domingo, 26 de fevereiro de 2023

Parecer enviado em 30jan2023 como contributo da consulta pública do Plano Ferroviário Nacional



PFN Parecer enviado ao site https://pfn.gov.pt/consulta-publica-do-plano-ferroviario-nacional/  onde se encontra o PFN

 

I – Resumo - O presente parecer sobre o PFN reconhece o mérito do objetivo de recuperação da rede existente e do serviço das populações, mas resume-se num conjunto de discordâncias:

1 - sobre um conceito em que se baseia o PFN, que é o da redução do sistema ferroviário (com uma pequena exceção dum troço em via métrica) à gestão de uma rede única de bitola ibérica, ignorando o exemplo de mais de 30 anos da experiência espanhola de gestão separada da ADIF  e da ADIF Alta Velocidade (como aliás se tentou em Portugal com a RAVE) e do planeamento do Rail Baltica

2 – sobre o conceito de interoperabilidade do PFN ao hierarquizar os parâmetros de interoperabilidade deixando de fora a bitola 1435 mm e procurando pretextos nas isenções das propostas de revisão dos regulamentos comunitários para atrasar a mudança de bitola nos corredores internacionais e na parte nacional das redes transeuropeias TEN-T (RTE-T), contrastando com a aceitação dos outros parâmetros, nomeadamente o ERTMS em que conviverão dentro de 3 anos o antigo sistema CONVEL  e o novo sistema ETCS graças ao módulo STM. Não parece assim curial afirmar-se que o PFN tem como base, para além do PNPOT, as redes TEN-T porque efetivamente não cumpre o prazo e a totalidade dos requisitos de interoperabilidade destas

3 - sobre a perspetiva do PFN relativamente ao tráfego de exportações de bens para Espanha e para o resto da Europa, não dando o devido destaque ao facto de que as exportações de bens para Espanha representam 54% em tonelagem do total exportado por modos terrestres para a Europa, mas apenas 37% em valor e que a quota do transporte ferroviário é residual quando comparada com o transporte rodoviário (inferior a 1,3%), o que só por si justificaria a urgente coordenação com Espanha em planear a implementação dos corredores internacionais de acordo com os prazos regulamentares da rede “core”(2030), “extended core”(2040) e “comprehensive”(2050) , seguindo o exemplo do que Espanha faz com a França como mostrou na cimeira de Barcelona de 19jan2023 ao fixarem 2030 para a conclusão das partes francesas dos corredores atlântico e mediterrânico. Não parece curial focar o desenvolvimento do tráfego de mercadorias apenas no mercado ibérico, quando o objetivo principal deveria ser o crescimento do tráfego para o resto da Europa

4 – sobre a pouca preocupação do PFN em dinamizar a transferência de carga rodoviária de mercadorias, nomeadamente com transporte de semirreboques e caixas móveis por comboio,  e a transferência do tráfego aéreo de passageiros Lisboa-Madrid para a ferrovia, contrariando assim a política ambiental da UE e configurando sérias ameaças ao setor rodoviário quando tiver de se adaptar a futuras restrições ambientais.

5 – sobre a falta de preocupação em calendarizar e operacionalizar rapidamente os corredores internacionais e a parte nacional das redes transeuropeias TEN-T, sabendo-se que entre uma decisão e a colocação em serviço podem  mediar 10 anos. Não parece assim curial deixar no ar a indefinição do prazo e a incerteza do prazo de 2050, sendo forçoso definir um limite anual para o investimento e a sua componente de cofinanciamento comunitário (exigindo este a realização prévia do anteprojeto e da análise  de custos benefícios)

6 – sobre o desentendimento com Espanha sobre a reposição dos serviços de passageiros Lisboa-Madrid e Lisboa-Irun, que deveria ser ultrapassado na base do cumprimento de todos os requisitos da interoperabilidade, não só relativamente à bitola mas também ao ERTMS, o que não tem sido feito

