quarta-feira, 5 de junho de 2019

A mobilidade nas cidades - programa Prós e Contras

https://www.rtp.pt/play/p5337/e410778/pros-contras

Senti goradas algumas expetativas do programa sobre a mobilidade urbana e suburbana. Não estava à espera de muita informação sobre o que se pensa fazer para resolver os problemas existentes, mas também não esperava que o prato forte fosse a discussão das trotinetas. Como o vereador da CML disse, são 6000 que há em Lisboa, e como todos os intervenientes disseram, o problema resolve-se com transportes públicos, conjugados, evidentemente com os complementares. Do programa salvou-se principalmente a reportagem introdutória e algumas intervenções dos participantes, especialmente do prof Rio Fernandes. De facto faltaram os pontos de vista de outros, não terá sido famoso o critério de escolha dos participantes.
Gastou-se demasiado tempo com as trotinetas, e mesmo assim ficou a dúvida, ou o paradoxo de haver uma lei que diz que os condutores de veículos de 2 rodas motorizados (a bicicleta e a trotineta elétricas são veículos motorizados), para além de terem de cumprir as regras do Código da estrada, nomeadamente nas rotundas e nos semáforos, devem ter capacete de segurança, mas há um senhor secretário de Estado que diz à polícia para não aplicar multas aos faltosos (um  membro de um governo diz aos agentes de autoridade para fechar os olhos à lei?!).
O que o programa podia mas não apresentou? propostas, ou pelo menos esboços ou intenções  de estratégia ou planos de médio e longo curso. Que não se ficassem por banalidades , generalidades ou nulidades de novo rico do tipo "temos de encontrar soluções de digitalização para os novos desafios", "temos de nos adaptar aos novos conceitos de serviço partilhado e conectado da mobilidade".  Salve-se ter sido dito que as autarquias precisam de desenvolver planos de mobilidade, mas que confiança oferecem algumas autarquias, de que são capazes do o fazer, ou de encontrar consultores que o façam privilegiando critérios técnicos sobre critérios políticos, ou de promover uma discussão pública aberta e informada?
A coisa mais parecida com uma pista para uma estratégia de mobilidade, para além da afirmação que qualquer solução tem de ter o desenvolvimento do transporte coletivo como central,foi uma breve referencia ao prefeito de Curitiba. Trata-se de uma solução (o BRT - bus rapid transit) que em parte me agrada, porque aplica os princípios do transporte metropolitano e LRT (light rail transit) ao transporte em autocarros articulados em sítio próprio à superfície, com prioridade nos semáforos, com paragens equipadas como estações de metro. Mas já não me agrada tratar-se de um transporte rodoviário, com rodas de borracha. Os pneus têm um coeficiente de atrito superior ao contacto roda de aço-carril, e por consequencia o consumo específico por passageiro-km é superior. Isso não terá importancia no Brasil, país produtor de petróleo, mas para quem importa é importante, passe a redundancia aparente.
E o perigo é a CML, através da sua preponderancia na área metropolitana decidir discricionariamente, sem ouvir pareceres técnicos contraditórios, beneficiando do respaldo do governo que absorveu a dívida da Carris, por exemplo, e que aliviou o garrote das cativações na Carris e no metropolitano (na CP e na Transtejo as administrações não têm autonomia para executar as aquisições orçamentadas sem esperar pelo visto do ministério das Finanças?! tal como as suas homólogas dos hospitais públicos? é lá possível gerir bem, assim).
Sintoma deste risco foi a atuação do senhor vereador da mobilidade da CML, ao começar por criar uma manobra de diversão com as alterações climáticas (com ou sem aceleração antropogénica das alterações climáticas, estamos numa parte crescente do ciclo) , quando se sabe que a CML e as câmaras de Oeiras, de Cascais e de Sintra, andam com ideias de aplicar soluções do tipo BRT na A5 e nalgumas ligações periféricas ou radiais do tipo Jamor-Linda a Velha-Ajuda-Alcantara, ou Sacavem-Gare do Oriente, ou Santa Apolónia-Gare do Oriente, provavelmente integradas no seu esforço  de reurbanização gentrificadora e sempre de "excecional interesse para a cidade" (para poderem decidir discricionariamente) , ignorando-se como se faria a interligação com os modos metro e LRT.  Tampouco se ouviu uma palavra sobre o tão contestado plano de expansão do metro com a linha circular. Nem sobre as causas e eventuais remédios para a falta de comboios suburbanos da CP, nem quais os planos para a linha de Cascais.
Isto é, como habitualmente, a CML decide olimpicamente e depois apresenta o facto consumado, enquanto nas assembleias municipais hão-de aparecer deputados, mesmo sem formação técnica,  a apoiar as medidas decididas.

Em resumo, fica a sensação de um programa falhado (não será demérito da apresentadora, o tema é difícil e requer a participação de outras visões), que levou a própria apresentadora a prometer voltar ao tema. Espera-se que com maior profundidade e informação  e com propostas concretas sujeitas à discussão.


Sem comentários:

Enviar um comentário