domingo, 22 de setembro de 2024

Uma noite no trânsito de Lisboa

 Já se pôs o sol de fim de verão quando saio de carro com a família. As ruas do meu bairro não são muito movimentadas mas são raros os que cumprem a limitação de 30 km/h. Nesta zona são ruas de sentido único e vou ter de virar à esquerda no próximo entroncamento. Da rua para onde pretendo ir vejo sair um adolescente de bicicleta em contramão. Suspiro aliviado por ainda estar longe, mas quando faço a curva sai-me também em contramão uma criança de trotineta, sem capacete, dizendo alegremente qualquer coisa para o adolescente da bicicleta.

Comento para os meus passageiros que ainda há um mês, na Azambuja, um rapaz e uma rapariga, de trotineta, em contramão e sem capacete, colidiram com um automóvel. A rapariga veio a falecer no hospital. Não há partilha de trotinetas na Azambuja, tinha sido oferta dos pais. 

Atravesso a praça do Areeiro. Estão dois carros parados na rotunda com os condutores a debaterem a colisão. Desço a Almirante Reis e na travessia da Alameda um novo par de carros parados com os condutores a discutir. 

Não vale a pena continuar a descrição da viagem. Será necessária uma nova cultura de segurança rodoviária, melhoria do Código da Estrada, fiscalização civilizada e um planeamento rigoroso de campanhas de sensibilização através de todos os meios de comunicação, de caráter obrigatório, das televisões às redes de telemóveis.

Mas, tal como o secretário de Estado da Administração Interna que em dezembro de 2018 chamou o comando da PSP para a proibir de multar os utilizadores de trotineta sem capacete de segurança e alterou o código da estrada para equiparar as trotinetas motorizadas a velocípedes, a nossa AR não liga e os decisores também não, apesar dos apelos idealistas da UE para reduzir a sinistralidade rodoviária. Segundo a ANSR, morreram nas estradas portuguesas em 2023 cerca de 1 pessoa por dia em acidentes com automóveis , veículos pesados, motos e motorizadas, e 1 pessoa por quinzena em bicicleta ou trotineta. É intolerável.

A UE continua a apregoar a taxa zero de mortos na estrada para 2050. Mas não estão a tomar-se as medidas certas. A primeira medida seria dar à ANSR o poder e os meios para as tomar, desde as campanhas de sensibilização, à fiscalização e à correção do Código da Estrada. Infelizmente, os decisores, de Portugal e da UE  não estão realmente interessados. São cúmplices por omissão.

https://www.revistasustentavel.pt/mobilidade/seguranca-rodoviaria-2030/

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