domingo, 16 de julho de 2023

Obras do metro em Campo Grande, 11jul2023

 O texto seguinte refere-se ao estado da obra nos viadutos de Campo Grande em 11jul2023.

Recordando o objetivo da obra, instalação de 8 aparelhos de mudança de via (vulgo "agulhas") destinados a assegurar normalmente, segundo o plano oficial da linha circular, os itinerários da linha circular Cidade Universitária-Campo Grande cais sul-Alvalade e da linha de Odivelas os itinerários Telheiras-Campo Grande cais norte-Quinta das Conchas. Como itinerários de manobra assegurarão as ligações atuais Cidade Universitária-Campo Grande cais norte, e Telheiras-Campo Grande cais sul (em estudo no metro para apresentação das conclusões à tutela, segundo informação do presidente do metro na Comissão de Economia em 14jul2023, a hipótese de alteração do contrato de sinalização de modo a ser permitida a inserção dos comboios da linha de Odivelas na linha circular em regime de cantonamento automático).


Plano de instalação dos aparelhos de mudança de via:

A partilha da exploração da linha circular com a inserção de comboios de Odivelas  na linha circular,  introduz itinerários conflituantes (ver esquema seguinte) que obrigam à revisão das condições da sinalização, requerendo temporizações para comprovação das condições de segurança (imobilização de um dos comboios com distancia de travagem suficiente, verificação de posição correta das agulhas). 
Segundo o senhor presidente do metro na audição de 14 de julho, a preocupação máxima do metro é a segurança e por isso está a estudar o problema para submissão da solução à tutela.
Pessoalmente, não duvido que um sistema de sinalização contenha os requisitos suficientes de segurança para viabilizar uma rede complexa de agulhas em exploração de metro com intervalos curtos (neste caso, julgo que um intervalo de 4 minutos será o mínimo admissível para respeitar as condições de segurança). Porém, considerando a hipótese de perturbação do sistema de sinalização obrigando à intervenção humana para gestão dos itinerários, e considerando a complexidade da rede nos viadutos, nunca poderia validar, como técnico, a aplicação de um sistemas com itinerários conflituantes e intervalos curtos (pese embora a existencia desse tipo de itinerários na antiga linha circular do metro de Londres, convertida em 2009 em linha em laço ou em espiral, e que está sujeita a atrasos decorrentes precisamente da partilha de um troço comum por várias linhas). 



Em visita à zona dos viadutos para observação do estado da instalação dos aparelhos de mudança de via à data de 11jul2023, verificou-se que apenas os dois aparelhos de via no lado poente do cais norte de Campo Grande, para ligação a Telheiras (futura linha Odivelas-Telheiras) ou a Cidade Universitária (linha circular) estão instalados, e mesmo assim faltando partes da cróssima e a ligação das vias desviadas (aliás neste caso para evitar riscos de contacto com os 750 VDC) , Ver figura:

Cais de Campo Grande norte, ligação a poente a Cidade Universitária (original) ou Telheiras (plano da linha circular); colocados os dois aparelhos de mudança de via à exceção de parte da cróssima, faltando a ligação à via de e para Telheiras [ correção em 31out2023: no aparelho da esquerda, a via desviada para Telheiras apenas teve a lança curva colocada e posteriormente retirada; lança reta não colocada; a curva fixa que se vê na gravura também foi posteriormente retirada ]


Na outra extremidade do viaduto de ligação de Campo Grande norte a Telheiras não se encontram instalados os dois aparelhos de via o que obrigará a mais uma interrupção da exploração, incluindo a limitação do acesso à estação Campo Grande por comboios de 3 carruagens, pelo menos durante um fim de semana completo.
 

Passando ao lado sul de Campo Grande, lado poente, verificou-se que os dois aparelhos de via não estavam montados, nem a cróssima, mas apenas as travessas. Também aqui será necessária uma interrupção de exploração durante pelo menos um fim de semana inteiro com limitação de acesso a Campo Grande  de comboios de 3 carruagens. Ver figura:



Cais de Campo Grande sul. Colocadas novas travessas para os aparelhos de via de ligação a poente a Telheiras (original) ou a Cidade Universitária (linha circular). Faltam os aparelhos de via


Do outro lado da extremidade do viaduto de ligação ao túnel para Cidade Universitária, a situação é semelhante, não existem aparelhos de via.

