domingo, 23 de julho de 2023

Acessibilidade no metro de pessoas com mobilidade reduzida

Declaração de interesses: é uma das minhas frustrações profissionais, nunca ter conseguido planificar a concretização do Plano Nacional para a Promoção da Acessibilidade no metropolitano de Lisboa, nunca ter conseguido da parte da alta direção da empresa a formalização e o apoio a uma equipa pluridisciplinar com meios e prazos  bem definidos.


No fim deste texto encontram-se ligações para alguns comentários neste blogue ao longo dos anos, mas analiso seguidamente a situação das principais estações em que é chocante o incumprimento da lei (DL 125/2017) , a desadaptação à acessibilidade das pessoas com mobilidade reduzida e inexistência de instalações sanitárias próprias, e a invisibilidade das equipas de diagnóstico e de projeto de soluções (sem os quais não poderá haver financiamento comunitário) . 

Era a vontade de corrigir estas omissões que se desejaria ver nos orgãos decisórios, em vez de sistematicamente se defenderem com os custos da manutenção, com a evocação das realizações conseguidas, como a estação Cidade Universitária, ou com a disponibilização no site do metro do estado dos elevadores.

Para cumprimento da lei deveria constituir-se uma equipa pluridisciplinar com capacidade orgânica de programar o seu trabalho e com recursos internos e externos para o fazer, colaborando com as associações do setor e elaborando o plano integrado e os projetos da adaptação das estações à acessibilidade a serem presentes às candidaturas de fundos europeus.

Na procura de soluções nas estações de metropolitano e de caminho de ferro seria desejável ter-se a preocupação de, quando possível, construir rampas de acesso para cadeiras de rodas em substituição ou complemento de elevadores, considerando a baixa fiabilidade destes.

Estação Entrecampos

Embora já tenha sido reposto o funcionamento do elevador superfície-átrio de bilheteiras após a avsaria decorrente das inundações de janeiro 2023, considerando a baixa fiabilidade dos elevadores seria desejável a sua complementaridade por rampas superfície-átrio de bilheteiras assinaladas na figura:

3 - rampa da superfície para o nível do corredor, com substituição da escada existente no lado poente
4 - idem, no lado nascente (facultativo; constituiria uma travessia subterrànea da Av.República)
5 - elevadores da IP
a rampa com o nº3 está no local origem da inundação da casa das máquinas e propõe-se agora para substituir o elevador superfície-átrio zona não paga


Estação Jardim Zoológico

Encontrando-se esta estação num interface com o sistema rodoviário com um elevador de acesso à rua e com a estação ferroviária de Sete Rios com elevadores de acesso ao nível da rua e ao nível das lojas do metro, não parece haver justificação para a inexistência de ligação ao metro por meios mecânicos ou através de rampas. 

Apresentam-se duas soluções, uma com recurso a elevadores, e outra, exigindo obras de custos mais elevados, com recurso a rampas.

Hipótese 1 -  2 elevadores cais-átrio zona paga  e acesso a partir da superfície por rampa


local de instalação de elevadores de planta retangular de menor dimensão perpendicular à via, com corte das escadas no mesmo sentido e eventual abertura de nicho na parede lateral para reposição das unidades de passagem



O acesso a partir da superfície poderá fazer-se a partir da rampa existente com rebaixamento do pavimento e abertura de passagem junto do elevador da estação da IP ao nível das lojas do corredor de ligação ao metro




Hipótese 2 - substituição de todos os elevadores do metro e da IP por rampas



zona nascente dos cais da estação Sete Rios da IP para a hipótese de ligação por rampas em dois lanços à superfície mediante túneis de atravessamento das vias


Estação Campo Grande

Lamentando-se a pouca informação sobre o plano de instalação de elevadores na estação Campo Grande, ao que parece na fase de contratação de um gabinete exterior ao metro para elaborar o respetivo projeto, independentemente da obra dos novos viadutos, apresentam-se duas hipóteses, uma com elevadores e outra com recurso a rampas.  (correção posterior: entretanto adjudicada a obra de adaptação da estação Campo Grande à instalação de elevadores, juntamente com a substituição de escadas rolantes, ver     https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/08/escadas-mecanicas-e-elevadores-do-metro.html )

