quinta-feira, 22 de julho de 2010

'Foi você que encomendou um Panamera?




A pergunta vem a propósito da estatística de vendas de carros desportivos em Portugal no primeiro semestre de 2010.

Contas por alto, mais 50% de vendas do que no primeiro semestre de 2009.

Não vou sugerir aumento da taxação, que já é razoável. Nem talvez sugerir que seria interessante converter em registos nominais os registos que eventualmente estejam em nome de empresas. Assim como assim, por que não poderia uma empresa, através de decisão da sua assembleia geral de acionistas, determinar que os membros do conselho de administração tenham ao seu dispor Porsches Panamera? (Panamera é o nome do novo modelo da Porsche, com 4 lugares, dedicado à corrida ao longo da América do Sul; potencias de 300 a 500 CV).

Imaginemos que a assembleia da República definia a marca dos veículos de serviço da mesa da assembleia.

E imaginemos ainda mais que a marca definida era um desses elétricos que fica a carregar durante a noite.

E que a decisão se estendia a todas as empresas públicas.

Agora que 30% da energia da rede nacional é de origem eólica, fartávamo-nos de poupar em emissões de CO2 e baixávamos os custos por km (enquanto o kWh tiver os seus custos comprimidos, é muito mais barata a tração elétrica do que por combustível fóssil).

Durante a noite, as eólicas carregavam os carrinhos e carrinhas de serviço.

O que contrasta com os Panamera das administrações das empresas privadas e me leva a sugerir, em vez de aumentar a taxação, a reconsiderar , em termos mais democráticos, o funcionamento das assembleias de acionistas. Por exemplo, como se faz nas democracias, cada votante tem direito a um voto, independentemente dos rendimentos ou da sua contribuição para o VAB (valor acrescentado bruto cujo integral é o PIB).

Podia fazer-se o mesmo nas empresas privadas, cada voz, um voto, independentemente do número de ações. Sócio é sócio.

E, nas empresas públicas, também. O que suscitaria um debate interessante sobre o endividamento da empresa. Por exemplo, seja uma empresa que se dedica à manutenção e exploração de uma ponte. Será justo que tenha de pedir empréstimos ou subir as portagens para pagar os juros do empréstimo para a sua construção? (pareceria mais justo que a amortização se fizesse a prazo muito longo, em conta separada). Se já estivesse em prática este sistema, de uma voz - um voto, nas assembleias gerais, a dívida era devolvida à procedência, para a tal amortização a longo prazo, não seria? Bom, fica por resolver a questão de quem é que é sócio. Em princípio o cidadão contribuinte, o cidadão que trabalha nessa empresa (faz lembrar aquela da terra a quem a trabalha e a quem trabalha).

Neste aspeto, convergem as perspetivas supostamente divergentes: o poder das comissões de trabalhadores deve ser diminuído, certo, até aqui convergem, mas esse poder deve ser transferido para as assembleias de acionistas. Aqui nem todos estarão de acordo. Temerão que os investidores fujam. E para onde? Para países em que pagarão taxas mais elevadas?

Bom, com tudo isto, afastei-me do tema, mas é fácil de concluir: estimam-se 120 milhões de euros de vendas de carros desportivos em 2010 em Portugal. Os carros ligeiros de outras marcas atingirão provavelmente 2.200 milhões de euros  (cerca de 20 km de tuneis e estações de metropolitano equipados).

Os carros são como as pessoas: 400 automóveis geraram faturas de 120 milhões de euros, e 150.000 automóveis geraram faturas de 2.200 milhões de euros. Isto é, 0,27% dos automóveis absorveram 5,17% do rendimento total das vendas.

Pena os 120 milhões de euros não parecerem um investimento com retorno. Nem a maior parte dos 2.200 milhões de euros. Mas que é a vontade livremente expressa de comprar o carro que se pode, é.

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