Em resumo, dos 8 aparelhos de via do esquema oficial, apenas 2 estão instalados, e ainda sem partes da cróssima.

Ainda no lado sul de Campo Grande, no lado nascente, foi desmontada a TJD (travessia dupla que permite todos os itinerários entre duas vias e uma via desviada, neste caso para o PMOII) e substituída por um aparelho simples para acesso ao PMOII apenas a partir da via de chegada a Campo Grande sul vindo de Telheiras. Neste local foi necessário prolongar o corpo central da estação e os cais sul 16,5m para nascente devido ao novo traçado do aparelho de via para a ligação Cidade Universitária-Campo Grande sul, obrigando a uma alteração arquitetónica da estação que pessoalmente considero inadmissível do ponto de vista arquitetónico, como expresso inutilmente na consulta pública do EIA.
Perante esta intervenção, considero ser apropriado manifestar o receio de que não se tenha aproveitado o período de obras para compatibilizar a estação Campo Grande com a lei da acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida, ignorando-se, dado o secretismo habitual das instancias oficiais na tomada de decisões, se o tema foi resolvido. Neste caso, considerando as frequentes avarias de elevadores, teria sido possível construir rampas de ligação para cadeiras de rodas entre o piso do átrio das bilheteiras e o cais central. 


Cais de Campo Grande sul.  Ligação a nascente a Alvalade. Substituída a TJD por um aparelho simples encurtado para ligação ao PMOII. Observe-se o acrescento de 16,5m do cais motivado pela "entrada" do aparelho de via do lado poente

Deixo bem claro que a interrupção da exploração dos troços objeto de intervenção não é motivo de crítica. Fizemos isso para as expansões inauguradas em 1998. O que se critica , para além do processo de decisão da linha circular, são as informações incompletas sobre o planeamento. É verdade que há dificuldades de fornecimento e que a obra é complexa (aliás, é tão complexa que a sua complexidade justificava a sua não realização, desviando as verbas para troços mais simples de construir) mas  a informação fornecida foi a de que "trabalhos de via férrea obrigam à interrupção até 8 de julho" e agora verifica-se que será necessário novo período, embora mais curto.

Seria desejável que o metro informasse o público do novo planeamento (nenhuma disposição constitucional obriga a confidencialidade das propostas de uma empresa pública à tutela enquanto não há aprovação) numa altura em que o senhor presidente do metro enumera na sua audição os atrasos ligados aos procedimentos contratuais sugerindo o adiamento da colocação em serviço da linha circular para o 1ºtrimestre de 2025.

Também na audição é referido o atraso (desde agosto de 2021?!)  no visto do Tribunal de Contas para o 4º lote da linha circular (acabamentos de construção civil das estações, baixa tensão, eletromecânica e telecomunicações). Seria desejável que o metro informasse do porquê da recusa do visto. É possível que o facto de se juntarem vários fornecimentos provavelmente não orçamentados originalmente, tenha suscitado dúvidas, mas certamente que poderão ser esclarecidas se se nomear alguém para tratar do assunto. Antes do prolongamento Oriente-Aeroporto, os fornecimentos eram objeto de concursos individualizados e controlados por técnicos do metro. Nesta versão conjunta ficamos dependentes do empreiteiro único do 4ºlote.

Existe ainda uma questão que a audição do senhor presidente do metro não ajudou a esclarecer. Ao anunciar um intervalo entre comboios (o inverso da frequência) na futura linha circular de 3min40seg apresentou o facto como uma vantagem da linha circular relativamente a uma linha clássica com términos, como a proposta linha em laço. Ora, uma linha clássica com términos de inversão alternada pode garantir 2min30seg de intervalo ou até 2min se equipada com condução automática, e até menos construindo os términos de modo a eliminar os tempos de inversão (3ªlinha entre a estação anterior e o término com cais central evitando cruzamentos de nível; linha em raqueta).

Conforme afirmado pelo senhor presidente, a frequência dos comboios diminui com o comprimento da linha, mas como a frequência é diretamente proporcional ao número de comboios em linha para a mesma velocidade comercial, aumentando este número repõe-se a frequência. (intervalo entre comboios=tempo de percurso de ida e volta/nº de comboios em linha;  frequência de comboios=k.vel  com. nº de comboios em linha/comprimento ida e volta da linha).

