quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Escadas mecânicas e elevadores do metro

 

 

No seguimento de artigos no Público sobre as deficientes condições das escadas mecânicas e elevadores do metropolitano:

https://www.publico.pt/2023/08/28/local/noticia/metro-lisboa-26-escadas-rolantes-16-elevadores-imobilizados-avaria-2061036

https://www.publico.pt/2023/08/28/local/reportagem/inferno-chiado-2061146


enviei aos seus autores o seguinte:

 

 

Como reformado do metro que esteve ligado à questão, devo agradecer-vos os vossos artigos de 28ago2023. Nunca consegui, entre 2001 e 2009, que as sucessivas administrações do metro aprovassem um plano coerente de dotação de todas as estações com acessibilidade plena para pessoas com mobilidade reduzida. As estações inauguradas depois de 1995 foram equipadas com elevadores superfície-átrio de bilheteiras e átrio de bilheteiras-cais (exceto Baixa-Chiado), mas não estações de grande movimento como Campo Grande, Jardim Zoológico, Entrecampos e Colégio Militar (as duas últimas foram recentemente equipadas).

O caso de Baixa Chiado é particularmente chocante porque a plataforma elevatória existente não permite o self service, devendo ter sido uma solução transitória. Por outro lado, o acesso ao largo do Chiado exige um plano de manutenção e recursos humanos que não são satisfeitos porque critérios de economia imediata limitam o investimento e a operação. Igualmente, como referido no artigo, é inaceitável não existir um par de elevadores de boa capacidade em complemento das escadas. Isso estava previsto no projeto original tendo o metro adquirido o nº34 da rua Ivens para os instalar, mas o arquiteto de nomeada da estação fez para isso um projeto tão caro, 5 milhões de euros, que o metro desistiu (1998) vindo a vender o edifício há alguns anos. Nada se conseguiu com as sugestões apresentadas (http://fcsseratostenes.blogspot.com/2014/12/cirandando-pela-rua-ivens-no-dia-3-de.html).

Por critérios de economia de curto prazo o metro há cerca de 20 anos cortou os seus recursos humanos de manutenção de equipamentos eletromecânicos, passando ao outsourcing. Curiosamente, no 1º dia do 1ºcontrato de manutenção, um dos seus funcionários esqueceu-se de um desperdício embebido em óleo no tapete rolante de Entrecampos, que se incendiou. Claro que com a lei de contratação pública que temos, é normal adjudicar-se às empresas que fazem o preço mais baixo, sem classificar a qualidade técnica. Assim é difícil e pelos vistos a desculpa da demora na aquisição de peças continua a ser utilizada (também pela IP, veja-se os casos das estações de Entrecampos e de Sete Rios depois das inundações de jan2023).  (nota posterior: corrigi IP e não CP, que só é responsável pelo material circulante)

Pode portanto afirmar-se que o mau serviço prestado é consequência da menor atenção das administrações à fiabilidade e correta manutenção dos equipamentos e à falsa economia de poupar no curto prazo para depois ter os custos espalhados no tempo em prejuízo dos passageiros.

Os casos mais graves são o da estação Campo Grande (a instalação de elevadores não foi prevista nas obras em curso, embora conste, sem divulgação pública de pormenores, que está a decorrer um concurso para instalação de elevadores  - correção: ver abaixo PS de 31ago2023) e o da estação Jardim Zoológico (é inaceitável e contraria a lei 125/2017) a impossibilidade de uma pessoa em cadeira de rodas descer  do comboio da CP e aceder ao metro.

Nos termos da lei 125/2017 é essencial a constituição de equipas pluridisciplinares que produzam um plano de instalação de meios mecânicos  nas estações em falta (e de instalações sanitárias adaptadas e disponíveis) com divulgação pública da calendarização e das soluções propostas. A existência deste plano com os respetivos anteprojetos de execução é, aliás, condição indispensável para a obtenção de financiamento comunitário. Devido aos custos envolvidos e à disponibilização dos equipamentos à população em geral, o orçamento do metro deveria ser reforçado com verbas dos orçamentos de Estado e municipais. O mesmo raciocínio se aplicará aos tapetes rolantes à superfície ou a rampas de acesso que dispensem os elevadores e que requerem videovigilância e o agravamento penal para eventuais assaltantes.