7 – sobre os critérios de planeamento da mobilidade das áreas metropolitanas, sem articulação das redes de suburbanos com as redes de metropolitano (por exemplo, no caso de Lisboa sem previsão de partilha das novas travessias do Tejo nem alternativas para serviço do novo aeroporto, a duplicação do traçado de metro de Odivelas ao Campo Grande e Sete Rios em vez de prolongar o metro a Loures ou mesmo Malveira, ou a inserção da linha de Cascais no serviço interurbano com sobrecarga da linha de cintura; no caso de Coimbra o inepto sistema BRT quando comparado com a segurança operacional do modo ferroviário, nomeadamente no relativo ao sistema de condução automática  e desintegrado dos instrumentos jurídicos do regime de gestão territorial, nomeadamente do PROTAML a necessitar de revisão  e da regulamentação comunitária expressa nos SUMP, não obstante a referência ao PNPOT e aos PROT. Neste aspeto, o PFN funciona como justificador das fichas de empreendimentos do PNI2030 sem uma visão integradora, atribui à rede ferroviária nacional (suburbanos) funções mais adaptadas ao serviço de metropolitano, e sofre da subordinação automática aos conceitos de linhas diametrais (supostamente para corrigir as ligações radiais, ignorando a assimetria de cargas à chegada e à saída do centro) e de partilha de linhas por serviços de características diferentes (modelo de Karlsrhue, que curiosamente, dado o aumento de tráfego e consequentes dificuldades operacionais, já constrói linhas separadas).

8 – sobre a aparente cobertura e contemporização da própria Comissão Europeia ao não insistirem na implementação das interligações ferroviárias de Portugal à Europa além Espanha segundo todos os requisitos da interoperabilidade. Em face da gravidade das consequências do PFN tal como está para a socio economia, nomeadamente na falta de estímulo ao aumento das exportações para a Europa além Espanha, propõe-se a sua alteração radical fundamentalmente para convergir com os regulamentos comunitários, principalmente o que, em 2024, substituirá o 1315 e atualizará o 913 e o 1153, tanto quanto possível sem apelo a isenções,  convergindo com a política ambiental da UE e o objetivo da rede única ferroviária europeia.

II - Apreciação geral

Compreende-se a orientação geral que presidiu ao PFN de restringir os investimentos em novos sistemas e concentrar  a despesa na manutenção da rede e, no caso de novos troços como a nova linha Lisboa-Porto ou a ligação dos principais centros urbanos,  na continuidade do tipo de equipamentos e sistemas existentes, mas a experiência já tida demonstra que mesmo estas opções exigem meios e rigor no controle do planeamento que têm falhado, para além de se ter querido atingir objetivos com a recuperação de linhas projetadas ainda no século XIX sem condições de traçado energeticamente eficientes e limitadas em grande parte, para o tráfego de mercadorias, a vias únicas. No caso da nova linha Lisboa-Porto, receia-se que sejam otimistas as previsões de tempos de percurso e  da capacidade em termos de serviços dada a diversidade de destinos. Trata-se da aplicação de um conceito do tipo rede de metro a uma área extensa, com sistemática utilização de troços comuns servindo destinos diferentes. Isto é, o serviço Lisboa-Porto dependerá do bom funcionamento dos serviços para os destinos satélite. A experiência tem demonstrado que é um sistema sujeito a perturbações por avaria dos aparelhos de mudança de via sujeitos a serviço intenso, obrigando a tempos de comprovação de posição correta das agulhas e redução da velocidade  à passagem dos comboios por elas e tendo riscos por serem aparelhos de ponta.

