terça-feira, 17 de outubro de 2017

10 de outubro, dia mundial da saúde mental

Com a devida vénia ao DN, no dia mundial da saúde mental:

https://www.dn.pt/sociedade/interior/sindroma-de-burnout-afeta-13-da-populacao-portuguesa-8833023.html

No seguimento de demasiado extensa lista de artigos sobre o panorama deprimente e inaceitávl da saúde mental em Portugal:

https://www.dn.pt/tag/saude-mental.html

Estou sentado numa esplanada, num sítio aprazível, perto de um local com vestígios de uma exploração agrícola, em Lisboa, ou melhor, Olisipo, e vou lendo o artigo e recordando a série de artigos que confirmam o que sempre observei, na minha vida profissional, na rua, na escola. Falta uma abordagem ativa e alargada contra as doenças e limitações mentais. Nas escolas, faltam assistentes sociais e faltam psicólogos que possam ajudar às insuficiencias financeiras e educacionais da maioria dos encarregados de educação para assegurar a educação dos seus filhos. Mas como não há dinheiro e as cativações prevalecem  pretexto da contenção do défice, nada mudará. Nas empresas, são patentes as dificuldades enfrentadas  por quem trabalha, mas é mais fácil chamar-lhes preguiçoso e egoistas agarrados às suas regalias, enquanto outros sofrem as pressões psicológicas precisamente por não terem essa a que chamam regalia, a segurança do seu trabalho, do seu emprego. Mas há coerencia, é um dos aspetos da lei da selva, deixar que os mais fortes triunfem.
Confesso que estas reflexões não estão no artigo, nem eu quereria, ficaria com receio de que despedissem o jornalista.

Salto umas páginas e depara-se-me, na secção de publicidade, uma reportagem sobre a próxima inauguração da clínica Monanjo, do grupo privado de saúde Senhora do Monte. Feito o estudo de procura, estará garantido o retorno do investimento, de par com a garantia de que o seu familiar será bem tratado, sem o desleixo das instituições públicas. Confesso que não sei avaliar, se por falta de financiamento e devido à contenção orçamental os doentes mentais são mal tratados nas instituições públicas. Vejo com simpatia os internados no Julio de Matos passearem no meu bairro, frequentarem sem escandalo de clientes e de empregados as esplanadas do bairro.

E é quando oiço uma voz forte "Pode dar-me uma ajuda? Tenho uma consulta de psiquiatria no Barreiro e preciso de dinheiro para comer qualquer coisa antes de ir".
- Mas o Barreiro tem consulta de psiquiatria?
- Tem, claro que tem, e o de Almada também, e o de Setúbal, conhece o hospital de Setubal?
O homem tem um ar sólido, e depois de me dizer que não é no S.Bernardo de Setubal que dão consultas de psiquiatria, depois de lhe dar uma pequena contribuição e depois de lhe perguntar o que fazia ou faz quando não está doente, diz-me que fazia de tudo, fazia massas na construção civil,
 desmontava tudo o que fosse  preciso, era forte, mas a cabeça tinha falhado, e logo me pergunta:
- E você o que faz, onde trabalha?
- Eu não faço nada, estou reformado, agora ando por aqui, a ver se entendo alguma coisa do que se passa.
- Mas já fez, o que fazia?
- Era engenheiro no metro.
- Era da engenheiro civil, estava na construção das estações?
- Não, mas dava umas vistas de olhos durante a construção e antes de pôr os comboios a andar para ver se estava tudo bem.
- Ena -fez o homem - a responsabilidade que isso era, não devia dormir com receio que alguma coisa corresse mal.
- Bem, isso era verdade, receio sempre tive, mas como também sempre tive confiança nos meus colegas e como tinha a consciencia tranquila, dormir dormia bem.
-  Ena, ena, assentiu o homem, enquanto se afastava. Uma senhora de aspeto humilde acompanhou-o.
Que a consulta seja produtiva.

Talvez seja o meu subconsciente, por necessidade incontida de autogratificação que me tenha levado  a relatar este pequeno episódio, ou então foi a enorme indignação por a sociedade não reconhecer a importancia de uma abordagem e de um tratamento psiquiátricos das questões sociais. É pena, parecerá que seria melhor para a sociedade em geral, mesmo que para uma minoria não fosse.



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