Hipótese 1 - um elevador da superfície para o átrio de bilheteiras (zona não paga) e 3 elevadores da zona paga do átrio para cada um dos cais

1 - elevador superfície-átrio de bilheteiras zona não paga-cais lateral norte 
2 -elevador átrio bilheteiras zona paga-cais lateral norte (alternativa a 1 dispensando neste a ligação átrio-cais norte)
3 - elevador átrio bilheteiras zona paga-cais lateral sul
4 - elevador átrio bilheteiras zona paga-cais central no interior da torre poente com remodelação do seu interior e das salas poente ao nível do átrio de bilheteiras para instalação de corredor entre a zona paga e o elevador
5 - alternativa a 4, com abertura de passagem no pavimento do cais central


viabilidade da instalação do elevador átrio de bilheteiras zona paga-cais lateral

viabilidade da instalação do elevador átrio de bilheteiras zona paga-cais lateral


Hipótese 2 - substituição de todos os elevadores por rampas

O investimento nas rampas e nas remodelações do interior da sala técnica é compensado pela economia na aquisição e manutenção dos elevadores e pela valorização da disponibilidade dos acessos



Estação Baixa Chiado

Para além dos atrasos na reposição do  funcionamento das escadas mecânicas de acesso ao largo do Chiado, é altamente criticável ter-se deixado a ligação à rua do Crucifixo a uma plataforma elevatória de utilização nada atrativa. Foi há alguns anos decidido pela alta direção da empresa vender o imóvel da rua Ivens previsto no projeto original para um poço de elevadores de ligação da superfície ao nível do átrio de bilheteiras, na zona já paga . A venda efetuou-se para apartamentos de alojamento local e não foi aprovada nenhuma alternativa.

Reapresento aqui as alternativas sugeridas em 2014 e que poderiam beneficiar de fundos comunitários desde que o projeto fosse elaborado e integrado na candidatura aos fundos (no momento presente, poderia ser o PRR):


possiveis localizações dos elevadores (a azul os corredores ao nível do mezanino):
A - antiga casa da sorte na rua Garrett, com a vantagem de dispensar canais de controle por aceder a zona não paga
     B - esplanada de restaurante na rua Capelo, frente ao antigo Governo Civil                                                                      
C - largo de São Carlos                                                                                                                                                      
D - restaurante Vitaminas                                                                                                                                                    
E - rua da Vitória, junto à igreja                                                                                                                                          
F - escadarias de São Francisco                                                                                                                                          
G - localização originalmente prevista no nº34 da Rua Ivens   




esplanada na rua Capelo







Estação Praça de Espanha

Lamenta-se neste caso a perda de oportunidade de evitar o elevador de superfície com substituição por rampas (mais uma vez se recorda a necessidade de instalação de câmaras de videovigilância e a maior penalização por assalto). Entretanto aguarda-se a conclusão da instalação dos elevadores, a qual parecia estar integrada nas obras de transformação da praça

proposta de adaptação da estação a pessoas com mobilidade reduzida; rampas de substituição do elevador superfície nível do átrio de bilheteiras com 100m de comprimento; corredores adjacentes às paredes exteriores do átrio sul ao nível do átrio de bilheteiras para acesso aos elevadores para o cais (a vermelho)



Estação Alto dos Moinhos

Trata-se de uma prioridade dada a proximidade de um hospital. Em princípio, o elevador de superfície poderá ser dispensado mediante a destruição parcial da escada do lado sul nascente para criação de uma rampa que também servisse a entrada do hospital (ver figuras).