Reitera-se a crítica de se pretender evitar o problema das duas redes, uma convencional e outra para a Alta Velocidade, que no fundo representa o receio de mudança de toda uma estrutura habituada aos equipamentos existentes (não é só a resistência à adoção da bitola UIC nos novo troços, é por exemplo a insistência em manter o CONVEL em situação de obsolescência). Não se contesta a viabilidade da rede de bitola ibérica, com material circulante de eixos variáveis para passageiros, não necessariamente propriedade da CP, nem a integração na rede ibérica de mercadorias, sujeito o corredor atlântico a atrasos em Espanha para oeste da plataforma de Vitoria, apenas se sublinha que quer em passageiros quer em mercadorias a quota da ferrovia estará limitada pelos obstáculos à ligação à rede francesa, apesar do recente compromisso francês em disponibilizar as necessárias alterações em 2030. A excessiva preocupação  em aproveitar o existente leva por exemplo a perder tempo com a concordância da Pampilhosa em lugar de avançar para a nova linha Aveiro-Viseu-fronteira espanhola. Felizmente que os técnicos dos anos 50 e 60 do século passado optaram pelos 25 kVAC, infelizmente terem sido marginalizados os técnicos da RAVE. Insiste-se na importância de cumprir o regulamento 1315 que prevê (pág.35) a ligação Aveiro-Viseu-fronteira (admite-se que o traçado mais a norte de Vilar Formoso seria mais económico por ser mais favorável em termos de pendentes até Salamanca).

Não só a ferrovia da rede existente deveria ter orçamento e gestão independentes da rodovia, como deveria ser dotada dos recursos para eficiente execução dos projetos dentro de objetivos adequados ao tipo de traçado existente, procedendo-se simultaneamente à  criação duma entidade do tipo da RAVE para coordenação do projeto e execução da nova rede interoperável TEN-T para as novas linhas de Alta Velocidade e mercadorias para integração plena na rede única europeia em estrita coordenação com Espanha de acordo com os regulamentos vinculativos comunitários e beneficiando para isso dos fundos comunitários e dispondo de orçamento e gestão independentes.

A recusa assumida pelo PFN de planear a implementação da bitola 1435 mm em articulação com Espanha e visando a integração na rede única europeia não é  aceitável em face da regulamentação comunitária para a rede única ferroviária europeia.

Estranha-se a omissão de referências ao CSOP e a possíveis soluções para pormenorização e calendarização do PFN no seguimento da consulta pública semelhantes à adotada para a definição da localização do novo aeroporto e aberta à participação pública à medida do progresso do estudo.

 

III – Apreciação da deficiente coordenação com Espanha

Não pode deixar de se estranhar a invocação pela parte portuguesa de intercomunicação estreita e concordância com os homólogos espanhóis e com a Comissão Europeia/DG MOVE em temas que contrariam os objetivos de interoperabilidade plena em 2030 das redes TEN-T, por exemplo:

-na manutenção da bitola ibérica na Galiza para serviço de passageiros, entre Ourense e Santiago e entre a Corunha e Vigo (omitindo a infração às regras da concorrência dado que apenas o fabricante Talgo produz os comboios de AV Avril de eixos variáveis),

-na quase exclusividade da bitola 1435 mm para mercadorias no corredor mediterrânico e no “Y” basco (em construção via de 3 carris para os portos das Astúrias, sem data prevista para migração para bitola 1435 mm para mercadorias na Galiza),

- na manutenção da bitola ibérica nas plataformas logísticas de Madrid, sem previsão de data para o atravessamento Norte-Sul (isto é, ligando os ramos norte e sul do corredor atlântico)  

- na ausência de previsão de data para o serviço de mercadorias em bitola 1435 mm no percurso Badajoz-Manzanares-Puertollano-Madrid (corredor atlântico sul)

- na ausência de previsão de data para o serviço de mercadorias em bitola 1435 mm no percurso fronteira portuguesa-Salamanca-Vitoria Gasteiz (corredor atlântico norte)