O problema é que, também como confessado, para a extensão da rede e para os intervalos desejados começa a faltar o material circulante. Se em toda a rede após a linha circular quisermos um intervalo de 3 minutos (o objetivo de redução das emissões passa por transferir o transporte individual para o transporte coletivo, pelo que ter o objetivo de intervalos maiores entre Campo Grande e Odivelas parece uma afirmação a contracorrente) então teríamos de dispor, incluindo reservas, de 24 comboios de 6 carruagens para a linha circular, 10 comboios para a linha Odivelas-Telheiras, 17 para a linha vermelha e 21 para a linha azul. Ora, só dispomos atualmente de 55 comboios de 6 carruagens aguardando-se o fornecimento de apenas mais 7, o que é manifestamente pouco para o que se pretende.

Em resumo, para se assegurar um intervalo curto na linha circular terão de se sacrificar as outras linhas.

Convirá ainda esclarecer que uma linha em laço com intervalo de 3 minutos exigiria, incluindo reserva, dada a sua extensão, 34 comboios de 6 carruagens, isto é, a soma dos comboios para a linha circular e para a linha Odivelas-Telheiras, pelo que não é relevante o argumento utilizado pelo senhor presidente do metro.  



Audição metro 14jul2023 sobre estado obras do metro

https://canal.parlamento.pt/?cid=7256&title=audicao-da-administracao-do-metropolitano-de-lisboa

 

audição do secretario estado mobilidade urbana 14jul2023

https://canal.parlamento.pt/?cid=7257&title=audicao-do-secretario-de-estado-da-mobilidade-urbana


estudo de várias hipóteses de exploração das linhas circular e em laço

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2019/03/email-para-o-sr-presidente-da-camara-de.html


PS em 1set2023 - curiosamente, no lado poente norte da estação, apenas está agora instalado um aparelho de via da ligação a Telheiras e não dois como em 11jul2023. No lado sul nascente (prolongamento de 16,5 m dos cais) já está concluida a fachada do acrescento, desintegrada do resto da estação, em chapas perfuradas cor de cobre

Ver, para comparar com o estudo prévio da ampliação:   https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/09/recape-do-lote-3-viadutos-de-campo.html 


PS em 8set2023 - dos 8 aparelhos de via projetados, apenas estão instaladas as lanças reta e curva do aparelho do lado poente norte da ligação Telheiras ou Cidade Universitária para Campo Grande. Em princípio, todo o trabalho nos 8 aparelhos de via poderá ser executado aos fins de semana com interrupção da exploração normal ao longo de 2 meses. Depois da conclusão dos trabalhos de via férrea, prever 3 meses para os trabalhos de sinalização e ensaios do encravamento ("interlocking"). Observo que, tal como se receava, parece não vir a ser deixada uma distancia de 11 metros entre os limites do circuito de via da estação e as pontas das lanças, recomendada para prevenir que eventuais ultrapassagens de sinal de manobra proibitivo "apanhem" as lanças em movimento e resultem em descarrilamento. A confirmar-se, trata-se de uma limitação grave do projeto de via que sacrifica uma norma da sinalização por impossibilidade de inscrição dos aparelhos de via no espaço disponível com o perfil altimétrico dos viadutos pré-existentes, como aliás atempadamente referido.

lado poente norte de Campo Grande - apenas instaladas as lanças curva e reta do aparelho de via sentido Telheiras-Campo Grande , faltando o cruzamento para a outra via e o aparelho desta

PS em 31out2023 - Mantem-se a situação: dos 8 aparelhos de mudança de via apenas está montado o do sentido desviado Telheiras-Campo Grande. Na zona do aparelho de via no sentido direto Campo Grande -Cid.Universitária e sentido desviado Campo Grande-Telheiras nota-se à vista desarmada um desnivelamento no carril, a ser cortado para levar a lança reta (assinalado com setas nas figuras seguintes), motivando redução de velocidade
















PS em 19dez2023 - A situação neste dia era a inexistência de lanças curvas e retas em qualquer dos 8 aparelhos de mudança de via dos viadutos (entretanto desmontadas as lanças do aparelho de entrada em Campo Grande para os itinerários com origem em Cidade Universitária e Telheiras); apenas existem, nalguns, os dormentes de deslocação das lanças; estimo para cada aparelho 2 noites para instalação e outras 2 para ensaios, mais 2 noites para ensaios do conjunto de sinalização.



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