sábado, 7 de julho de 2012

O discurso de Tokio de Christine Lagarde, a sugestão do senhor fiscalista Tiago Guerreiro e os adolescentes

O discurso de Tokio de 6 de julho de 2012 de Christine Lagarde numa universidade de Tókio parece-me ser de uma importancia extrema.

É verdade que na plateia estavam muitos jovens e que Christine Lagarde ainda não se esqueceu de quando era adolescente, pelo menos é o que parece quando deixa escapar algumas afirmações contra o pensamento unico dos seguidores de Hayeck e Friedman.
Mas é um desgosto ver a pouca atenção que lhe dedicaram os meios de comunicação social portugueses; passou rapidamente no telejornal.
Talvez porque, no seu discurso, Christine Lagarde critica violentamente os bancos e as instituições financeiras (ver minutos 47 a 49 do video) : "têm de se concentrar no seu core business, que é o de financiar a economia real, devem voltar a suportar a economia e não a desestabilizá-la, voltar a servir e não exclusivamente a querer obter lucros".


É muito importante destacar esta frase, quando os nossos pensadores, comentadores, escribas de serviço, repetem como goebelzinhos que as empresas existem para dar lucros aos seus acionistas. Sim, se não derem cabo dos recursos que permitem obter os lucros, como as cochonilhas gostam de fazer, até dar cabo da árvore.
Era o que os adolescentes do meu tempo diziam, que o objetivo principal das empresas devia ser a utilidade social, e o lucro seria ajustado em função disso.
Era também o que Álvaro Cunhal dizia em 1974, quando havia que ajustar o crescimento do rendimento dos trabalhadores por conta de outrem com a redução das margens de lucro.
Não é enternecedor , passados estes anos todos, depois de caido o muro de Berlim e do fracasso da tentativa marxista-leninista soviética, ver que, afinal, temos de nos recentrar nisto -  a prioridade deve estar no social, não na ganancia individual dos grandes financeiros de produtos tóxicos embora altamente lucrativos?

O discurso começa com o apelo à solidariedade e à coordenação de esforços global, em oposição ao interesse egista (uma adam smithista, a falar assim...)  e com o diagnóstico de mau momento da economia mundial, incluindo a Europa, os USA e a desaceleração das economias emergentes (afinal, os senhores do governo português têm andado a mentir-nos quando nos responsabilizam pela crise, por termos andado a viver acima das nossas possibildades, a cride vem de fora, a menos que queiram fazer-nos crer que a crise mundial foi provocada  pela nossa despesa pública).
Que é a pior depressão da história, que a prioridade deve ser a diminuição do endividamento (são já enores as dividas dos USA, do Canadá, da França), e que deve haver um pouco de improvisação (!) e de criatividade.
É dito claramente que é necessário reparar os danos do colapso do Lehman Brothers, em setembro de 2008 (ver o Inside Job - poucos meses antes, o entrevistador perguntou a Christine Lagarde o que aconteceria se Paulsen lhe tivesse mentido quando lhe garantiu o controle sobre as instituições financeiras gananciosas, e a senhora respondeu em vernáculo - "holly cow", ou como nós diriamos, "poças").

Devia ser cuidadosamente estudado , este discurso, e devidamente servido à população, quanto mais não seja para ela não se sentir tão culpada de uma crise que não é dela.

No mesmo telejornal, relacionado com isto e a propósito da declaração de inconstitucionalidade do corte dos subsídios de natal e de férias exclusivamente a funcionários publicos e aposentados (que está escandalizando tantos senhores bem postos da nossa praça, a pontos de quase rasgarem as vestes e ameaçarem a catástrofe), o senhor fiscalista Tiago Guerreiro foi entrevistado e vejam, como medida alternativa para reduzir a despesa pública (e consequentemente reduzir a necessidade de cortes nos subsidios ou novas sobretaxas de IRS) propõe reduzir os 8,5 mil milhões de juros anuais, através da venda de certificados de aforro aos cidadãos, que têm um juro mais baixo do que o juro agiota dos bancos.
Como escreveu este blogue,  foi assim ao longo dos séculos neste país; é o próprio povo que financia o país quando ele precisa.

Mas não é sustentável o BCE andar a emprestar dinheiro a juro baixo ou nulo a bancos e estes,mais os "investidores dos mercados" a exigirem juros elevados aos governos e à economia.
Como diz Christine Lagarde, não é assim que os bancos se concentram no seu "core business".

Se tiverem paciencia, vejam no video o ar fino com que Christine Lagarde responde ao entrevistador que o BCE baixa as taxas de juro sem necessidade de lhe pedir licença...
Violento, o discurso, contra os bancos e financeiros; esperemos que não interpretem como apelo a atirar pedras às montras (era o que eles e as forças de intervenção queriam, para poderem armar em vítimas).
Terá captado a mensagem de Victoria Grant? (http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2012/06/victoria-grant-public-banking-institute.html  ).
Está a querer  mudar a perceção que temos do FMI?
Pena ter dito aquilo das crianças do Niger e da Grécia...

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