Porém, sendo verdade o que antecede, o governo português e a IP não querem reconhecer o imperativo  do objetivo do regulamento 1315 (em fase de revisão até 2024) de ter até 2030 as ligações ferroviárias de Portugal à rede única ferroviária europeia nem o principal argumento numa análise de custos benefícios que é o da transferência de carga rodoviária para a ferrovia da exportação além Pirineus, e que neste momento ultrapassa em valor as exportações para Espanha. Este objetivo, passível de cumprimento através do transporte de semirreboques por comboio, é especialmente vocacionado para o corredor atlântico norte, enquanto o corredor atlântico sul, sem prejuízo de servir também o tráfego de mercadorias para o centro e sul de Espanha, tem fundamentação na transferência de passageiros da via aérea Lisboa-Madrid para a ferrovia

Igualmente nada é dito  oficialmente sobre a intensificação dos contactos hispano-franceses para dinamizar as interligações ferroviárias em bitola 1435 mm.

 

IV - Comentários a algumas partes do PFN, sem a pretensão de cobrir todo o território

Pág.7 – Sem evidentemente questionar a valia do texto do ITF sobre a metodologia dos benefícios económicos alargados conforme A.J.Venables, seria curial, dada a relação com os procedimentos do financiamento pelo CEF, referir o manual das análises de custos benefícios adotada pela Comissão Europeia, “Guide to Cost-Benefit Analysis of Investment Projects, Economic appraisal tool for Cohesion Policy 2014-2020”.

Pág.8 – igualmente sem contestar a pertinência do estudo do impacto ambiental da construção de linhas de caminho de ferro de  O. Olugbenga, N. Kalyviotis, and S. Saxe, seria curial referir o estudo da UIC “Carbon Footprint of High Speed Rail “   bem como referir a comparação com os modos rodoviário e marítimo (este como emissor de compostos de enxofre, mais nocivos do que o CO2), a redução do impacto específico por ton.km ou passageiro.km com o crescimento do tráfego e a redução das emissões na construção de tuneis com recurso ao método TBM

Pág.9 – discorda-se da ausência deliberada de um planeamento global e evidentemente de deixar opções por tomar as quais fazem parte dos regulamentos comunitários que definem as redes TEN-T. Receia-se que seja um convite a adiamentos sucessivos sem controle dos tempos e apresentada a data de 2050 como de tomada de decisões que deveriam ser tomadas mais proximamente, nomeadamente pela premência da redução das emissões nas ligações Lisboa-Madrid por substituição das viagens aéreas de passageiros, e nas exportações para a Europa por transferência da carga rodoviária .

Pág.10 – como já referido, no PFN observa-se que nas áreas metropolitanas não há uma correta articulação com os transportes metropolitanos, chegando o tráfego suburbano a ocupar traçados com vocação metropolitana, de que os melhores exemplos são a pretendida ligação da linha de Cascais à linha de cintura e a duplicação do percurso por metropolitano Odivelas-Campo Grande-Sete Rios. No caso da ligação à linha de cintura concorda-se que após a quadruplicação do troço Areeiro-Braço de Prata serão possíveis 4 serviços por hora, mas como existe movimento de aparelhos de via entre serviços distintos e comprovação de segurança e limitação de velocidade , não deverá contar-se com mais do que um intervalo de 5 minutos, ou 12 comboios por hora e sentido, sobrando portanto 8 comboios por hora para o restante tráfego, com ou sem a terceira travessia do Tejo. Notar que a linha de cintura não está quadruplicada de Sete Rios para a margem sul, inserindo-se a linha de Cascais neste troço

Pág.11 – a dificuldade de eliminação nas linhas existentes das pendentes excessivas é precisamente um dos principais argumentos que fundamentam a construção de linha nova, o que deveria merecer a candidatura a fundos comunitários;

Tem-se consciência das dificuldades devidas à partilha do serviço de passageiros de Alta Velocidade e do serviço de mercadorias, nomeadamente por limitar as pendentes e exigir manutenção rigorosa e equipamento atualizado para esse efeito, mas é um fator de rentabilização da infraestrutura e de garantia de ligação interoperável à Europa além Espanha

