sábado, 24 de julho de 2010

Deep water Horizon

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A busca da energia é sempre um negócio temerário
Acreditem. Não pode haver energia barata.
Tem de se pagar, às vezes com desastres (Tchernobil, a barragem de Frejus, o acidente na central de gás nos USA, os naufrágios do Amoco Cadiz e do Exon Valdez)

No entanto, a gravidade destes acidentes justifica a investigação cuidadosa das causas e circunstancias.
No caso de Tchernobyl, alguém de espírito inovador (vivia-se a perestroika) resolveu fazer uns ensaios para tentar resolver a instabilidade congénita dos reatores quando em baixa carga.
Foram sucessivamente desligando os alarmes até a reação entrar francamente em cadeia.

No caso da “Deep water Hoizon” do golfo do México foi agora divulgado o que já se suspeitava: estavam desligados os alarmes de explosividade e de libertação de gases perigosos. Segundo uns, para não incomodar a tripulação com alarmes falsos às 3 da madrugada.
Dito assim, a indignação das multidões já tem quem colocar no pelourinho - os trabalhadores negligentes.

Mas não devemos ficar pelas primeiras análises.
Passemos às secundárias:
1 – a BP e outras petrolíferas são financiadoras de partidos representados no congresso dos USA
2 – a plataforma que explodiu destinava-se à perfuração e não à extração normal, e estava arrendada em “outsourcing” pela BP a uma companhia que tinha adquirido em bolsa a primitiva proprietária (isto para dizer que muitas das decisões são tomadas por quem está longe de conhecer o negócio na frente de trabalho)
3 – o sistema de monitorização principal da perfuração é designado por e-drill e centraliza em Houston, num centro de comando e controle, todas as informações e alarmes da perfuração (isto para dizer que, lá como em muitas mentalidades em Portugal, os decisores acham que tudo se resolve à distancia num centro de comando e controle; porque assim não é preciso –não? – investir na segurança local; porque se pode poupar na dimensão e na qualificação do pessoal nas plataformas; e porque a fé na informática casada com as telecomunicações é infinita).
Não culpemos pois os trabalhadores, onze dos quais morreram, por terem os alarmes desligados.

Reavaliemos antes os conceitos de economia e de centralização da segurança.
Reavalie-se o conceito de comando e controle centralizados.
A tecnologia atual, graças aos microprocessadores e à informática, permite descentralizar a inteligência da construção, da exploração e da manutenção.
Descentralizemos, pois, e atentemos mais nas questões técnicas e menos nas financeiras .


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