Restantes estações não equipadas

As restantes estações por equipar Martim Moniz, Intendente, Anjos, Campo Pequeno, Picoas, Laranjeiras, Praça de Espanha, Parque, Avenida) não têm um grau de prioridade equivalente ao das anteriores estações, mas seria desejável, para cumprimento da lei 125/2017, aliás transposição de uma diretiva europeia, que a também desejável equipa pluridisciplinar no metro dedicada à promoção da acessibilidade das pessoas com mobilidade reduzida fosse produzindo o plano de instalação de elevadores, rampas e instalações sanitárias da lei.


Anteriores comentários neste blogue

  • soluções com elevadores ou com rampas nas estações Entrecampos (entretanto equipada com elevadores), Jardim Zoológico, Campo Grande (consta ter sido adjudicado a uma entidades exterior ao metro o projeto de instalação de elevadores fora do contrato dos novos viadutos); outras estações prioritárias Alto dos Moinhos e Baixa Chiado:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/02/plano-nacional-para-promocao-da.html
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2020/06/considerando-que-os-mapas-de-despesa-do.html

  • possíveis soluções para adaptação da estação Baixa Chiado:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2014/12/cirandando-pela-rua-ivens-no-dia-3-de.html

  • o incumprimento da lei
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2013/03/dificil-cumprir-lei.html



       3 de dezembro, dia internacional das pessoas com deficiência,      terça-feira, 3 de dezembro de 2013

 

 DEFICIENTE É AONDE NEM TODOS PODEM IR, PORQUE TODOS   DIFERENTES,

                 TODOS IGUAIS                                   foto Alvaro Isidoro/Global Imagens no DN

    

Saúdo o protesto da APD, Associação portuguesa de deficientes junto da assembleia da Republica, a propósito do orçamento de Estado.

http://www.apd.org.pt/ 

           
Como antigo funcionário do metropolitano de Lisboa, lamento não ter conseguido vencer a resistência de sucessivos conselhos de administração que se opuseram de forma mais ou menos velada ao investimento na superação das barreiras arquitetónicas, com   o argumento "caridoso" de que as pessoas com deficiência corriam maiores riscos em caso de acidente.                                   
Falhei também na minha luta contra as burocracias e descoordenações internas que impediram a conclusão dos projetos de alteração das estações, o simples lançamento de concursos para esse efeito ou a submissão de candidaturas a fundos QREN (o que permitiria contestar a velha cassete de que "não há dinheiro").    
A interrupção das obras de adaptação das estações Colégio Militar e Baixa para garantir a acessibilidade e instalações sanitárias para pessoas com deficiência é o melhor exemplo da falta de financiamento através de fundos europeus.      
Penso por isso que, em situação de emergência, deveriam ser reelaborados os projetos das principais estações que ainda  não dispõem de elevadores ou outros meios de acesso à superfície, as de correspondência, Campo Grande, Entrecampos, Jardim Zoológico , Colégio Militar, Baixa-Chiado, elaborado o projeto de um sistema de informação aos interessados sobre o estado de funcionamento dos meios de acesso e submissão das respetivas candidaturas a fundos QREN (agora Quadro Europeu 2014-2020).      
Fazer isso é o mínimo se lermos a carta compromisso com o cliente afixada em todas estações e no portal na net do metro : "... está a ser desenvolvido um programa gradual de implementação de acessibilidades nas estações ainda não preparadas para o efeito
"

 












1 comentário:

  1. Com a rede Tram-Train/LRT/Tram a acessibilidade para todos é integralmente aproveitada e eficiente, além de ter mais cobertura territorial e permitir usufruir duma ergonomia ecológica do espaço público. É claro que com os mais de 30 mil milhões de euros investidos na rede Metro nos últimos 30 anos, já era tempo de compreender as vantagens duma rede LRT, bastando comparar com o que se passa em Stuttgart, uma cidade de 590 mil hab, de colinas e inserida numa Área Metropolitana de 2,6 milhões de habitantes. Também, poder-se-á comparar com o LRT do Porto embora, esta rede esteja últimamente a incorrer no erro de desnivelar e aumentar custos que eram desnecessários pois, como se sabe, com este custo/Km do Metro, constrói-se entre 10Km a 15Km de LRT.

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