Pág.12 – o PFN refere corretamente a interoperabilidade como objetivo da modernização de linhas existentes ou da construção de novas linhas, mas ao omitir a bitola de 1435 mm como componente da interoperabilidade e ao citar os requisitos das redes TEN-T comete uma falha grave porque precisamente o artigo 39 do regulamento 1315 – requisitos das infraestruturas ferroviárias - determina no seu parágrafo 2.a.iv  a bitola 1435 mm .  Compreende-se, mas discordando-se veementemente, que a opção do PFN seja a de restringir toda a rede à bitola ibérica (com reduzida expressão da bitola métrica), mas não parece sustentável a recusa da bitola 1435 mm com o pretexto de ser uma “questão tecnicamente complexa” (provavelmente associada à dificuldade de gestão dual, que a Espanha já demonstrou ser viável). Aliás, são reconhecidas as vantagens para as exportações portuguesas mas não parece correto fazer afirmações não sustentadas tecnicamente como a de que existem outras questões a resolver antes de se pensar na bitola 1435 mm, sem as especificar nem aos riscos associados às redes duais, e sem planear a sua resolução. Recorda-se que o custo de uma linha nova em bitola 1435 mm não difere duma linha nova em bitola ibérica. Recorda-se ainda o estudo do agrupamento europeu de interesse económico RFC4 de que a IP faz parte, e que concluiu pelas seguintes fatores de redução de custos no transporte de mercadorias de Leixões para Paris em função de cada um dos requisitos da interoperabilidade: eletrificação 25 kVAC   2%, comprimento dos comboios 740m  10%, bitola 1435 mm 7%, ERTMS  2% . Isto é, os requisitos da interoperabilidade são um conjunto que deve ser tratado como tal, sem esquecer nenhum deles.

A recusa assumida pelo PFN de planear a implementação da bitola 1435 mm em articulação com Espanha e visando a integração na rede única europeia, como aliás os regulamentos comunitários determinam, configura a negação do que um plano deve fazer, planear, e deveria ser corrigida.

Pág.14 – Aplaude-se a preocupação com a implementação do sistema ERTMS de acordo com a regulamentação comunitária na perspetiva de  uniformização (que se desejaria ver estendida a todos os requisitos da interoperabilidade, incluindo a bitola 1435 mm, para se considerar verdadeiramente integrada na rede única ferroviária europeia) mas manifesta-se alguma preocupação com a metodologia escolhida, com recurso a módulos de interface STM para instalação a bordo. Funcionalmente e do ponto de vista operacional seria mais seguro optar pela substituição do sistema CONVEL, mas esperemos que os resultados da opção sejam positivos, o que só a prazo de mais de 2 anos poderá concluir-se. Discorda-se que o aumento da capacidade do transporte de mercadorias seja justificação para o recurso a bitola ibérica na nova linha Lisboa-Porto porque, a exemplo de Espanha, as ligações a portos e a plataformas logísticas recorrem muitas vezes a vias de 3 carris para serviço simultâneo de material circulante de bitola ibérica e de bitola 1435 mm. Acresce que na compra de novo material circulante é normal incluir nas especificações a adaptação a outra bitola mediante substituição apenas dos eixos. Compreende-se a preocupação em utilizar a nova linha Lisboa-Porto para serviços regionais, mas parecerá mais importante reservá-la para passageiros e mercadorias para exportação (objetivo Lisboa-Porto rede “core” 2030; Porto-Braga-Vigo rede “extended core” 2040) 

Pág.17 – sublinha-se o reconhecimento pelo PFN das vantagens da ligação do porto de Sines ao corredor mediterrânico (o qual está a ser projetado para bitola UIC) o que só confirma a necessidade de coordenação com Espanha

Pág.19 – não se põe em causa a importância do terminal rodo ferroviário da Pampilhosa para o tráfego sul-norte-leste, mas para o tráfego norte-leste a concordância da Pampilhosa seria dispensada pela nova linha Aveiro-Viseu-Salamanca com novo terminal

