sábado, 17 de setembro de 2022

Sobre o aeroporto de Beja em setembro de 2022

 Atualização a 13set2022 – aeroporto de Beja – diversas entidades e cidadãos têm manifestado empenho no aproveitamento do aeroporto de Beja, incluindo como apoio a excessos de afluência do aeroporto da Portela AHD. Destaque para moção da Assembleia municipal, e para as intervenções do presidente de câmara de Beja, de dois ex-autarcas (https://www.publico.pt/2022/07/29/opiniao/opiniao/aeroporto-beja-juntemse-porra-2014225 ), de deputados por Beja (https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/deputado-do-ps-escreve-a-tres-companhias-aereas-para-as-sensibilizar-a-utilizarem-o-aeroporto-de-beja )  e do presidente da CCDR (anúncio de que estão previstos 100 milhões de euros de financiamento comunitário para a ligação por comboio entre o aeroporto de Beja e Beja, ver https://odigital.sapo.pt/estao-cerca-de-100-milhoes-garantidos-para-que-o-comboio-chegue-ao-aeroporto-de-beja/ ).

Como já destacado por diversos intervenientes na discussão pública, o aeroporto de Beja tem vida própria e hipóteses de desenvolvimento, nomeadamente como aeroporto para jactos privados e charters de turismo especificamente orientado para o Alentejo (ver interessante artigo comparativo com aeroportos na Lapónia: https://www.transportesenegocios.pt/laponia-na-outra-extremidade-do-alentejo/  ), como aeródromo militar (ver a hipótese de teste do novo KC-390 Embraer e sua possível utilização no combate a incêndios como avião cisterna, não anfíbio, ver https://www.airway.com.br/embraer-testa-kc-390-com-sistema-de-combate-a-incendios/ ), como base de reparações, manutenção e estacionamento de médio e longo prazo, e como aeroporto de carga. A sua utilização como apoio ao AHD, e não como função complementar, depende apenas, como também já referido por muitos intervenientes, da coordenação para programação atempada de voos, entre Vinci/Ana, companhias “low cost”, ANAC e dos transportadores terrestres, nomeadamente da IP/CP. A sua capacidade atual para acolhimento de passageiros é de 300 passageiros/hora (cerca de 1 milhão de passageiros/ano).

A solução para a plena rentabilização do aeroporto de Beja poderá vir, essencialmente, da iniciativa das entidades regionais e dos cidadãos enquanto sociedade civil, no uso dos direitos consagrados na Constituição de participação nos assuntos públicos e implementando verdadeiras ações de descentralização e de coesão territorial, com especial responsabilidade da CCDRR e entidades intermunicipais. Neste domínio é interessante analisar a experiência de Inglaterra relatada em https://www.publico.pt/2022/09/10/politica/opiniao/descentralizacao-monstro-ingles-precisa-amigos-2019456 . E se as acessibilidades do aeroporto não são razoáveis, a principal razão para uma boa ligação Beja -Lisboa não deverá ser o aeroporto mas sim a própria região.

Como referido em https://sol.sapo.pt/artigo/775308/congestionamento-aereo-da-capital-a-hipotese-beja , na atual situação a ligação do aeroporto de Beja a Lisboa poderá fazer-se em 2h30min por comboio (25 minutos por autocarro do aeroporto a Beja e 2h05min de comboio de Beja a Entrecampos com transbordo em Casa Branca por a ligação Beja-Casa Branca não estar eletrificada) e 2h20min por autocarro (50min à portagem de Grândola por 37 km de estrada até ao troço da A26 de ligação à A2,mais 1h30min para Lisboa) , dependendo da disponibilidade de material circulante e tripulações, o que poderá ser crítico.

Numa fase 1 de melhoria da ligação, a construção de um troço de linha entre Beja e o aeroporto e entre o aeroporto e um ponto a norte de Beja da linha existente (estimativa  50 milhões de euros; ) poderá reduzir o tempo de percurso do aeroporto de Beja para Lisboa por comboio para 2h15min; utilização de 160 km de linha existente (via única Beja-Poceirão + dupla Poceirão-Entrecampos). Ver alternativas para a ligação aeroporto de Beja - Beja no fim do texto.

