Boa tarde
Continuo a receber emails seus, por isso, apesar de ser cada
vez mais difícil conversar, volto ao seu contacto, esperando que as armas de
autodestruição maciça existam tanto no PCP como as outras no Iraque dos 4
falcões dos Açores. Talvez os 100 anos de Domingos Lopes deem uma ajuda para
que se extingam as armas de autodestruição maciça.
Sobre o assunto do momento, melhor do que eu escreveram os
leitores na edição de dia 11 de abril , António Linhan (“Imagine” by John
Lennon) e José A.Rodrigues (que temos “nós” a ver com a luta entre dois “robber
barons”, vulgo oligarcas?), e Carmo Afonso
repetindo Santos Silva, “Não há atribuições coletivas de culpa em Portugal”
(não? então os comentadores de sofá escandalizados com os “notáveis” pela paz
não andam a atribuir a culpa de apoiantes da invasão a quem quer manter a cabeça
fria e “contextualizar” a NATO, enquanto
apelam ao envio de armas para os heróis resistentes?), mas pode ser que lhe
interesse esta evocação de 2012 das Pussy Riot, que cito por vir a propósito os
versos de John Lennon, “nada por que matar ou ser morto”:
https://fcsseratostenes.blogspot.com/2012/08/free-pussy-riot.html
Gandhi ou Mandela pediriam armas para defender os seus
ideais? Não o fizeram.
Mas deixe-me dizer porque lhe respondo assim. No fundo, é a
experiência própria que condiciona o que cada um pensa. No princípio dos anos
70 fui incorporado no exército, na época ocupando terras que eram de outros
povos, numa altura em que o primeiro ministro da altura promoveu eleições sem
chapeladas e que deram o apoio maioritário dos eleitores à guerra colonial.
Como “há sempre alguém que resiste”, fui participando em sessões de canto livre
em que se cantava a injustiça da guerra colonial (enquanto em Londres se
representava o Hair, contra a guerra do Vietnam), umas vezes com a assistência
da PIDE, e outras não. Nunca acharam por bem prender os meus companheiros e
companheiras nem muito menos a mim, limitavam-se a mandar bilhetinhos para os
comandantes dos quarteis a dizerem para terem cuidado com os milicianos da incorporação
(lá está, uns especialistas da atribuição de culpas coletivas, quem não
concorda comigo ou é pacifista ou é comunista). Fui um privilegiado por não ter
sido mobilizado para as colónias e ainda hoje não sei o que faria, se “cobarde”,
fugiria para o norte da Europa, ou se diria ao senhor comandante pode mandar-me
prender, não vou, não disparo armas nem na minha terra nem numa terra que não é
a minha (ai o Boris Vian). E é por isso que me entristece ver o entusiasmo com
que os comentadores de sofá, nos seus gabinetes longe da guerra, culpabilizam
uns quantos coletivos e apelam ao envio de armas para a fogueira (para os heróis
se cobrirem de glória como eu ouvia na escola na interpretação patrioteira da
História) e apelam a mais sanções económicas que nos prejudicam a todos, ou a economia
é uma batata. Lembra-se quando Freitas do Amaral propôs um encontro de futebol
com os terroristas do ayatola? Mais uma vez escrevo, arranjem um mediador, pode
ser a China, a Turquia, a Índia, Israel, a Áustria, deixem-se de guerras, não
deixem a NATO decidir, cumpram o nº2 do artigo 7º da Constituição da República
Portuguesa, pensem no que fizeram em Dresden, Nagasaki, Hiroshima, Vietnam, Afeganistão …
vítimas civis … “é a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e
quanto mais come e consome, tanto menos se farta, é a guerra aquela tempestade terrestre que leva os campos, as
casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os
reinos e monarquias inteiras, é a guerra aquela calamidade composta de todas as
calamidades …”, dizia Vieira, a quem a Santa
Inquisição culpabilizou coletivamente.
E sim, pensando bem, nada a objetar à admissão à União
Europeia, apenas com duas pequenas condições, uma, que os países que estão na
fila vejam o seu processo acelerado, e outra, válida para qualquer entrada, que
o TFUE seja rigorosamente cumprido, com processos de infração efetivos e imunes
a desculpas como as que Portugal tem enviado a Bruxelas quando é alvo de
processos de infração, isto é, a Comissão Europeia não pode ser cúmplice do
incumprimento das suas regras, desde a falta de assistência técnica ou
financeira para novas linhas de comboios de ligação à Europa e tantas
infraestruturas em falta até à organização dos sistemas educativo e judicial.
Com os melhores cumprimentos, espero que tenha gostado das
Riot.
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