segunda-feira, 2 de julho de 2012

Os irmãos Grimm



http://camaraclara.rtp.pt/#/arquivo/262


O câmara clara entrevistou Francisco Vaz da Silva, antropólogo especializado em contos de tradição oral, sobre o simpósio dedicado aos irmãos Grimm.

Aprendi uma coisa curiosa: o significado político da ação dos irmãos Grimm, integrada no esforço de unificação e centralização alemãs no século XIX.

Em Portugal, estamos habituados a pensar, quando se fala em centralização, no nosso D.JoãoII, a quem chamaram, os vencedores que escrevem a história, príncipe perfeito. Na realidade foi um senhor prepotente, egoísta, teimoso e sem grandes escrúpulos que deu muito trabalho aos financeiros da época para equilibrar as suas contas. Em França temos a centralização do rei sol, Luís XIV, e do seu antepassado das cruzadas contra os albicastrenses. Na Alemanha, Bismarck. Para mim foi novidade ver os irmãos Grimm metidos nesse esforço de unir os estados alemães separados, através das suas tradições orais.

Na verdade, alguns dos contos de Grimm até nem são alemães, mas a ideia funcionou.

Só que, passado este tempo todo, e se colocarmos a hipótese de ficção histórica de que teria sido melhor se os estados alemães tivessem continuado separados?

Ou então, considerar que uma das vantagens da união europeia é poder contar no seu seio com os estados alemães como se fossem regiões autónomas. Isto é, combater a doença centralizadora do século XIX e deixarmo-nos de hegemonias no seio da união (não pode haver eurobonds porque os alemães pagariam juros mais elevados do que atualmente – e se o estado da Saxónia Anhalt emitisse obrigações, também lhes faziam juro baixo, os mercados?).

Por exemplo, se quisermos estudar uma parceria para a instalação de uma ou várias centrais solares de concentração dos raios solares e sais fundidos (para continuar a produzir energia elétrica depois do por do sol) poder-se-ia discutir com a região da Andaluzia e da Estremadura, e para negociar a chegada de uma linha de muito alta tensão continua para transportar a energia produzida sem as confusões das trocas fronteiriças, seria com a região da Baviera…

Interessante, pensar nos irmãos Grimm como militantes do centralismo alemão.

E interpretar o movimento centralizador num país como oposto ao interesse das cidadãs e dos cidadãos…

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