Pág.20 – observa-se que a ligação Pocinho-Vila Franca das Naves poderia conjugar-se com a ligação a Bragança desistindo-se da ligação Porto-Vila Real-Bragança

Pág.21 – manifesta-se clara divergência com a afirmação que a escala ibérica é a escala natural para a prática do transporte por comboio de semirreboques. O valor superior das exportações por modo rodoviário para a Europa além Espanha relativamente ao valor exportado para Espanha justifica a preparação do  transporte dos semirreboques pelo corredor atlântico para além dos Pirineus, nomeadamente Barking no UK, Betemburg no Luxemburgo e Roterdão na Holanda, coordenando com Espanha e França as intervenções necessárias, nomeadamente o gabarit P400 em túneis,  com cofinanciamento comunitário

Pág.23 – por razões de custos operacionais discorda-se da preferência por locomotiva auxiliar em percursos de pendentes elevadas, excetuando casos em que não será razoável construir um novo troço com pendentes inferiores a 1,25%. Na respetiva análise de custos benefícios deverão contabilizar-se os custos de operação e manutenção da referida locomotiva auxiliar. Por razões de segurança, discorda-se da tração pela cauda em qualquer circunstância.

Pág.24 a 47 – sobre o transporte de passageiros de médio e longo curso, nota-se a preocupação de associar a sua evolução à coesão territorial e à proposta de ligação de 28 capitais de distrito e outros centros urbanos. A estrutura do presente parecer é a defesa de duas redes de gestão e operação independentes centrando o objetivo principal da rede de alta velocidade/mercadorias na integração na rede única ferroviária europeia. Consequentemente, nesta perspetiva, distinta do PFN proposto, a rede convencional corresponderá à rede existente (exceção do troço Évora-Badajoz) sujeita à manutenção normal e a beneficiação localizada. Adicionalmente, o desenvolvimento da rede convencional em termos de expansão futura deverá progressivamente ir adotando em novos troços a bitola 1435 mm sempre com o objetivo de abrir a sua operação a material circulante de operadores europeus, a exemplo de Espanha, e resolvendo problemas de interligação com recurso a travessas de 3 carris e não travessas bivalentes, também a exemplo de alguns locais em Espanha. Admite-se que a opção por uma ou outra perspetiva dependerá da política de coesão territorial a nível nacional e regional, e aqui tem-se o problema da regionalização e do combate á desertificação do interior. Paradoxalmente, a desertificação do interior poderá combater-se através do aumento da população concentrada em cidades do interior, equivalentes a capitais de distrito, mas eventualmente  diminuindo o número dessas cidades, isto é, reduzindo o número de pontos a ligar pelos novos troços (28 no PFN). Essas cidades teriam a responsabilidade da gestão do território adjacente segundo normas válidas em todo o território e sujeita ao controle mútuo por entidades como as CCDR, segundo os procedimentos normalizados dos sistemas de controle de qualidade. Provavelmente não será a orientação governamental que recentemente tem privilegiado a excessiva pulverização de entidades regionais, como é exemplo as novas NUT II desagregadas da AML. Em qualquer caso, a observação é a de que a rede de novos traçados deverá depender dos instrumentos jurídicos de gestão do ordenamento do território a rever pelas entidades com legalidade e capacidade para o fazer (isto é, as decisões do PFN proposto sobre novos traçados carecem duma atividade precedente). Para além das áreas de gestão territorial dependentes de cada cidade, desde a gestão florestal, agrícola ou de produção industrial, terá de se considerar a mobilidade complementar da mobilidade ferroviária  e a viabilidade da plataformas logísticas (e se há dificuldade em conseguir a sua gestão pela iniciativa privada, terá de se considerar, aliás de acordo com as normas do TFUE, a gestão por incumbentes).

