segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

O elevador da estação Roma

Porque escrevo sobre isto? Porque me indigno? Porque simplesmente não esqueço?
Bem, estou envolvido nisto, não devia escrever.
Mas não sou perfeito.
É por isso que escrevo.

As imagens mostram o elevador de superficie da estação Roma do metropolitano de Lisboa. Ainda em trabalhos de acabamentos. Suponho, porque das várias vezes que passei por lá não vi atividade.

A ideia do elevador de superficie de Roma era a mais correta. É a unica instalação em que o elevador liga diretamente ao nivel do cais, onde, excecionalmente existem máquinas de bilhetes e canais de acesso. É mais cómodo assim. Nas outras estações existe (quando existe) um elevador 'superficie-átrio zona não paga' e outro elevador  'átrio zona paga-cais' .

O concurso fez-se em 2006. Por circunstancias que não vale a pena evocar, o concurso saiu para elevadores hidráulicos (com embolo e tração por pressão de óleo) com parecer negativo dos meus colegas especializados em Eletromecânica. Os elevadores elétricos gastam menos energia e são mais fáceis de manter. Foi mais um exemplo de que quem faz um projeto não é quem mantem os equipamentos que especifica.
Verificou-se que a empresa que ganhou o concurso (preço mais baixo, sem considerar a qualidade técnica) não tinha um modelo cuja casa das máquinas coubesse no espaço disponível sem obrigar o pessoal da manutenção a descer à via (risco de atropelamento e de eletrocussão). Foi-lhes então pedido que instalassem um elevador elétrico. Não tinham.  Reparem que a instalação de elevadores numa estação de metro é às vezes dificil, os acessórios do elevador só podem definir-se depois dos pormenores da arquitetura estarem definidos, e os pormenores da arquitetura só podem definir-se depois da definição dos acessórios e complementos do elevador (a coisa resolve-se em diálogo, mas para haver diálogo é preciso haver uma linguagem comum). Propus que aquele elevador fosse retirado do fornecimento (existe um elevador hidráulico em Roma, de acesso ao outro cais mas não à superfície, e do processo  de concurso fizeram parte os elevadores que estão em Alvalade e em Anjos). Os colegas jurídicos emitiram um parecer a dizer que não era possível. É verdade que do ponto de vista jurídico não seria possível, mas o interesse público deveria predominar, e é também possível extrapolar e dizer que na vida pública nacional isso continua a verificar-se, o interesse público é sacrificado aos formalismos jurídicos. Eu diria que esse deveria ser o objetivo do pacto da justiça, privilegiar o interesse público, mas não é esse o entendimento dos juristas. Os grandes matemáticos dos séculos XVI e XVII Viète e Fermat eram advogados, porque o fundamento da matemática é a lógica, e a lógica observa a realidade e os seus números, mas os advogados, em Portugal, cristalizaram em formalismos, mais importantes do que a realidade. Daqui a dez anos continuará  a pedir-se um pacto da justiça.
Os anos passaram, a empresa ganhadora do concurso foi arranjando justificações para ir atrasando a entrega. Tapou-se com chapa metálica o buraco no passeio da avenida de Roma. Até que em 2017 fiquei agradavelmente surpreendido por ver a caixa exterior do elevador instalada, com paredes de vidro. Disseram-me que esperavam ter o elevador a funcionar no Natal de 2017. O elevador já é elétrico, ultrapassada a dificuldade da localização do motor e da largura das portas de vidro. Mas mantem-se por concluir.

Por isso aqui deixo o desabafo e a indignação. Foi proposta a retirada deste elevador do fornecimento por impossibilidade do fornecedor de satisfazer o cliente.
Há 10 anos.
Indignação extensível à inexistencia, nalguns casos por oposição direta ao longo desses mesmos 10 anos, do mais alto nível da estrutura hierárquica, isto é da administração do metropolitano (nalguns casos, repito), de elevadores para pessoas com mobilidade reduzida, em Campo Grande, Jardim Zoológico, Colégio Militar (parece que está no programa de ação em vigor retomar a obra), Entrecampos, Baixa Chiado, só para falar das estações de correspondencia, em que esta ausencia é inadmissível. Existem mais 9 estações sem elevadores. Nalgumas destas estações poderia resolver-se parcialmente o problema com rampas.
Por sinal, a ausencia de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida está em claro incumprimento da legislação em vigor.

Não admira portanto que deixe expressa a minha indignação.

http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2013/03/dificil-cumprir-lei.html
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2014/12/cirandando-pela-rua-ivens-no-dia-3-de.html
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2017/04/pessoas-com-deficiencia-em-portugal_17.html
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2013/12/3-de-dezembro-dia-internacional-das.html









PS em 18 de janeiro de 2018, dia em que se comemora a revolta da Marinha Grande, de 1934 -  Um dos problemas que pode ter quem faz crítica, é que por vezes as razões, ou parte das razões que lhe deram origem, se atenuam ou desaparecem. Deu-se o caso de as fotografias seguintes serem do dia de hoje. Trabalha-se no elevador de superfície de Roma. Desejo um bom trabalho.







PS em 2 de fevereiro de 2018, 11 anos após a proposta de retirada deste elevador do fornecimento por desadequação ao local do tipo de elevador proposto pelo fornecedor, proposta essa não aceite por razões jurídicas, ainda não foi concluida a sua colocação em serviço. Metáfora da influencia juridica na sociedade

                               
 

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