracias ou inoperâncias crónicas dos orgãos municipais ou governamentais.
As casas antigas tinham os quartos e as salas pequenas, o chão era de barrote, os sanitários de recurso.
Foram viver para longe, os novos. Preferem ouvir o rádio nos engarrafamentos do IC19. Dar-lhes-á a sensação de algum trabalho realizado, o do seu próprio transporte.
E parece que só das receitas do turismo ou da venda de património a estrangeiros, que tanto entusiasmam os ditos orgãos municipais ou governamentais, se pode esperar dinheiro para investimento na reabilitação urbana.
E contudo, existem programas comunitários que poderiam ajudar a financiá-la.
Mas como quase tudo em Portugal, fala-se em reabilitação e não se acha que onde estão dois ou três prédios só se pode remodelar fundindo-os num, pelo que se disse, salas pequenas, falta de sanitários, falta de estacionamento automóvel.








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