Em qualquer caso, notar que o próprio regulamento 1315 (em revisão até 2024) prevê para 2030 (rede “core”), 2040 (rede “extended core”) e para 2050 (rede “comprehensive”) ligações abrangidas pelo objetivo em causa (2030: Sines-Lisboa-Aveiro-Porto-Leixões; Aveiro-Viseu-Salamanca; Lisboa-Évora-Badajoz. 2040: Porto-Vigo; Sines-Évora. 2050: Évora-Beja-Faro-Huelva). Parecerá que o PFN deveria pelo menos, ser compatibilizado com as datas previstas na revisão do regulamento 1315.

Pág.28  - reitera-se a discordância da ligação da linha de Cascais à de cintura por ser um traçado mais adequado ao metropolitano, nomeadamente pela natureza transversal da linha vermelha que poderia ser prolongada a Algés, para além da sobrecarga da linha de cintura

Pág.29 – discorda-se, para além da utilização da bitola ibérica na linha Lisboa-Porto por estar dissonante com os mapas das redes TEN-T do regulamento 1315 (em fase de revisão até 2024, não devendo ser aplicáveis as isenções admissíveis na Irlanda e na Finlandia) da ausência de elementos em termos comparativos de custos e benefícios das hipóteses de chegada a Lisboa pela margem direita ou pela margem esquerda. Idem para o serviço do novo aeroporto (ver no ANEXO I  sugestões para as acessibilidades ferroviárias em função das hipóteses de localização).

Embora estejamos já perante factos consumados com os extensos planos de remodelação das estações de Coimbra B e da Campanhã, assinala-se que o traçado mais direto ente Lisboa e o aeroporto Sá Carneiro teria um afastamento significativo da estação de Coimbra B e da estação de Campanhã, com as travessias do Mondego e do Douro mais afastadas destas estações e com ligação de metropolitano clássico ao centro de Coimbra e uma nova estação no Porto.

Pág.38 – nova linha de Trás os Montes – sem  contestar o bom nível do trabalho realizado no estudo desta nova linha, cuja mais valia seria a ligação à linha de AV da ADIF em Puebla de Sanabria, observa-se que não está prevista no mapa das redes transeuropeias TEN-T do regulamento 1315, não parecendo que as vantagens em tempo de percurso quando comparada com a linha Aveiro-Viseu-Salamanca justifiquem a alteração do mapa TEN-T.

 Pág.53 – relativamente às eventuais melhorias de interface com o metropolitano, convém esclarecer que a estação de Entrecampos da IP já tem um interface com o metropolitano pelo que não necessita da linha circular para esse efeito; quanto à linha de cintura, a vantagem de ligação a Entrecampos equivale ao interface de correspondência da atual linha de Cascais com a linha vermelha prolongada do metropolitano se o interface for bem projetado (tapetes rolantes em viaduto, protegidos da chuva, cobertos por câmaras de vigilância, agravamento da penalização de eventuais assaltantes). Sublinha-se porém a importância de concluir o interface entre a estação Roma-Areeiro da IP e a estação Areeiro do metro (em percurso protegido da chuva e acesso de nível ao átrio de bilheteiras da estação de metro, implicando rebaixamento de teto da galeria de metro), proposta aliás antiga e nunca compreendida pelos decisores. Relativamente ao interface proposto entre a estação Rossio da IP e a estação Rossio do metro (linha verde)  note-se que ele já existe através da própria linha azul do metro, dispensando, numa ótica de economia, esse interface. No entanto, caso venha a considerar-se importante a sua implementação, observa-se que por um custo eventualmente inferior a 20 milhões de euros poderá instalar-se um tapete rolante na galeria abandonada Restauradores-Rossio em cerca de 350 metros, praticando duas pequenas galerias de acesso entre os átrios das estações de metro

