quarta-feira, 28 de julho de 2010

A Frustralândia

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A Frustralândia é um país de grandes poetas.


O grande poeta Luís Vaz deixou escrito que não só morria na pátria, que longe tinha vivido, como também morria com ela.

Seria talvez um exagero, a pátria morrer, o que faria jus ao nome, mas era verdade que o rei Filipe não era uma pessoa intelectualmente muito bem dotada. Não seria a má pessoa que os ingleses pintaram, também não admira com os tristes episódios das invencíveis armadas, mas terá desempenhado o papel de principal acionista, ou delegado do principal acionista, numa empresa de agora, rodeado de consultores e de conselheiros inovadores mas enganosos. Não admira que o balanço dos Filipes fosse negativo.

Outro grande poeta, Fernando Pessoa, cometeu o rebuscado êxito de ser um dos principais poetas de língua inglesa do princípio do século XX, como tal estudado nas grandes universidades anglo-saxónicas e deixou escrito, em inglês no original:

“À beira-mar deixemos ao menos que a nossa ânsia por uma proeza
Se torne uma dor absurda, uma cobiça desolada e inerte…
Pertençamos assim ao propósito que se extraviou para não sonharmos nem desejarmos nada
senão isso…”

Convenhamos que assim se define o espírito da Frustralândia.

Mas como não somos todos poetas, e mesmo que fossemos, até Fernando Pessoa contribuiu para o PIB do seu país com trabalho esforçado de correspondente de línguas e especialista de economia, tentemos contradizer o nome da pátria.

Podemos sempre votar, apesar da desilusão do poder do voto não ter a força do poder económico, como diz Saramago, votar em quem vai fazendo investimentos, apesar dos economistas ex-ministros da economia que ralham com quem trabalha sempre que vão à televisão,  porque sem investimentos a Frustralândia frustra-se mesmo.

Podemos indignar-nos por os nossos ministérios da Educação terem dado mais ouvidos aos Pink Flloyd (we don’t need your education) do que aos Beatles (all you need is Love). Explico: os Pink Floyd achavam que era preciso inovar na educação de modo a que  não fosse uma lavagem ao cérebro. Não era preciso inovar, e a prova está no aumento da iliteracia, da criminalidade, cá dentro, na Frustralândia. E lá fora, no aumento das guerras, do negócio das armas e do tal fosso que separa os beneficiários do rendimento dos que não beneficiam. Isto é, não caminhámos para o triunfo da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Tempo agora de desmontar os Pink Floyd e os especuladores financeiros e dos off-shores, embora o voto continue a não ter a força do poder económico, como no tempo dos Filipes.

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