Poderão, se quiserem aprofundar o tema, por exemplo retransmitindo as sugestões às associações de pessoas com mobilidade reduzida ou resumindo-as nos vossos artigos, em https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/07/acessibilidade-no-metro-de-pessoas-com.html

Incluo ainda um excerto do livro “Nós, os velhos do metropolitano”, relativo aos tempos da troika, referindo a questão da acessibilidade e as manifestações que se fizeram:

https://issuu.com/sitiodolivro/docs/nos_os_velhos_do_metropolitano_prev


       3 de dezembro, dia internacional das pessoas com deficiência,      terça-feira, 3 de dezembro de 2013

 


 DEFICIENTE É AONDE NEM TODOS PODEM IR, PORQUE TODOS   DIFERENTES,

                 TODOS IGUAIS                                   foto Alvaro Isidoro/Global Imagens no DN

 

    

Saúdo o protesto da APD, Associação portuguesa de deficientes junto da assembleia da Republica, a propósito do orçamento de Estado.

http://www.apd.org.pt/ 

           
Como antigo funcionário do metropolitano de Lisboa, lamento não ter conseguido vencer a resistência de sucessivos conselhos de administração que se opuseram de forma mais ou menos velada ao investimento na superação das barreiras arquitetónicas, com   o argumento "caridoso" de que as pessoas com deficiência corriam maiores riscos em caso de            acidente.                     
Falhei também na minha luta contra as burocracias e descoordenações internas que impediram a conclusão dos projetos de alteração das estações, o simples lançamento de concursos para esse efeito ou a submissão de candidaturas a fundos QREN (o que permitiria contestar a velha cassete de que "não há dinheiro").         
A interrupção das obras de adaptação das estações Colégio Militar e Baixa para garantir a acessibilidade e instalações sanitárias para pessoas com deficiência é o melhor exemplo da falta de financiamento através de fundos europeus.           
Penso por isso que, em situação de emergência, deveriam ser reelaborados os projetos das principais estações que ainda  não dispõem de elevadores ou outros meios de acesso à superfície, as de correspondência, Campo Grande, Entrecampos, Jardim Zoológico , Colégio Militar, Baixa-Chiado, elaborado o projeto de um sistema de informação aos interessados sobre o estado de funcionamento dos meios de acesso e submissão das respetivas candidaturas a fundos QREN (agora Quadro Europeu 2014-2020).            
Fazer isso é o mínimo se lermos a carta compromisso com o cliente afixada em todas estações e no portal na net do metro : "... está a ser desenvolvido um programa gradual de implementação de acessibilidades nas estações ainda não preparadas para o efeito
"

 

Com os melhores cumprimentos e votos de sucessos

 


PS - comunicado do metro de 30ago2030:

https://www.msn.com/pt-pt/noticias/ultimas/escadas-e-elevadores-decorrem-obras-de-melhoria-no-metro-de-lisboa/ar-AA1g22gt?ocid=mailsignout&pc=U591&cvid=1b7696f5a7ef4765bac701641e474baf&ei=73

PS em 31ago2023 - Para além da substituição das escadas rolantes da estação Campo Grande, encontra-se já em curso a obra para a instalação dos elevadores, incluindo aberturas nas lajes ao nível dos cais e do átrio de bilheteiras

 

localização dos elevadores (a vermelho anterior proposta minha para evitar conflitos com os fluxos normais; a laranja os locais de obra: 1 - ligação superfície-átrio bilheteiras zona não paga; 2 - ligação átrio bilheteiras zona paga poente-cais para Odivelas; 3 -  ligação átrio bilheteiras zona paga poente-cais para Telheiras;  5 - ligação átrio bilheteiras zona paga poente-cais central para Cidade Universitária ou Alvalade.   Ver https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/07/obras-do-metro-em-campo-grande-11jul2023.html

 


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