Págs 54 a 56 – observa-se que a seleção dos eixos diametrais que se propõem não obedeceu a estudos de procura ou à subordinação a eixos preferenciais definidos pelo PROTAML (que aliás necessita de revisão). Igualmente se parte como dado adquirido da localização da ponte da TTT Chelas-Barreiro sem considerar a necessidade de comparação de custos e benefícios de alternativas como Chelas-Montijo ou travessia em túnel Sacavém-Alcochete. É verdade que a localização do novo aeroporto condicionará a decisão, mas seria interessante que o PFN incluísse alguma avaliação comparativa, em termos de custos, da opção de ligação a Lisboa da nova linha Lisboa-Porto pela margem esquerda ou pela margem direita do Tejo. Igualmente que se atribuíssem as valências das vias na travessia (Alta velocidade, suburbano/metropolitano/ vai-vem para o novo aeroporto, regional, mercadorias).

 Se se está a estudar um plano de transportes da área metropolitana, parecerá conveniente também incluir a possibilidade do túnel misto rodo ferroviário Trafaria-Algés indispensável para o fecho de uma grande circular externa  da AML e para tráfego de mercadorias do já estudado terminal de contentores Bugio-Cova do Vapor.

Discorda-se da forma de apresentação das redes da AML nas páginas 48 ((suburbanos existentes) e 56 (suburbanos futuros) por induzirem em erro o leitor. Os traçados indicados são ligações que utilizam troços físicos comuns. São portanto gráficos de ligações, não infraestruturas físicas (vias duplas, maioritariamente). Propõe-se portanto, em complemento das representações atuais,  a representação das vias disponíveis atualmente ou as previstas pelo PFN conforme os dois esquemas seguintes:


Reitera-se a discordância relativamente à preocupação dominante de substituir ligações por ligações diametrais, não só porque a atratividade de uma rede pode conseguir-se também com interfaces de correspondência eficientes, porque uma ligação diametral põe em série troços com procura assimétrica (aproximação do centro com elevada procura seguida de afastamento com menor procura) e porque as ligações propostas não parece estarem sustentadas por estudos de viabilidade nem por diretrizes de instrumentos de gestão territorial (PNPOT, PROTs). Sublinha-se que nestes instrumentos deverá ficar clara a compatibilização das redes suburbanas e metropolitanas em função das respetivas vocações, o que não parece assegurado no PFN, quer nas áreas metropolitanas de Lisboa quer do Porto.

Reitera-se ainda a discordância com a duplicação de traçados suburbanos com linhas de metro, como por exemplo, nas páginas  44 e 55 a ligação da linha do Oeste à linha da cintura em vez do prolongamento da linha de Odivelas do metro ao Hospital Beatriz Ângelo numa primeira fase e à Malveira numa segunda fase.

Pág.65 - Na região de Coimbra reitera-se a discordância pelo recurso a BRT e no abandono da estação de Coimbra A. Independentemente dos estudos de viabilidade de traçados, o abandono desta estação configura um ato de vandalismo sobre arqueologia industrial que deixo registado. Como habitualmente, não foram divulgados estudos pormenorizados comparando o BRT com a solução LRT à superfície ou em túnel sob o largo da Portagem e assinala-se que, por razões da Física, a resistência ao rolamento dum veículo com pneus é superior à dum veículo equivalente com rodas de aço contra o carril o que se traduz num consumo específico energético superior. Adicionalmente, não foram divulgados os sistemas de controle da direção ao longo de todo o percurso do BRT o que poderá trazer problemas de segurança nos percursos sinuosos.

Pág.68 – serviço do aeroporto de Faro – ver no Anexo II  algumas hipóteses de ligações ao aeroporto de Faro

Pág.69 – apoia-se a proposta de reativação da linha do Corgo em bitola métrica para fins turísticos principalmente

Pág.70 – sugere-se o aproveitamento das plataformas das linhas desativadas para, além de ciclovias, a instalação de serviços de veículos autónomos “a pedido”


Anexos I e II ao parecer:

https://1drv.ms/w/s!Al9_rthOlbwewj7W3X3883NbAQU-?e=VsPwK2 

Sem comentários:

Enviar um comentário