Nunca sei se não serei bem interpretado, ou se sou eu que
não me explico bem, ou se penso que estou a pensar bem e estou simplesmente a
falhar o que escolhi como objetivo ou como mensagem a transmitir.
Escrevo sobre a igualdade de género. Penso que é um conceito
ligado ao lema da revolução francesa, entendendo-o como igualdade de todos e cada um perante a lei,
as regras da convivencia, os direitos e as obrigações. Mesmo que não
concordemos com alguns ou algumas. E que as diversidades inevitáveis de uns para outros sejam compensadas com
a diretiva “de cada um segundo as suas capacidades e a cada
um segundo as suas necessidades”, embora seja admissível que numa fase
transitória haja alguma desigualdade na remuneração dos resultados
diferentemente alcançados por pessoas de diferentes capacidades e que o
critério de definição de “necessidades” seja contido.
Isto para recordar o
que disse uma vez à colega que protestava porque eu lhe dava o dobro do
trabalho que dava aos colegas masculinos. Claro que tenho de lhe dar o dobro
dotrabalho, querida colega, se tem o dobro da capacidade dos seus colegas...
Não sei se fui mal interpretado, mas fui sincero. É vulgar
ouvir-se dizer que as mulheres têm de trabalhar mais para provar que são tão boas
profissionais ou melhores do que os colegas masculinos. Infelizmente muitas vezes existe uma forma de
exploração nisto, comprovada pela média inferior nos salários em igualdade de
complexidade ou de penosidade.
Mas é um facto que eu
verfiquei, e não só naquela colega. O cérebro feminino tem caraterísticas (a
teoria comprovada com as imagens da atividade cerebral, da comunicação entre
hemisférios enquanto o cérebro masculino tende para uma menor comunicação) que
na vida profissional produzem bons resultados onde a análise masculina tem
dificuldades. Isto é, muitas vezes na análise de questões tentei ter um
pensamento mais feminino... e não sei se não serei mal interpretado.
Escrevo isto também porque num destes dias viajei num
comboio do metro conduzido pela única maquinista do metro (penso que é apenas
uma, ainda). Lembro-me de em períodos de alguma desmotivação ter proposto a
algumas colegas que se inscrevessem no curso de maquinistas. Que tirassem
primeiro a carta de pesados e depois se inscrevessem no curso. Mas não consegui
convencer nenhuma. Eis porque não resisti, quando encontrei no bar da empresa a
única maquinista, então na fase fimal do seu curso, a dizer-lhe: estava a ver
que me reformava sem ver uma maquinista no metro. Ao que ela interpretou bem,
como um cumprimento.
Quando a vi entrar agora para a cabina do comboio, em
S.Sebastião II, com o seu rabo de
cavalo, como as atletas de alta competição, resolvi ficar atento à sua forma de
condução. Logo à saída da estação, em contravia, o comboio tem de negociar um
aparelho de via, que lá deixámos na esperança de que a linha vermelha
rapidamente seria expandida para Campolide, Camp de Ourique e Alcantara, santa
ingenuidade. Alguns maquinistas, especialmente quando o comboio vai vazio,
esquecem algumas regras da prudencia, e em condução viva sujeitam os poucos
passageiros ao solavanco para a direita, logo seguido do solavanco para a
esquerda, e alegremente passam pelo sinal de fim de limitação a 30 km/h, na
reta para Saldanha. O que não é muito bom para a saúde dos rodados e da
suspensão, nem das lanças do aparelho de via, é a questão do desgaste...
Antigamente havia uma norma no metro, sobre aparelhos de via
em posição de mudança de via não podiam circular comboios com passageiros, mas
as limitações financeiras ditaram esta inconformidade...
O comboio arrancou suavemente, e não terá atingido o limite
de 30 km/h quando, antes de atingir o aparelho de via, a maquinista reduziu
ligeiramente. Passámos calmamente sobre o aparelho de via, sem solavancos, e deslizando deixámos o sinal de fim de
limitação a 30 e de início de limitação a 45 km/h (para quando o regresso aos
60?) acelerando a caminho de Saldanha.
Quando me apeei na Alameda
pensei ir lá à frente, e enviar-lhe do cais um beijinho soprado na palma
da mão.
Mas podia ser mal interpretado, fiz apenas um discreto aceno
de boas viagens...
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