terça-feira, 3 de janeiro de 2023

O acidente ao km 85 na autoestrada para o Algarve

 Fiquei muito impressionado com a morte de Claudia Isabel no acidente na A2 em 19dez2022 e expresso as minhas condolências à família e amigos.

Como defendo o esclarecimento dos acidentes na esperança de evitar a sua repetição, apreciei o programa Linha aberta de Hernani de Carvalho 

https://www.msn.com/pt-pt/entretenimento/tv/claudisabel-estava-ao-telefone-com-a-m%C3%A3e-quando-sofreu-acidente-mortal/vi-AA15TPqQ?ocid=mailsignout&pc=U591&cvid=c1bd3fb9dac64f1792c679ccf26bf3ee&category=foryou

 o qual gostaria de comentar através da seguinte mensagem:

Caro Hernani Carvalho

Escrevo-lhe impressionado com a acidente que vitimou Claudia Isabel.

Como técnico de transportes, ensinaram-me que o que se deve fazer quando acontece um acidente é tentar recolher o máximo de informação sobre as circunstancias e as possíveis ou evidentes causas, não para encontrar culpados, mas para tentar evitar a repetição do acidente através das recomendações e propostas do inquérito pelas entidades competentes.

Pelas notícias disponíveis até ao dia em que escrevo, 2jan2023, o inquérito decorre e não há nenhuma razão para duvidar da competência de quem o executa e dos meios que acorreram ao acidente.

No entanto, deve assinalar-se a diferença da prática comparativamente com outros países, nomeadamente os de cultura anglo-saxónica ou nórdica, em que a comissão de inquérito realiza logo nos primeiros dias conferências de imprensa independentemente de questões jurídicas, como apuramento de responsabilidades criminais, que não são do foro técnico, como aliás é costume referir nas primeiras páginas dos relatórios de inquérito.  

Em Portugal costuma dizer-se que deve deixar-se a comissão de inquérito fazer o set trabalho, mas a realização das conferências de imprensa tem a grande vantagem de evitar a propagação de falsas informações e de convidar eventuais testemunhas a prestar o seu depoimento. Como é costume fazer-se, o esquecimento vem e perde-se a pressão pública para introduzir as melhorias que poderiam evitar a repetição do acidente.

Por isso apreciei o seu programa de 2jan2023 e a promessa de que vai manter o interesse pelo tema, e gostaria de fazer os seguintes comentários: 

1 - segundo as informações disponíveis, o Smart de Claudia Isabel terá sido abalroado por um Audi e projetado a 400 m . Considerando os pesos dos carros e admitindo uma velocidade de 120 km/h para o Audi e uma velocidade de 20 a 60 km/h para o Smart, os cálculos das quantidades de movimento (produto da massa pela velocidade), dão o valor de 400m para a projeção do Smart como consistente. Este terá absorvido através de deformação parte da energia cinética do Audi (outra parte deformou o Audi, em que numa foto se pode ver a parte direita da frente amachucada, reduzindo a velocidade por força da colisão) . A velocidade do Smart terá aumentado e isso justifica ter percorrido os 400m até ao despiste

2 - segundo as imagens mostradas durante o programa, junto da marca de 85km encontram-se vestígios duma travagem até ao local na vala onde o Smart parou. Se essas marcas correspondem ao Smart (eu passei no local uma semana depois sem parar e não vi essas marcas, mas isso nada prova) isso significaria que Claudia Isabel ainda terá travado e que a morte teria sido consequência da falta de rail de segurança separando a berma da vala. Certamente que a comissão de inquérito esclarecerá

3 -Para uma hipótese de colisão pelo Audi a 120 km/h, depois do embate a velocidade do Smart teria subido para 100 km/h e 400m depois, no despiste o Smart poderia ir a 70 km/h e o capotamento ser fatal. Anoto que só existe continuidade dos rails de segurança no separador central (para evitar colisões em sentidos contrários, caos em que as velocidades se somam) e que grandes extensões da autoestrada não dispõem, como deveria ser, rails de segurança entre as bermas  e valas ou taludes

4 - segundo uma notícia no dia seguinte ao do acidente, houve o testemunho de um condutor que foi ultrapassado pelo Audi causador do acidente que seguia aos "S". Se o testemunho está correto, para além do teste de alcoolemia, parece não haver dúvidas de que não estava em condições de conduzir . Como se pode ver pelas imagens que passaram à aproximação do km85, inicia-se uma curva em que o Smart não terá  sido detetado pelo condutor do Audi.

5 - se o testemunho de que decorria uma conversa pelo telemóvel no momento da colisão, independentemente de haver ou não alta voz, isso reduz sempre a atenção de quem conduz e eventualmente poderá não ter havido cuidado suficiente ao retomar a marcha, mas isso competirá à comissão de inquérito averiguar sendo desejável que nas recomendações se insista na não utilização do telemóvel a conduzir, com ou sem alta voz, e no recurso sistemático às áreas de serviço para momentos de repouso.

Esperando que possa ter sido útil, apresento os melhores cumprimentos

  

o Audi com a dianteira direita amachucada; aparentemente não se despistou


local do despiste junto da marca do km 85



vista no sentido para trás do movimento no local suposto da colisão


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