Numa fase 2 de melhoria, através da eletrificação da ligação Beja-aeroporto-Casa Branca, permitindo comboios elétricos diretos para Entrecampos (estimativa 150 milhões de euros), teremos um tempo de percurso por comboio de 2h00min ; utilização de  160 km de linha existente (via única Beja-Poceirão + dupla Poceirão-Entrecampos; possível saturação na ponte 25 de abril)

Numa fase 3 de melhoria , antecipando o cumprimento do regulamento 1315 das redes TEN_T transeuropeias de alta velocidade (ligação Évora-Beja-Faro-Huelva prevista neste regulamento para 2050 na rede “comprehensive”), construção de linha nova de AV entre Beja e Casa Branca

(estimativa 400 milhões de euros), reduzindo o tempo de percurso aeroporto de Beja-Lisboa para 1h40min ; utilização de 110 km de linha existente (via única Casa Branca-Poceirão + dupla Poceirão-Entrecampos; possível saturação na ponte 25 de abril)

 Numa fase 4 de melhoria, também no cumprimento do regulamento 1315 (que previa a ligação em AV Lisboa-Madrid para 2030) construção de linha AV Évora – Casa Branca – Pinhal Novo (estimativa 700 milhões de euros) com redução do tempo de percurso aeroporto de Beja-Lisboa para  1h10min ; utilização de 40 km de linha existente  (via dupla Pinhal Novo-Entrecampos; possível saturação na ponte 25 de abril)

A construção da terceira travessia do Tejo integrada na linha AV Lisboa-Madrid (estimativa 3.000 milhões de euros a afetar às linhas de AV Lisboa-Madrid, de serviço do novo aeroporto de Lisboa, suburbanas de serviço da AML , e de mercadorias, tudo investimentos abrangidos pelo apoio financeiro comunitário) permitiria, no pressuposto de execução das 4 fases anteriores,  reduzir o tempo de percurso aeroporto de Beja-Lisboa para 50min ; todo o percurso em linha nova AV .

Serviço por autocarros

Para o serviço por autocarro aeroporto de Beja-Lisboa, para uma afluência de 300 passageiros por hora, teriam de ser 300/50=6 autocarros por hora ou  tempo de ida e volta/intervalo entre autocarros = 320 minutos/10 minutos = 32 autocarros no total durante 10 horas. 

Para a ligação a Faro por comboio terá de se reativar a ligação por Funcheira, o que poderá ter problemas de disponibilidade de material circulante. Uma hipótese seria a ligação em autocarro do aeroporto até à estação de Grândola, e aqui ligação ao comboio para Faro (mais 2h20min, total aeroporto-Faro 3h15min), ou 2h05 para Lisboa Entrecampos. 

O prolongamento da autoestrada A26 para Beja, de 37 km até ao aeroporto antes de Beja (100 milhões de euros?) reduziria para 2h05m e 29 autocarros para Lisboa, ou 2h15m para Faro, mas não deveremos esquecer as respetivas emissões e o congestionamento rodoviário.   

Conclusão

Em resumo, se a CP e as operadoras rodoviárias dispuserem de material circulante e da respetiva tripulação, poderão absorver-se excessos de afluência no AHD da ordem dos 10% (para o tráfego atual) através do aeroporto de Beja. Será então essencial as entidades da região de Beja pressionarem a CP, a IP e as rodoviárias, para além da ANA e da ANAC e as "low cost", com vista à obtenção das condições de exploração do aeroporto de Beja como apoio ao AHD. Mas reitera-se que a verdadeira razão para o aproveitamento do aeroporto de Beja deverá residir na própria região e na coesão do território nacional  e não na complementaridade do aeroporto de Lisboa.

 

 Alternativas para a ligação aeroporto de Beja -Beja a selecionar em função de  análises de custos -benefícios. No caso da inversão, necessário considerar a tração distribuida ou o recurso a uma locomotiva de manobras para evitar a tração de uma coposição a partir da retaguarda

Percurso desde Lisboa: Lisboa -novo troço de 16 km em Torre do Pinto-aeroporto-Beja pelo sul com concordancia para Funcheira

Lisboa-novo troço de 13,5 km em Torre do Pinto- aeroporto-Beja pelo norte


Lisboa-Torre do Pinto- novo troço de 7 km com concordancia - aeroporto - inversão- concordancia-Beja

Lisboa-Coitos - novo troço de 7,3 km com concordancia - aeroporto - inversão- concordancia-Beja



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